Wednesday, October 06, 2010

Conhecendo a solidão


Há quem afirme que o mal do século é a solidão! Em um mundo cada vez mais povoado, as pessoas estão sós! Quase sete bilhões de seres humanos!

Por que isso acontece? Talvez pela impessoalidade e distanciamento que a superpopulação pode trazer. Há mais pessoas e menos contato. As multidões esbarram-se nas ruas, mas não existe o reconhecimento do indivíduo como companhia. 

De acordo com a OMS todos os dias perto de 3 mil pessoas cometem suicídio no mundo. Claro que as causas são várias, mas há um fator comum, a solidão. Pessoas buscam a morte a cada três segundos em países organizados, como a Suécia ou Japão, assim como em áreas de menor desenvolvimento econômico. 

O que é solidão? No caso daqueles que vivem em grandes cidades, solidão não corresponde exatamente ao isolamento físico. Pelo contrário, pessoas que trabalham em lugares agitados, andam em ruas congestionadas, também podem sentir o peso da solidão.

No entanto a solidão em si não é negativa, mas construtora. Descartes a considerava com propriedade uma oportunidade de aprofundar-se em si mesmo. Não se pode viver sem sentir e conhecer o próprio interior. Mas a mesma visão pode ser invertida: para Hegel, solidão consistia em não poder sair de si mesmo, o que pode causar uma espécie de angustia para alguns e alívio para outros.

O que não se pode negar é isso: cada pessoa interpreta de maneira diferente a solidão, por isso a sua conotação também pode ser extremamente positiva. Na linha do existencialismo, podemos transformar a in certeza em estímulo: ao longo da nossa experiência redefinimos nosso pensamento e adquirimos novos conhecimentos a respeito do que  somos ou podemos vir a ser!

A solidão é inata ao homem, escreveu Heidegger. O que não obriga ao pensamento de que, se assim for, cada ser está por si só no mundo. Se assim fosse, o evidente equilíbrio do universo em suas diferentes formas e permanencias não funcionaria com tamanha sincronia!

Talvez tenhamos a impressão de que cada ser está por si só na morte, pois aparentemente partimos sem amarras, como um barco que desaparece no horizonte para nunca mais ser encontrado. "Os mártires penetram na arena de mãos dadas, mas são crucificados sózinhos", lembrou Huxley.
Mas mesmo após a transformação da morte, a vida segue em perfeita harmonia.

A nossa identidade, porém, fica ameaçada. O que sou? Mais um ponto favorável à existência da solidão, que nos prepara para a dúvida. 

A solidão é produtiva. Quando se trabalha, se está forçosamente na mais absoluta solidão, arriscava Deleuze. Será? Quando nos afundamos em alguma tarefa, partilhamos algo. Pode ser o raciocínio de cálculos, a criação de um texto, a formulação de pensamentos, a observação do mundo. Estamos na solidão, mas não absoluta, pois partilhamos a todo instante de imagens mentais ou visuais que interferem na neutralidade do momento.

A solidão, portanto, parece ser bastante relativa e não pode ser descrita ou determinada. Não é a ausência de pessoas ao nosso redor ou a inexistência de qualquer movimento, o nascimento ou a morte, mas sim a capacidade ou incapacidade de percepção momentânea!

A não ser que estejamos falando da solidão fisica de algo que desejamos, como escreveu Simone de Beauvoir: "No meio da madrugada a solidão vem me falar de você. A noite está fria, o quarto está frio, a minha cama também está fria. Me rolo na cama...Já quase amanhece....Cadê você?

O que demonstra que este é um tipo de ansiedade que não culminará com a vitória contra a solidão, causando outra decepção comum aos seres.
"Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única autotranscedência; debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua prisão corpórea, está condenado a sofrer e gozar em solidão", escreveu Aldous Huxley. 

De qualquer maneira, por mais que se esforce, o ser humano sempre recai sobre o mesmo erro de interpretação da cura para a sensação do vazio interior. Nietzsche, cujo olhar crítico parecia menosprezar o meio e estar acima das idiotices humanas, não sabia lidar com seu próprio vazio, apegando-se a momentos fugazes que jamais o libertaram da sensação de solidão. 

Em 1885 escreve a Peter Gast: "Ah, se soubesse como estou agora tão só no mundo! E como me é preciso representar uma comédia para não cuspir, as vezes, de pura sociedade, no rosto de alguém! (...) Quando estiver com você em Veneza, cessara, então, por algum tempo, toda a "cortesia"e a "comédia", e a "sociedade" e todas as maldições nicenses...não é verdade, meu caro amigo?"... De maneira fugaz, talvez...(Mirna Monteiro)
LEIA  TAMBÉM   
                               http://artemirna.blogspot.com.br/2011/12/tal-felicidade.html

2 comments:

  1. Anonymous7:40 AM

    Não existe dor maior
    Que a dor da solidão...
    É dor cruel e perversa
    Que não aceita conversa
    E nem mesmo explicação!
    É dor do só, do sozinho,
    É carência de carinho,
    Seu sintoma é a paixão.

    Antonio Sardenberg

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  2. Anonymous5:25 AM

    A solidão é motivo de medo porque somos assim um nada e saber qu somos nada isolados desespera

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