Tuesday, February 15, 2011

A FALÊNCIA DA VIRTUDE


Parece uma abordagem extremamente dramática, exagerada. Mas é simples representação da verdade. Simplesmente está sumindo, desaparecendo do cenário moderno, a virtude. Talvez por pura ignorância de seu conceito.  Há quem considere que virtude é a manifestação de alguma pureza pré-fabricada, ou algum molde de uma peça artificial ou  ainda fruto de alguma moral desatualizada e sem encaixe na vida urbana e prevísivel da sociedade de consumo.
Uma tristeza, essa  impobridade de pensamento... de tal maneira que qualquer evocação à  virtudes perdidas ou soterradas em alguns espaços das cidades é logo condenada como atitude piegas! Nos habituamos cada vez mais com o tratamento impessoal,  com a frieza e distanciamento que substituiu a cordialidade e a comunicação "olho no olho". 
Ninguém se atreve a observar os olhos alheios, tamanha  é a preocupação em disfarçar os próprios sentimentos e impessoalizar qualquer encontro. Não há mais razão para a confiança:  todos são, potencialmente, possíveis inimigos, predadores ou safados que preparam o bote sobre suas vítimas.
Recentemente, durante uma discussão, alguém disse que a sensação de viver com o inimigo a espreita não é novidade. Seria um recuo no tempo ou a vivência de algo que nunca poderia ser passado, pois integraria acontecimentos cíclicos. Não estaríamos retornando aos tempos das cavernas mas sim retomando uma condição natural de desintegração moral que cederá espaço para uma reorganização da natureza humana no futuro.
Será mesmo? Ou estamos em tal crise de identidade coletiva que esquecemos de estabelecer as prioridades para uma convivência civilizada?  Lições antigas parecem ser ainda a melhor resposta. Aristóteles dizia que as virtudes poderiam ser conceituadas de duas formas diferentes, a intelectual e a moral. Ora, virtude moral não nasceria com o sujeito,  seria dependente do meio, que vai carimbando no cidadão noções de ética  e comportamento. Isso permite que todos tenhamos uma idéia do que é justo e é com base nesse processo que moldamos o caráter.
Neste caso, a falência da virtude nada mais é do que a falência da ética humana no meio. Pensando bem, é verdade. A sociedade está preocupada demais em consumir e isso signfica necessidade de amealhar recursos para esse consumo. Não há tempo para criar ambientes que promovam o caráter humano. Os pais trabalham fora o dia todo, os filhos ficam à deriva, sendo educados por terceiros que, por sua vez, também não tem condições de preencher as lacunas da formação ética de quem quer  que seja.
Estamos criando uma sociedade despida de noções éticas. Existe alguma teoria, sussurrada aqui e ali, mas a base da rotina da sociedade humana é uma mescla de anseio e frustração, de medo e depressão.  Uma tristeza, pois a suposta "liberdade" é pura escravidão dos desejos e o "sonho" perseguido é feito artifícios, de gordura saturada e pontes de safena!
Bem, sabemos onde está indo parar a nossa virtude moral. E quanto a nossa virtude intelectual? Aquela que nasce e progride do pensamento, do aprendizado constante, da experiência de vida?
Também está indo para o ralo, lamentavelmente. Não há tempo para pensar, pois a mente está ocupada por imagens e preocupações e o corpo não obedece aos sinais de alerta. O sujeito que se atreve a abrir um livro para ler  antes de duas páginas já caiu no sono. Ninguém suporta textos longos pois o dia é muito curto! A simples idéia de parar para estabelecer prioridades e valores ou abrir mão da mentalidade artificial é imediatamente rejeitada. O que parece predominar é a inércia mental diante de um ambiente hostil travestido de seduções. A observação do  mundo portanto, inexiste e o pensamento torna-se rápido para cálculos, mas lento demais para entender o que é a vida e de que material ela é feita. (Mirna Monteiro)


7 comments:

  1. Não entendo que a virtude esteja falida, e sim a máscara de virtude que as pessoas poderosas ou influentes do passado ostentavam.
    Não vejo virtude num passado em que as guerras eram consideradas justas, em que as desigualdades sociais eram justificadas pela vontade divina, em que os poderosos usavam os meios mais bárbaros para se manterem no poder.
    O mundo melhorou sim, o que desabou foi a falsa virtude dos fariseus hipócritas.

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  2. Isabella Damásio10:27 AM

    As pessoas estão sem rumo e norteamento,por isso basta que alguém se antipatize com outro,ou brigue no trânsito para acontecer um assassinato,não tem mais respeito pela vida humana,deveriamos ter maior controle e esta acontecendo o contrario
    Belo blog

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  3. Anonymous10:48 AM

    A maior virtude perdida é a tolerância outra é a vergonha na cara

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  4. Alexandre11:11 AM

    "Um homem virtuoso é uma espécie de ser inferior, pelas simples razão de que não é uma "pessoa", mas o seu valor consistem em ser conforme a um esquema de homem, fixado antecipadamente",criticou Nietzche e veja bem ele se referia a apropriação da virtude pelo homem para dominar o homem.A virtude portanto serve a Deus e ao diabo."Amais vossa virtude como a mãe ama o filho;mas quando é que já se viu uma mãe querer ser paga pelo seu amor?

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  5. Entendo que esteja falida no sentido de valores de vida,concordo em gênero e grau.Não há virtude porque não existe consciência do valor do semelhante e nem de nós porque viver a vida na agressividade,no roubo,na traição é menosprezar toda forma de vida e a natureza

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  6. FábioRibeiroRibeiro11:33 AM

    Acho que perdemos virtude sim porque antes mesmo quem não tinha ética cuidava para que ninguém percebesse e isso já é uma virtude perdida

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  7. Ana Bernardes11:36 AM

    Que texto saboroso e totalmente virtuoso,obrigada. Amei!

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