Durante toda a história, mãe não era simplesmente um indivíduo, mas uma potência natural. Geradora da humanidade, altruísta, defendendo a sua prole a todo custo, como uma leoa. Disposta a abrir mão de todo o conforto e até do próprio alimento para proteger um filho. Não é a toa que povos primitivos adoravam a figura feminina, a deusa-mãe, que garantia o alimento dos povos germinando a terra.
Mulheres geravam com a mesma naturalidade com que empunhavam espadas, se preciso fosse. A história está cheia de exemplos de mulheres guerreiras, deusas adoradas, pitonisas e sacerdotisas.
Como não havia propaganda ou influências poderosas da mídia nos tempos primitivos, podemos supor que essa é a natureza feminina. Geradora, protetora, pacifista, tranquilizadora.
Mesmo com o desenvolvimento da sociedade humana e o advento de maior poder mecânico e das artimanhas políticas na luta acirrada pela sobrevivência, a mãe protetora persistia. Ela criava os seres para o mundo. Dela dependia basicamente estimular os bons instintos e o caráter nos filhos que seriam pacíficos, guerreiros ou reis...ou déspotas e violentos.
Bom, aqui vamos fazer uma pausa. Falando assim temos a impressão de que a mulher é a responsável por todos os rebentos que viraram heróis ou vilões e transformaram o mundo. É um peso de responsabilidade injusto! Quer dizer que tudo é culpa da mãe? Se os filhos são pessoas de caráter e hombridade, é uma façanha da mãe! Se os filhos são cruéis e canalhas, é culpa da mãe?
Já sabemos que popularmente quando se pretende ofender alguém, ofende-se a genitora...ah, a mãe! Pior é que tem um fundo de verdade nisso tudo.
Quem nasce precisa do ventre e esse ventre precisa ser amigo, gentil, consciente da importância do ser. Um bebê humano é completamente vulnerável, o mais dependente de todos os animais. Precisa do alimento materno - o leite do peito - para se fortalecer e receber os anticorpos, depois, mesmo com os dentes e as pernas firmes, precisa de cuidados para alimentar-se, limpar-se, aprender a lidar com a vida complexa da sociedade humana. São tarefas preciosas, que realmente vão determinar quem e como vai ser esse futuro adulto e de que maneira ele vai interagir com o meio.
É muita responsabilidade, um filho! Quem vai fazer isso por ele? Nos velhos tempos diríamos sem hesitar: a mãe! Ela é preparada para lidar com isso, já veio equipada com útero e mamas, a natureza já deixou bem claro que quem tem responsabilidade de gerar e cuidar desse filho nos primeiros anos é a mulher.
E nos novos tempos?
Aí chegamos ao ponto que provoca discussões e alimenta polêmicas. A mulher, hoje, não é criada para ser a geradora da humanidade, mas para viver como ser individual. Ela se prepara para entender o mundo, para competir no mercado de trabalho, para se auto-prover e pensar livremente. Igualzinho ao homem, que sempre teve esse papel.
Tudo bem. Cadê a mãe? A sociedade mudou, a mulher mudou, o homem se manteve...e como fica? Quem é que vai assumir aquele papel que equilibrava a humanidade, o bem e o mal, o construtor e o destruidor, o amor e o desleixo do sentimento, o respeito e a discórdia?
Problemão! Estamos em um dilema crucial! Desse jeito a humanidade vai perder o ponto de equilibrio, já que nada, sistema nenhum, por mais sofisticado e cheio de coloridos artificiais que seja, pode substituir a relação direta entre os seres humanos que geraram e o seu o bebê.
O que observamos é um contingente masculino crescente de homens que assumem o papel que antes era exclusivo das mulheres. Elas continuam gerando, mas não tem mais paciência ou condições financeiras de amamentar o bebê, mesmo que seja por poucos meses. O homem não tem mamas ou leite do peito, mas assume com coragem as mamadeiras, assim como assume um papel cada vez mais poderoso de orientação e educação de sua prole. Esses homens que tem coragem de vivenciar esse papel em geral desenvolvem características de proteção e equilíbrio que antes pareciam exclusivos da mulher/mãe!
Mas tempos um problema: esses homens que evoluiram em todos os aspectos ainda são minoria. A maioria ainda tem dificuldades de lidar com as necessidades de seus rebentos. E as mulheres cada vez mais deixam de assumir esse papel.
Então sobram desajustes. Bebês são suprimidos de um alimento essencial (nada substitui o leite materno, inclusive para o desenvolvimento da inteligência e equilibrio emocional do indivíduo) e desde muito cedo são criados por terceiros - babás e escolas - ou ficam abandonados em casa.
Se considerarmos essa situação crescente, as mães vão muito mal. Porque não importa se é preciso trabalhar ou se não existe paciência para amamentar (e quem não quer amamentar realmente acaba sem leite) e consciência para orientar, educar, alimentar e amar os filhos ao longo da infância e adolescência. O que se pergunta é como ser mãe, pai e como ser família sem transformar-se em vítima de um sistema implacável e artificial, que afasta os seres, destruindo relações e criando desequilíbrio.
Será que essa ideia da mulher menosprezar seu instinto interessa a um sistema artificializado e repressor da liberdade humana?
O problema não é ser uma mãe diferente. É ser mãe consciente. Nesse caso poderíamos festejar o dia das mães além de seu objetivo comercial...(Mirna Monteiro)