Thursday, April 12, 2012

O QUE FAZER DA SEXTA-FEIRA 13

É de tremer nas bases imaginar aquele sujeito degringolado, com uma máscara de plástico, perseguindo as pessoas na série "Sexta-feira 13". Desde 1980 foram 12 filmes de terror com essa personagem e uma geração inteira de assustados com a data fatídica, que no entanto já era considerada complicada há séculos ou talvez milênios. Muito antes do tal de "Jason", o mascarado da ficção que inferniza as telas de cinema. Ou dos inúmeros outros "Jasons" que surgiram no rastro desse predador ficcional, mas nem por isso menos maligno!
Com ou sem essas cenas, esse dia sempre foi interpretado de maneira depreciativa. Já alguns dias antes as pessoas ficam preocupadas com a sexta-feira 13. Uns reclamam que já na véspera - ontem - começaram a dar topadas e machucar o dedão, perderam a hora do dentista e uma restauração despencou, que o pneu do carro furou e "alguma coisa está esquisita"...ainda que seja devido à azia provocada pelo abuso do "fast food" de quinta-feira, dia 12...onde também se machuca o dedão e se perde duas horas no trânsito endemoniado das marginais e avenidas.
De qualquer forma, estranha a escolha de duas datas que separadas não impressionam ninguém. Muito pelo contrário, sexta-feira é o dia mais aclamado da semana, considerado a linha divisória entre a responsabilidade do trabalho e as delícias do descanso. O número 13, por outro lado, tem má fama injusta, pois é considerado número da sorte em diversas culturas.
Há algumas explicações para a escolha da sexta-feira 13 como dia complicado, Lendas nórticas contam que Loki, deus do fogo, aproveitou um encontro de doze deuses para conturbar o ambiente e ferir o deus solar Baldur, favorito de Odin, o deus dos deuses. Naturalmente ele, Loki, era o décimo terceiro.
Mas a história de que reunir 13 pessoas não dá muito certo também pode ter tido origem na Escandinávia, que exilou a deusa da fertilidade e do amor, Frigga, no alto de uma montanha, durante a conversão ao cristianismo  de tribos norticas. Frigga passou a reunir-se com outras 11 bruxas e, dizem as más línguas, o demônio. O que irritou as pessoas, que passaram a considerar a sexta-feira 13 um dia maligno!...Frigga, aliás, originou o nome sexta-feira no calendário romano, que no final das contas apenas chegaria à outros lugares, como a Inglaterra, no século V, com sua semana de sete dias.
Bobagem explicar isso. Para os crédulos, a sexta-feira 13 está acima de cronologias e do desenrolar da história. É um dia cercado de mistérios e de energias conflitantes, simplificadas na forma de superstições.
Ainda assim, talvez a melhor explicação esteja o fato de que a sexta-feira era um dia consagrado à deusa, ou ao feminino. Em uma sociedade que se tornava masculina e patriarcal, esse dia passou a ser mal visto.
Ah, há muitas outras histórias rondando a sexta-feira 13. Nenhuma tão horrível como o tal do Jason dos anos 80 do século XX, mas também com cores dramáticas, como a caça aos templários, que teria sido ordenada  por Felipe IV em 13 de outubro de 1307.
Como sabemos, sexta-feira é um dia bem quisto normalmente e o dia 13...ora, na numerologia o 13 transforma-se em 1+3= 4...quatro significa potência e constância, o percorrer passo a passo o caminho! Há 4 estações do ano, a lua tem 4 fases, agua, terra, ar e fogo são os 4 elementos que permitem a vida!
Melhor que isso impossível. Não, tem mais sim: hoje, dia 13 de abril, é o Dia do Beijo!
Que seja uma boa sexta-feira 13! (Mirna Monteiro)

LEIA TAMBÉM:
http://artemirna.blogspot.com.br/2011/04/o-beijo-como-expressao-do-sentimento.html

Wednesday, April 11, 2012

CRÍTICA DA LOUCURA

Erasmo, falando em nome da Loucura: "Vê-se claramente que
o homem não nasceu para gozar aqui na terra de uma
felicidade perfeita".
Hoje e há 500 anos atrás as mesmas críticas da Loucura 
Os loucos são mais felizes? Depende do tipo da loucura, certamente. "Os loucos receberam o privilégio de censurar e moralizar sem ofender ninguém. Príncipes  riem-se de todo o coração quando um tolo lhes diz coisas que seriam mais do que suficientes para enforcar um filósofo"!
Palavras da própria "Loucura". Afinal apenas quem é louco defende verdades que podem se voltar contra ele mesmo ou seu conforto.
Os sábios tem duas línguas, uma para dizer o que pensam e outra para falar conforme as circunstâncias, já dizia Eurípedes.
Falar aquilo que se pensa é uma condição rara. Os motivos variam, passando de interesses políticos e pessoais até a omissão gentil ou piedosa, onde a trava na língua é motivada por consideração ao próximo. A extrema sinceridade nem sempre pode ser aceita ou digerida, mesmo porque nem sempre é a representação da verdade, mas simplesmente uma interpretação que pode mudar sob luzes mais intensas do que o pensamento de quem a concebe.
É o caso da crítica certamente. Não falamos simplesmente da argumentação que tenta mostrar a beleza ou as falhas de determinada obra de arte, de uma peça de teatro ou um filme. Falamos da visão crítica da vida e da sociedade. "Glauco enalteceu a injustiça, o filósofo Favorino louvou Tersides e a febre quartã, Sinésio a calvice e Luciano a mosca parasita", argumenta Erasmo de Roterdam (ou Rotterdam), que de Geraldo passou a Desidério Erasmo, antes disso. Afirmações e opiniões não são necessariamente verdade ou observações construtivas, muito pelo contrário.
Quantas besteiras afirmamos pensando que são verdades!
Sob essa ótica, a observação crítica deve passar pelo crivo da imparcialidade do pensamento, o que é muito difícil. Daí a necessidade de certa dose de audácia ou loucura, que acabou gerando as idéias de Erasmo, que ainda hoje, mais de quinhentos anos depois, ainda cabem perfeitamente como crítica à sociedade! Em seu "Elogio à Loucura", mostra bem o quanto podemos ser ridículos e confusos na ansiedade em criar uma normalidade aparente.
A "Loucura" de Erasmo de Roterdam é independente, despeja suas considerações e interpretações sem que o autor assuma sua autoria ("não sou eu, mas "ela" quem fala, a loucura dos homens" ). É extremamente bem humorada, sarcástica e cruel.
"Nunca terei louvado bastante a Pitágoras por ter se transformado em galo. Esse filósofo, em virtude da metempsicose (vou interromper aqui para lembrar que metempsicose teria origem na alma humana que também habitaria outros seres vivos, tipo reencarnações) passou por todos os estágios: filósofo, homem, mulher, rei, confidente, peixe, cavalo, rã e creio até que esponja. E depois de todas essas transmigrações declarou que o homem era o mais infeliz dos animais, pois todos estão satisfeitos em ficar nos limites prefixados pela natureza, enquanto só o homem se esforça para ultrapassa-la"
O que, segundo a Loucura, dá uma imensa dor de cabeça aos seres humanos, que ao renegar a natureza tal como ela é, vivem em desarmonia e terror, com medo da vida e da morte e envoltos na infelicidade da ciência fabricada.
Vamos a algumas considerações da Loucura de Erasmo:

PODER -  Não posso deixar de lastimar a sorte dos príncipes. Oh, como são infelizes! Inacessíveis à verdade, só contam com a amizade de aduladores (...)Por que os príncipes detestam a companhia de filósofos? Ah! Bem vejo que isso se deve ao medo que os príncipes tem de encontrar  entre os filósofos algum petulante que se atreva a dizer o que é verdadeiro e não agradável"...

O POLÍTICO - Observemos em que consistem as obrigações de um homem que é posto à testa de uma nação. Deve dedicar-se dia e noite ao bem publico e nunca ao seu interesse privado; pensar exclusivamente no que é vantajoso para o povo; ser o primeiro a observar as leis de que é autor e depositário, sem desviar-se nunca de nenhuma delas; observar co firmeza, com os próprios olhos, a integridade dos secretários e dos magistrados; não esquecer nunca de que os vícios e os delitos dos seus súditos são infinitamente menos contagiosos que os do senhor(...)...

O BOBO - Dizemos ser louco todo aquele que, sendo curto das vistas, toma um burro por um jumento ou que por ter pouco discernimento, considera excelente um mau poema. Ao mesmo tempo quando um homem comete um estranho erro, não só de senso, mas também de inteligência, nele persistindo longamente - por exemplo, ao escutar o zurro de um burro, julga ouvir uma sinfonia.

O LOUCO - A loucura é bem mais espalhada do que em geral se pensa. As vezes é um louco que se ri de outro louco, divertindo-se ambos mutuamente.

RELIGIÃO - Outra espécie de extravagantes é constituída pelos que confiando em certos sinais externos de devoção, em certos palanfrórios, em certas rezas que algum piedoso impostor inventou para se divertir ou por interesse, estão convencidos de que vão gozar de uma inalterável felicidade, conquistar riqueza, obter honra, satisfazer determinados prazeres, viver longamente e levar uma velhice robusta e, como se isso não bastasse, ainda esperam ocupar no paraiso um posto elevado(...) Tempo de voar entre as inefáveis e eternas delícias do céu, uma vez abandonados pelos bens na terra, aos quais se aferram de todo o coração.

PERDÃO DIVINO - Persuadidos dos perdões e indulgências, ao negociante, ao militar, ao juiz, basta atirarem a uma bandeja uma pequena moeda, para ficarem tão limpos e puros dos seus numerosos roubos como quando sairam da pia batismal...Quem já terá visto homens mais tolos que julgam que entrarão infalivelmente no reino dos céus recitando todos os dias sete versículos que eu não sei quais sejam (...) No entanto, foi um demônio quem fez tão bela descoberta: mas um demônio tolo, que tinha mais vaidade do que talento(...).

RELATIVIDADE - Se um esfomeado come carne podre, cujo fedor obrigaria outro a tapar o nariz, se ele a come com tanto gosto como se se tratasse do alimento mais fino, eu vos pergunto se por isso devce ser considerado menos feliz. Ao contrário, se um enfastiado comesse iguarias e em lugar do seu gosto sentisse náuseas, onde estaria nesse caso a sua felicidade? Para um homem que tem uma mulher feissima, mas na qual vê perfeitamente a sua bela, não é o mesmo que se tivesse desposado uma Vênus?

EGOÍSMO TOLO - Ora, é impossível gozar um bem quando se está sozinho.

SABEDORIA  - Os sábios são em numero tão escasso que nem vale a pena falar deles, e eu desejaria mesmo saber se é possível descobrir algum. No curso de tantos séculos, a Grécia se vangloria de ter produzido apenas sete sábios. É na verdade maravilhoso! O gênero humano deve mesmo muito a essa felicidade da Grécia! Foram mesmo sete?

O VINHO -  ...Consiste em tirar  e dissipar do ânimo dos mortais as aflições, as inquietações e a tristeza, perversas filhas da razão: mas por pouco tempo, porque depois de algumas horas de sono, voltam a atormentar-nos imediatamente e, como se costuma dizer, a todo galope. Não será isso inteiramente o oposto do bem que eu proporciono ao mortais? Minha embriaguez é muito diferente da de Baco: enche a alma de alegria, de tripúdio e de delícias, dura até o fim da vida e não custa dinheiro nem dá remorsos...

HIPOCRISIA - E que coisas estranhas não se dizem e fazem quando morre um parente próximo? Chega-se ao ponto de pagar pessoas que finjam chorar e gesticulam como cômicos. Quanto  maior é a alegria experimentada no coração, tanto maior é a tristeza que o rosto aparenta, o que deu origem ao provérbio grego: chorar na sepultura da madrasta. Este tira o quanto pode, seja de onde for, e dá tudo de presente à própria barriga, com o risco de morrer de fome depois de satisfeita a gulodice. Aquele que põe toda a sua felicidade no ócio e no sono.

AGIOTAS - os negociantes, sobretudo, são os mais sórdidos e estúpidos atores da vida humana: não há coisa mais vil do que a sua profissão e, como coroamento da obra, exercem-na da maneira mais porca. São, em geral, perjuros, mentirosos, ladrões, trapaceiros, impostores. No entanto, devido a sua riqueza, são tidos em grande consideração e chegam a encontrar frades aduladores, que lhes fazem humildemente a corte e publicamente lhes dão o nome de veneráveis, a fim de lhes abiscoitar uma parte dos mal adquiridos tesouros.

ESCRITORES- Todos esses escritores tem parentesco comigo (a Loucura) sobretudo quando só escrevem coisas insípidas. Quanto aos autores que só escrevem para poucos, isto é, para pessoas de fino gosto e perspicazes, confesso-vos ingenuamente que merecem mais compaixão do que inveja.
Mas falemos agora de um autor que escreva sob meus auspícios e do qual seja eu a Minerva. Não conhecendo a meditação nem a tortura do cérebro, nem as vigílias, escreve tudo que sonha, tudo que lhe vem à cabeça. (...) Quem poderá negar que esse homem seja verdadeiramente feliz?

PLAGIADORES - Os plagiadores que com suas facilidades se apropriam das obras alheias, gozando da glória que aqueles dos quais eles a roubaram conseguiram com imensa dificuldade. (...) Esses nomes - por Júpiter imortal! - não tem significação alguma. Considerando-se toda a vastidão da terra, pouquíssimos são os que os louvam, não sendo muito diverso dos dos ignorantes o gosto dos sábios.

ADVOGADOS - Pretendem os advogados levar a palma sobre todos os os eruditos e fazem um grande conceito da sua arte. Ora, para vos ser franca, a sua profissão é, em última análise, um verdadeiro trabalho de Sífiso. Com efeito eles fazem uma porção de leis que não chegam a conclusão alguma.
Que são o digesto, as pandectas, o código? Um amontoado de comentários, de glosas, de citações. Com toda essa mixórdia, fazem crer ao vulgo que, de todas as ciências, a sua é a que requer o mais sublime e laborioso engenho. E como sempre se acha mais belo o que é mais difícil, resulta que os tolos tem alto conceito dessa ciência.

SUPERIORIDADE- Vejamos, agora, os bobalhões dos estóicos, que se reputam tão próximos e afins dos deuses. Mostrai-me apenas um, dentre eles, que mesmo sendo mil vezes estoico, nunca tendo feito a barba, distintivo da sabedoria (se bem que tal distintivo seja também comum aos bodes) precisará deixar seu ar cheio de orgulho (...) Ora meus senhores, o instrumento propagador do gênero humano é aquela parte, tão deselegante e ridícula que não se lhe pode dizer o nome sem provocar o riso. (...)

"Ecomium Moriae" foi publicado em Paris em 1509, sobreviveu por séculos e recebeu o título de "Elogio da Loucura" quando foi traduzido no Brasil.  Apesar das críticas ferozes a toda forma de hipocrisia, a obra demonstra que as qualidades e erros humanos independem da época e da cultura, deixando entretanto em aberto a transformação das idéias através da comunicação. Considerando, é claro, a persistência da razão que em tempos de mediocridade pode ser interpretada como loucura... ( Mirna Monteiro)    

Thursday, March 22, 2012

A ÁGUA E A ESSÊNCIA HUMANA

Há dia para tudo e todas as coisas, até para a água. Hoje é "Dia da Água". Como se fosse possível comemorar em um dia um elemento que significa a existência de vida no planeta. Tão precioso quanto insignificante para uns, irrelevante para outros, trivial entre outros tantos, secundário ou até inexistente, na interpretação de quem não pensa a vida como um conjunto químico perfeito e permanente e não necessariamente interminável, mas como algo que não precisa ser conscientizado. 
A água é tudo, obviamente, ninguém poderá contestar essa realidade. Planeta desidratado é planeta morto. Quando a ciência alerta para o risco da água tornar-se cada vez mais rara, as pessoas se espantam! Mas o nosso planeta tem mais água do que terra! E tem mesmo, mas distribuída à sua maneira e não à maneira dos homens. Água potável, além de ser limitada  e infinitamente menor do que as áreas sólidas, existe em partes do planeta e de maneira irregular. 
Cidades inchadas de pessoas, em muitos países, estão no risco da escassez. Alerta-se para o fato de que em 2025 dois terços da população mundial vai estar em apuros. Pode-se correr o risco de afogamento de um lado e a escassez completa de água de outro.
Essa possibilidade causa arrepios! Subitamente as cenas da ficção que mostram um planeta com enormes regiões áridas ou com água insalubre começam a ganhar contornos de realidade possível. Gangues malvadas que roubam garrafinhas de água ao invés de estourar caixas eletrônicos. Países com reservas aquíferas sofrendo ameaças de invasão! Tudo isso por causa desse elemento que hoje sai farto de nossas torneiras, a um custo cada vez mais alto, o que demonstra que mesmo sendo vital  para a humanidade não é mais acessível e gratuito como nos tempos dos córregos limpos que matavam a sede de nossos ancestrais.
Há grande dificuldade nas pessoas para entender que a realidade não é imutável, mas sim dinâmica como um sonho ou a imaginação liberta. A terra se transforma, dia a dia, como resultado de um conjunto de ações e pensamentos. Não há como evitar as transformações, mas certamente é possível direcioná-las seja para problemas, seja para soluções. 
O problema da água não é técnico, mas essencialmente humano. (Mirna Monteiro)

Thursday, March 08, 2012

O DESAFIO DE SER MULHER

Há alguns anos ainda havia uma certa euforia nos discursos que comemoravam o Dia Internacional da Mulher (8 de março), como se isso justificasse a existência de uma deferência especial, que, quer queira ou não, sempre deixou em aberto a "diferença" do ser feminino.
Afinal, havia muito a 
ser comemorado pelas mulheres, ao passo que os homens nada tinham a festejar. Não havia sido criado o "Dia do Homem", porque o homem sempre dominou o espaço social, político e produtivo nos séculos e séculos passados.
Mulheres não! Aliás, mulheres eram alijadas da política e das decisões. Pelo menos, abertamente e até onde nosso conhecimento permite. Em séculos bárbaros, onde a força física era a única alternativa para sobrevivência, as mulheres ficavam de fora, costurando as feridas abertas pelas guerras e invasões!
Quando o mundo se revolucionou industrialmente e a sociedade humana passou a uma nova etapa cultural, as mulheres do mundo ocidental mudaram, brigaram pelo espaço e pela participação política e negaram-se a perpetuar a imagem de úteros sem cérebro... E hoje têm direitos e deveres igualitários em sociedades democráticas e livres!
Certo?
Errado!
Pois é, as coisas não são bem assim não! Começando pelo fim, podemos dizer que a situação da mulher não melhorou, em absoluto! A mulher do terceiro milênio é um ser livre por conveniência no mundo ocidental e isso quer dizer, na prática, que a sua liberdade é totalmente discutível.
A mulher do chamado "mundo livre" é um ser extremamente sobrecarregado de funções, confuso com a necessidade de reestruturação da família, onde é, cada vez mais não apenas a "cabeça", mas o corpo todo: houve uma gradativa "fuga" da responsabilidade do homem sobre a família!
Por outro lado, a mulher ainda sofre os mesmos preconceitos de sempre. Ganha menos que o homem quando exerce a mesma função profissional, trabalha em dobro e têm menos direitos e privilégios de carreira nas empresas.
Nunca antes a mulher sofreu tamanha carga de violência! Em todo o mundo, ela é espancada e assassinada em número crescente! Estamos falando do mundo ocidental, evoluído, o mundo do capital e da liberdade...nas culturas da Asia e Oriente Médio a situação vai mal também. Mostra a situação da mulher dos tempos bárbaros: sem direitos a opinar, sob forte restrição de liberdade social e individual e sujeita a penas bárbaras, como no caso do apedrejamento até a morte se houver suspeita de adultério!
Mulher do oriente, mulher do ocidente... Isso faz pensar: se de um lado ela sofre penalidades bárbaras e cruéis, de um extremismo insuportável, de outro, nas modernas cidades dos paises desenvolvidos, ela sofre penalidades bárbaras e cruéis também...embora reconhecidamente ilegais.
Interessante: de um lado a mulher é sufocada por véus e ameaçada de pedradas por uma cultura cruel e de outro é sufocada pela realidade e ameaçada por facadas e tiros por inoperância da Justiça, em uma sociedade que apesar de alardear liberdade e igualdade ainda é cercada de preconceitos!
Vai mal a situação da mulher!
O alarde a respeito das conquistas femininas é relativo e cheira a manipulação do moderno sistema de consumo e na dança do giro de capital! Há interesses na engrenagem que move o mundo moderno, o que não significa necessariamente que podemos interpretar nesse conjunto alguma "vitória da mulher", já que a manipulação é um perigo de muitas faces.
Provavelmente, ainda assim, a mulher ´poderá superar as dificuldades e acertar os ponteiros com a sociedade. Poderá, quem sabe, cumprir com o mais fundamental de todos os desafios e ajudará a equilibrar o mundo.
Mas ainda há muito trabalho pela frente antes de considerar que há de fato um equilíbrio a ser comemorado! (Mirna Monteiro)

Thursday, March 01, 2012

A SÍNDROME DE EVA E A PERDA DO PARAISO

Quando Eva vivia no Paraíso ao lado de Adão, as coisas funcionavam maravilhosamente. Até que apareceu em cena uma serpente enroscada em uma macieira e todos sabemos o que aconteceu. Adão não era nenhum retardado quando provou o fruto proibido, mas a culpa coube a Eva. Era ela quem devia nortear Adão e, portanto, não deveria sugerir que abocanhassem o fruto proibido.
A mulher sempre foi responsabilizada por tudo desde o gênesis...
Certamente se ignorarmos o aspecto bíblico, a situação será sempre muito semelhante. O que importa é a realidade prática, ainda que metaforicamente exposta.
Mas a historia continua:
Desde a expulsão do Paraiso, as coisas ficaram difíceis. Adão e Eva resolveram dividir as tarefas, porque era a única forma de sobrevivência.
Ela sentia as dores do parto para povoar o mundo, ele corria atrás da caça.
Ela garantia a sobrevivência da prole a partir da raiz, ele defendia a família.
Ele se preocupava com coisas práticas. E ela continuava a exercer, bem ou mal, a antiga responsabilidade de nortear Adão.
A humanidade varou milênios, passou a marcar a passagem do tempo e o que aconteceu, desde o final do século XX, a Adão e Eva?
Boa pergunta!
Bem, Eva continua com duas mãos e dez dedos, mas em compensação está tendo de multiplicar a cabeça. Transformou-se em um ser muito diferente: para sobreviver, depende de visão periférica, de capacidades múltiplas e muita energia física e emocional, já que além de manter as responsabilidades da Eva tradicional, a  geradora, assumiu todas as outras que cabiam à Adão, o mantenedor.
E Adão? Adão está dividido: em parte mantém o seu antigo papel, em outra simplesmente nenhum.
Eva multiplicada, Adão dividido.
Situação polêmica, contraditória.
Eva acha que conquistou espaços e cresceu. Será? Eva ainda se atrapalha quando estabelece o tempo necessário para a prole, quando o mundo profissional exige todas as horas do seu dia.
Adão resmunga, preso ainda aos velhos preconceitos de milênios atrás. Parte dele achou um caminho intermediário e descobre que funções antigamente exercidas apenas pela mulher tem uma importância e um conteúdo interessantes. Mas a maior parte de Adão permanece exatamente como era.
Nunca foi tão difícil para a mulher exercer o seu papel de formadora da humanidade. Sim, porque é impossível negar a dimensão de sua ação no destino humano, mesmo que o poder de transformação tenha sido exercido entre quatro paredes.
Valores foram rompidos e a Eva de hoje, cada vez mais, não tem como dividir funções de sobrevivência.
Adão está confuso.
A humanidade portanto se torna confusa!
A vida de Eva complicou-se: ela acumula funções que eram de Adão. Como ninguém é de ferro e a Eva moderna não é um elástico que pode ser indefinidamente esticado sem estriar-se e romper-se, é preciso priorizar as ações. E isso leva à mudanças sociais profundas, a partir da família.
Quais as conseqüências dessa nova realidade?
A resposta pode não ser muito agradável.
A vida forma um conjunto perfeito, como uma orquestra, onde cada ser exerce um papel. Todos sabemos que mudar o curso de um rio ou devastar uma floresta pode ser perigoso para a sobrevivência humana.
A mulher sempre exerceu um papel mediador entre a realidade imediata e o futuro. Ao gerar e inteirar-se com sua cria ela determina não apenas o destino de um indivíduo, mas de toda a coletividade.
Uma sociedade pacífica e organizada não é responsabilidade só da mulher, mas quem vai negar que uma criança bem cuidada, amada e orientada, tem maiores chances de tornar-se um ser humano produtivo e equilibrado?
O que parece bem claro é que a mudança, para que esse equilibrio seja alcançado, depende de mais transformações. Por exemplo, a responsabilidade no gerar. Filhos são responsabilidade de ambos, pai e mãe. No entanto não podem crescer educados unicamente por terceiros, como se fossem orfãos, em troca de uma mentalidade excessivamente consumista.
Não é incomum encontrar pais que se desdobram para ganhar dinheiro achando que a criança será feliz com roupas de grife, tecnologia de última geração e escolas particulares. Obviamente tudo isso parece ótimo, mas depende do preço a ser pago. O excesso de supérfluo não pode compensar a ausência de uma relação frequente entre pais e filhos.
Talvez não seja preciso andar com as crianças a tiracolo, como a cultura indígena determina (crianças que são amamentadas e próximas dos pais ficam mais fortes e mais independentes no futuro), mas sem dúvida é preciso rever a relação dos pais com os filhos na nossa sociedade moderna. O aspecto emocional do indivíduo, desde a gestação, é fundamental. Sem isso teremos crianças, adolescentes e adultos problemáticos, presas fáceis de drogas e da depressão.
Parece que Adão e Eva ainda estão muito longe de viver o paraíso...(Mirna Monteiro)

Wednesday, February 29, 2012

MÉDICOS ROBOTIZADOS

"É o fim do mundo!", repetia uma senhora que aguardava atendimento em um pronto-socorro de um hospital particular. Entre tantas coisas absurdas a pior delas certamente era o fato do desleixo e da falta de ética ter atingido uma área extremamente delicada, a da saúde. "Como é que eu vou saber se estou sendo tratada ou destratada?" perguntou ela, em meio ao desabafo.
Boa pergunta! Mas a resposta é impossível! Como saber até que ponto a nossa evolução social e tecnológica não se transforma em armadilha?
A ciência avança hoje a níveis surpreendentes. Mais alguns anos, dizem, e a velhice será coisa do passado, a morte será adiada em décadas e as doenças serão vencidas com a regeneração celular!
Que maravilha! Ninguém duvida disso. O problema é outro! Paralelamente à evolução científica e tecnológica, outro extremo da realidade não pode ser vencido: o desgaste da sociedade e de seus valores, o aumento da mediocridade profissional e do objetivo do capital em detrimento do fator humano!
Quem pode com isso? Trocando em miúdos, podemos afirmar que o que temos hoje, em um momento de grandes recursos da medicina, é uma péssima medicina! Afinal ainda não podemos trocar a figura do médico por robôs irrepreensíveis. Ainda dependemos do fator humano para cuidar do fator humano. É a principal razão da existência humana, manter a sua espécie!
Aparentemente o grande desafio da medicina hoje são os próprios médicos. Os mais recentes, despreparados, oriundos de universidades que não conseguem formar adequadamente o cidadão, mesmo cobrando altíssimas mensalidades. Os recém-formados, atraídos para a área por questões econômicas (ser médico "dá dinheiro", mesmo que seja impossível avaliar a vida em trocados...) encontram um mercado tão saturado, que a estrutura de qualificação do médico fica comprometida: não há hospitais suficientes para formar residentes.
E sem residência, que é a prática, é quase impossível completar o ensinamento básico do profissional de medicina!
E os mais antigos? Talvez com alguma experiência, mas completamente entregues à massificação do sistema. O paciente é visto cada vez mais como um objeto a ser descartado o mais rapidamente possível. Tempo é dinheiro! As consultas hoje são velozes e extremamente curtas. Nos consultórios particulares, a peso de ouro, é possível mais tempo. Mas na base dos convênios médicos, planos de saúde que aplicam a filosofia da quantidade em detrimento da qualidade, a consulta é de até dez minutos em média.
O tempo suficiente para um médico perguntar qual é o problema e passar a lista de exames. Sem a biomedicina, a medicina hoje não é nada. Mas isso não elimina ainda o risco de enganos causados pelo cansaço ou incompetência na interpretação dos exames ou no tratamento da patologia!
É mesmo o fim do mundo! Ou pelo menos o fim da crença de que a medicina é sempre heroica e acima de qualquer suspeita.
É possível entender o desabafo dos pacientes! E este é um problema que preocupa a todos, inclusive aos médicos, que afinal também são pacientes em algum momento da vida!
Exigir capacitação profissional é o único recurso para evitar o caos, em uma sociedade onde sobram profissionais formados em medicina, mas faltam médicos! Onde está a figura o médico, que por vocação interagia com o paciente e fazia milagres em épocas onde não havia qualquer tecnologia? 
É possível haver exercício da medicina sem a filosofia que norteia essa responsabilidade?
É bom pensar sobre o assunto... (MM)

Monday, February 13, 2012

QUEM É VOCÊ? QUEM É O OUTRO?


O comentário geral era a respeito de um crime nos Estados Unidos, onde homem que matou um casal que havia excluído a filha do quadro de amigos no Facebook. O mundo virtual parece ser um lugar onde comandamos a hora de existir ou desaparecer da tela, de conversar ou simplesmente observar o "movimento". A partir do momento desconectamos, "desligamos" esse espaço. São mundos diferentes, o virtual e o real!
Não há proteção no mundo virtual, todos sabemos disso. Nos sites, a relação esperada, de privacidade, não existe, mesmo que o quadro de amigos contenha apenas familiares. O espaço, na verdade é público e mesmo que haja garantia de privacidade, a realidade indica que os dados estão ao alcance de administradores e de hackers. Permanecem "boiando" (ou seria flutuando?) em um mundo ainda pouco desvendado.
Sites de relacionamento parecem  ser uma sala de estar isolada. É difícil imaginar o espaço virtual protegido por senhas e rodeado de regras como uma sala em ambiente público.
Essa realidade desagrada. As pessoas sentem necessidade de partilhar sua vida, suas alegrias, seus momentos de sucesso, a relação amorosa ou familiar, da mesma forma que os momentos de tristeza ou depressão. Isso é natural porque o ser humano é um animal social, preparado para conviver em grupo até mesmo para garantir a sobrevivência individual, que se torna mais garantida na sobrevivência mútua.
A relação virtual aproxima tanto as pessoas conhecidas - familiares e amigos - como reduz ou elimina o distanciamento entre pessoas desconhecidas que iniciam uma amizade através de interesses comuns. Sem essa "mágica" virtual que elimina distâncias e derruba as paredes, a possibilidade de ampliar o conhecimento fica realmente muito reduzida.
Reduzida demais para quem se habitua a navegar em um espaço que seduz justamente pelo fato de funcionar sem a carga da materialidade. Um espaço realmente sedutor, constantemente ampliado por novos recursos. Com um dispositivo mais leve e fino do que um livro, pode-se acessar e ler infindáveis obras literárias, escrever, desenhar, criar projetos, trabalhar, ouvir música, conversar, fazer compras, enfim...a ponto do sujeito que navega em um espaço tão diversificado e aparentemente infinito em suas possibilidades perguntar-se se não está havendo alguma inversão e aquilo que consideramos o mundo real não é na realidade uma espécie de limbo!
Como lidar com esse novo mundo e suas possibilidades e riscos entretanto, não é assim tão fácil. Por trás da mágica dos recursos e da sofisticação tecnológica, existe a mesma matéria básica dos tempos das trevas ou dos conflitos da civilização: o conteúdo humano, dividido entre a construção e a destruição, a verdade e a mentira, a necessidade de relacionar-se e ampliar os horizontes e a capacidade de distorcer e manipular o meio.
A grande verdade é que explorar o ciberespaço tem menor risco do que o mundo real no que se refere à preservação física (pelo menos imediata) mas não existe nenhuma garantia de segurança em qualquer outro sentido!
Mundo material, mundo virtual, mundo emocional, mundo espirital...parece que a relação humana com espaços que pareciam fictícios e isolados finalmente se fundem em um mundo inteiramente novo, diferente, mas não mais improvável!  ( Mirna Monteiro)

Tuesday, February 07, 2012

PENSAMENTOS QUE FALAM

"Perdida em seus pensamentos, a pessoa parece escutar a voz de suas entranhas"...Mais do que simples metáfora, essa frase pode ser interpretada literalmente. Depois de descobrir que os impulsos elétricos do cérebro podem movimentar matéria - o que levou à inspiração da "prótese inteligente", a ciência agora admite a possibilidade de reconstruir palavras a partir da captação das ondas cerebrais da pessoa.
A descoberta está criando celeuma. Assim como na ficção, isso parece ser o "golpe final" na privacidade dos seres. "Podem me tirar a liberdade física, mas aquilo que sei e penso pertence apenas a mim"!...Quantas vezes não encontramos afirmações semelhantes em romances, filmes e, evidentemente, na vida real?
Invadir a mente humana, não simplesmente para bloquear ou inutilizar a capacidade mental, como em uma lobotomia  ou através de drogas, mas justamente extraindo de dentro dela o pensamento, já foi a base de muita ficção. A possibilidade soa como uma ameaça. Esconder aquilo que se é e realmente se pensa integra a mais primitiva capacidade humana de se defender e garantir a sobrevivência.
A discrição da mente permitiu ao homem criar táticas de caça, de combate e auto-defesa. É a "voz interior", que alerta, comanda e traduz a intuição, o raciocínio, os "arquivos" dos acontecimentos que são acessados de maneira tão instantânea que não nos apercebemos disso.
O que aconteceria a um mundo onde a mente deixa de ser privada?
Claro que a ciência argumenta que a "invasão" é para o bem. Por exemplo, no caso de pessoas que perderam a capacidade de movimentos de algum membro, como pernas, braços e mãos, ou daquelas que se encontram em estado de coma. A implantação de chips que provocam estímulos elétricos no cérebro pode fazer com que uma pessoa comande com o pensamento a tela de um computador, um braço mecânico, ou outras próteses. Em coma profundo, a tradução do pensamento em forma de palavras ou de uma espécie de "filme". Sim, exatamente como na ficção!
Nesse ponto, paramos para respirar. E pensar (ainda sem eletrodos) se realmente é possível existir no universo qualquer ocorrência isolada. Digamos que, se a ciência pode captar impulsos elétricos do cérebro animal e transforma-los em palavras ou imagens, certamente esse é um processo que já ocorre na natureza. Ou seja, reforçamos a ideia de duas realidades em uma cajadada só: a de que a comunicação entre os seres na natureza não se faz unicamente de maneira material (dentro da nossa percepção de materialidade), determinando a obviedade da mecânica quântica, onde tudo que existe dentro e fora dos seres tem a mesma construção, "tijolinhos" de quantum, aglomerados ou dispersos, que tanto podem compor uma galáxia, um corpo humano ou o pensamento...
O que dizem nossos "quantuns"? Ou o que diz sua intuição? Ou ainda, quais são seus pensamentos a respeito?...Sem necessidade de chips!    (Mirna Monteiro)