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Exposição na Bienal de São Paulo |
Nesse período a arte começou a ter a tal "elasticidade", profundamente influenciada pelo desenvolvimento industrial e o mercado mundial, com o livre comércio. Ampliou-se o seu conceito. A dança podia dispensar as sapatilhas e fluir em movimentos aleatórios sem prejuízo da sua beleza. Da mesma forma a música começou a diversificar-se, assim como o teatro, que foi ganhando maior conotação mundana, maior realismo e crueza, com palavreado popular. Ao longo das primeiras décadas do século XX as artes plásticas causaram ferrenhas discussões sobre a validade de algumas criações. Como latas da sopa americana campbel, que sairam da cozinha para exposição em museus..."Arte é tudo aquilo que o artista afirme ser arte"arriscou-se a afirmar Marcel Duchamp, que sobressaiu-se na defesa da arte moderna.
Sob esse ponto de vista se espetarmos uma mosca em um palito e o palito em um monte de argila, teremos uma forma de arte, ou seja, uma maneira de expressar algo que é captado por quem observa!
Assim tudo é arte! Uma cuspida em uma tela em branco, uma orelha colada no nariz, uns cem metros de tecido formando labirintos em um canto do saguão...
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Caravaggio, impressionante em sua tela retratando Narciso |
Ou podemos observar uma escultura como a de Moises, que é tão perfeita que dá para estudar anatomia ou o sistema circulatório nas veias que se sobressaem na pele de mármore! Esse tipo de arte exigiu do artista uma profunda sensibilidade a respeito do elemento humano e sua expressividade, mas também uma técnica excepcional, de mãos mágicas que não apenas imitam a natureza humana, como a sublimam.
A arte fala diferentes linguagens. Uma foto pode congelar um momento vulgar, mas com tamanha expressão que o torna único. Um artista pode surpreender-se com a fidelidade de sua obra, a ponto de encanta-lo. Michelangelo reconheceu que ao seu "Moisés" faltava apenas uma coisa : "Perchè non parli?" (Porque não fala?) ...Fala Moisés!. O artista, autor das incríveis pinturas na abóbada da Capela Sistina, enganou-se: não faltava nada a sua escultura! Uma obra de arte que atinge quem a observa "fala" em uma língua universal. Ele próprio, Michelangelo, dizia que de todas as artes, a escultura era a mais próxima de Deus. Freud, um admirador confesso desse grande artista, concluiu que criações de arte são incompreensíveis e constituem verdadeiros enigmas! Mas ele reconhecia na formas de "Moisés" uma força que o hipnotizava e o levou a frequentar assiduamente a igreja San Pietro in Vincoli.
A "modernização" da arte trouxe resultados interessantes, que acompanhavam a crescente agitação cultural e a mudança na relação entre as pessoas e o meio, seus questionamentos e a necessidade de sentir-se emancipadas em seus valores.
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Joan Miró , que através do surrealismo criou uma linguagem artística muito pessoal e rica em questionamentos |
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Anita Malfatti criou um estilo diferente, originado do expressionismo, fauvismo e cubismo |
As mudanças de expressão continuaram ao longo dos últimos quase noventa anos, desde a Semana da Arte Moderna. Para alguns, as inovações da linguagem artística "perderam a medida", deixando de comunicar idéias e sentimentos coletivos, para expressar-se individualmente e de um ponto de vista único, talvez narcisista na ansiedade de destacar-se na multidão sempre crescente, talvez comercial em demasia, quebrando a fluidez necessária entre o artista e sua obra e o mundo ao redor.
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Na Bienal da Austrália |
O que se observa é uma necessidade do artista em explorar o cotidiano, sua rotina e mazelas e a extrema dependência do mundo manufaturado, que de certa forma reduz o fator humano a uma engrenagem.
Outro aspecto dessa tendência é a crítica ao sistema e ao conflito entre o pragmatismo da vida atual e a necessidade da manutenção de valores, que estão se esvaindo no cotidiano das relações humanas. Considerando a grande confusão dessa temática, é possível entender a enorme diferença entre as expressões da arte ao longo dos séculos passados, meticulosa e focada no homem e na natureza, e a atual, dispersa em um mundo de imagens fictícias e opressivas.
A questão provavelmente envolve fato de que o conceito da arte é tão pessoal e diverso quanto quem vai observar e captar o seu sentido. Há produtos da arte que emocionam e tornam-se permanentes, enquanto outros podem ser tão descartáveis como o modo de viver atual, pois representam exatamente essa fragilidade do sistema. O que importa realmente, é que a arte aconteça, permanente ou provisória, como um retrato da vida em seus ângulos e diferentes aspectos. (Mirna Monteiro)
sionista |
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