Arte, literatura, filosofia e comportamento-direitos reservados* Art, literature, philosophy and behavior-copyright* Art, littérature, philosophie et le comportement du droit d'auteur* Kunst, Literatur, Philosophie und Verhalten-Urheberrecht* Arte, letteratura, filosofia e il comportamento-copyright
Saturday, February 19, 2011
CONFESSANDO A VIDA
Em Colombo não se notava aparentemente nenhum sintoma revolucionário. O clima político diferia do da Índia. Tudo estava oculto numa tranquilidade opressiva. O país dava para os ingleses o chá mais fino do mundo.
O país estava dividido em setores e compartimentos. Depois dos ingleses, que ocupavam o alto da pirâmide e viviam em grandes residências com jardins, vinha uma classe média semelhante aos burghers e descendiam doa antigos bôeres, colonos holandeses da África do Sul que foram confinados no Ceilão durante a guerra colonial do século passado.
Mais abaixo estava a população budista e maometana dos cingaleses, composta de muitos milhões. E ainda mais abaixo, na categoria de pior trabalho remunerado, contavam-se também aos m ilhões os imigrantes nativos, todos eles do sul do país, de idioma tamil e religião indú.
(...) As escavações tinham revelado duas antigas cidades magnificasque a selva havia tragado: Anuradapura e Polonaruwa. (...) Naturalmente tudo aquilo mque era transportável partia bem embalado para o British Museum de Londres.
Meu amigo Winzer era competente. Chegava aos mosteiros distantes e, com grande complacência dos monges budistas, transladava para a caminhonete oficial as portentosas esculturas de pedra milenar que terminariamm nos museus da Inglaterra. Valia a pena ver a cara de satisfação dos monges vestidos de cor de açafrão quando Winzer deixava para eles, em substituição de suas antiguidades, imagens budistas de celulóide japonês, grosseiramente pintadas. Olhavam-nas com reverência e depositavam-nas nos mesmos altares de onde tinham sorrido por vários séculos as estátuas de jaspe e granito.
Meu amigo Winzer era um excelente produto do império, isto é, um sem vergonha elegante. ("Confesso que vivi", memórias de Pablo Neruda)
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment
Comente os textos ou adicione suas impressões sobre os temas abordados. Clique duas vezes para garantir a postagem.