Como na ficção, onde a sociedade futurista exibe um cenário catastrófico, as pessoas começam a "habituar-se" ao risco cotidiano. Aliás, ficção e realidade começam a mesclar-se de tal maneira que perde-se a origem de tamanha intimidade com a violência. Não se sabe se o hábito dela provém de tantos heróis e bandidos socando-se e metralhando-se nas telas do cinema e da TV, ou se as telas exibem apenas o cotidiano retratado.
Uma prova de que existe certa tolerância à violência imiscuindo-se em nosso inconsciente é a tendência da ficção em criar vilões simpáticos e merecedores de um final onde o crime não é necessariamente punido. Que tendência é essa a de realizar torcida - se bem que discreta- de encantadores bandidos que conseguem com inteligência e perícia burlar o sistema em roubos milionários?
Talvez seja exagero responsabilizar os vilões simpáticos - aqueles que parecem não ameaçar o indivíduo, mas o sistema tão criticado pelas suas próprias flacatruas capitais - pelo estado de disseminação e certa condescendência à violência. Uma criança que assiste aos filmes e desenhos onde se luta o tempo todo e onde os vilões das historias se tornam cada vez mais truculentos também poderá se transformar em alguém que interpreta agressões e assassinatos como uma fatalidade ou uma circunstância natural do meio.
Ainda temos imagens da realidade cada vez mais sangrentas. Guerras não são registros do passado, mas ameaça presente. A repetição de erros históricos muda a interpretação da vida.
Talvez seja exagero responsabilizar os vilões simpáticos - aqueles que parecem não ameaçar o indivíduo, mas o sistema tão criticado pelas suas próprias flacatruas capitais - pelo estado de disseminação e certa condescendência à violência. Uma criança que assiste aos filmes e desenhos onde se luta o tempo todo e onde os vilões das historias se tornam cada vez mais truculentos também poderá se transformar em alguém que interpreta agressões e assassinatos como uma fatalidade ou uma circunstância natural do meio.
Ainda temos imagens da realidade cada vez mais sangrentas. Guerras não são registros do passado, mas ameaça presente. A repetição de erros históricos muda a interpretação da vida.
É preocupante. Nos habituamos a marcas de refrigerantes e a moda fast-food e o poder da imagem e o sugestionamento das ações certamente também muda a nossa interpretação do que seria abominável ou "natural" em uma sociedade tão contraditória. Pode ser que não se chegue ao extremo de fabricar agressores e transgressores em série, mas parece inevitável reconhecer que estimulamos quem já possui tendências agressivas para liberar seus "instintos bestiais".
Em um momento onde os mecanismos de defesa social andam em crise - cadê a Justiça e os recursos para controle dessa epidemia de violência? - a situação parece muito pouco confortável para o cidadão comum.
Um dia um grupo de rapazes munidos de soco-inglês e barra de ferro (o que demonstra a intenção prévia de algum massacre) aborda um casal na rua Augusta e agride o jovem, que é negro; em outro grupo resolve agredir homossexuais. O que está provocando o recrudescimento de grupos radicais e preconceituosos entre adolescentes e jovens que não vivem na pobreza, mas em situação relativamente confortável do ponto de vista de consumo.
O que levanta outra questão: o que leva pessoas de classe média (remediada ou alta)a ter uma carga de ódio tão grande a ponto de criar uma situação tão artificial de dor e sofrimento a outros? Que tipo de ideal desregrado leva à formação de grupos que pregam o odio racial e a discriminação a homossexuais, como o neo-nazismo, que por incrivel que pareça cresceu nos últimos anos no mundo todo?
O que levanta outra questão: o que leva pessoas de classe média (remediada ou alta)a ter uma carga de ódio tão grande a ponto de criar uma situação tão artificial de dor e sofrimento a outros? Que tipo de ideal desregrado leva à formação de grupos que pregam o odio racial e a discriminação a homossexuais, como o neo-nazismo, que por incrivel que pareça cresceu nos últimos anos no mundo todo?
Desajustes perigosos, que não podem ser menosprezados ou considerados transitórios. São um tipo de reação diferente de outras formas de violência, igualmente chocantes, mas que são vistas como "preocupação menor": aquela que invade o trânsito e torna uma discussão besta palco de assassinatos. Ou as agressões dentro do próprio lar, a mulheres e crianças. Ou ainda a pedofilia, inexplicavelmente atuante, chocante e inaceitável.
Bem, em um mundo onde crianças são jogadas pela janela ou envoltas em sacos de lixo e jogadas em caçambas, como um brinquedo descartável, a dor e o sofrimento parecem inevitáveis para quem ainda mantém a sanidade, vivendo com suficiente bom senso e sensibilidade para respeitar a vida. É preciso valorizar o que resta de sanidade e criar mecanismos legais que punam com rigorosidade os bandidos que não são os marginais das ruas, mas os pseudos bons cidadãos do ambiente doméstico. Mães e pais que não respeitam a importância da vida de seus filhos e o direito da criança não podem ser simplesmente denunciados e dispensados, como se tivessem cometido uma má ação ao invés de um crime bárbaro, assim como integrantes de grupos radicais.
A única solução para coibir a escalada da violência social é a rigidez absoluta no tratamento desses casos, sem qualquer clemência a quem comete atos de covardia e violência extrema.
A única solução para coibir a escalada da violência social é a rigidez absoluta no tratamento desses casos, sem qualquer clemência a quem comete atos de covardia e violência extrema.
Nossa justiça é muito lenta e ineficiente,por isso sofreremos sempre com tamanha violencia,somos um povo sem comprometimento com as leis porque não há punição aos crimes
ReplyDeleteMuitos argumentos são abordados neste texto. É verdade que os mecanismos de defesa social estão em crise, mas por que isso? Porque a idéia geral transmitida pela ideologia do mercado, foi de que os estados tivessem obrigação para reduzir seus gastos, assim a segurança das pessoas, como a educação publica ou a saúde, foram deixadas em mãos de empresas privadas, com os resultados que nos vemos! A referência aos torcedores de futebol refere-se à questão do tribalismo, transmitida pelo comunitarismo identitario de tipo anglo-saxão, que divide o povo. Este modelo é totalmente contra a idéia mesma de democracia, na medida em que está defendendo uma comunidade em detrimento do interesse geral. Eu não acho que o racismo em qualquer forma ou meio, já não representa um perigo para a sociedade, mesmo que seja a idéia de que a mídia está tentando transmitir. Os verdadeiros racistas são felizmente menos numerosos do que nos pensamos, apesar do que a interpretação do vocabulário esconde. Discriminar não é um ato racista, discriminar é escolher não odiar. Por exemplo, eu posso não gostar da cor verde, não é por isso que vou queimar todas as florestas do mundo!
ReplyDeleteNo entanto, a violência que existe na sociedade é muito preocupante, é verdade que os filmes, os jogos de vídeo, a explosão das drogas duras e das substâncias psicotrópicas, bem como o abandono da prática religiosa, não é estranhos a tudo isso. Jogar um bebê numa lata de lixo, é na verdade um sinal forte de que a sociedade, é atingida pela miséria humana, à parte os homo sapiens apenas evoluídos que somos, nenhum animal seria capaz de tal loucura! Por outro lado o suposto aumento do nazismo, a violência contra a mulher (que existe), a homofobia e outros temas de moda, representa excelentes desculpas para evitar falar de questões sociais. Por que não falar da pobreza real da educação, os problemas de saúde pública, as deficiências da justiça ou ainda a corrupção dos políticos. Espero que estas observações pessoais tivessem sido compreendidas, porque o meu Português não é excelente.