Wednesday, February 29, 2012

MÉDICOS ROBOTIZADOS

"É o fim do mundo!", repetia uma senhora que aguardava atendimento em um pronto-socorro de um hospital particular. Entre tantas coisas absurdas a pior delas certamente era o fato do desleixo e da falta de ética ter atingido uma área extremamente delicada, a da saúde. "Como é que eu vou saber se estou sendo tratada ou destratada?" perguntou ela, em meio ao desabafo.
Boa pergunta! Mas a resposta é impossível! Como saber até que ponto a nossa evolução social e tecnológica não se transforma em armadilha?
A ciência avança hoje a níveis surpreendentes. Mais alguns anos, dizem, e a velhice será coisa do passado, a morte será adiada em décadas e as doenças serão vencidas com a regeneração celular!
Que maravilha! Ninguém duvida disso. O problema é outro! Paralelamente à evolução científica e tecnológica, outro extremo da realidade não pode ser vencido: o desgaste da sociedade e de seus valores, o aumento da mediocridade profissional e do objetivo do capital em detrimento do fator humano!
Quem pode com isso? Trocando em miúdos, podemos afirmar que o que temos hoje, em um momento de grandes recursos da medicina, é uma péssima medicina! Afinal ainda não podemos trocar a figura do médico por robôs irrepreensíveis. Ainda dependemos do fator humano para cuidar do fator humano. É a principal razão da existência humana, manter a sua espécie!
Aparentemente o grande desafio da medicina hoje são os próprios médicos. Os mais recentes, despreparados, oriundos de universidades que não conseguem formar adequadamente o cidadão, mesmo cobrando altíssimas mensalidades. Os recém-formados, atraídos para a área por questões econômicas (ser médico "dá dinheiro", mesmo que seja impossível avaliar a vida em trocados...) encontram um mercado tão saturado, que a estrutura de qualificação do médico fica comprometida: não há hospitais suficientes para formar residentes.
E sem residência, que é a prática, é quase impossível completar o ensinamento básico do profissional de medicina!
E os mais antigos? Talvez com alguma experiência, mas completamente entregues à massificação do sistema. O paciente é visto cada vez mais como um objeto a ser descartado o mais rapidamente possível. Tempo é dinheiro! As consultas hoje são velozes e extremamente curtas. Nos consultórios particulares, a peso de ouro, é possível mais tempo. Mas na base dos convênios médicos, planos de saúde que aplicam a filosofia da quantidade em detrimento da qualidade, a consulta é de até dez minutos em média.
O tempo suficiente para um médico perguntar qual é o problema e passar a lista de exames. Sem a biomedicina, a medicina hoje não é nada. Mas isso não elimina ainda o risco de enganos causados pelo cansaço ou incompetência na interpretação dos exames ou no tratamento da patologia!
É mesmo o fim do mundo! Ou pelo menos o fim da crença de que a medicina é sempre heroica e acima de qualquer suspeita.
É possível entender o desabafo dos pacientes! E este é um problema que preocupa a todos, inclusive aos médicos, que afinal também são pacientes em algum momento da vida!
Exigir capacitação profissional é o único recurso para evitar o caos, em uma sociedade onde sobram profissionais formados em medicina, mas faltam médicos! Onde está a figura o médico, que por vocação interagia com o paciente e fazia milagres em épocas onde não havia qualquer tecnologia? 
É possível haver exercício da medicina sem a filosofia que norteia essa responsabilidade?
É bom pensar sobre o assunto... (MM)

Monday, February 13, 2012

QUEM É VOCÊ? QUEM É O OUTRO?


O comentário geral era a respeito de um crime nos Estados Unidos, onde homem que matou um casal que havia excluído a filha do quadro de amigos no Facebook. O mundo virtual parece ser um lugar onde comandamos a hora de existir ou desaparecer da tela, de conversar ou simplesmente observar o "movimento". A partir do momento desconectamos, "desligamos" esse espaço. São mundos diferentes, o virtual e o real!
Não há proteção no mundo virtual, todos sabemos disso. Nos sites, a relação esperada, de privacidade, não existe, mesmo que o quadro de amigos contenha apenas familiares. O espaço, na verdade é público e mesmo que haja garantia de privacidade, a realidade indica que os dados estão ao alcance de administradores e de hackers. Permanecem "boiando" (ou seria flutuando?) em um mundo ainda pouco desvendado.
Sites de relacionamento parecem  ser uma sala de estar isolada. É difícil imaginar o espaço virtual protegido por senhas e rodeado de regras como uma sala em ambiente público.
Essa realidade desagrada. As pessoas sentem necessidade de partilhar sua vida, suas alegrias, seus momentos de sucesso, a relação amorosa ou familiar, da mesma forma que os momentos de tristeza ou depressão. Isso é natural porque o ser humano é um animal social, preparado para conviver em grupo até mesmo para garantir a sobrevivência individual, que se torna mais garantida na sobrevivência mútua.
A relação virtual aproxima tanto as pessoas conhecidas - familiares e amigos - como reduz ou elimina o distanciamento entre pessoas desconhecidas que iniciam uma amizade através de interesses comuns. Sem essa "mágica" virtual que elimina distâncias e derruba as paredes, a possibilidade de ampliar o conhecimento fica realmente muito reduzida.
Reduzida demais para quem se habitua a navegar em um espaço que seduz justamente pelo fato de funcionar sem a carga da materialidade. Um espaço realmente sedutor, constantemente ampliado por novos recursos. Com um dispositivo mais leve e fino do que um livro, pode-se acessar e ler infindáveis obras literárias, escrever, desenhar, criar projetos, trabalhar, ouvir música, conversar, fazer compras, enfim...a ponto do sujeito que navega em um espaço tão diversificado e aparentemente infinito em suas possibilidades perguntar-se se não está havendo alguma inversão e aquilo que consideramos o mundo real não é na realidade uma espécie de limbo!
Como lidar com esse novo mundo e suas possibilidades e riscos entretanto, não é assim tão fácil. Por trás da mágica dos recursos e da sofisticação tecnológica, existe a mesma matéria básica dos tempos das trevas ou dos conflitos da civilização: o conteúdo humano, dividido entre a construção e a destruição, a verdade e a mentira, a necessidade de relacionar-se e ampliar os horizontes e a capacidade de distorcer e manipular o meio.
A grande verdade é que explorar o ciberespaço tem menor risco do que o mundo real no que se refere à preservação física (pelo menos imediata) mas não existe nenhuma garantia de segurança em qualquer outro sentido!
Mundo material, mundo virtual, mundo emocional, mundo espirital...parece que a relação humana com espaços que pareciam fictícios e isolados finalmente se fundem em um mundo inteiramente novo, diferente, mas não mais improvável!  ( Mirna Monteiro)

Tuesday, February 07, 2012

PENSAMENTOS QUE FALAM

"Perdida em seus pensamentos, a pessoa parece escutar a voz de suas entranhas"...Mais do que simples metáfora, essa frase pode ser interpretada literalmente. Depois de descobrir que os impulsos elétricos do cérebro podem movimentar matéria - o que levou à inspiração da "prótese inteligente", a ciência agora admite a possibilidade de reconstruir palavras a partir da captação das ondas cerebrais da pessoa.
A descoberta está criando celeuma. Assim como na ficção, isso parece ser o "golpe final" na privacidade dos seres. "Podem me tirar a liberdade física, mas aquilo que sei e penso pertence apenas a mim"!...Quantas vezes não encontramos afirmações semelhantes em romances, filmes e, evidentemente, na vida real?
Invadir a mente humana, não simplesmente para bloquear ou inutilizar a capacidade mental, como em uma lobotomia  ou através de drogas, mas justamente extraindo de dentro dela o pensamento, já foi a base de muita ficção. A possibilidade soa como uma ameaça. Esconder aquilo que se é e realmente se pensa integra a mais primitiva capacidade humana de se defender e garantir a sobrevivência.
A discrição da mente permitiu ao homem criar táticas de caça, de combate e auto-defesa. É a "voz interior", que alerta, comanda e traduz a intuição, o raciocínio, os "arquivos" dos acontecimentos que são acessados de maneira tão instantânea que não nos apercebemos disso.
O que aconteceria a um mundo onde a mente deixa de ser privada?
Claro que a ciência argumenta que a "invasão" é para o bem. Por exemplo, no caso de pessoas que perderam a capacidade de movimentos de algum membro, como pernas, braços e mãos, ou daquelas que se encontram em estado de coma. A implantação de chips que provocam estímulos elétricos no cérebro pode fazer com que uma pessoa comande com o pensamento a tela de um computador, um braço mecânico, ou outras próteses. Em coma profundo, a tradução do pensamento em forma de palavras ou de uma espécie de "filme". Sim, exatamente como na ficção!
Nesse ponto, paramos para respirar. E pensar (ainda sem eletrodos) se realmente é possível existir no universo qualquer ocorrência isolada. Digamos que, se a ciência pode captar impulsos elétricos do cérebro animal e transforma-los em palavras ou imagens, certamente esse é um processo que já ocorre na natureza. Ou seja, reforçamos a ideia de duas realidades em uma cajadada só: a de que a comunicação entre os seres na natureza não se faz unicamente de maneira material (dentro da nossa percepção de materialidade), determinando a obviedade da mecânica quântica, onde tudo que existe dentro e fora dos seres tem a mesma construção, "tijolinhos" de quantum, aglomerados ou dispersos, que tanto podem compor uma galáxia, um corpo humano ou o pensamento...
O que dizem nossos "quantuns"? Ou o que diz sua intuição? Ou ainda, quais são seus pensamentos a respeito?...Sem necessidade de chips!    (Mirna Monteiro)