Monday, April 18, 2011

SOMOS REAIS OU IMAGINÁRIOS?

Como você vê o mundo, super-influenciado pela mídia, ocupado por imagens ficcionais que invadem a realidade? Ou no caso da realidade invadir o virtual?
Bombardeios e fuzilamentos estão sendo noticiados, seja na Palestina, na Líbia ou em qualquer lugar do mundo, mas apesar de causar impacto na vida das pessoas a consciência de sua dimensão fica comprometida  por um processo interessante: quanto maior a vivência da ficção violenta, através de filmes e games, mais a realidade se mescla à fantasia na mente humana!
Essa condição vez por outra se torna bastante evidente. Quando Saddan Hussein foi enforcado, a realidade ou não de sua morte naquele cenário foi contestada por muita gente. Um jornalista egípcio sustentou que o ex-ditador iraquiano não estava ali e sim um sósia dele. Segundo esse jornalista Saddan nunca foi capturado pelos EUA.
O que é realidade? O que seria ilusão?
A linha divisória entre a realidade e a ficção está cada vez mais tênue, concorda a professora Ivone Marques. Ela conta que experiências com as crianças demonstram que o cérebro humano anda confundindo o real e imaginário.
“Passei um documentário sobre o Iraque, onde soldados atiravam contra casas semi-destruídas e de repente um caminhão foi atingido por um morteiro, explodindo em chamas. As crianças, com idade entre 9 e 10 anos, não sabiam responder se aquilo era uma cena de ficção ou não. Um dos meninos foi claro: “Vejo a guerra, pessoas lutando contra os outros, igual nos filmes!”
Ou seja, para quem cresce em um mundo de imagens, onde a violência virtual é exagerada, a interpretação do terror e destruição no mundo real fica comprometida.
O processo de confusão, onde o real parece ficção e a ficção algo natural, incluindo aí a violência clara ou subentendida, não ocorre apenas com as crianças. Ao mesmo tempo que o jornalismo se torna mais realista e eficiente em mostrar a realidade em fotos, filmes e relatos, o avanço da tecnologia e os efeitos especiais que levam à cenas da ficção absolutamente críveis, também interferem no mundo dos adultos, onde as variações de percepção influenciam a lógica!
“As vezes quando acordo fico na dúvida se tive mesmo um sonho que está na minha memória ou se vivi uma realidade”, comenta Luciano, 34 anos, programador de computação e assíduo freqüentador do mundo virtual. “Acho que o mundo virtual está mexendo com minha percepção da realidade” arrisca ele.
Em um mundo repleto de informação e imagens, reais e ou virtuais (que parecem extremamente reais), não são apenas as pessoas que passam horas imersas em uma tela do computador que sentem seus efeitos.
Também a mídia eletrônica, através da televisão, e a ficção elaborada que vai às telas do cinema parece provocar mudanças na percepção das pessoas.
Muitos relacionam esse “descontrole” perceptivo também ao tempo. “A terra parece girar mais rapidamente, mas eu considero a mudança de horários constantes, como o horário de verão, um fator que “bagunça” a relação natural das horas com o movimento do sol e da noite” reclama o professor Oswaldo Grecco.
Se a percepção humana está sendo afetada por diferentes fatores – como bombardeio de informação, imagens, mundo virtual e confusões com horários elásticos, a capacidade de
orientação e o próprio raciocínio ficam comprometidos.
Por isso há pessoas que não acreditam nas próprias previsões da ciência, como as conclusões das pesquisas científicas acerca da temperatura do planeta. “Imagine se eu vou acreditar que os pólos vão derreter!”, admirou-se um participante de um fórum na Internet.
Outros, especialmente os jovens, embora aceitando a validade das pesquisas, não conseguem imaginar-se dentro da realidade. “Mas daqui a cem anos eu nem existo mais”!...
Ou seja, para a maioria das pessoas, as tragédias reais não são ameaçadoras, até o momento em que algum fator a torne próxima o suficiente para interferir em sua rotina e, portanto, real. Caso contrário as informações científicas são interpretadas com o mesmo espanto e terror imediato de um filme tipo “The day after”, ou documentários com rigorosa base científica são interpretados como probabilidade remota que permanece no consciente  até a saída do cinema e a colherada de sorvete.
Esta possibilidade é aterradora, se coinsiderarmos que o hábito à violência ficcional pode ser assimilado pela mente humana como rotina real. Agressões, tiroteios, grosserias, tudo isso passa a ser reconhecido como "natural" ao meio, ganhando certa familiaridade. Os vilões do mal não podem ser tão fortes e charmosos ou vencer os "do Bem", como anda pregando nossa ficção.
Em mentes perturbadas, essa relação pode facilmente desencadear comportamentos antes reprimidos pelo meio. A vida humana torna-se reles e dispensável, como as dos zumbís que tem suas cabeças explodidas pela arma do jogo virtual.
Há quem diga que toda essa violência ficcional tem o objetivo de transtornar as sociedades e implantar o caos, no mais absoluto exemplo teórico das conspirações do mundo moderno. Independente de qualquer exagero ou transtornos, a verdade é que começamos a enfrentar um claro desequilíbrio entre o real e o imaginário, com consequências muitas vezes dramáticas. Misturar realidade e ficção poderia não ser uma influência tão nefasta se houvesse maior atenção a fatores de comportamento que auxiliam a manter uma relação saudável com o meio desde a infância.  (Mirna Monteiro)



1 comment:

  1. Anonymous9:16 AM

    Que a ficção interfere no inconsciente é verdade.Quem pode impedir essa influência?

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