Parece muito dramático: você está andando na rua, olhos atentos a qualquer pessoa que passa próxima à você; qualquer um pode ser um agressor, não pode? São pessoas desconhecidas! Mas e quanto à ameça de pessoas, empresas, instituições e ambientes em que você confia?
Este parece ser o novo desafio da sociedade deste século: distinguir entre estranhos e conhecidos quem pode ser uma ameaça à integridade física ou material. O inimigo não é mais o tigre que rosna em torno da caça, mas um lobo que veste as mais variadas peles, do empregado doméstico aos seguranças contratados para defesa, ou até mesmo pessoas da própria família!
Imagine esta cena que se torna comum: para você entrar em uma agência bancária com a finalidade de acessar sua própria conta ou fazer seus pagamentos, você geralmente é barrado na porta giratória e obrigado a esvaziar bolsos e bolsas.
No entanto, a mesma porta que barra suas chaves, seu celular ou até suas obturações dentárias (exagêro...) não consegue impedir que bandidos armados surjam como por encanto e assaltem a agência onde você foi pagar a conta de luz.
O problema é que esses assaltantes lucram mais esvaziando os bolsos dos clientes do que esvaziando os caixas do próprio banco, que afinal tem seguro!
E o cidadão é duplamente punido, por ser constrangido no momento de entrar na agência bancária e ser assaltado antes de sair dela!...Aliás aumentaram os casos de bandidos que agem na saída dos bancos, cada vez mais organizados para os assaltos ao cidadão.
Shoppings centers eram considerados locais seguros. Seguro para o seu veículo no estacionamento, seguro para você fazer compras sem se preocupar com a bolsa...era assim. Agora os shoppings são palco de tiroteios de quadrilhas mais sofisticadas que visam joalherias.
Parece ser uma questão de oportunismo: as joalherias de shoppings são presas fáceis pela própria idéia lugar é mais seguro. Certamente a partir do momento em que estratégias forem adaptadas para dificultar os assaltos surpresa, os assaltantes vão ter de mudar de tática e surpreender outros locais. É claro que esse fato serve apenas para tornar o cidadão mais inseguro ainda, pois não se sabe de onde virá o próximo golpe.
Você tem coragem de deixar as crianças sozinhas com a babá? Cresce o número de pessoas que são obrigadas a espionar as babás que cuidam de seus filhos. Muitas pessoas abriram mão da privacidade em nome da segurança e mantém a casa equipada com câmeras em todos os cômodos.
E sua empregada doméstica? Conhece todos os hábitos da família e tem acesso à todas as fechaduras da residência? E o guarda-noturno? Os chamados "seguranças coletivos" que passam de casa em casa cobrando taxas para apitar até você dormir também representam um risco, pois ficam conhecendo todos os detalhes do bairro e sabem quando uma residência está vazia. Pode haver entre eles um "olheiro".
E o segurança do condomínio ou do prédio?...Ou mesmo amigos e familiares, em casos onde cresce a ocorrência de abusos sexuais em crianças, estupros e mesmos seqüestros? Ou mesmo o marido, que cada vez mais aumenta a estatística de espancamento e assassinato das mulheres.
Ou mulheres que também matam seus homens e seus filhos. E que cada vez mais abusam emocionalmente de crianças.
O inimigo íntimo começa a colocar as garras de fora e age cada vez mais, contando com a impunidade.
Ou mulheres que também matam seus homens e seus filhos. E que cada vez mais abusam emocionalmente de crianças.
O inimigo íntimo começa a colocar as garras de fora e age cada vez mais, contando com a impunidade.
A desconfiança de tudo e de todos parece ser a nova necessidade moderna. Um retrocesso: exatamente como nos tempos das cavernas!
É interessante lembrar o "daimonion" de Sócrates. Dizia ele que "em mim se verifica algo de divino ou demoníaco (...) uma voz que se faz ouvir dentro de mim desde que eu era menino e que, quando se faz ouvir, sempre me detém de fazer aquilo que é perigoso e que estou a ponto de fazer, mas que nunca me exortou a fazer nada".
Passamos por uma fase onde a voz da razão e do limite anda rouca demais, deixando poderosa a voz demoníaca. Cada vez mais, na desordem social e na pressão do consumo o mundo perde a coerência para a convivência pacífica e não consegue inserir-se na lógica da cidadania.
Devemos reaprender a "ouvir" nossa intuição e estabelecer contato com a vida através do respeito à natureza e à consciência de que aquilo que movimenta o mundo parte não de algum espaço alienígena, mas de nós mesmos.
Demócrito escreveu que a bondade não é uma questão de ação; depende do desejo interior do homem. O homem bom não é o que pratica o bem, mas o que deseja praticá-lo sempre.
Se o interior humano anda tão precário, devemos antes de mais nada analisar nossos pensamentos e ações, pois somos a gota que faz transbordar o copo!
Principalmente se concordarmos com Espinosa, que achava que o esforço de se preservar é um bem e o que trava esse esforço é um mal. Ou seja, a presença do mal é simplesmente a falta de esforço em se promover o bem!
Principalmente se concordarmos com Espinosa, que achava que o esforço de se preservar é um bem e o que trava esse esforço é um mal. Ou seja, a presença do mal é simplesmente a falta de esforço em se promover o bem!
É preciso se esforçar e suar a camisa para manter o equilíbrio na convivência.
Estamos todos, talvez, demasiados omissos e preguiçosos, afundando em uma vida ficcional e superficial dos prazeres do consumo e da hipnose da mídia. O preço está sendo alto: cada vez mais o espaço individual está sendo reduzido, enquanto a ameaça à sobrevivência aumenta!
Se o antigo Protágoras estava certo, estamos todos ferrados: "o homem é a medida de todas as coisas... Cada um tem o direito de determinar, por si, o que é o bem e o que é o mal...". Neste nosso espaço cada vez mais aviltado e confuso, isso seria realmente a verdadeira anarquia do final da raça humana, pelo menos nos moldes que criamos para nosso atual sistema de vida. (MM)
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