Tuesday, September 28, 2010

AMOR, ETERNO AMOR




Vivemos sériamente  preocupados em entender a existência da vida e da morte. Mas nada se compara a outro mistério que habita o ser humano e que o faz relegar vida e morte a uma gaveta  inferior de seu consciente: o amor!

Sim, o amor. Esse sentimento pode ser menosprezado ou superestimado, mas no final da contas ele ocupa a grande preocupação humana. Aparentemente todos vivemos em função desse sentimento mesmo quando não admitimos isso! 

O amor está ligado a grandes transformações da humanidade, à sobrevivência da espécie, determinando uma série enorme de outros sentimentos e comportamentos que irão modificar o indivíduo e o meio!Ausência de amor é carência afetiva, um tipo de condição que causa estragos em qualquer fase da vida do indivíduo.


Não é exagero! Desde que somos gerados, já temos a expectativa de sermos amados. Dependemos dela para sobreviver. O que confunde a interpretação do amor, pois ele pode assumir formas variadas. Digamos que entre tantas referências e interpretações, nos limitássemos a duas formas do amor, o fraterno e aquele oriundo da paixão.

Explicar o amor fraterno é fácil! Trata-se de um sentimento necessário para o equilíbrio do meio. Todos sabemos que a sobrevivência depende desse sentimento, que faz com que as pessoas se agreguem e se auto-protejam. Mesmo que você queira acreditar que basta um sentimento frio e mecânico de cooperação na espécie humana, o amor vai diferenciar as relações e tornar a vida potencialmente mais agradável.


O amor entre os sexos é óbvio para a procriação...será possível que seja eliminado no futuro, caso o ser humano se reproduza em laboratórios? Sabe-se lá. Hoje em dia há quem afirme que o amor paixão é pura química, afirmação que provoca nos românticos incuráveis uma desagradável sensação de vazio. 

Por que? Bem, a alma e o encanto do arrebatamento que leva ao amor físico são substituídos pela prática explicação de  neurotransmissores cumprindo uma função indispensável na ativação do impulso sexual, 
como a tal feniletilamina, recentemente associada à paixão. Suspeita-se que sua produção no cérebro possa ser desencadeada por eventos como uma troca de olhares ou um aperto de mãos. Algo assim como abrir uma torneira.

O pior ( para os românticos) não é o fato dos cérebros apaixonados estarem encharcados de substâncias neurotransmissoras, mas sim a certeza de alguns cientistas de que somos programados como maquininhas para que isso ocorra e pare de ocorrer! Digamos que biologicamente sentimos paixão por 18 a 30 meses! Aí desligamos...

Além de chata, essa informação nem é muito nova. Schopenhauer já dizia que o amor é apenas um artifício, exclusivamente humano, para poder procriar e poder chegar a um sucessor perfeito. Ele tinha lá sua interpretação da vida, que seria basicamente feita de dor e sofrimento no objetivo de chegar à morte, preservando eternamente nosso corpo por meio de nossa descendência.

Bem...Artur estava certo e mesmo sem saber de química cerebral e DNA, antecipou a descoberta de cientistas atuais. Mas ainda assim...não, isso pode explicar a paixão ou necessidade de procriação, mas não explica o amor! Ou seja, quantos não permanecem com o sentimento crescente após décadas em comum? 

Segundo o neurobiólogo James Old, "o amor entra pelos olhos". Reforça o fato de recursos químicos para estimular a paixão. Aliás ao longo da história parece que a química é necessária para romper o distanciamento entre homem e mulher. Não diz a lenda que Eros nasceu de Recurso e de Pobreza, que aproveitou-se de sua embriaguês?  Nada muito lisonjeiro. Na sequência de nascimentos, surgiu o Caos, depois a Terra e então o pobre Eros...

Provavelmente essa crítica ao amor vem do eterno embate entre o homem e a mulher. A mulher é uma ameaça ao homem, pois ela o fragiliza através do amor. Sócrates costumava dizer que deve-se temer mais o amor de uma mulher, do que o ódio de um homem...

Platão escreveu em  "O Banquete" que "o amor é pobre, magro, mal apresentado, sem sapatos, sem domicílio, sem outra cama que a terra, dormindo sob as estrelas, sem cobertores, junto das portas e nas ruas, irremediavelmente miserável, imitando sua mãe"!

É...Uma observação crítica demais para um sentimento tão amplo! Propércio dizia que a medicina é o remédio para todas as dores humanas, mas o amor é um mal que não tem cura! Já Pitágoras, mais prático, considerava que o sentimento era possível se quem tivesse contato com ele pudesse abriga-lo e alimentá-lo com pureza. "Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo".

Machado de Assis considerava que o amor durava pouco, mas culpava a rotina e o excesso de formalidade em algo que devia ser livre. "Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento", escreveu.

Bem, amor não deve ser analisado por pensadores talvez. Melhor que seja citado por aqueles que tem a veia romântica para reconhecer  o sentimento e a paixão. Como Shakespeare: "Amor, sensata loucura, sufocante amargura, vivificante doçura!" . Muito dramático...que tal  Camões:

Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor

Talvez seja melhor Carlos Drumond de Andrade

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Não, não...O óbvio, quem pode descrever o óbvio? Fernando Pessoa? Talvez seja ele quem melhor expresse o sentimento, colocando pensadores e cientistas no sapato: "Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?


Talvez isso seja suficiente. Venha de onde for, a verdade é que o amor move moinhos e torna as pessoas melhores, em todas as suas versões, do amor fraterno ou amor paixão.

Como a incrível capacidade que algumas pessoas tem de amar incondicionalmente, de sentir afeição pelo, semelhante, mesmo por aqueles que sequer conhece.  Seria o amor universal, aquele que  se estende por toda a natureza, reconhecendo o equilíbrio das coisas e a beleza que se esconde em cada forma de vida!

Esta discussão vai longe...ou amor não se discute? (Mirna Monteiro)




2 comments:

  1. Harry Len4:15 PM

    O mundo seria um inferno sem amor e é apenas assim que se sobrevive assim como a ausência do amor seria a condenação do final da humanidade

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  2. Olga Bernardes11:10 AM

    Que delicia este texto!

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