Tuesday, May 10, 2011

FRAGILIDADE DA LEI E DEPRESSÃO

Qual seria a relação entre uma sociedade que perde valores básicos e menospreza regras de cidadania, com a depressão do indivíduo?
Não existe um levantamento claro e científico que detalhe uma resposta a essa dúvida. Mas é inegavel a relação entre aumento de doenças fisicas e mentais e a perda de controle da criminalidade, da corrupção e do abuso ao indivíduo nos mais variados campos do consumo.
Podemos ter a depressão, isolada e pessoal, causada por problemas de desequilíbrio bioquímico ou outras causas individuais. Mas a grande incidência da doença demonstra que vivemos o risco da depressão surgida da sensação de impotência e abandono, em  um sistema que despreza valores básicos da sobrevivência e proteção do indivíduo, tristemente escancarada na fragilidade do sistema judiciário.  O resultado é medo e muita ansiedade pelo futuro. O coletivo experimenta uma crescente histeria, onde persiste a insegurança da sobrevivência.
Há exemplos de sobra desse processo de histeria coletiva, onde há perda do controle social. O respeito às leis de trânsito é um deles. Além dos abusos incentivados pela impunidade, há o outro lado da questão: como obedecer ao semáforo que manda esperar, diante da possibilidade de um assalto? Como evitar cobrir os vidros do veículo com filme plástico, que oferece a sensação de proteção à possíveis agressores?
O mesmo filme plástico escuro que impede a visão do interior dos veículos pelo bandido, também atrapalha a visão de policiais que buscam suspeitos. O mesmo recurso que protege de um lado, aumenta o risco de outro! Essa contradição confunde a razão e aumenta a sensação de insegurança.

Não faltam situações dramáticas para a tranquilidade, mesmo em situações aparentemente de menor importância. Filas em bancos que nunca respeitam o direito do atendimento em tempo médio causam desânimo. Longa espera para atendimento em hospitais públicos  causam óbitos que poderiam ser evitados e isso causa desespero. O desapontamento em não obter  consultas imediatas, para quem paga altas somas de convênios médicos torna empresas de saúde vilãs autorizadas.
Há uma infinidade de frustações e motivos de desalento. Filas para atendimento das reclamações em orgãos de defesa do consumidor, como procons, onde o cidadão já chega revoltado e acaba saindo sem resultados, torna as instituições desacreditadas.
Como suportar a sequência de agressões e desrespeito sem alterar-se? As reclamações mostram-se ineficientes, pois não se consegue registrar queixas contra alguns setores. O que se passa com uma pessoa que se sente desestimulada para ir adiante em processos judiciais que a ajudariam a recuperar a confiança e a auto-estima? Como deve reagir um cidadão que recebe a orientação para "deixar para lá" as ilegalidades sofridas? "Não há mais em quem confiar!" é uma frase comum nas filas de unidades do Procon ou no atendimento do INSS ou do Tribunal Federal onde se aguarda um processo de aposentadoria. Uma senhora chora ao ver pela terceira vez sua denúncia ser dispensada. "Para onde eu vou, onde existe justiça?" pergunta ela.

Desesperança e desconfiança até mesmo nos organismos criados para defender quem sempre sai perdendo. Nos tribunais, com exceções cada vez mais raras, longos processos terminam com sentenças absurdas que não são aceitas pelo consumidor. Processos são extremamente demorados e acontece cada vez mais a ridícula e triste situação de um processo ser finalizado depois da morte do cidadão que esperou anos a fio pela resposta  Justiça.
Cai a confiança no sistema.
Percebendo-se sem alternativa, o indivíduo se torna agressivo, descrente e acaba se voltando contra o próprio meio. Fica portanto sem saida!
A quem interessa esse estado de coisas? Com uma mentalidade voltada para o supérfluo e imediato, o sistema de consumo exagera e sacrifica a própria fonte de seus recursos, desgastando o indivíduo, que se sente cada vez mais oprimido.
O resultado está nas estatísticas oficiais: cada vez mais as clínicas e consultórios psiquiátricos ficam lotados. Torna-se evidente o aumento de doenças físicas e mentais,. A incidência é tamanha que se torna difícil sua absorção pelo sistema de saúde, criando um circulo vicioso onde a demanda do atendimento é sempre crescente. A indústria de medicamentos floresce e consegue lucros cada vez maiores, com uma produção impressionante de drogas anti-depressivas, anti-hipertensivos, analgésicos e relaxantes musculares! 
Nunca antes as pessoas dependeram tanto de atendimento médico. Nunca antes  a vida esteve tão ameaçada. Vivenciamos uma sociedade que se encontra em estado de alerta máximo, demonstrando cada vez menos credibilidade em si própria, enquanto se programa de maneira distorcida. 
A origem, sem dúvida, é a fragilidade de nossa Justiça. Uma sociedade onde a Justiça não funciona ou funciona parcialmente, gera insegurança profunda e descrédito, que leva à  um estado coletivo depressivo não apenas àqueles que são vítimas da ausência clara da aplicação da lei. Todo o conjunto social sofre com a ausência de punição à corrupção e à prevaricação, que  acaba tornando-se perigosamente rotineira no comércio, na educação privada, nos serviços em geral, enfim, na vida do indivíduo. 
O unico remédio para a depressão crescente que se torna um desvario coletivo é o respeito às instituições, o retorno de valores e a clareza da aplicação da lei, que precisa ser resgatada. Caso contrário qualquer ação isolada terá o poder limitado, apenas como um paliativo de uma grave situação social. (Mirna Monteiro)

LEIA TAMBÉM   http://artemirna.blogspot.com.br/2011/04/fazer-justica.html

                             http://artemirna.blogspot.com.br/2010/10/justica-primitiva.html

                             http://artemirna.blogspot.com.br/2011/09/pequenos-e-grandes-pecados.html

2 comments:

  1. QUEM PODE MUDAR ESSE ESTADO DE COISAS?EU SINTO TUDO ISSO MESMO MAS ME SINTO TAMBEM SEM MEIO DE MUDAR QUALQUER COISA,QUE FAZER?

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  2. Nunes, acreditamos que transformar esse estado de coisas depende principalmente da conscientização do problema. A partir do momento que a sociedade percebe o que ocorre e a origem dos desajustes, discute mais essas questões. Encontrar alternativas de solução torna-se uma possibilidade mais real.

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