Saturday, May 13, 2017

AS MÃES E FILHOS DESCARTÁVEIS

O conto de Scott Fitzgerald, "O curioso caso de Benjamin Button", pretendeu subverter a ordem da natureza e trazer à vida um bebê idoso, que ao longo do tempo foi rejuvenescendo.
Mas essa inversão mostra uma realidade indiscutível: Benjamim necessitou de duas mães, porque o fato de ser um bebê idoso não excluiu a fragilidade do nascimento, e tampouco pôde evitar a fragilidade de sua morte, quando rejuvenesceu até transformar-se novamente em um bebê.
O que está por trás dessa aventura que tornou o amadurecimento da personagem extremamente sedutor, com a juventude crescente do corpo simultaneamente ao aprimoramento intelectual e emocional da experiência, mostra que a fragilidade humana está nos dois extremos da vida, e que a proteção maternal é fundamental quando nascemos e quando envelhecemos.
Isso nos traz um grande problema!
Ao pensar em "mãe", mesmo que seja uma vez por ano, em data de grande apelo comercial, pensamos na mulher como geradora e cuidadora da vida. Graças a ela, a mulher, a sociedade humana sobreviveu a partir do nascimento. O ser humano é dos poucos animais que dependem de absoluta proteção para sobreviver.
Ao contrário do conto Benjamin Button, as pessoas vão se fortalecendo e amadurecendo ao longo da vida, até iniciar o processo de envelhecimento, onde a experiência mental e emocional continua a evoluir, mas o corpo se desgasta.
Ao longo do tempo, a tão decantada condição de mãe, acaba afunilando na condição de avó, de bisavó e, quem sabe, tataravó.
A condição de mãe não acabou, continua.
Ou não?
Considerando que para fortalecer-se na experiência de vida, necessitamos do amadurecimento, mas em contrapartida enfrentamos o desgaste fisico ao longo do tempo, não apenas a mulher que é mãe, mas qualquer indivíduo, deveria ser valorizado pelo peso de seu conhecimento, seja na família, seja na sociedade.
Mas não é essa a realidade da nossa cultura.
A ênfase à juventude sustenta-se em razões politicas e não naturais.
Em um mundo onde o supérfluo predomina e o objetivo é produzir e descartar, a valorização da vida também se torna mais frágil.
Para manter o perfil de um sistema onde a sociedade é eternamente jovem e sem  amadurecimento intelectual, emocional e político, que apenas o tempo pode proporcionar .
Não é raro encontrar nos asilos as "mães esquecidas". mulheres que envelheceram e acabam ficando à margem não apenas da sociedade, mas de suas famílias,
Em uma sociedade onde os valores ficam soterrados sob as novas exigências do mercado, a relação familiar se deteriora. Muitos filhos apenas conseguem conviver com os pais em ocasiões de lazer. Uma viagem à Disney, por exemplo, passa a ter um significado maior do que a convivência baseada em valores emocionais.
O papel da mãe, portanto, passa a ter um valor com data marcada, como uma moeda que perde o poder de compra e não serve mais para as necessidades dos filhos.
Não é apenas no envelhecimento que as mães correm o risco de ser negligenciadas emocionalmente e esquecidas em asilos. A relação na família está rompendo-se prematuramente, a ponto de uma data comercial, como o Dia das Mães, tornar-se uma oportunidade de relação ou alguma troca sentimental, graças à ausência de relacionamento durante o resto do tempo.
Na moderna mentalidade pragmática, onde a produção se torna o principal objetivo de vida para atingir o capital que determina os graus materiais de sobrevivência, as mães têm prazo para descarte. Essa condição está modificando o conceito da mãe protetora, que se dedica ao seu bebê, mesmo quando o pai pode ajudar a exercer esse cuidado.
Quando a mulher recusa o principal papel da maternidade, que é alimentar com seu corpo a sua cria e com seu amor garantir a estabilidade emocional e o equilíbrio mental de seus filhos, demonstra apenas o grande medo da dependência emocional futura, porque sabe que poderá enfrentar o esquecimento ou tornar-se um estorvo familiar.
O que está errado nessa nova relação familiar?
Entre todos os desajustes que vêm afetando a antiga estrutura de relacionamento humano, o mais cruel não está sendo encarado com a seriedade merecida: a destruição do elo que nos torna humanos.
Esse elo é o começo e o fim de uma relação que aprimora a sociedade e permite uma sobrevivência humana e não a de ciborgs programados; o sentimento amoroso, que faz brilhar os olhos da mulher que abraça e protege a sua cria, e que no futuro abraçará e protegerá a fragilidade da velhice!
Sem esse sentimento que une as pessoas do nascimento à morte, seremos apenas peças de engrenagens e não seres com capacidade de entender a vida. (Mirna Monteiro)











3 comments:

  1. Anonymous12:29 PM

    Não temos mais tempo de viver sentimentos e isso causa grande dor

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  2. Anonymous7:00 AM

    Li com atenção e cheguei a seguinte conclusão:não temos como evitar o distanciamento emocional e fisico da familia porque seria suicídio financeiro,estou correto?Como vamos ser pai e mãe e como nossos filhos adultos vão lembrar de pais e maes, se o tempo todo está voltado para a sobrevivência?Somos peças de um maquinário e eu vendo essa ilustração deste texto me pergunto:se as pessoas forem substituidas por robots vão sobreviver como? Minha mãe já se foi há muito tempo,mas me baseio na mãe de meus filhos, que ainda nao foi descartada,mas que é obrigada a descartar o convívio com a familia, assim como eu,para sobrevivência de todos.Devemos nos conformar com isso,a gente se adapta.

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  3. Anonymous7:00 AM

    Li com atenção e cheguei a seguinte conclusão:não temos como evitar o distanciamento emocional e fisico da familia porque seria suicídio financeiro,estou correto?Como vamos ser pai e mãe e como nossos filhos adultos vão lembrar de pais e maes, se o tempo todo está voltado para a sobrevivência?Somos peças de um maquinário e eu vendo essa ilustração deste texto me pergunto:se as pessoas forem substituidas por robots vão sobreviver como? Minha mãe já se foi há muito tempo,mas me baseio na mãe de meus filhos, que ainda nao foi descartada,mas que é obrigada a descartar o convívio com a familia, assim como eu,para sobrevivência de todos.Devemos nos conformar com isso,a gente se adapta.

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