Friday, July 04, 2008

O divórcio, a tartaruga e a lebre

Crônica



Pois é, divorcio ganhou a velocidade da lebre. Antes caminhava a passos de tartaruga pelos caminhos do judiciário. Entramos na era da velocidade divorcista. Cartorial.

Casal que quiser se divorciar, pode chegar o cartório as dez horas da manhã. Antes do meio-dia estará divorciado!O que demorava anos na Justiça, agora acontece em menos de duas horas. Avanço.

O que está acontecendo? Os cartórios agora casam e descasam. O que a igreja une, o cartório separa. Revelam as estatísticas: os casamentos estão durando menos. É? Então a dinâmica do divórcio confere.




Não. Discordo. O casamento não é uma instituição falida. Os caminhos do altar não estão bloqueados. Continuam abertos para os jovens apaixonados. O casamento...bem, o casamento é como a vida humana, pode atingir a longevidade. Ou fenecer prematuramente.

A duração da vida, assim como do amor, não tem medidas definidas. Li não me lembro onde: “O casamento é a semente da família”. Tudo bem. Mas depende da semente. O divórcio é uma conseqüência. Imprevisível no cartório. Imprevisível na igreja. Como são cruéis os imprevistos!

Amor eterno? Haverá alguma coisa de eterno no ser humano? Essa pergunta tem respostas filosóficas. E até sociológicas. Não me atrevo a abordá-las. Nem caberiam em uma crônica. E nem seriam compatíveis com o tema do divórcio.

Divórcios acontecem. Casamentos se sucedem. A instituição da família ainda está firme. Deixem pois o divórcio correr. O fim do amor separa casais mas permanece com os filhos. A velocidade do divórcio vale por uma reação contra a morosidade da Justiça. A tartaruga está correndo como a lebre.
( de “Crônicas de Roberto Monteiro”, do jornalista e escritor Roberto Monteiro)

Tuesday, June 24, 2008

Diálogos da maturidade

literatura

-Vivência vulgar? Você acha que temos uma vivência vulgar?
-Meu amor, eu não disse que nós temos uma vivência vulgar, mas tenho certeza de que esta discussão é vulgar e sem propósito.
-Ora!...
-Liandra, veja bem, temos conceitos de felicidade, que nos enfiam goela abaixo desde que nascemos. A mesma cultura que faz de nós robôs obedientes, exige um tipo de compreensão que jamais nos será permitido descobrir. Frustamo-nos e nos destruimos por isso. É o escorpião ferrando o próprio lombo. Se todos sabemos o quanto toda essa limitação e materialismo nos impede de pensar, por que perpetuamos essa situação? Por que obrigamos nossos filhos a chorar as mesmas lágrimas que choramos?
-Não entendi!Você, depois dos oitenta anos passou a falar por enigmas!
-Quero dizer, minha querida, que se nos permitíssemos olhar a alma e tentar entende-la, poderíamos vivenciar o amor da forma mais plena possível. Quando sonhamos não existem barreiras, podemos tudo no sonho e o hábito da liberdade, dentro dele, mostra uma responsabilidade natural. Não nos violentamos, ao contrário da nossa vida real, onde somos obrigados a seguir um modelo e nos adequarmos a ele. Por isso nos frustamos e não crescemos, nos rebelamos e nos destruimos. Mas se deixarmos fluir o sentimento, encaixe ele ou não em modelos, poderemos sentir a plenitude.
-Você acha que estes últimos 30 anos em que vivemos juntos, foram plenos?
-Sim, minha querida, eu acho. Quando nos conhecemos já tinhamos tido meio século de vida para os erros. Pois não estamos aqui, envelhecendo juntos e ainda buscando entender? Esta é uma grande responsabilidade. De fato, todos temos que assumir a responsabilidade sobre o sentimento que despertamos em outros. Não podemos tratar com displicência a emoção.
-É, concordo com isso. Pessoas não podem ser descartadas como uma peça de roupa ou um relógio velho. Sempre me assustou muito a maneira como se trata o assunto. Imagina que loucura, você se envolve, forma uma familia e tem filhos. Aí chega à conclusão que não era bem isso que queria e parte, se envolve novamente, tem mais filhos e também os deixa!
-Veja bem, essa é a perseguição do desejo. Algo que nunca se encontra, é a pessoa em eterna frustação. É como uma fuga da própria sombra.
(trecho de "O Eco")

Monday, June 09, 2008

Sem controle

Como na ficção, onde a sociedade futurista exibe um cenário catastrófico, as pessoas começam a "habituar-se" a violência cotidiana. Aliás, ficção e realidade começam a mesclar-se de tal maneira que perde-se a origem de tamanha intimidade com a violência, onde não se sabe se o hábito dela provém de tantos heróis e bandidos socando-se e metralhando-se nas telas do cinema e TV, ou se as telas exibem apenas aquilo que foi retratado.

Uma criança que assiste aos filmes e desenhos onde se luta o tempo todo e onde os vilões das historias se tornam cada vez mais truculentos será um jovem e um adulto que interpreta agressões e assassinatos como uma normalidade do meio?
É provável! Nos habituamos a marcas de refrigerantes e a moda fast-food e o poder da imagem e o sugestionamento das ações certamente também muda a nossa interpretação do que seria abominável ou "natural" em uma sociedade tão contraditória. Pode ser que não se chegue ao extremo de fabricar agressores e transgressores em série, mas parece inevitável o estimulo a quem já possui tendências agressivas para liberar seus "instintos bestiais".

Em um momento onde os mecanismos de defesa social andam em crise - cadê a Justiça e os recursos para controle dessa epidemia de violência? - a situação parece muito pouco confortável para o cidadão comum.
Outro dia um grupo de rapazes munidos de soco-inglês e barra de ferro (o que demonstra a intenção prévia de algum massacre) abordou um casal na rua Augusta e agrediu o jovem, que era negro. Quando um policial a paisana tentou intervir foi duramente agredido e teve seu rosto pisoteado até deformar-se.

O que leva pessoas de classe média (remediada ou alta)a ter uma carga de ódio tão grande a ponto de criar uma situação tão artificial de dor e sofrimento a outros? Que tipo de ideal desregrado leva à formação de grupos que pregam o odio racial e a discriminação a homossexuais, como os neo-nazistas, que por incrivel que pareça são grupos que cresceram nos últimos anos?


Um tipo de reação diferente de outros padrões de violência, que são igualmente chocantes, do tipo que invade o trânsito e torna uma discussão besta o palco de assassinatos ou como as agressões dentro do próprio lar, à mulheres e crianças. Ou ainda a pedofilia, inexplicavelmente atuante, chocante e inaceitável.
Bem, em um mundo onde crianças são jogadas pela janela, como um brinquedo descartável, a dor e o sofrimento parecem inevitáveis para quem ainda mantém a sanidade, vivendo com suficiente bom senso e sensibilidade para respeitar a vida. E por esse motivo mesmo a única solução é a rigidez absoluta no tratamento desses casos, sem qualquer clemência a quem comete atos de violência extrema e covarde.

Monday, May 12, 2008

Mães não mudam jamais!...




Mãe! A figura da mãe está mudando.
...Está mudando?

Não, certamente esse não seria o termo correto para definir as transformações nas relações da mulher com os filhos e a família. Não se pode mudar a figura da mãe!

Mãe é mãe: a mulher que gerando ou adotando uma criança, assume a tarefa de garantir a sua sobrevivência emocional, fisica e mental, desempenhando múltiplas responsabilidades.



Mas o que muda?
Transforma-se a mulher?
Muda-se apenas a superfície social. Uma mulher pode se transformar, acompanhando inevitáveis mudanças culturais.

Mas não pode haver mudança no que se refere à consciência da responsabilidade de ser mãe. Pois é nesse aspecto que toda a sociedade vai se basear para criar mecanismos que promovam ou não o fator humano. E permitam a sua sobrevivência!




É um grande peso de responsabilidade, o da mulher que se torna mãe. A sociedade humana mais primitiva tinha bem delimitada responsabilidade. A mãe cumpria com os ritos naturais de preservação da espécie, amamentando a sua cria, protegendo-a do frio e dos riscos, educando-a para a sobrevivência futura.

É através desse cuidado que o mundo é direcionado. A mãe tem influência sobre toda a humanidade. Ela gera e desperta no ser a seus cuidados os melhores ou piores instintos. A capacidade de construir ou destruir! Todos, heróis ou vilões, são gerados por uma mulher.

Se a mãe pode ser substituída por úteros artificiais em laboratórios, a humanidade também poderá perder a supremacia sobre a matéria e o sonho do imaterial. Nada é mais importante do que o útero que gera em comunhão com o sentimento para permitir a evolução humana.

Por isso não dá para mudar o papel da mãe. A mulher pode se transformar, atuar em áreas profissionais diversificadas, ser como quiser, mas no momento de ser gerar, ela terá obrigatoriamente que assumir a mais responsáveis das funções de quem permite a continuidade da vida e da sociedade humana: ser mãe!





Mãe é mãe e não tem mudança de papel qualquer época, em qualquer cultura, em qualquer momento, seja na forma de uma mulher primitiva ou de um astronauta em pleno espaço. O instinto puro e simples sobrevive em quaklquer dimensão de espaço e tempo. Se assim não for, não haverá futuro!



Wednesday, May 07, 2008

O humor nos anos 40

Definição do limão


O limão é um fruto que nasceu com complexo de chefe de repartição pública: é azedo demais! O limão galego é o limão operário: nasce até com calos no corpo.
De todos os elementos no reino frutífero, o limão é aquele que menos probabilidade tem de sofrer de diabetes.
No reino vegetal ele representa o que o povo representa no reino animal: um infeliz a quem os poderosos espremem até a última gota! Só que o sumo do povo se transforma em capital, enquanto o sumo do limão se transforma em limo...nada!
A mulher do limão é a lima...é de amargar essa mulher!...(revista Bom Humor - 1947)

Algaravias

Na época em que vivemos, um burro que virasse homem seria deputado!

Em certas noites o céu parece ter ido feito de cola-tudo, onde se colam vagalumes sem tempo de apagar a luz

Existem mulheres quen são verdadeiras rosas...nem siquer faltam as espinhas!

O cometa nasce quando um estrela espirra!

Porta giratória é uma porta sem batente.

Se Sansão fosse careca, Dalila não entraria para a historia.

Muitos objetos começam a ser feitos a partir de um esqueleto; o corpo humano acaba nele! ( Revista Bom-Humor - ed 34 - 1947)

Saturday, March 08, 2008

A SÍNDROME DE EVA



Quando Eva vivia no Paraiso ao lado de Adão, as coisas funcionavam maravilhosamente. Até que apareceu em cena uma serpente enroscada em uma macieira e todos sabemos o que aconteceu. Adão não era nenhum retardado quando provou o fruto proibido, mas a culpa coube a Eva. Era ela quem devia nortear Adão e, portanto, não deveria sugerir que abocanhassem o fruto proibido.
A mulher sempre foi responsabilizada por tudo desde o gênesis...
Mas a historia continua:
Desde a expulsão do Paraiso, as coisas ficaram difíceis. Adão e Eva resolveram dividir as tarefas, porque era a única forma de sobrevivência.
Ela sentia as dores do parto para povoar o mundo, ele corria atrás da caça.
Ela garantia a sobrevivência da prole a partir da raiz, ele defendia a família.
Ele se preocupava com coisas práticas. E ela continuava a exercer a antiga responsabilidade de nortear Adão.
A humanidade varou milênios, passou a marcar a passagem do tempo e o que aconteceu, desde o final do século XX, a Adão e Eva?
Boa pergunta!
Bem, Eva continua com duas mãos e dez dedos, mas em compensação está tendo de multiplicar a cabeça. Transformou-se em um ser muito diferente: para sobreviver, depende de visão periférica, de capacidades múltiplas e muita energia física e emocional, já que além de manter as responsabilidades da Eva tradicional, a  geradora, assumiu todas as outras que cabiam à Adão, o mantenedor.
E Adão? Adão está dividido: em parte mantém o seu antigo papel, em outra simplesmente nenhum.
Eva multiplicada, Adão dividido.
Situação polêmica, contraditória.
Eva acha que conquistou espaços e cresceu. Será? Eva ainda se atrapalha quando estabelece o tempo necessário para a prole, quando o mundo profissional exige todas as horas do seu dia.
Adão resmunga, preso ainda aos velhos preconceitos de milênios atrás. Parte dele achou um caminho intermediário e descobre que funções antigamente exercidas apenas pela mulher tem uma importância e um conteúdo interessantes. Mas a maior parte de Adão permanece exatamente como era.
Nunca foi tão difícil para a mulher exercer o seu papel de formadora da humanidade. Sim, porque é impossível negar a dimensão de sua ação no destino humano, mesmo que o poder de transformação tenha sido exercido entre quatro paredes.
Valores foram rompidos e a Eva de hoje, cada vez mais, não tem como dividir funções de sobrevivência.
Adão está confuso.
A humanidade portanto se torna confusa!
A vida de Eva complicou-se: ela acumula funções que eram de Adão. Como ninguém é de ferro e a Eva moderna não é um elástico que pode ser indefinidamente esticado sem estriar-se e romper-se, é preciso priorizar as ações. E isso leva à mudanças sociais profundas, a partir da família.
Quais as conseqüências dessa nova realidade?
A resposta pode não ser muito agradável.
A vida forma um conjunto perfeito, como uma orquestra, onde cada ser exerce um papel. Todos sabemos que mudar o curso de um rio ou devastar uma floresta pode ser perigoso para a sobrevivência humana.
A mulher sempre exerceu um papel mediador entre a realidade imediata e o futuro. Ao gerar e inteirar-se com sua cria ela determina não apenas o destino de um indivíduo, mas de toda a coletividade.
Uma sociedade pacífica e organizada não é responsabilidade só da mulher, mas quem vai negar que uma criança bem cuidada, amada e orientada, tem maiores chances de tornar-se um ser humano produtivo e equilibrado?
O que parece bem claro é que a mudança, para que esse equilibrio seja alcançado, depende de mais transformações. Por exemplo, a responsabilidade no gerar. Filhos são responsabilidade de ambos, pai e mãe. No entanto não podem crescer educados unicamente por terceiros, como se fossem orfãos, em troca de uma mentalidade excessivamente consumista.
Não é incomum encontrar pais que se desdobram para ganhar dinheiro achando que a criança será feliz com roupas de grife, tecnologia de última geração e escolas particulares. Obviamente tudo isso parece ótimo, mas depende do preço a ser pago. O excesso de supérfluo não pode compensar a ausência de uma relação frequente entre pais e filhos.
Talvez não seja preciso andar com as crianças a tiracolo, como a cultura indígena determina (crianças que são amamentadas e próximas dos pais ficam mais fortes e mais independentes no futuro), mas sem dúvida é preciso rever a relação dos pais com os filhos na nossa sociedade moderna. O aspecto emocional do indivíduo, desde a gestação, é fundamental. Sem isso teremos crianças, adolescentes e adultos problemáticos, presas fáceis de drogas e da depressão.
Parece que Adão e Eva ainda estão muito longe de viver o paraíso...(Mirna Monteiro)

Wednesday, March 05, 2008

Sementes de abóbora...


categoria- literatura


(...) Das Dores foi avisada por um colega, responsável por outro distrito, de que tivera de colocar a sua filha Carla dentro de uma sala e trancá-la, porque a moça estava descontrolada e arrancara um naco do braço de um policial, tamanha a força de sua mordida.
Estava constrangido, porque os tapas e pontapés que Carla teria dado haviam rendido no revide um braço deslocado e um olho roxo.
Ao chegar à delegacia Das Dores encontrou Carla sentada no chão, com a roupa suja e rasgada, o rosto inchado e o braço em uma tipóia improvisada.
Sentindo-se abalada e sem forças, sentou-se ao lado dela e a abraçou, sem nada dizer.
Sentia-se frágil como nunca havia se sentido antes. Como delegada, considerava-se proprietária de algum tipo de imunidade absoluta. Um braço ou uma perna...pelo menos um dedo mínimo... do corpo do poder!
No entanto, a sua filha ali estava, presa, espancada e humilhada! E ela nada podia fazer!
- Mãe, não adianta ter ilusões. Este é um mundo porco, onde ninguém é livre porra nenhuma! Tem montes de merda controlando a vida da gente! Tem uma coisa chamada sistema financeiro que tem poder de vida e morte sobre todos os humanos, ninguém te escapatória e quem pensa que é livre é imbecil, porque somos todos escravos, fazemos trabalho escravo e morremos nos quilombos urbanos!
Das Dores estava inconformada com o ar de tristeza de Carla. Não sabia o que responder.
Carla soluçava.
- Sabe, mãe, o que é pior de tudo? – perguntou, olhando entre lágrimas para Das Dores – O pior de tudo é que quem faz esse mundo de merda somos nós mesmos!

(...)Desde esse dia, Carla não mais sorriu. Recolheu-se a um mundo particular, fechando as portas a quem quer que fosse,
Por mais que todos tentassem alegrá-la, ela respondia com um meio sorriso, apertando novamente os lábios, como se sentisse alguma dor.
As vezes observava Anna, sentada ao seu lado, percebendo o quanto ela se preocupava com seu distanciamento. Uma tarde olhou em seus olhos e disse que o amor que a amiga lhe dedicava era insuficiente diante do ódio no mundo ao qual pertenciam.
- Não é possível ser feliz em um mundo como este – repetia.
Anna contestava, dizendo que talvez esse fosse o verdadeiro desafio da vida, o de conseguir sobreviver e manter-se inteiro, de corpo e alma, em uma sociedade poderosamente hipócrita.
- Não, não e não - respondia Carla irritada - As pessoas são burras e más. Não entendem, são facilmente enganadas e distorcem a realidade...Passar por este mundo sem contaminar-se, mantendo a alma pura como a de uma criança, é um desafio impossível!
No fundo de seu coração, embora consciente da ignorância que permeava seu caminho, Anna silenciosamente concordava.
- Não é possível aceitar tantos erros, nem é possível corrigir nada disso - continuava Carla com a voz desanimada – O ser humano é defeituoso demais, parece o mesmo animal primitivo chutando os outros para fora de sua caverna, onde escondeu os ossos para roer. Não vale a pena!
Falava com um fio de voz, cada vez mais baixo, como se estivesse se apagando. Não reagiu ao abraço de Anna.
Pobre Carla!
(...)
Foi por essa época queAnna começou a desconfiar que não era mera impressão e que realmente havia perdido a memória de coisas fundamentais. Nas suas lembranças havia grandes espaços em branco, como se registros tivessem sido apagados com uma borracha.
Foi um lento retorno ao domínio dos conhecimentos perdidos.
Mas não a tempo de evitar que a tragédia se abatesse sobre Carla!
Certa tarde, ao retornar para casa, sentiu falta da prima. Das Dores, Júlio e as crianças não sabiam dela.
Anna sentiu o coração apertar-se. Percebeu claramente o risco de uma tragédia. Correu ao quarto de Carla, sabendo que deveria procurar alguma coisa. Não encontrando nada de diferente, foi para o seu próprio quarto e viu, sobre a cômoda, um grande envelope branco.
Dentro dele havia um bilhete, escrito por Carla.
“Querida prima e amiga, há coisas que não podem ser explicadas. Sei que vocês me amam, não me importo com Douglas e aquela Hellen, que não passa de uma loura aguada com olhos de vidro fosco. Eu lembro bem dela, que quase morreu de ódio quando nos casamos e acho que, agora, o Queixo Quadrado merece aqueles gambitos finos e brancos e aquelas mãos ossudas.
Mas como eu já lhe disse, o amor de vocês não é suficiente diante da força da maldade que encontro por todos os lados. Acredite, até dentro de mim.
(...) A humanidade não passa de um amontoado de cabeças vazias, tão vazias quanto o coração e por isso todo mundo está secando. As pessoas mudam de cara por não suportarem a própria imagem, fogem de si mesmas como o diabo da cruz.
É estranho, não é? Muito estranho. Tão estranho quanto esta carta aqui e a cara que você deve estar fazendo ao ler este amontoado de besteiras. Hi,hi,hi, isso é uma risada!
É que estou muito inspirada.
Me perdoe, diga às crianças que eu fui qualquer coisa que não sou, despeça-se de minha mãe por mim. Eu não suportaria fazer isso pessoalmente.
Se quiser lembrar de mim, lembre-se que eu sou aquela que cuspiu no sistema. Que ele vá para aquele lugar e que os poderes mundiais caguem sementes de abóbora!”

Logo abaixo, em letra miúda, Carla havia invertido o nome, assinando “Alrac”.
- Por que sementes de abóbora? – surpreendeu-se Das Dores (....)
(Trecho do livro "O Circulo", MM)

Thursday, November 01, 2007

A MORTE ENTENDE A VIDA

A morte certamente é a única certeza humana, por mais que esta frase soe desagradavelmente simplista. Mas há outra condição causada pela morte que vagueia com a mesma determinação na boca popular ou nas altas discussões filosóficas: a morte jamais é enfrentada com ausência de emoção.

Medo, dor, sofrimento, raiva, resignação, são sentimentos comuns à morte. Seja a emoção proveniente de quem tem consciência de que irá morrer, como no caso da perda de alguém importante.

O que diferencia o tipo de sentimento diante da morte sem dúvida é a própria vida ou a qualidade da vida daqueles que enfrentam o rompimento. Não no que se refere ao poder econômico ou social, mas à capacidade filosófica ou mesmo religiosa, que levam a um enfrentamento que pode ser mais realista (não fatalista) ou resignado.


Escreveram que Sócrates, ao beber da taça que continha o veneno, foi orientado a andar até sentir as pernas dormentes. A certa altura apalpou as pernas e disse: - Quando chegar ao coração será o fim!
Naquele momento, Sócrates enfrentava a própria morte com absoluta serenidade. Sem fatalismo dramático, mas com realismo. Se houve medo, soube bem desdenhá-lo, voltando-se para Críton, um dos amigos presentes, e dizendo que devia um galo a Esculápio.
- Vais lembrar de pagar a dívida?
O grupo presente, diante das últimas palavras do filósofo, rompeu em prantos, chegando aos berros, como no caso de Apolodoro.



O que vemos aqui é um enfrentamento da morte que poderíamos considerar natural. Ora, Sócrates já havia ingerido a cicuta, depois de ter lutado para preservar a vida e perdido a batalha. Como qualquer pessoa que procura interpretar o universo, o filósofo bem sabia que o ciclo natural é inevitável e seu fim havia sido selado no momento em que ingeriu o veneno.

No entanto quem o amava e assistia a cena, não resistiu à tragédia do desenlace. Alguns com lágrimas sentidas pela perda, outros, como Apolodoro, de forma extremada e extenuada.

Quem parte leva saudades...quem fica, fica com o que?

Para onde foi quem eu tanto amo?
O que restou lhe guarda semelhança
Irá desfazer-se como pó
Pois é feito de pó!
Aquilo que aqui ficou e não posso ver
Vejo que nada é apesar de ser
Mas aquilo que se foi
E apenas se percebe
É tudo que mais desejo nesta vida...


Há poesia na morte? Para aqueles que enfrentam a partida de alguém a coisa não é tão simples. Filtrar essa realidade com pensamentos poéticos é tarefa quase impossível. No momento da partida o problema não é a morte em si, mas a ausência de quem se ama.

É essa a realidade a ser enfrentada. A dor da perda e o medo de nunca mais rever quem tanto se ama é torturante. Para superar essa dor, dizem todos, é preciso paciência. O tempo cura as feridas, cicatriza a dor e mantém a saudade sob controle.

Esquecer, para a maioria das pessoas, é impossível. Mas todos que passam pela perda, admitem que o tempo realmente suaviza. A mesma natureza que impõe a morte, também fornece o remédio para a cura das suas dores.

A dor da morte, que é dos que ainda não a enfrentaram, é traduzida das mais diferentes maneiras. Talvez o maior choque seja a constatação de que nosso corpo, que interpretamos como o absoluto, se transforme em uma embalagem vazia, com prazo de validade. Há aqueles que se apegam ao máximo aos restos (que antes eram o absoluto) e busquem artifícios, como o congelamento que trará na posteridade, em um futuro onde o homem assumir-se-á como Deus e trará de volta à vida o que parece ser uma embalagem descartável.


Quem sabe? Outros preferem calcar a esperança e diminuir a dor em monumentos, que todos os anos são visitados, em uma reciclagem de memória. O que é injusto, pois a importância de alguém não pode ser medida por prédios fúnebres e por mais amada que seja certamente chegará o dia em que esse lugar será abandonado, nas gerações que se sucedem.



Para aqueles que duvidam da morte e a interpretam como uma transição, com base em doutrinas religiosas ou esotéricas ou mesmo filosofia (no universo nada se perde, tudo se transforma), transformar-se em pó parece ser purificador, romântico e também higiênico, em um mundo super-povoado que não tem espaço físico, nem tempo, nem recursos para guardar restos que serão esquecidos.

Seja como for, a grande verdade é que o desafio da morte é ainda o mesmo dos tempos de Apolodoro, cujo sofrimento foi superado pela filosofia do próprio mestre. Lidar com a ausência daqueles que amamos tanto, eis o grande desafio. A morte em si não representa dor, sem esse vazio! É apenas um curso natural.

Mas o amor devotado a alguém, esse é o fundamento da morte, assim como será sempre o fundamento da vida. Nesse caso, vida e morte estão indelevelmente ligadas e equiparadas e uma não representa o fim da outra e sim um círculo, onde estão contido os segredos que mantém o universo em constante evolução. (Mirna Monteiro)

Thursday, August 30, 2007

O Destino e a inexorabilidade


Recentemente, em discussões de grupos na internet, o tema foi o "destino". Palavra fácil, com sentido complicado, pois envolve suposições, crenças ou, como não, lógica extrema. Depende do ponto de observação.
A preocupação com o futuro é evidente. É raro encontrar alguém que não se preocupe com o que vai acontecer no próximo minuto, nas próximas horas, no próximo ano ou até onde vai poder contar com essa expectativa.
Mas há algo mais nessa ansiedade. Talvez a ausência de conteúdo imediato, que promova a atenção total para o momento presente. Talvez, também, certa confusão no viver pura e simplesmente, diante de acontecimentos que não são exatamente imprevisíveis, mas que tornam a necessidade de mudanças mais premente.
Aí volta e meia alguém quer saber: como será no futuro!
Muitos desconfiam de que existe alguma programação pronta, como se a vida fosse páginas de um livro já escrito e com final definido, cuidadosamente desenvolvido para emocionar, premiar ou punir o sujeito. “Certas vezes me ponho a pensar sobre essa intrincada e incompreensível trama que é a nossa vida e me pergunto se por detrás dela não existe algum tipo de ordem ou razão”, opinou um ouvinte em uma palestra que deveria versar sobre o humor e saúde, mas que acabou se transformando em um debate existencialista.
Com toques dramáticos! Falar sobre o destino é dramático. Extenuante até, para os mais afoitos em obter alguma certeza do futuro. Existirá uma ordem, seja ela do ponto de vista individual ou coletivo, que funcione com um traçado prévio dos acontecimentos? Ou os acontecimentos são simplesmente resultado de ações, estas sim funcionando como uma mão de direção para o futuro?
Há quem afirme que tudo isso é uma bobagem e que faria melhor a humanidade se concentrasse suas preocupações em construir o momento presente e futuro, sem a cômoda impressão de que não precisa fazer absolutamente nada, pois tudo já está traçado. Cruzar os braços e resmungar a todo instante que "não ia adiantar fazer nada mesmo"...
Os antigos acreditavam que quem gerenciava os acontecimentos e o destino dos humanos eram os deuses ou forças que estariam acima das forças do homem. A mitologia descrevia o estado primordial, primitivo do mundo como o “Caos”, que segundo os poetas era uma matéria que existia desde os tempos imemoriais, sob uma forma vaga, indefinível e indescritível.
Caos era ao mesmo tempo uma divindade, talvez rudimentar, mas capaz de fecundar.Por aí já se percebe que tinha seu toque de inexorabilidade. Obviamente.  Pois foi assim que gerou a Noite. E foi do Caos e da Noite que foi gerado o Destino, uma divindade cega e portanto definitivamente inexorável, ao qual estariam submetidas todas as outras divindades.
O Destino era poderoso, por si só uma fatalidade. Os céus, o mar, a terra e os infernos, todos faziam parte de seu império, que não era nem a favor dos deuses, nem a favor dos homens.
As leis do destino eram escritas desde o princípio da criação em um lugar onde deuses podiam consultá-la. E segui-las, irremediavelmente. As leis do Destino tornaram culpados muitos mortais, apesar de sua vontade de permanecer virtuosos. Os homens jamais sabiam do seu destino. Em termos, veja bem, porque ele poderia deixar de ser misterioso através da visão dos oráculos.
Uma visão fatalista, que naturalmente modificou-se conforme a sociedade humana foi se aprimorando e sofisticando-se. O homem percebeu que regras podiam ser mudadas e cursos de rios desviados. Ainda assim, em tempos de grandes mudanças e de novos conceitos, a certeza de um destino imutável permanece forte. “Tudo que se planeja esbarra na imprevisibilidade e se transforma”, lamentou um fatalista....ora, se há imprevisibilidade e transformação não pode  haver imutabilidade!
Controvérsias e confusões. Essa interpretação de uns entra em choque com a de outros, que defendem uma nova postura do otimismo e do pensamento positivo. Defende a idéia de que o ser humano possui força suficiente em seus pensamentos para criar as situações futuras, como se desenhasse no papel o que deveria acontecer, sendo o próprio escritor do destino, o criador de seu futuro.
Neste caso não se nega a existência do Destino. Nega-se a sua fatalidade. Ele continua imponderável, mas subordinado às ações e aos resultados delas. Continua inexorável, mas consciente da que tudo que existe foi ocasionado por uma ação determinada ou um pensamento, coletivo ou individual. Se para cada ação existe uma reação, o futuro seria construído e modificado a todo momento!
Há quem não goste dessa idéia. Dá trabalho! Responsabilidade. Isso significaria que o destino, como resultado de nossas ações e pensamentos, não é imutável e definitivo, podendo ser transformado. Se for uma caca, a culpa não é do onipotente, mas nossa. Ou de quem atuou.
Essa responsabilidade, individual e coletiva, ameaça os que preferem ser irresponsáveis. Impossível controlar o mundo e o universo, reclamam. Como conter o furacão, as entranhas da terra que explodem vulcões, os tsunamis? Podemos controlar o que?
Será mesmo assim tão impotente a humanidade? Ou confundimos ações e pensamentos que deveriam estar uníssonos com o poder natural com desejos primitivos de dominar e mudar essa natureza?
Parece que o que temos hoje é simplesmente um resultado de ações passadas, em todo o universo. Não há isolamento possível e todos os acontecimentos passados interferem no presente e no futuro...Essa idéia parece ser a constatação de que nada no universo é individual – nem mesmo a consciência humana, pois ela interfere no ambiente através do pensamento.
Pensando bem, destino, seja ele estático ou em constante mutação, baila na mente humana com o movimento do prazo ao qual se apega a vida preocupada com a finitude. Se isso é de fato um final ou uma mudança, essa é uma outra história...(Mirna Monteiro)

Monday, August 27, 2007

DISFARCES DA MALDADE


- Que é isso Liandra? Caiu o seu queixo?
- Ah? Gente! Pode continuar dando risada, caiu mesmo! E aí, o que houve?
- Apolo teve sorte. Caso Meriel houvesse demorado mais um pouco para encontrá-lo, certamente morreria alí, naquele quarto, cada vez mais exangüe.
- Meu Deus! Mas essa Valeriana! Dá vontade de passar em cima dela com um rolo compressor e depois picar pedacinho por pedacinho, com uma tesoura!
- Liandra! Que violência é essa?
- ...E queimar, um a um, cada um desses pedacinhos.
- Não se pode sequer brincar com coisas assim. Deixa disso. Não combina com você. Parece contraditório que uma história sobre alguém como Meriel inspire tamanho desejo de violência.
- Mas como não? Essa Valeriana é muito baixa!
- Pode ser, realmente. Mas o mundo está cheio de valerianas. Pessoas que não conseguem encontrar dentro de sí mesmas nada que valha a pena e vivem com o objetivo de exaurir quem possui valores.
- E você não acha normal a gente sentir indignação e repulsa por pessoas assim?
- ....É, acho que sim. Mas de certa maneira especial. Não podemos ser cúmplices do mal, mas não podemos querer o direito sobre a vida e a morte desse tipo de gente. Não podemos odiar alguém, por nos indignarmos com sua capacidade de ódio.
- Assim fica difícil. Esse critério de justiça é complicado.
- Eu também achava que sim. Mas veja bem, não o é, de fato. Se você procurar sentir com o coração e não racionalizar nos padrões culturais. Suponha que existe aqui, dividindo nossa vida, alguém de sentimentos baixos como Valeriana. De que adiantaria o nosso ódio por ela? Enquanto que, se nos cuidassemos e não permitíssimos simplesmente que ela pudesse exalar sua maldade, não estaríamos compactuando nem com ela, nem com o mal, já que não permitimos nos contaminar por ele, não nos violentamos sendo igualmente baixos em nome da justiça.
- Ah, Aldo! Quer dizer que se Valeriana estivesse aqui, agora, apertando aqueles olhos ruins em cima de você e tentando espremer seu coração como se fosse uma laranja, bebendo seu sangue, você ia sorrir e dizer: não faça isso, Valeriana, está errado, minha filha?.... Que foi?
- Nada. Bem, não é isso. Eu me defenderia, com unhas e dentes se preciso fosse, mas apenas assim, como auto-defesa. Para fazer isso eu não dependeria de sentimentos baixos. Posso me defender, preservar a minha integridade física, sem permitir-me odiar quem quer que seja.
- ....Você está mesmo bem? Empaliteceu, Aldo!
- Só um ligeiro mal estar. Aquele monte de doces que comemos.....
- Sei.....
- Creio que, de qualquer forma, Valeriana não representa o lado mais perigoso do mal.
- Como assim?
- Bem, Valeriana nunca soube disfarçar com eficiência a estupidez de sua alma. Era tão agressiva e estúpida, tão ambiciosa e ansiosa, que não tinha paciência suficiente para a dissimulação do seu ódio por tudo e por todos. Seus objetivos eram claros, ela queria destruir o máximo possível, destruir sentimentos, pessoas e tudo mais que encontrasse pela frente.
- E aí? Continuo sem entender....
- Quero dizer que pior é a pessoa dissimulada, que sente o ódio profundo, o mesmo ódio de Valeriana, mas que o disfarça com palavras e ações dúbias.
- Sei...demônios travestidos de anjos...
- Nem sempre o que a boca professa, a mente e o coração admitem. Há pessoas cujas palavras são perfumadas, mas as ações, escondidas e dissimuladas, fedem a enxofre do pior. Conheci uma pessoa assim.... tinha olhos bondosos e sorriso simpático. Dizia-se extremamente religiosa e exigia das pessoas posturas de santo. Mas quando ninguém a observava, deixava o fel que escondia sair, como puz em uma ferida. Não assumia nunca os seus verdadeiros sentimentos. Agia nas sombras. Ludibriava crianças, tentando confundí-las e perante quem a podia julgar, dizia apenas palavras doces.....assim. Conseguiu guardar rancor durante anos das pessoas e não hesitou em prejudicar seus próprios filhos em nome disso. Tornou-os tão fúteis e falsos como ela.
- Bem, essa não me parece ser uma situação invulgar. É comum demais, até.
- Por causa da dubiedade humana. Há quem pense que a mistura de bons e maus sentimentos leva ao perdão divino. Seria uma impropriedade divina, se assim fosse.
- Não se pode mudar o mundo.
- ....Estamos aqui para isso, não? Ou por que seria?
- Não sei, não sei....É, deve ser...Eu não entendí uma coisa....No mesmo instante em que Valeriana atacava Apolo, quando o seduziu, Meriel saiu de seu corpo físico e a encontrou grávida, em outro espaço de tempo?
- É, parece que sim. Eu entendí que naquele instante Meriel captou exatamente o que ocorria, além do momento. Quer dizer, ela não apenas soube aquilo que ocorria naquele instante, como em um desdobramento de tempo, viu que uma nova vida surgia, conforme Valeriana pretendia ao seduzir Apolo. Como se estivesse no futuro.
- Mas ela devia é ter sonhado com isso antes e de alguma forma ter impedido que Apolo fosse seduzido por essa malvada.
- Sob essa ótica, a natureza deveria destruir o homem antes que surgisse...no momento em que se enunciasse a sua existência, para evitar o caos em que seria transformada!
- Ah, quer dizer que na sua opinião os acontecimentos são inevitáveis? Não se muda o destino?
- Absolutamente, muda-se sim. Meriel dizia que nada é definitivo e que nós criamos o nosso futuro todos os dias. O nosso amanhã vai depender do que somos hoje.
- Mas e a ação dos outros? Não creio que dependa apenas de nós mesmos o nosso futuro.
- Não sei Liandra, há tanta coisa que não consigo ainda definir. Mas é provável que haja, acima de tudo, a necessidade de desdobramentos. Aquilo que não depende de sua vontade ou que é impossível para você transformar ou evitar, certamente deve ter um peso no futuro.
- Aquela história do “há males que vem para o bem”.....Deixa para lá, senão vamos levar a vida inteira discutindo isso. Quero saber o que houve com Apolo.
- Onde estávamos?

( trecho do livro "A Colina" - MM)