Tuesday, May 17, 2011

O MAL DISFARÇADO

Entre as distorções humanas, uma das mais graves e impressionantes é a pedofilia. A pergunta mais frequente é esta: o que leva um adulto a aproveitar-se da fragilidade de uma criança para cometer um abuso, com ou sem aparente violência?
A ciência tenta explicar essa ação, que afinal não é nova. Por toda a história da humanidade crianças foram vítimas de violência. Mas as regras morais criadas pela sociedade organizada permitiu uma teia protetora, que se não impedia ações criminosas contra a criança, pelo menos dificultava e tornava a prática menos comum.
Hoje, no século XXI, parece que retrocemos ao tempo dos bárbaros: os casos de agressões à criança, com ou sem violência sexual, aumentam. Os casos de psicopatia são mais diversificados também e podem incluir os casos em que mães que acabam de gerar tentam livrar-se de seus recém-nascidos de maneira chocante. No caso da agressão sexual chega-se a uma conclusão sobre as causas desse ato criminoso: todo pedófilo é um psicopata, embora nem sempre o psicopata seja um pedófilo!
Por que o pedófilo é um psicopata, em menor ou maior grau? Pela ausência de sentimentos. Uma pessoa que submete uma criança ao abuso sexual ou a outras formas de violência não consegue sentir o sofrimento infringido a ela. Caso contrário jamais faria isso, pois a natureza humana tem a tendência a proteger o semelhante indefeso. Omissão ou sadismo são situações deturpadas e indicam intolerância ou rejeição ao meio, entre outros problemas.
Nos últimos tempos a psicopatia tem sido a analisada de todas as formas. A falta de freio moral tornou a sociedade humana mais sujeita às distorções causadas pelos indivíduos com esse transtorno.

O psicopata é considerado um indivíduo altamente perigoso. De uma maneira geral entende-se que a caracte­rística essencial do psicopata é um padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos alheios, que inicia na infância ou começo da adolescên­cia e continua na idade adulta.
Também reconhece-se hoje graus variados de psicopatia, que vai de leve, a moderada e grave. Os serial-killers seriam a forma mais grave de psicopatia. O sujeito que não sente empatia por nada além dele, seja de outras pessoas ou mesmo animais, não mantendo qualquer forma de emoção na relação com o mundo, seria um psicopata menos drástico. Mas nem por isso pouco perigoso.
O diagnósti­co para esse transtorno, colocando de maneira simplificada, deve levar em consideração a existência de pelo menos três critérios que podem ser descritos como um fracasso em conformar-se com normas legais, uma propensão para enga­nar, impulsividade, agressividade, desrespeito pela segurança própria ou alheia, irresponsabi­lidade que pode estar vinculada ao trabalho ou às finanças, bem como uma ausência de remor­so.


Ausência de remorso! Impossibilidade de sentir a dor alheia! O psicopata nem sempre é um indivíduo excluído do meio, muito pelo contrário. Eles estão em todos os lugares, podendo pertencer ao submundo ou classes sociais sofisticadas.
Da mesma forma, são sensíveis a esse meio quando nascem e se desenvolvem. Segundo os estudos, que vem sendo realizados há séculos (o termo foi introduzido por Phillippe Pinel há cerca de 200 anos)entende-se que há fatores genéticos preponderantes, mas o meio também é responsável por acentuar ou suavizar essa predisposição.
Isso significa que mesmo com a predisposição genética, o indivíduo que conviver em um lar equilibrado e isento de violência terá menor gravidade nessa patologia, ficando mais apto a conviver socialmente dentro das regras. Esse mesmo indivíduo, se for criado em um lar desajustado e sofrer abusos e violência na infância, fatalmente será um psicopata de maior periculosidade.
Também existe entre os estudiosos um consenso em relação à incidência de indivíduos com essa patologia: cerca de 4% da população, dos quais 3% são homens e 1% mulheres.

Um aspecto interessante da psicopatia é lembrado pela psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, que escreveu um livro sobre o assunto (Mentes Perigosas): "o poder destrutivo dos psicopatas.São manipuladores, perversos e desprovidos de culpa, remorso ou arrependimento, são capazes de passar por cima de qualquer pessoa para satisfazer seus próprios interesses. Podem arruinar empresas e famílias, provocar intrigas, destruir sonhos, mas em sua maioria não matam. E, exatamente por isso, permanecem por muito tempo ou até uma vida inteira sem serem descobertos ou diagnosticados. Por serem charmosos, eloqüentes, ‘inteligentes’, envolventes e sedutores, não costumam levantar a menor suspeita de quem realmente são. Podemos encontrá-los disfarçados de religiosos, bons políticos, bons amantes, bons amigos. Visam apenas benefício próprio, almejam o poder e o status, engordam ilicitamente suas contas bancárias, são mentirosos contumazes, parasitas, chefes tiranos, pedófilos, líderes natos da maldade".
Bastante complicado lidar com isso. Mesmo sendo um percentual pequeno na sociedade, não é tão difícil você ter um psicopata ao lado.


Psicopatas são "irracionais"? Não, de forma alguma, tanto que quando infringem leis morais e legais, como no caso da pedofilia, sabem que é um crime.
O psiquiatra canadense Robert Hare, uma das maiores autoridades sobre o assunto, afirma que os psicopatas têm total ciência dos seus atos. "A parte cognitiva ou racional é perfeita, sabem perfeitamente que estão infringindo regras sociais e porque estão fazendo. O déficit deles está no campo dos afetos e das emoções. Assim, para eles, tanto faz ferir, maltratar ou até matar alguém que atravessa o seu caminho ou os seus interesses, mesmo que esse alguém faça parte de seu convívio íntimo. Esses comportamentos desprezíveis são resultados de uma escolha exercida de forma livre e sem qualquer culpa".
Talvez haja no futuro uma maneira de lidar com os indivíduos psicopatas, que causam tantos estragos à célula familiar e à sociedade como um todo, em maior ou menor grau. O que se sabe, hoje, é que pessoas com esse problema não se regeneram - ou seja, cedo ou tarde vão repetir a ação deletória ou criminosa se tiverem oportunidade para isso.(Mirna Monteiro)

Tuesday, May 10, 2011

FRAGILIDADE DA LEI E DEPRESSÃO

Qual seria a relação entre uma sociedade que perde valores básicos e menospreza regras de cidadania, com a depressão do indivíduo?
Não existe um levantamento claro e científico que detalhe uma resposta a essa dúvida. Mas é inegavel a relação entre aumento de doenças fisicas e mentais e a perda de controle da criminalidade, da corrupção e do abuso ao indivíduo nos mais variados campos do consumo.
Podemos ter a depressão, isolada e pessoal, causada por problemas de desequilíbrio bioquímico ou outras causas individuais. Mas a grande incidência da doença demonstra que vivemos o risco da depressão surgida da sensação de impotência e abandono, em  um sistema que despreza valores básicos da sobrevivência e proteção do indivíduo, tristemente escancarada na fragilidade do sistema judiciário.  O resultado é medo e muita ansiedade pelo futuro. O coletivo experimenta uma crescente histeria, onde persiste a insegurança da sobrevivência.
Há exemplos de sobra desse processo de histeria coletiva, onde há perda do controle social. O respeito às leis de trânsito é um deles. Além dos abusos incentivados pela impunidade, há o outro lado da questão: como obedecer ao semáforo que manda esperar, diante da possibilidade de um assalto? Como evitar cobrir os vidros do veículo com filme plástico, que oferece a sensação de proteção à possíveis agressores?
O mesmo filme plástico escuro que impede a visão do interior dos veículos pelo bandido, também atrapalha a visão de policiais que buscam suspeitos. O mesmo recurso que protege de um lado, aumenta o risco de outro! Essa contradição confunde a razão e aumenta a sensação de insegurança.

Não faltam situações dramáticas para a tranquilidade, mesmo em situações aparentemente de menor importância. Filas em bancos que nunca respeitam o direito do atendimento em tempo médio causam desânimo. Longa espera para atendimento em hospitais públicos  causam óbitos que poderiam ser evitados e isso causa desespero. O desapontamento em não obter  consultas imediatas, para quem paga altas somas de convênios médicos torna empresas de saúde vilãs autorizadas.
Há uma infinidade de frustações e motivos de desalento. Filas para atendimento das reclamações em orgãos de defesa do consumidor, como procons, onde o cidadão já chega revoltado e acaba saindo sem resultados, torna as instituições desacreditadas.
Como suportar a sequência de agressões e desrespeito sem alterar-se? As reclamações mostram-se ineficientes, pois não se consegue registrar queixas contra alguns setores. O que se passa com uma pessoa que se sente desestimulada para ir adiante em processos judiciais que a ajudariam a recuperar a confiança e a auto-estima? Como deve reagir um cidadão que recebe a orientação para "deixar para lá" as ilegalidades sofridas? "Não há mais em quem confiar!" é uma frase comum nas filas de unidades do Procon ou no atendimento do INSS ou do Tribunal Federal onde se aguarda um processo de aposentadoria. Uma senhora chora ao ver pela terceira vez sua denúncia ser dispensada. "Para onde eu vou, onde existe justiça?" pergunta ela.

Desesperança e desconfiança até mesmo nos organismos criados para defender quem sempre sai perdendo. Nos tribunais, com exceções cada vez mais raras, longos processos terminam com sentenças absurdas que não são aceitas pelo consumidor. Processos são extremamente demorados e acontece cada vez mais a ridícula e triste situação de um processo ser finalizado depois da morte do cidadão que esperou anos a fio pela resposta  Justiça.
Cai a confiança no sistema.
Percebendo-se sem alternativa, o indivíduo se torna agressivo, descrente e acaba se voltando contra o próprio meio. Fica portanto sem saida!
A quem interessa esse estado de coisas? Com uma mentalidade voltada para o supérfluo e imediato, o sistema de consumo exagera e sacrifica a própria fonte de seus recursos, desgastando o indivíduo, que se sente cada vez mais oprimido.
O resultado está nas estatísticas oficiais: cada vez mais as clínicas e consultórios psiquiátricos ficam lotados. Torna-se evidente o aumento de doenças físicas e mentais,. A incidência é tamanha que se torna difícil sua absorção pelo sistema de saúde, criando um circulo vicioso onde a demanda do atendimento é sempre crescente. A indústria de medicamentos floresce e consegue lucros cada vez maiores, com uma produção impressionante de drogas anti-depressivas, anti-hipertensivos, analgésicos e relaxantes musculares! 
Nunca antes as pessoas dependeram tanto de atendimento médico. Nunca antes  a vida esteve tão ameaçada. Vivenciamos uma sociedade que se encontra em estado de alerta máximo, demonstrando cada vez menos credibilidade em si própria, enquanto se programa de maneira distorcida. 
A origem, sem dúvida, é a fragilidade de nossa Justiça. Uma sociedade onde a Justiça não funciona ou funciona parcialmente, gera insegurança profunda e descrédito, que leva à  um estado coletivo depressivo não apenas àqueles que são vítimas da ausência clara da aplicação da lei. Todo o conjunto social sofre com a ausência de punição à corrupção e à prevaricação, que  acaba tornando-se perigosamente rotineira no comércio, na educação privada, nos serviços em geral, enfim, na vida do indivíduo. 
O unico remédio para a depressão crescente que se torna um desvario coletivo é o respeito às instituições, o retorno de valores e a clareza da aplicação da lei, que precisa ser resgatada. Caso contrário qualquer ação isolada terá o poder limitado, apenas como um paliativo de uma grave situação social. (Mirna Monteiro)

LEIA TAMBÉM   http://artemirna.blogspot.com.br/2011/04/fazer-justica.html

                             http://artemirna.blogspot.com.br/2010/10/justica-primitiva.html

                             http://artemirna.blogspot.com.br/2011/09/pequenos-e-grandes-pecados.html

Friday, May 06, 2011

MÃES DIFERENTES

Durante toda a história, mãe não era simplesmente um indivíduo, mas uma potência natural. Geradora da humanidade, altruísta, defendendo a sua prole a todo custo, como uma leoa. Disposta a abrir mão de todo o conforto e até do próprio alimento para proteger um filho. Não é a toa que povos primitivos adoravam a figura feminina, a deusa-mãe, que garantia o alimento dos povos germinando a terra.
Mulheres geravam com a mesma naturalidade com que empunhavam espadas, se preciso fosse. A história está cheia de exemplos de mulheres guerreiras, deusas adoradas, pitonisas e sacerdotisas.
Como não havia propaganda ou influências poderosas da mídia  nos tempos primitivos, podemos supor que essa é a natureza feminina. Geradora, protetora, pacifista, tranquilizadora.
Mesmo com o desenvolvimento da sociedade humana e o advento de maior poder mecânico e das artimanhas políticas na luta acirrada pela sobrevivência, a mãe protetora persistia. Ela criava os seres para o mundo. Dela dependia basicamente estimular os bons instintos e o caráter nos filhos que seriam pacíficos, guerreiros ou reis...ou déspotas e violentos.
Bom, aqui vamos fazer uma pausa. Falando assim temos a impressão de que a mulher é a responsável por todos os rebentos que viraram heróis ou vilões e transformaram o mundo. É um peso de responsabilidade injusto! Quer dizer que tudo é culpa da mãe? Se os filhos são pessoas de caráter e hombridade, é uma façanha da mãe! Se os filhos são cruéis e canalhas, é culpa da mãe?
Já sabemos que popularmente quando se pretende ofender alguém, ofende-se a genitora...ah, a mãe! Pior é que tem um fundo de verdade nisso tudo.
Quem nasce precisa do ventre e esse ventre precisa ser amigo, gentil, consciente da importância do ser. Um bebê humano é completamente vulnerável, o mais dependente de todos os animais. Precisa do alimento materno - o leite do peito - para se fortalecer e receber os anticorpos, depois, mesmo com os dentes e as pernas firmes, precisa de cuidados para alimentar-se, limpar-se, aprender a lidar com a vida complexa da sociedade humana. São tarefas preciosas, que realmente vão determinar quem e como vai ser esse futuro adulto e de que maneira ele vai interagir com o meio.
É muita responsabilidade, um filho! Quem vai fazer isso por ele? Nos velhos tempos diríamos sem hesitar: a mãe! Ela é preparada para lidar com isso, já veio equipada com útero e mamas, a natureza já deixou bem claro que quem tem responsabilidade de gerar e cuidar desse filho nos primeiros anos é a mulher.
E nos novos tempos?
Aí chegamos ao ponto que provoca discussões e alimenta polêmicas. A mulher, hoje, não é criada para ser a geradora da humanidade, mas para viver como ser individual. Ela se prepara para entender o mundo, para competir no mercado de trabalho, para se auto-prover e pensar livremente. Igualzinho ao homem, que sempre teve esse papel.
Tudo bem. Cadê a mãe? A sociedade mudou, a mulher mudou, o homem se manteve...e como fica? Quem é que vai assumir aquele papel que equilibrava a humanidade, o bem e o mal, o construtor e o destruidor, o amor e o desleixo do sentimento, o respeito e a discórdia?
Problemão! Estamos em um dilema crucial! Desse jeito a humanidade vai perder o ponto de equilibrio, já que nada, sistema nenhum, por mais sofisticado e cheio de coloridos artificiais que seja, pode substituir a relação direta entre os seres humanos que geraram e o seu o bebê.

O que observamos é um contingente masculino crescente de homens que assumem o papel que antes era exclusivo das mulheres. Elas continuam gerando, mas não tem mais paciência ou condições financeiras de amamentar o bebê, mesmo que seja por poucos meses. O homem não tem mamas ou leite do peito, mas assume com coragem as mamadeiras, assim como assume um papel cada vez mais poderoso de orientação e educação de sua prole. Esses homens que tem coragem de vivenciar esse papel em  geral desenvolvem  características de proteção e equilíbrio que antes pareciam exclusivos da mulher/mãe!
Mas tempos um problema: esses homens que evoluiram em todos os aspectos ainda são minoria. A maioria ainda tem dificuldades de lidar com as necessidades de seus rebentos. E as mulheres cada vez mais deixam de assumir esse papel.
Então sobram desajustes. Bebês são suprimidos de um alimento essencial (nada substitui o leite materno, inclusive para o desenvolvimento da inteligência e equilibrio emocional do indivíduo) e desde muito cedo são criados por terceiros - babás e escolas - ou ficam abandonados em casa.
Se considerarmos essa situação crescente, as mães vão muito mal. Porque não importa se é preciso trabalhar ou se não existe paciência para amamentar (e quem não quer amamentar realmente acaba sem leite) e consciência para orientar, educar, alimentar e amar os filhos ao longo da infância e adolescência. O que se pergunta é como ser mãe, pai e como ser família sem transformar-se em vítima de um sistema implacável e artificial, que afasta os seres, destruindo relações e criando desequilíbrio.
Será que essa ideia da mulher menosprezar seu instinto interessa a um sistema artificializado e repressor da liberdade humana?
O problema não é ser uma mãe diferente. É ser mãe consciente. Nesse caso poderíamos festejar o dia das mães além de seu objetivo comercial...(Mirna Monteiro)

Wednesday, May 04, 2011

ART NOUVEAU, A ARTE EM MOVIMENTO



Art Nouveau é  diferente, exuberante, cheia de detalhes. Talvez por isso tenha sido interpretada na Europa de diferentes maneiras, como um "estilo macarrônico" na França e "estilo golpe de chicote" na Bélgica. Talvez a melhor definição para a art nouveau tenha sido na da Itália, onde era interpretada como "estilo livre".
Livre e com a intenção de modernizar as formas tradicionais da arquitetura e design em geral, em movimento que atingiu as artes plásticas e marcou a expressão não apenas nas telas de pintores, mas principalmente nos desenhos e gravuras do começo do século XX.
Foi essa a época em que a sociedade transformava-se em função da indústria e novos materiais eram criados. A litografia colorida foi um deles, em técnica que marcou essa fase. A moda era minuciosa e colorida, fosse em detalhes arquitetônicos, decoração, design de jóias, vestimenta, gravuras ou litografias.





Desde que houvesse estética, a art nouveau permitia-se
a criações sem preocupação com a a rigidez das formas
e sua simetria, como uma escada que ondulava no
ambiente, brincando com a percepção e a sensiblidade
visual. Antecedeu a art deco, que tornou as formas mais rígidas, retas ou circulares estilizadas, de design abstrato.


Vitrais alegres: o ar de romantismo ficou mais evidente do que nunca




Móveis com formas arredondadas, criando composições inusitadas



Arquitetura rica, detalhista, com elementos inesperados,
mas também com inspiração rococó

Monday, May 02, 2011

QUEM QUER GUERRA?


Foi em uma festa de aniversário. O grupo de crianças não tinha mais do que nove anos em média e inadvertidamente algumas chegaram até os pais, que discutiam sobre a situação do oriente Médio e os  ataques de Israel na Faixa de Gaza, o atentado às torres gêmeas americanas, a destruição do Iraque e a caçada a fundamentalistas....todos animados, à beira da piscina.
Em um momento de silêncio, uma daquelas pausas que antecedem observações, ouviu-se um voz infantil e meio esganiçada se intrometer: "Ué, mas quem quer guerra?"
Pergunta óbvia e simples, mas naquele momento ninguém respondeu a ela. Os pequenos tem a péssima mania de meter o bedelho em conversas de adultos. Adultos nem sempre tem respostas. As crianças logo se desinteressaram e sairam para brincar, mas deixaram no ar um certo desconforto. Quem quer guerra? Ora...
A quem interessa uma guerra? Interessa a quem pretende pilhar ou apropriar-se de alguma coisa na marra! No entanto não é nada interessante, apenas inevitável, para quem precisa defender o seu espaço. Assim são as guerras, conflitos de interesse. Obviamente, ninguém aceita a usurpação passivamente. Já era assim nos tempos de nossos antepassados primitivos, que viviam do instinto básico.
Mas em uma civilização que se considera evoluída, capacitada para interferir na ordem natural, pretensa estudiosa dos mistérios do universo, fabulosa na criação de tecnologias e pronta para revolucionar conceitos da física?...ou é mera fachada que impede o reconhecimento de que ainda somos basicamente instinto animal?

É difícil reconhecer que a bela aparência da  sociedade humana pode esconder um interior bolorento. E uma certa falta de inteligência, o que conflita com a idéia da genialidade humana.
Estamos todos cansados de saber que qualquer ação resulta em um efeito! Não há ação sem reação no universo. O que não sabemos é até que ponto há areia em nossos olhos, confundindo nossa visão. 
Vamos analisar o óbvio, como se todos fossemos crianças, que analisam a vida com a lógica da ingenuidade...ou nem tanto. Suponhamos uma  ação que visa um propósito particular em um ambiente coletivo...não vai dar certo. Ou um propósito político em um ambiente de outra soberania...não, certamente não é possível um resultado positivo de uma ação tão antiética.
Nos tempos primitivos e ao longo da história da humanidade, poder era sobrevivência.  Poucos possuíam o poder absoluto e todos eles sobreviveram muito pouco. Não há muitos registros de déspotas longevos.  Calígula, o imperador psicopata, viveu apenas 29 anos, causou enormes estragos, espirrou sangue para todos os lado, mas durou poucos anos no poder. 
Hoje a durabilidade de erros que destroem pode ser imensa. Porque se não temos o imperialismo de sangue azul, temos os interesses econômicos que contam com aliados extraordinários, como a parafernália de armamentos sofisticados e técnicas de abdução terrestre, aqui da casa mesmo, que deixariam qualquer extraterrestre boquiaberto!

Não somos animais predadores, somos civilizados. Nos tempos primitivos a idéia de sobrevivência era a de conquistar terras e escravizar os povos. A dos tempos modernos é a de amealhar dividendos e escravizar os povos (ainda?) economicamente...só que, embora o homem moderno seja muito semelhante ao homem primitivo, o cenário mudou!
E mudou muito mesmo. O ser humano permanece com todos os seus erros e dúvidas, o seu egocentrismo primitivo e a incapacidade de se auto-conhecer, mas o planeta, ah!...O planeta já não é o mesmo!
Não falamos apenas de tecnologia, mas de capacidade física da terra em suportar a burrice e o primitivismo humano. A violência contra a natureza é hoje uma perigosa maneira de "cutucar a onça com a vara curta"...E contra a natureza, o homem e sua parafernália nada pode. Somos um grão de areia no universo.
Por esse motivo é possível entender a pergunta da criança, que soou mais como uma crítica. "Mas quem quer guerra?". Crianças, como enchem o saco! Ficam fazendo perguntas que os homens mais poderosos do mundo, adultos que recebem autorização dos seus povos para tomar decisões diplomáticas e conduzir a política mundial, não sabem responder direito.
Crianças percebem a enrolação. Adultos se habituam a ela e perdem a memória a respeito.

Sabe-se lá onde vamos parar. Mas a verdade é que o mundo não é quadrado, nem tampouco um lugar que acaba no horizonte. Explicamos com propriedade científica que a  Lua ou o Sol não podem cair aqui dentro, mas não conseguimos explicar que podemos literalmente acabar em um buraco negro.
Plantar desavenças e promover discórdia, provocando guerras e violência...e cavando o próprio buraco.
É, nossa lógica civilizada anda míope.
Estamos longe dos tempos das espadas e do corpo a corpo. Hoje a guerra é desigual e destrutiva além das fronteiras. Uma guerra, mesmo distante e circunscrita, é um crime contra toda a humanidade! Abre prerrogativas para novos focos de violência e novas guerras, jogando por terra a única conquista do homem civilizado, a ética. Sem isso vamos para o tal buraco negro. 
Quem quer violência e destruição, fome e tragédias dentro de sua terra ou de outros povos? Quem é que quer guerra? (Mirna Monteiro)

Friday, April 29, 2011

ONDE FOI QUE COLOQUEI O ÓCULOS?

Já virou clichê o sujeito desesperado, procurando o óculos, que na verdade está no próprio nariz! Ser distraído pode não ser tão ruim assim. Há novos estudos que comprovam que as pessoas distraídas são mais criativas. Considerando que outras pesquisas dão conta de que as pessoas criativas são mais felizes, podemos concluir que pessoas distraídas tem maiores chances de ser felizes.
Distração até certo ponto. Aquela que permite divagar sobre as coisas que estão ocorrendo em torno. Se passar da medida desequilibra. É o caso da esquizofrenia, que mostra o indivíduo tão atento a tudo que acontece, de maneira tão simultânea, que acaba fugindo da realidade.
Mas uma certa distração, na medida certa, para buscar detalhes em torno de sua vida, é interessante. Ajuda a resolver problemas mais complexos. Deve ser algo semelhante quando um problema ou situação parece insolúvel e acabamos encontrando uma excelente alternativa de solução depois que desistimos de espremer os miolos sobre o assunto, pensamos em outras coisas ou nos desligamos no sono. Há quem jure que não há melhor maneira de lidar com problemas do que deixar o inconsciente resolve-los sem a interferência de nossa razão consciente quando ela está falhando.
Não vamos confundir esse tipo de distração com a falta de concentração. Temos uma mania irresistível de simplificar as coisas. Saber distrair-se positivamente é uma espécie de arte, assim como conseguir concentrar-se é uma questão de sobrevivência e certa garantia de equilíbrio emocional do indivíduo.
Como tudo na vida, distração e atenção, sem extremos, podem ser o recurso para manter o equilíbrio emocional. (Mirna Monteiro)

Monday, April 25, 2011

NEM TUDO É ARTE... É?

Exposição na Bienal de São Paulo
Há sempre discussões e desacordos a respeito do que poderia ser considerado arte, em uma referência à extrema "elasticidade" de interpretacão. A arte até o início do século XX estava bem definida. Mas movimentos que buscavam inserir-se nas mudanças do ambiente urbano e na maneira de pensar mais livre, liberando-se do peso dos conceitos tradicionais, começaram a ser definidos em meados de 1800.
Nesse período a arte começou a ter a tal "elasticidade", profundamente influenciada pelo desenvolvimento industrial e o mercado mundial, com o livre comércio. Ampliou-se o seu conceito. A dança podia dispensar as sapatilhas e fluir em movimentos aleatórios sem prejuízo da sua beleza. Da mesma forma a música começou a diversificar-se, assim como o teatro, que foi ganhando maior conotação mundana, maior realismo e crueza, com palavreado popular. Ao longo das primeiras décadas do século XX as artes plásticas causaram ferrenhas discussões sobre a validade de algumas criações. Como latas da  sopa americana campbel, que sairam da cozinha para exposição em museus..."Arte é tudo aquilo que o artista afirme ser arte"arriscou-se a afirmar Marcel Duchamp, que sobressaiu-se na defesa da arte moderna.

Sob esse ponto de vista se espetarmos uma mosca em um palito e o palito em um monte de argila, teremos  uma forma de arte, ou seja, uma maneira de expressar algo que é captado por quem observa!
Assim tudo é arte! Uma cuspida em uma tela em branco, uma orelha colada no nariz, uns cem metros de tecido formando labirintos em um canto do saguão...
Caravaggio, impressionante em sua tela retratando Narciso
Por outro lado um museu pode exibir  uma tela onde uma pintura parece ter vida ou um tipo de expressão no olhar que parece vasculhar a nossa alma...
Ou podemos observar uma escultura como a de Moises, que é tão perfeita que dá para estudar anatomia ou o sistema circulatório nas veias que se sobressaem  na pele de mármore! Esse tipo de arte exigiu do artista uma profunda sensibilidade a respeito do elemento humano e sua expressividade, mas também uma técnica excepcional, de mãos mágicas que não apenas imitam a natureza humana, como a sublimam.
A arte fala diferentes linguagens. Uma foto pode congelar um momento vulgar, mas com tamanha expressão que o torna único. Um artista pode surpreender-se com a fidelidade de sua obra, a ponto de encanta-lo. Michelangelo reconheceu que ao seu "Moisés" faltava apenas uma coisa : "Perchè non parli?" (Porque não fala?) ...Fala Moisés!. O artista, autor das incríveis pinturas na abóbada da Capela Sistina, enganou-se: não faltava nada a sua escultura! Uma obra de arte que atinge quem a observa "fala" em uma língua universal. Ele próprio, Michelangelo, dizia que de todas as artes, a escultura era a mais próxima de Deus. Freud, um admirador confesso desse grande artista, concluiu que criações de arte são incompreensíveis e constituem verdadeiros enigmas! Mas ele reconhecia na formas de "Moisés" uma força que o hipnotizava e o levou a frequentar assiduamente a igreja San Pietro in Vincoli.

A "modernização" da arte trouxe resultados interessantes, que acompanhavam a crescente agitação cultural e a mudança na relação entre as pessoas e o meio, seus questionamentos  e a necessidade de  sentir-se emancipadas em seus valores.

Joan Miró , que através do surrealismo criou uma linguagem
artística  muito pessoal e  rica em questionamentos
Anita Malfatti criou um estilo diferente, originado do
expressionismo, fauvismo e cubismo
No Brasil, em 1922, quando foi realizada a Semana da Arte Moderna, no rastro das inovações da arte na França e em outros paises europeus, as novas formas de expressão e linguagem não foram entendidas  unanimamentes. Pelo contrário, choveram mais críticas do que elogios. No entanto artistas dessa fase considerada estranha por muitos tornaram-se ícones de expressão artistica décadas depois.
As mudanças de expressão continuaram ao longo dos últimos quase noventa anos, desde a Semana da Arte Moderna. Para alguns, as inovações da linguagem artística "perderam a medida", deixando de comunicar idéias e sentimentos coletivos, para expressar-se individualmente e de um ponto de vista único, talvez narcisista na ansiedade de destacar-se na multidão sempre crescente, talvez comercial em demasia, quebrando a fluidez necessária entre o artista e sua obra e o mundo ao redor.
Na Bienal da Austrália
É o caso das artes expostas nas Bienais, exposições onde a idéia da vanguarda parece prevalecer sobre a riqueza da criação artística. Nelas encontramos mostras estranhas, como um cão preso a duas coleiras, um espaço coberto de azulejos e mais nada ou um quadro negro sobre montes de pó de giz, na linha adotada por Duchamp.
O que se observa é uma necessidade do artista em explorar o cotidiano, sua rotina e mazelas e a extrema dependência do mundo manufaturado, que de certa forma reduz o fator humano a uma engrenagem.
Outro aspecto dessa tendência é a crítica ao sistema e ao conflito entre o pragmatismo da vida atual e a necessidade da manutenção de valores, que estão se esvaindo no cotidiano das relações humanas. Considerando a grande confusão dessa temática, é possível entender a enorme diferença entre as expressões da arte ao longo dos séculos passados, meticulosa e focada no homem e na natureza, e a atual,  dispersa em um mundo de imagens fictícias e opressivas.
A questão provavelmente envolve  fato de que o conceito da arte é tão pessoal e diverso quanto quem vai observar e captar o seu sentido. Há produtos da arte que emocionam e tornam-se permanentes, enquanto outros podem ser tão descartáveis como o modo de viver atual, pois representam exatamente essa fragilidade do sistema. O que importa realmente, é que a arte aconteça, permanente ou provisória, como um retrato da vida em seus ângulos e diferentes aspectos. (Mirna Monteiro)
sionista

Monday, April 18, 2011

SOMOS REAIS OU IMAGINÁRIOS?

Como você vê o mundo, super-influenciado pela mídia, ocupado por imagens ficcionais que invadem a realidade? Ou no caso da realidade invadir o virtual?
Bombardeios e fuzilamentos estão sendo noticiados, seja na Palestina, na Líbia ou em qualquer lugar do mundo, mas apesar de causar impacto na vida das pessoas a consciência de sua dimensão fica comprometida  por um processo interessante: quanto maior a vivência da ficção violenta, através de filmes e games, mais a realidade se mescla à fantasia na mente humana!
Essa condição vez por outra se torna bastante evidente. Quando Saddan Hussein foi enforcado, a realidade ou não de sua morte naquele cenário foi contestada por muita gente. Um jornalista egípcio sustentou que o ex-ditador iraquiano não estava ali e sim um sósia dele. Segundo esse jornalista Saddan nunca foi capturado pelos EUA.
O que é realidade? O que seria ilusão?
A linha divisória entre a realidade e a ficção está cada vez mais tênue, concorda a professora Ivone Marques. Ela conta que experiências com as crianças demonstram que o cérebro humano anda confundindo o real e imaginário.
“Passei um documentário sobre o Iraque, onde soldados atiravam contra casas semi-destruídas e de repente um caminhão foi atingido por um morteiro, explodindo em chamas. As crianças, com idade entre 9 e 10 anos, não sabiam responder se aquilo era uma cena de ficção ou não. Um dos meninos foi claro: “Vejo a guerra, pessoas lutando contra os outros, igual nos filmes!”
Ou seja, para quem cresce em um mundo de imagens, onde a violência virtual é exagerada, a interpretação do terror e destruição no mundo real fica comprometida.
O processo de confusão, onde o real parece ficção e a ficção algo natural, incluindo aí a violência clara ou subentendida, não ocorre apenas com as crianças. Ao mesmo tempo que o jornalismo se torna mais realista e eficiente em mostrar a realidade em fotos, filmes e relatos, o avanço da tecnologia e os efeitos especiais que levam à cenas da ficção absolutamente críveis, também interferem no mundo dos adultos, onde as variações de percepção influenciam a lógica!
“As vezes quando acordo fico na dúvida se tive mesmo um sonho que está na minha memória ou se vivi uma realidade”, comenta Luciano, 34 anos, programador de computação e assíduo freqüentador do mundo virtual. “Acho que o mundo virtual está mexendo com minha percepção da realidade” arrisca ele.
Em um mundo repleto de informação e imagens, reais e ou virtuais (que parecem extremamente reais), não são apenas as pessoas que passam horas imersas em uma tela do computador que sentem seus efeitos.
Também a mídia eletrônica, através da televisão, e a ficção elaborada que vai às telas do cinema parece provocar mudanças na percepção das pessoas.
Muitos relacionam esse “descontrole” perceptivo também ao tempo. “A terra parece girar mais rapidamente, mas eu considero a mudança de horários constantes, como o horário de verão, um fator que “bagunça” a relação natural das horas com o movimento do sol e da noite” reclama o professor Oswaldo Grecco.
Se a percepção humana está sendo afetada por diferentes fatores – como bombardeio de informação, imagens, mundo virtual e confusões com horários elásticos, a capacidade de
orientação e o próprio raciocínio ficam comprometidos.
Por isso há pessoas que não acreditam nas próprias previsões da ciência, como as conclusões das pesquisas científicas acerca da temperatura do planeta. “Imagine se eu vou acreditar que os pólos vão derreter!”, admirou-se um participante de um fórum na Internet.
Outros, especialmente os jovens, embora aceitando a validade das pesquisas, não conseguem imaginar-se dentro da realidade. “Mas daqui a cem anos eu nem existo mais”!...
Ou seja, para a maioria das pessoas, as tragédias reais não são ameaçadoras, até o momento em que algum fator a torne próxima o suficiente para interferir em sua rotina e, portanto, real. Caso contrário as informações científicas são interpretadas com o mesmo espanto e terror imediato de um filme tipo “The day after”, ou documentários com rigorosa base científica são interpretados como probabilidade remota que permanece no consciente  até a saída do cinema e a colherada de sorvete.
Esta possibilidade é aterradora, se coinsiderarmos que o hábito à violência ficcional pode ser assimilado pela mente humana como rotina real. Agressões, tiroteios, grosserias, tudo isso passa a ser reconhecido como "natural" ao meio, ganhando certa familiaridade. Os vilões do mal não podem ser tão fortes e charmosos ou vencer os "do Bem", como anda pregando nossa ficção.
Em mentes perturbadas, essa relação pode facilmente desencadear comportamentos antes reprimidos pelo meio. A vida humana torna-se reles e dispensável, como as dos zumbís que tem suas cabeças explodidas pela arma do jogo virtual.
Há quem diga que toda essa violência ficcional tem o objetivo de transtornar as sociedades e implantar o caos, no mais absoluto exemplo teórico das conspirações do mundo moderno. Independente de qualquer exagero ou transtornos, a verdade é que começamos a enfrentar um claro desequilíbrio entre o real e o imaginário, com consequências muitas vezes dramáticas. Misturar realidade e ficção poderia não ser uma influência tão nefasta se houvesse maior atenção a fatores de comportamento que auxiliam a manter uma relação saudável com o meio desde a infância.  (Mirna Monteiro)



Wednesday, April 13, 2011

BEIJOS E BEIJOS

Beijo não tem um  início histórico. Certamente é simultâneo à própria consciência de ser da humanidade. Aliás, não apenas do ser humano, mas de outros animais, que também beijam sua cria ao nascer...à sua maneira, naturalmente.
Porque o beijo, embora seja essencialmente uma ação única, universal, se subdivide em diferentes formas de expressar o sentimento. Sim, o beijo é essencialmente a demonstração do sentimento, seja o amor, seja a paixão, seja a amizade, respeito mútuo ou o selo de um acordo ou ainda uma forma de pedir perdão.
Por esse motivo sempre fluiu livre na natureza. A exceção, talvez, de alguns períodos históricos, onde foi vigiado e reprimido, como nos tempos da Inquisição, na Idade Média, ou nos séculos XVII e XVIII, quando o beijo na boca entre homens foi sendo considerado anti-social, enquanto que o ósculo permanecia mais do que nunca estimulado. Questão de simples repressão da sexualidade, sob o peso do moralismo.
O beijo foi então dividido principalmente em dois tipos: o fraterno e o erótico.
No entanto um beijo assume todas as formas de sentimento e sua expressão depende da intensidade da emoção. Um beijo na testa pode expressar um grande amor entre um filho e um pai, assim como um beijo estalado na bochecha pode significar alegria!
Um beijo na boca não é necessariamente erótico. Para assim ser deve conter o envolvimento e a paixão. Um beijo no pescoço embora pareça inocente pode conter uma carga de sensualidade e equiparar-se a um beijo erótico.
Assim é o beijo: sentimento. E como toda forma de expressão da emoção humana, é uma ato saudável que permite falar sem palavras.
(Mirna Monteiro)

Thursday, April 07, 2011

PRATICA E TEORIA DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA

Violência passa a ser tema obrigatório nas escolas, não por mera inclusão de disciplina, mas por força da necessidade social. As estatísticas demonstram que o grau de agressividade no meio escolar aumenta de forma assustadora e cada vez mais atinge faixas etárias mais jovens, fluindo de forma independente das características sócio-econômicas. As motivações dessa violência variam, mas o que impressiona é a agressividade progressiva desencadeada por motivos fúteis.

Perdemos o "freio" no controle de crianças e adolescentes? Muitas pessoas procuram simplificar a questão, afirmando que falta a imposição de ordem e certa dose de repressão na relação dos pais com os filhos. Sob essa visão a tolerância excessiva ou o "mimo" exagerado estaria prejudicando a capacidade da criança em entender os limites das relações e de responsabilidade individual.

Se esse fosse o problema desencadeante da progressão da violência nas escolas, a solução seria simples? Não! Considerando que tolerância excessiva e "mimos" prejudicam, pois são a tradução da ausência dos pais e permissividade por omissão de atenção à criança, que tem acesso a informações e ações que não tem condições de assimilar e "digerir" cada vez mais precocemente, outros fatores perniciosos do meio ganham maior poder.

Há quem acredite que a violência na ficção, filmes, games ou até mesmo nos desenhos animados, seria assimilada de maneira diferente pela criança, pois ela não teria experiência prática para entender a violência tal como ela se processa a ponto de ser influenciada. É esse o maior engano! Da mesma forma que uma educação direta dos pais em conversas com os filhos e doutrinas religiosas fornecem a noção da ética e da moral ( o que seria indispensável para que a relação com o mundo seja processada) o contato com games que estouram cabeças ensanguentadas de zumbis também criam um parâmetro pessoal em relação à violência, que deixa de ser considerada uma invasora que deve ser dominada e excluída, para se tornar parte da rotina do ambiente. Transportar essa violência da ficção para a realidade, em um mundo onde cada vez mais o espaço virtual se confunde com a realidade física, é questão de tempo.

Crianças e jovens estão cada vez mais familiarizados com a violência, pois ela está presente em todos os lugares, na ameaça real da criminalidade, mas também dentro do ambiente familiar, onde encontramos pais impacientes e irritados, que quando estão presentes usam de violência, e o estímulo das imagens dos games, dos filmes e dos desenhos (que cada vez mais usam violência, subliminar ou diretamente) dos pais que vivem ausentes por questões profissionais ou outras.
É preciso, sem dúvida, que a família seja repensada. Filhos não são um pé de alface, que basta ser plantado e regado. É urgente resgatar a responsabilidade da relação entre pais e filhos, desde a gestação, para romper o círculo vicioso do desajuste que leva crianças e adolescentes a uma situação de tanta vulnerabilidade a drogas e violência.

Como se vê, restam poucas alternativas para as novas gerações no que se refere a orientação e formação basicas para desenvolver a capacidade de interagir com o meio de forma positiva. A mais importante delas é a escola, ambiente que representa para muitos pais a alternativa da educação não apenas curricular, mas ética, moral e emocional...No entanto a esmagadora maioria das escolas, mesmo as mais caras, não têm condições de substituir o papel da família na formação do caráter e no desenvolvimento harmonioso da personalidade da criança.

Manter uma situação tão desajustada poderá trazer consequências inesperadas não a longo, mas a médio prazo, pois já é possível detectar os sinais de alerta no meio escolar e social. Como não se pode reformular uma sociedade onde gerações de duas a três décadas perderam gradativamente a capacidade de definir valores sociais e éticos (nem falamos aqui em moral), a única alternativa para desfazer o enorme nó no novelo  da relação social e individual é tornar as escolas mais atuantes nesse processo.

Violência, agressividade e noções de ética e cidadania são problemas que devem se tornar discussão obrigatória nas escolas, em todas as faixas etárias, não como temas a serem doutrinados, mas apresentados e abordados de maneira a resgatar a capacidade de auto-suficiência do pensamento - uma simplificação do ensino da filosofia que vem sendo tão discutido e que corre o risco de se tornar uma disciplina morta - que compense a ausência da formação de valores e interpretação do mundo na relação familiar. A criança precisa aprender a refletir e entender que as imagens da mídia, que a influenciam direta ou indiretamente, precisam ser pensadas, repensadas e digeridas antes de se tornarem uma verdade a ser adotada em suas vidas.
(Mirna Monteiro)