Tuesday, February 22, 2011

QUANDO A VIDA NÃO VALE MAIS A PENA (2)


O Prêmio Nobel Gery Becker (no estudo Suicide) interpreta o suicida como um agente racional, que considera o futuro e toma a decisão que maximiza sua felicidade. Essa racionalidade seria compatível com sentimentos de depressão, que envolveriam a incapacidade de extrair felicidade da própria situação.
Neste caso, o indivíduo se mata quando presume que a infelicidade de hoje persistirá no futuro. Por isso, os suicídios são mais freqüentes entre os que sofreram uma perda violenta (do nível de renda ou de prestígio, por exemplo) e não enxergam uma chance de sair do buraco.

Sob o ângulo da filosofia, há acordo nesse sentido. Schopenhauer dizia que um homem põe fim à própria vida quando seus terrores são maiores do que a morte! E Hume, acertadamente, garantia que nenhum homem joga a vida fora enquanto ela vale a pena!

Naturalmente existem interpretações científicas que procuram uma causa patológica para tendências suicidas. Uma falha genética ou um problema químico do cérebro, que normalmente está programado para a auto-preservação.

Ou seja, a auto-preservação vem "embutida" em nossos gens! Não fosse isso, e a espécie humana já teria se extinguido. Nossa auto-defesa é automática, assim como a de qualquer forma de vida no planeta. Reagimos de maneira defensiva à qualquer ameaça.
Por esse motivo os suicidas da guerra são um exemplo do quanto a pressão psicológica pode criar ou desencadear um ato tão drástico, mas neste caso através da sedução, como algo a ser premiado.

Depende de um ambiente conflituoso e de uma espécie de lavagem cerebral, que criam espécies suicidas, como com os kamikazes, do Japão, ou os sahids no Oriente Médio.
O desespero pela vitória, a "premiação" pela morte (aos mais jovens e ingênuos, o paraiso com um belo harém, e aos mais reticentes, prêmios em dinheiro que ficam para ser usufruidos por aqueles que amam) são fatores que podem superar o instinto da auto-preservação.

Mais do que nunca, vivemos em uma sociedade que passa por grandes transformações e onde o indivíduo não possui peso de valor. Ou seja, a vida, em suas diferentes formas, passou para um segundo plano, para ceder espaço ao materilismo exacerbado.

É claro que o ser humano, preparado naturalmente para viver em comunidade, vê ruir valores e a família, o que torna toda a sociedade humana fragilizada e insegura; isso o transtorna e torna-se uma ameaça além de suas forças. A sensação de impotência certamente agrava a depressão e a possibilidade de desistência da luta pela felicidade e até pela própria existência.
Em ambientes comuns, suicidas em potencial demonstram características próprias. Por exemplo, o adolescente com tendência suicida pode atentar contra a vida em estado de grande melancolia. O adulto, quando em profunda depressão, em geral acompanhada da falta de perspectiva de futuro.

Há mais mulheres que tentam o suicídio do que homens. No entanto há mais homens que atingem esse objetivo. A explicação é óbvia: os homens costumam utilizar armas de fogo, que em geral levam ao óbito imediato. São mais pragmáticos também diante da morte!

Mas o tipo de suicida mais comum é justamente aquele que não conscientiza diretamente a intenção. Você pode ser um deles e não ter percebido ainda!
É o caso das pessoas que consomem drogas perigosas ou mantém hábitos mortais a longo prazo, como o uso do cigarro e da bebida.
É possível estabelecer uma relação entre momentos de grande conflito e desequilíbrio social e o aumento de hábitos perniciosos à saúde. Por exemplo, o excesso de alimentos considerados perigosos ao organismo. Mas o diabético que insiste em consumir alimentos que elevam a glicemia a níveis insuportáveis ao organismo ou o cardiopata que apesar das artérias obstruídas pela gordura insiste em comer a capa da picanha ou o torresmo, poderiam ser considerados suicidas em potencial?

Há quem acredite, erroneamente, que a miséria e desorganização social é a maior causa de desistência de viver. Não é mesmo! Paises excessivamente organizados demonstram os mais altos índices de suicídios. Como a Suécia, que já manteve índices impressionantes. A explicação mais utilizada fala sobre a nostalgia dos períodos do ano em que não há sol, mas apenas noite. Mas há estudos que citam outras causas, como o assédio sexual no trabalho ou em oposto a ausência de desafios, em uma rotina excessivamente imutável.

Falta de desafios ou o excesso deles...O ser humano parece boiar em uma superfície que o desanima quando sacode demais ou está absolutamente inerte!
A vida apresenta momentos complicados, sentimentos confusos, sensação de solidão insuportável. No entanto, viver implica em assumir a vida em todos os seus desafios. Talvez a origem do impulso suicida esteja na incapacidade de perceber que a vida não se resume à superfície... (MC)

1 comment:

  1. Leda D.N2:52 PM

    Esse assunto é importante, parabéns pela excelente abordagem. A maneira de viver moderna é dramática e provoca disturbios. Gostaria de colaborar com estes dados
    70% dos suicídios ocorrem em decorrência de uma fase depressiva.
    Pessoas mais velhas se suicidam mais que as mais jovens.
    Quanto mais planejado, mais perigoso no sentido de haver novas tentativas, caso essa não dê certo.
    Qualquer distúrbio Neuropsiquiátrico mais Álcool aumenta o risco de suicídio.
    Qualquer distúrbio (Depressão, Ansiedade, Psicose, etc.) mais os seguintes fatores aumentam o risco: isolamento social, falta de amigos, não ser casado, não morar com uma outra pessoa, não ter filhos, não ser religioso.
    O provérbio "cão que ladra não morde" não existe em suicídio. Pelo contrário, 90% de quem tenta, avisou antes.
    Leda Duarte Nogueira

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