Por que? Bem, a alma e o encanto do arrebatamento que leva ao amor físico são substituídos pela prática explicação de neurotransmissores cumprindo uma função indispensável na ativação do impulso sexual,
como a tal feniletilamina, recentemente associada à paixão. Suspeita-se que sua produção no cérebro possa ser desencadeada por eventos como uma troca de olhares ou um aperto de mãos. Algo assim como abrir uma torneira.
O pior ( para os românticos) não é o fato dos cérebros apaixonados estarem encharcados de substâncias neurotransmissoras, mas sim a certeza de alguns cientistas de que somos programados como maquininhas para que isso ocorra e pare de ocorrer! Digamos que biologicamente sentimos paixão por 18 a 30 meses! Aí desligamos...
Além de chata, essa informação nem é muito nova. Schopenhauer já dizia que o amor é apenas um artifício, exclusivamente humano, para poder procriar e poder chegar a um sucessor perfeito. Ele tinha lá sua interpretação da vida, que seria basicamente feita de dor e sofrimento no objetivo de chegar à morte, preservando eternamente nosso corpo por meio de nossa descendência.
Bem...Artur estava certo e mesmo sem saber de química cerebral e DNA, antecipou a descoberta de cientistas atuais. Mas ainda assim...não, isso pode explicar a paixão ou necessidade de procriação, mas não explica o amor! Ou seja, quantos não permanecem com o sentimento crescente após décadas em comum?
Segundo o neurobiólogo James Old, "o amor entra pelos olhos". Reforça o fato de recursos químicos para estimular a paixão. Aliás ao longo da história parece que a química é necessária para romper o distanciamento entre homem e mulher. Não diz a lenda que Eros nasceu de Recurso e de Pobreza, que aproveitou-se de sua embriaguês? Nada muito lisonjeiro. Na sequência de nascimentos, surgiu o Caos, depois a Terra e então o pobre Eros...
Provavelmente essa crítica ao amor vem do eterno embate entre o homem e a mulher. A mulher é uma ameaça ao homem, pois ela o fragiliza através do amor. Sócrates costumava dizer que deve-se temer mais o amor de uma mulher, do que o ódio de um homem...
Platão escreveu em "O Banquete" que "o amor é pobre, magro, mal apresentado, sem sapatos, sem domicílio, sem outra cama que a terra, dormindo sob as estrelas, sem cobertores, junto das portas e nas ruas, irremediavelmente miserável, imitando sua mãe"!
É...Uma observação crítica demais para um sentimento tão amplo! Propércio dizia que a medicina é o remédio para todas as dores humanas, mas o amor é um mal que não tem cura! Já Pitágoras, mais prático, considerava que o sentimento era possível se quem tivesse contato com ele pudesse abriga-lo e alimentá-lo com pureza. "Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo".
Machado de Assis considerava que o amor durava pouco, mas culpava a rotina e o excesso de formalidade em algo que devia ser livre. "Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento", escreveu.
Bem, amor não deve ser analisado por pensadores talvez. Melhor que seja citado por aqueles que tem a veia romântica para reconhecer o sentimento e a paixão. Como Shakespeare: "Amor, sensata loucura, sufocante amargura, vivificante doçura!" . Muito dramático...que tal Camões:
Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor
Talvez seja melhor Carlos Drumond de Andrade
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
O mundo seria um inferno sem amor e é apenas assim que se sobrevive assim como a ausência do amor seria a condenação do final da humanidade
ReplyDeleteQue delicia este texto!
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