Tuesday, December 03, 2013

GUERRA DOS SEXOS NO CIBERESPAÇO

O rapaz levou um susto quando descobriu que sua "performance" era analisada por garotas  e que no final era avaliado, de zero a dez, no "Lulu", um aplicativo no site de relacionamento! Como não podia deixar de acontecer, a resposta veio logo, através de outro aplicativo, o Tubby, desta vez criticando as mulheres, com detalhes da conquista sexual.
Como também não podia deixar de acontecer, essa guerra entre meninos e meninas rendeu uma correria para evitar danos e perdas. Pelo menos para quem está sabendo disso: quem concorda com os termos de uso do Facebook, por exemplo, pode ir parar nesses aplicativos sem ser consultado, já que basta um amigo do perfil participante, para carregar no bojo  todos os demais.
É claro que anonimato dos comentários não elimina a responsabilidade legal de quem publica informações reais ou falsas sobre um perfil real. O próprio Facebook, por exemplo, também é considerado co-responsável pelos danos morais nessa brincadeira perigosa dos aplicativos. Mesmo quando a pessoa pede a exclusão dos aplicativos, os dados pessoais permanecem em posse desses sistema.
O resumo da história é a situação inusitada a ser enfrentada no ainda inexplorado ciberespaço em relação à cultura do mundo imediato. No dia a dia as pessoas preservam a identidade, acreditam no sigilo de sua vida privada, de seus momentos íntimos, de seus dramas e alegrias pessoais.
Tudo isso está  entrando em choque com o universo virtual, que parece cada vez mais o avesso das convenções e hábitos cultivados ao longo da sociedade desde os tempos mais primitivos.
Até que ponto existe consciência de que um dos valores mais cultivados - o da privacidade - não é possível no ciberespaço, principalmente em sites de relacionamento, ainda não se sabe. Mas pela reação de surpresa e indignação aos abusos de aplicativos e outros mecanismos que permitem acesso à informações pessoais que aparentemente seriam privadas, ainda não se percebeu que para proteger-se no ciberespaço não basta portões e portas trancadas, nem mesmo desligar-se da rede, jogando o celular no mar ou destruindo o computador: nossa presença continua boiando nesse espaço sem fim.
Vivemos entre a razão e a sensibilidade. É um dilema criado pela condição humana, que depende de um sistema social e econômico para sobreviver, que nem sempre é estruturado em acordo com os sentimentos que estruturam a vida emocional e existencial do ser humano. Sob essa ótica, o mundo virtual não oferece os mesmos resultados para acontecimentos idênticos do mundo imediato, já que exige um despojamento maior de elementos que garantiriam proteção e anonimato.
Mais do que isso, se de um lado a impressão de anonimato pode favorecer crimes cibernéticos, de várias modalidades, de outro existe uma possibilidade de localização e desmascaramento de pessoas e ações anônimas. Muito mais eficiente do que na nossa sociedade sustentada por estruturas viciadas que desafiam a ordem por criar maior quantidade de bloqueios à verdade.
De qualquer maneira, o ciberespaço ainda amedronta e causa insegurança justamente por constituir-se do imaterial que assume subitamente uma forma concreta e definitivamente poderosa em sua interferência no que muitas pessoas ainda acreditam ser "o mundo real", que não é antônimo de mundo virtual. Definitivamente, não.  (Mirna Monteiro)

Friday, October 25, 2013

CERCAS, MUROS E HUMANIDADE

O temos a ver com os outros?
Tudo e nada, ao mesmo tempo. Parece muito fácil ignorar situações que nos desagradam ou são complexas demais, a ponto de se tornarem uma espécie de ficção em nossa realidade.
Mas logo a frente, em algum momento futuro, o que era ficção - ou problema dos outros - vai se enroscar em nossa vida. Que afinal não será problema de outros também.
Até que ponto devemos nos sentir culpados ou responsáveis por situações que não provocamos ou com o sofrimento de quem não conhecemos?
Aparentemente, quanto mais problemas percebemos ao nosso redor, maior é a vontade de fechar as portas da consciência e de nosso espaço social. É ação automática, um irresistível impulso de defesa.
No entanto tudo o que acontece tem relação direta ou indireta com o mundo particular de cada um.
Do ponto de vista ético, participar da vida equivale a valorizar o semelhante como  si próprio, já que dependemos da comunidade para garantir a sobrevivência. Portanto quem é hermético ao sofrimento alheio contraria a natureza da auto-preservação, a não ser que esteja sob ameaça, onde admite-se que valores éticos sejam atropelados pela natural luta pela vida em caso de confronto.
Há várias formas de omissão. Negar auxílio a alguém  é uma delas. Mas até que ponto?
 Jornais, revistas e produtos responsáveis pela informação podem omitir determinados detalhes de um fato,  quando sabemos que uma simples fofoca que omite um aspecto da verdade, pode mudar a história?
A omissão esbarra em questões éticas. Suponhamos que uma pessoa seja perseguida injustamente e outras omitem seu paradeiro! Seria essa uma omissão ética?
Poderíamos omitir a existência de um calo no pé ou de algo pessoal sem que isso ocasionasse qualquer transtorno. Schopenhauer diferenciava a mera omissão ou mentira  de qualquer outra ação que não provocasse dano a alguém ou a qualquer coisa. Tem lógica! Omitir o tal calo no pé, portanto, não seria da conta do nariz alheio!
Digamos que um médico decida omitir o diagnóstico fatal de um paciente terminal que demonstra pavor da morte. Seria um ato piedoso omitir ou mentir? Essa sutil diferença entre a omissão- ou a mentira não pronunciada, exige capacidade de diferenciar e de prever desdobramentos do bem e o mal. Não é algo tão fácil.
Kant lembrava a responsabilidade da mentira ou da omissão da verdade. Todos os desdobramentos do acontecimento seriam portanto de quem cometeu a omissão, como uma mão que desvia a linha do destino.
Assim assumir a responsabilidade por uma omissão, decorra dela um ato justo ou injusto, é assumir-se responsável também pelo que vier a suceder. 
O que se percebe, no entanto, é uma tendência a se isolar e fugir. Quando as coisas vão mal, as pessoas lamentam e erguem muros, mantendo-se sobre eles enquanto aguardam que alguém ou alguma coisa transforme o caos em ordem. É uma atitude comodista. Ao longo da história a omissão acontecia mais por ignorância dos fatos do que por fuga da realidade. O preço pago por essa atitude sempre foi alto, de grandes sofrimentos.
Hoje vivemos em uma era onde a comunicação é farta, mas onde o conhecimento do que é divulgado nem sempre é real e seguro. Isso causa um grande desconforto. Necessitamos de certezas. 
Não há como preservar a própria integridade física escondendo-se atrás de muros. A violência rompe as barreiras físicas. A única maneira de obter segurança é o esforço em definir o emaranhado de informação e imposições de posturas de pensamento e ideias. 
Nesse caso, já que fugir não vai evitar desdobramentos do mal causado por uma omissão, melhor ficar com o parece ético e justo. Já dizia Aristóteles que a disposição de caráter torna as pessoas propensas a fazer o que é justo, desejando e agindo nesse sentido. (Mirna Monteiro)

MASCARADOS E CARAS LIMPAS

A cultura esquimó interpreta as máscaras como um complemento da dubiedade do homem, que possuiria uma face humana e outra animal. Em rituais antigos de fertilidade, na fase do Império Romano, as máscaras eram importantes na homenagem a Dionísio.
São apenas dois exemplos do uso da máscara em culturas diferentes. Conforme a sociedade se definia no ocidente, as máscaras foram sendo usadas de maneira mais óbvia, para esconder a identidade, como no século 17 em  Veneza, onde os nobres buscavam o anonimato para misturar-se a plebe. Nesse caso, com a intenção de ser o povo e usufruir da alegria do carnaval nas ruas.
Hoje as máscaras escondem a identidade de quem se  mistura à manifestações populares, sejam elas quais forem. Uma greve, um ato de repúdio, um movimento de moralização. De súbito surgem mascarados ou rostos encobertos por peças de roupa, como tuaregues urbanos, armados de paus e pedras.
Existe uma linha sutil entre a liberdade e a ofensa. Ser livre implica em definir o próprio espaço para a expressão, sem furtar o espaço alheio ou avançar sobre os direitos de outros.
Por esse motivo surpreende os argumentos dos "defensores da liberdade" que exigem essa expressão dos sentidos - da palavra e da ação - como se não a existência dos limites que validam a liberdade pudessem ser ignorados.
Livre expressão que não respeita o espaço do semelhante é ação ditatorial, dominadora, impositiva. Portanto não é democrática.
Essa realidade, que todos reconhecemos, acaba misturando-se ao valores sociais e confundindo a liberdade de expressão. Exagera do domínio do espaço e sufoca a expressão alheia.
É o caso dos mascarados que agem como vândalos, destruindo patrimônios públicos ou privados e transformando a liberdade de expressão em um  ato de violência, impondo o medo e ameaçando a sociedade.
A sua origem é desconhecida. Mas certamente o objetivo não é favorecer as manifestações legítimas, mas impor um estado de guerra artificialmente.
Devemos cobrir o rosto em manifestações públicas?
Liberdade é uma palavra tão importante quanto mal interpretada neste nosso tempo cheio de distorções e excesso de imagens. Mas nada pode representar melhor a liberdade e a livre expressão em um regime democrático do que a cara limpa! Tudo que mais deseja a sociedade humana hoje é, sem dúvida, honestidade e claridade... (Mirna Monteiro)

Tuesday, September 10, 2013

OS CONFLITOS DA EUTANÁSIA

Quando o assunto é eutanásia, o choque é inevitável. Talvez nem tanto pela dúvida entre o direito ou não de antecipar a morte de um ser terminal e em sofrimento extremo. Mas simplesmente pelo fato de lidar com aquilo que o ser humano mais teme: a morte!
Morte significa o fim de alguém ou de um sentimento ou qualquer coisa que se finda definitivamente. É o desconhecido, um acontecimento que não permite a quem quer que seja lidar com alguma certeza. Por esse motivo a ideia de provocar a morte - mesmo que por piedade - é chocante!
O termo eutanásia deriva do grego "eu" ou "boa" e de "tanatos" que significa "morte". Assim sendo, eutanásia significa boa morte ou morte serena, que era defendida por Sócrates e depois por seu discípulo Platão. Por toda a história da humanidade, em momentos de desespero diante do sofrimento inevitável e terminal de algum ser, homem ou animal, o medo da morte cedia espaço à piedade.

Será mesmo possível a "morte suave, doce, fácil", sem sofrimento, sem dor, para abreviar agonia muito grande  dolorosa de alguém? Seria o ato que põe termo à vida de quem que sofre de enfermidade incurável ou  vítimas em situação irreversível de dores cruéis, que pretende atender ao desejo de quem sofre, natural?
Sob essa ótica, sim, parece ser a morte piedosa uma ação natural, movida pelo sentimento de humanidade. Mas nem por isso deixa de ser controversa, quando todos sabemos que nem sempre os atos justificáveis ficam limitados ao bom senso. Sempre há o risco de, diante da aceitação da eutanásia, acontecer distorções futuras.
No entanto, a maioria das pessoas pode ficar chocada quando assiste uma cena em que um animal é mortalmente ferido e recebe um tiro de misericórdia, ao mesmo tempo em que sente alívio pelo fim da tortura da dor e da morte lenta. Contradições da alma humana ou superação do medo da morte em nome da piedade?
Hoje a eutanásia é usada na medicina veterinária em casos terminais. Os veterinários não aceitam esse termo, preferindo chamá-lo de "descanso" de um animal em extremo sofrimento e em situação irreversível.

Seria a eutanásia um ato de respeito à natureza? Ou a natureza deve seguir o seu curso mesmo quando envolve o sofrimento, enquanto assistimos à dor de outros com braços cruzados e impotentes diante do ciclo natural da vida?
Esta é certamente a decisão mais difícil para uma sociedade que conta com recursos da ciência para salvar vidas, mas também para tornar a morte piedosa e indolor. Talvez a resposta esteja na certeza de que a natureza dita suas regras, mas também as modifica.
Nada parece ser definitivo em um universo em eterna transformação. E o respeito à natureza também é influenciado pelas circunstâncias, que nunca são idênticas e dependem da razão e do bom senso em sua decisão, na dependência da sensibilidade que pode justificar ou condenar um mesmo ato.(Mirna Monteiro)

Friday, July 26, 2013

O EMBATE NOS GRUPOS SOCIAIS

(...)Há grupos de todas as cores e formatos nas redes sociais. A variedade é tão grande, que seria impossível resumi-los aqui. Essa ferramenta que começou a ser utilizada de maneira tímida, virou febre e parece não ter limite. Há grupos até para não comentar nada, só postar carinhas que traduzam a emoção de quem está postando.
Mas subitamente esses grupos sem pretensão transformam-se em máquinas de divulgação política.
Há alguns anos acompanho a evolução dos sites de relacionamento. Antes a moda era o Orkut, depois o Facebook, Twitter, entre tantos outros. A curiosidade é explicada: de que maneira esse novo tipo de contato entre as pessoas acontece e qual o formato futuro da relação humana.
Uma das formas de relacionamento são os grupos, em diferentes categorias e assuntos. Há grupos de todos e para tudo, especialmente no Facebook. Até que ponto isso pode ser uma arma contra a liberdade de expressão e o domínio da informação nas próximas décadas?
Esta é uma área nova para estudos. Há pouca pesquisa e relatos sérios sobre esse novo recurso de comunicação. O que se sabe é que a aparente inocência de grupos que reúnem pessoas que desejam trocar experiencias ou compensar o distanciamento das relações humanas pode transformar-se em uma perigosa arma de manipulação das ideias.
Denúncias de imposição ideológica, da apologia à violência e ao preconceito, da intriga e da criação de "celeiros políticos"  que pretendem atuar agressivamente nas imediações das campanhas, tornam-se comuns.
Grupos que começam com objetivos inocentes de "quero um amigo", "meu nome é X" , "Luta contra a corrupção" ou mesmo grupos de categorias profissionais, crescem rápido, chegando a milhares de membros, e de súbito tem seu objetivo inicial deturpado e desviado para objetivos particulares de grupos radicais, ligados à violência ou facções políticas extremistas ou simplesmente para campanha eleitoral.
Os grupos tornam-se o objeto de desejo de pessoas, mas também de empresas e políticos que buscam armar seus palanques, nem sempre de forma direta, mas indireta, utilizando "laranjas" que representariam a "voz popular".
Nesse emaranhado reconhecemos os liberais, os conscientes, os predadores ou os déspotas. Os "donos de grupos" tomam para si a "decisão" de manipular o destino de cem, duzentas, mil ou dez mil pessoas, que são adicionadas a esses espaços muitas vezes sem saber que estão fornecendo apoio numérico...ainda que nunca tenham tido nenhum tipo de contato com essas pessoas. Grupos de 10 mil membros em geral possuem uma rotatividade de menos de 1%.
Por esse motivo a eficácia do controle das ideias e imposição politico-partidária dentro desses grupos maliciosos ainda é uma incógnita.
A escravidão da informação ou a manipulação das ideias é um risco que a sociedade deve avaliar e combater. Grupos violentos ou que propositalmente deformam a informação abalam e comprometem a liberdade de expressão. É uma contradição que espaços livres se transformem em  espaços escravizados e controlados pelos "donos" ou fundadores de grupos. Mas esse parece ser o desafio da "nova liberdade" obtida no campo virtual, onde a ética apenas funciona quando defendida pelos elementos que participam desses grupos.
Caso contrário, é um espaço tão primitivo quanto "as terras sem lei", onde vence quem tiver menos escrúpulos, soterrando a razão em estratégias que independem da quantidade de pessoas envolvidas. Ou seja, pequenos ditadores dominam um grupo ao cercar as razões éticas, anulando-as rapidamente, ao contrário do que ocorre fora do virtual, que demarca com clareza as responsabilidades e abusos regulados pela legislação comum.

MANIPULAÇÃO VIRTUAL

Enquanto a imprensa é criticada por seu comprometimento econômico e político, os espaços virtuais funcionam como uma espécie de espelho dessa realidade prática. A mesma imprensa livre ou comprometida também exerce o seu papel na internet. Paralelamente as conversas no trabalho, nas ruas e outros lugares que exigem contato pessoal são igualmente levadas ao espaço virtual, processando-se ali de maneira mais livre, pela impressão de anonimato.
Para as empresas e profissionais da imprensa há grandes controvérsias no espaço virtual. Ao mesmo tempo em que a Internet chegou ampliando as relações no mundo todo e tornando o trabalho da informação muito mais amplo, também provocou a evasão do leitor dos jornais.
Os riscos da informação distorcida ou manipulação da opinião aumentam no uso da internet. Mesmo que parte das empresas jornalísticas sejam comandadas por interesses financeiros - submetendo-se à pressão de aspectos comerciais e políticos - a ainda livre publicação virtual não impede o mesmo risco, misturando informação correta e positiva, com a informação maliciosa, principalmente no campo político.
Se a Internet oferece um campo vasto, a centralização de pessoas nos sites de relacionamento tornaram a exploração dos grupos um excelente negócio.
Falar em mídia digital é resumir as possibilidades de ação. A comunicação virtual permite roupagens tão variadas, que tentar defini-las na linguagem usual não define a sua dimensão.  (cont.) (Mirna Monteiro)

Monday, July 15, 2013

O HOMEM E O COMPASSO

Algumas datas parecem sem sentido. Dia do Homem é uma delas. Não que o homem não mereça ter um dia seu. Se as mulheres e as crianças tem, por que não os homens?
Bem, a justificativa da comemoração fala da equiparação entre homem e mulher, separados desde sempre pela ausência da identidade feminina, em relação à predominância da identidade masculina.
 É, considerando que nos primórdios a humanidade cultuava a Mãe-Terra e idolatrava o simbolo feminino da fecundidade, para depois ignorar por completo a identidade feminina, o que temos hoje é uma mudança e tanto. Depois de passar por um estado de nulidade social e politica, sendo reconhecida pelo nome do homem, que era perpetuado nas gerações masculinas, a coisa mudou para a mulher. E por tabela, para o homem. A revolução do século XX foi realmente uma virada e tanto, permitindo não apenas o voto feminino como o exercício do direito político, cultural e social pleno!
Perplexidade para a antiga figura masculina!
Situação complicada para o homem? Bem, para quem estava habituado a ver todos os desfechos no gênero masculino, o século das mudanças causou um grande impacto.
Ainda hoje o homem procura situar-se em um novo universo feminino, que parece predominar com a mesma medida que antes era ocupada pela cultura masculina. Não cultua a fertilidade, mas explode em clarões de rosa, em perfumes e máscaras de beleza, desfile nas passarelas, desempenho de tarefas domésticas e  divisão do espaço profissional, em uma mistura de hábitos e pensamentos onde as antigas diferenças tornam-se cada vez mais diluídas.
Mas homens e mulheres são diferentes, apesar do polimento de arestas superficiais do comportamento. Não na capacidade de realizar funções ou desenvolver frutos da inteligência, mas na maneira de se reconhecer e se auto-conduzir. Há quem assegure que é questão de tempo a fusão total entre o masculino e feminino, a ponto de tornar os gêneros idênticos. Essa possibilidade não agrada nem ao homem, nem à mulher.
Mas o que é que isso tem a ver com o Dia do Homem? Será que é uma oportunidade de ganhar gravata nova ou, talvez, sais de banho?
Talvez não exatamente. Por mais comercial que venha a se tornar (ainda é recente em pouco mais de uma década e comemorada no dia 15 de julho no Brasil), essa comemoração foi criada por homens. Só isso já a justifica. Por que não? Ainda que não exista uma revolução qualquer no mundo masculino e que venha a se chamar "Dia do Homem Livre", justifica-se pelo próprio conceito de igualdade com a mulher. Mulher tem dia, homem também.
Há quem reclame que Dia da Mulher e Dia do Homem promoveriam nova distinção, ao invés de ratificar a igualdade entre os sexos. É que as mulheres, em seu dia, comemoram conquistas, novas condições e desafios. E os homens comemorariam novos desafios.
É, sob esse ponto de vista, há mesmo o que comemorar. O desafio do masculino, em uma sociedade que se transformou com a plena ação feminina.
Viva o Dia do Homem. Do novo homem! (Mirna Monteiro)

Friday, July 05, 2013

A ARTE DE ACREDITAR...SEM ENGANAR-SE


Volta e meia aparece a dúvida: em quem acreditar? No que acreditar? A insegurança sobre a verdade não é característica de pessoas jovens, assim como a certeza não é privilégio de quem viveu muitas décadas.

Sob essa ótica (verdadeira?) estamos todos no mesmo barco, o da incerteza sobre as coisas eisso pode ser angustiante! Nietzsche, ele próprio exasperado com as próprias dúvidas em uma época onde tudo era contestado de maneira extremamente econômica, concluiu que a busca da verdade não passava de simples necessidade humana de se sentir em segurança.  Um mundo que "não se contradiz", seria um mundo mais confiável, com conceitos baseados na crença de valores imutáveis e, portanto, aceitos como verdade universal. 

Bem, de qualquer forma nós temos nossas verdades universais. Por exemplo a igualdade entre os homens e o respeito à natureza. Naturalmente são verdades óbvias oriundas da necessidade de sobrevivência, entre outras que surgem da relação histórica do homem com o meio. 

O que sabemos é que o reconhecimento da verdade, ou de alguma realidade que possamos assumir como determinante, parte de nossa capacidade de sentir a vida. O conhecimento sobre si mesmo modifica o reconhecimento da verdade. E como acreditava Sócrates, só age erradamente aquele que desconhece a verdade e, por extensão, o bem. Nesse caso permanece boiando na incerteza, ou esperneando se assim lhe ditar o temperamento, mas em ambos os casos provocando desequilíbrio e caos ao meio. 
 Como mestre que pretendia ensinar a pensar, sem impor uma verdade do próprio punho...ou do próprio pensamento, Sócrates colocava a  busca do saber como o caminho para a perfeição humana e, por tabela, para obter a sensação de segurança que permite um enfrentamento mais tranquilo de nossas dúvidas a respeito do que seria a verdade e a mentira.
Bem, 400 anos antes de Cristo e já se sabia o que hoje ainda constatamos. Por mais que seja teorizado o assunto e por mais que os pensadores sejam rebuscados e retóricos, realistas, fatalistas ou neuróticos, a verdade é que o drama do "onde está a verdade", resume-se a esta simples lógica socrática: observe, pense, aprenda e deduza!

Se a verdade necessita de sabedoria para ser detectada, a mentira basta a si própria, infelizmente. A sorte da humanidade é que seu tempo de vida é curto. Por isso devemos considerar a sabedoria popular, quando diz que "toda mentira tem perna curta". Aliás todos temos sempre uma boa interpretação da mentira. Rápida como o bote de uma cobra (uma mentira dá a volta ao mundo antes mesmo de a verdade ter a oportunidade de se vestir, ironizou Churchill) ou vital para a sobrevivência de alguns (A mentira é muitas vezes tão involuntária quanto a respiração, observou acertadamente o escritor Machado de Assis) a mentira é o avesso do conhecimento sem deixar de ser ilustradora da verdade. Não ser descoberto em uma mentira equivale a dizer uma verdade...

É nessa relatividade que se apoiam os grandes mentirosos da humanidade, antigos e atuais. Hitler achava que para convencer a massa era preciso uma grande mentira, cercada de muita bagunça e atritos, pois assim o caos formado esconderia ainda mais a verdade. Tinha razão, sem dúvida! É óbvio que para se conseguir impor uma mentira há necessidade de se impor o caos e a insegurança...aquele estado citado por Nietzsche, onde as convicções podem ser mais perigosas para a verdade do que a própria afirmação mentirosa! 
Acreditar, portanto, parece ser a arte de desvendar o que se passa atrás das grandes afirmações, das grandes mentiras e das supostas verdades. Uma arte que começa com o conhecimento do temperamento humano que habita em todos nós e o reconhecimento de nossas fraquezas. (Mirna Monteiro)

Leia também:

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http://artemirna.blogspot.com.br/2006/08/mordida-da-bocca-della-verit.html

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Friday, June 21, 2013

LIBERDADE E CONSCIÊNCIA

Sair às ruas e demonstrar aquilo que se pensa  ou se quer para o seu país é importante. Mas será que a própria liberdade pode ser manipulada e levada a interesses contrários à esses mesmos desejos da maioria dos cidadãos?
Em atos de liberdade, pacíficos, o que levaria pequenos grupos a cometer atos de vandalismo e outros comportamentos que são contrários ao próprio objetivo manifestado, invadindo o direito de outros?
Imaginar que um direito pessoal de expressão possa ser escravizado ou desviado para interesses de uma minoria é uma situação dramática e que se torna mais clara e definida com o aumento da comunicação no mundo. Redes sociais, assim como toda a internet, a mídia em geral, a televisão, os filmes e até os games, podem ser instrumentos de verdades ou de mentiras.
Mais do que nunca fala-se nos riscos que envolvem as pessoas em uma teia confortável de ilusões, que não é feita de palavras, mas utiliza o inconsciente humano, como previu a própria ficção em tempos onde sequer poderia ser cogitada a comunicação virtual ou mesmo a projeção de imagens.
Como isso é possível? Pesquisadores do mundo todo observam uma dramática mudança no comportamento das massas a partir da metade do século XX, quando o cinema e a TV passaram a integrar o cotidiano do Ocidente, como o aumento da violência.
A partir dessa realidade, a ciência se mistura ao exagero da  imaginação humana. Da existência real de mensagens subliminares - inicialmente utilizadas para incremento do consumo - chega-se hoje ao receio da invasão dos sentidos com objetivos de domínio da massa, supondo-se que existam mensagens subliminares em desenhos animados - que modificariam o comportamento do cidadão a partir de sua formação de maneira inconsciente - em filmes e jogos.
O que seriam essas mensagens subliminares afinal? Se não podemos vê-las, como podem afetar a mente humana?
Em 1957 um especialista em marketing chamado James Vicary, demonstrou que era possível inserir mensagens muito rápidas, em frações de segundo, em filmes mostrados no cinema. Foram escolhidas algumas frases, como "beba coca-cola" e "coma pipoca" e elas foram inseridas no filme em flashes rápidos demais para os olhos perceberem. Mas aquele relâmpago de ordem foi captado pela maioria do público presente: nas noites em que essa experiência foi feita as vendas de pipoca aumentaram 57,7% e as de coca-cola quase 20%.
Estava comprovado o poder dessa mensagem relâmpago. Ou mais rápida que isso, pois é "invisível". Subliminar porque não se consegue conscientiza-la.  Mas mesmo que a novidade tenha sido abafada na época, sem respaldo imediato da ciência, aparentemente crianças seriam mais suscetíveis ao poder da mensagem subliminar, o que não elimina o risco de adultos serem influenciados.
Imagine o poder que isso poderia acarretar. Será possível que através dos desenhos infantis e de qualquer outra imagem veiculada, comercial ou não, o cidadão passe a ter comportamentos influenciados?
Aparentemente sim. Mensagem subliminar é diferente da "lavagem cerebral" ou do convencimento pela repetição da imagem, que é percebida pelo indivíduo que se rende a ela. São todas condições nocivas da mudança de comportamento, mas a mensagem subliminar parece ser a mais criminosa, pois invade a mente sem que seja percebida ou deixe rastros de sua invasão. Salvo pela mudança de pensamento ou comportamento.
Na internet são cada vez mais frequentes vídeos que tentam demonstrar mensagens subliminares em filmes, principalmente para crianças. São palavras não captadas em sua intenção ou mensagens escritas que falam de sexo ou estimulam a violência. Certamente muitos casos são exagerados. Mas existem imagens e pequenos detalhes que realmente não deveriam estar ali e parecem propositais, independente do motivo.
A preocupação com mensagens subliminares nos dias de hoje substituiu a antiga condição humana do medo da opressão, mas também surge como um desafio monumental. Como lidar com isso em um mundo que é cada vez mais gerenciado pela imagem? Não só de televisão, cinema, jogos eletrônicos, mas pelo imenso espaço virtual, que cada vez mais isola pessoas do convívio pessoal e do contato humano, mantendo-as por horas a fio diante da tela de um computador, presas fáceis da hipnose das imagens ou de palavras que podem tolher sua capacidade crítica.
Seria afinal explicada a "moda zumbi", aquela que coloca a humanidade sob o risco de acéfalos violentos. Porque a ficção representa também o medo inconsciente do ser humano e muitas vezes antevêem um risco sem perceber conscientemente os sinais.
Como se vê, tudo pode ser possível... (Mirna Monteiro)

Friday, May 10, 2013

MÃES DOCES E MÃES MALVADAS

Quando o assunto é "mãe" parece haver uma mágoa profunda com as mudanças na maneira de viver da mulher. "Mãezonas não existem mais, apenas máquinas de procriar", escreveu alguém nos comentários deste blog.
Apenas máquinas de procriação? Referir-se à mulher que é mãe como um ser distante da realidade de sua função, como se os filhos fossem gerados com objetivos práticos, preocupa. Isso porque de fato as estatísticas demonstram que na mesma medida em que as sociedades se desorganizam em valores e ética, com o aumento de ações políticas e econômicas que supervalorizam o supérfluo como fonte de manutenção da vida, também produzem mulheres que rejeitam o conceito da maternidade que provém do instinto.
Estamos, ainda que lentamente, perdendo o instinto maternal que preserva a vida?
A questão parece extremamente grave porque não se trata simplesmente de um aumento gradual de mulheres que não desejam gerar, ou vivenciar toda a responsabilidade materna, que exige mudanças óbvias na vida desde o momento da concepção.
Não é exatamente isso, por mais que a negação da maternidade possa surpreender. Afinal ao assumir funções diferentes na sociedade produtiva, o interesse, e até as condições, para exercer a função de mãe, se tornam reduzidos ou pelo menos mais reticentes.
Mas o fator que surge como ameaça maior é a ausência do instinto de preservação da vida que não impede a concepção, mas se volta contra sua existência de maneira extremamente irresponsável ou violenta. É a mulher que gera e despreza o cuidado com o novo ser. Pior: aquela que se torna assassina, de maneira direta ou indireta, abandonando os filhos ou simplesmente torturando e matando a própria cria.
Casos de tortura e assassinatos de crianças estão acontecendo cada vez mais frequentemente. Quem não se horrorizou com casos como o da americana que assassinou a filhinha de dois anos porque "ela chorava muito", esmagando seu crânio?
Saber que algo tão horrendo está acontecendo a nossa volta, assusta e confunde a ideia da maternidade. Como pode  uma mulher não suportar a criança que gerou, a ponto de cometer atos tão insanos? Essa é uma condição insuportável para o futuro.
Acompanhado ou não de violência, gravíssima ou de sopapos, há exemplos de sobra do desleixo materno para com a cria. A obesidade infantil por exemplo não é de forma alguma exagero de cuidado: crianças que não são orientadas e alimentadas corretamente desenvolvem vícios alimentares que podem prejudicar a sua saúde a ponto de reduzir sua perspectiva de vida!
Crianças não sabem coisa alguma ao nascer. O bebê humano é absolutamente dependente e vulnerável de cuidados. Ao longo da convivência com a família aprendem qual alimento ingerir e quais hábitos desenvolver. A mulher que gera possui a responsabilidade inicial absoluta sobre isso, por força da natureza.
Mães nervosas, que interrompem a amamentação precocemente, que desde muito cedo abdicam do cuidado alimentar  e da relação afetiva com a criança, que passa a maior parte do tempo com uma babá ou em uma escola, certamente não estão cumprindo com uma função importante. Mesmo argumentado que precisam do tempo para o trabalho, acabam causando mais prejuízo do que vantagens financeiras.
Equacionar essa questão - a de desejar filhos, mas não cuidar deles, seja por motivo financeiro, seja por outras razões, é um desafio urgente. A responsabilidade familiar deve ser exigida na prática pela sociedade, pois o custo desse desleixo é muito alto e todos pagam por ele.
Portanto, com essa nova realidade, fazer de conta que mães são seres esplêndidos, é irreal. Mas existem mulheres que levam a maternidade a sério e assumem essa responsabilidade por inteiro. Nesse caso, que sejam aduladas e reverenciadas, porque a tarefa de ser mãe, verdadeiramente, não é fácil. Mas é a maneira mais eficaz de tornar a sociedade menos violenta e desequilibrada.
Um papel e tanto!  (Mirna Monteiro)

Tuesday, April 30, 2013

DA RODA AO CHIP, VIVA O TRABALHO!


O sábio proverbio chinês tem lá sua razão, quando afirma que se você escolher um trabalho que goste, não trabalhará um único dia em sua vida, e sim vivenciará momentos de prazer em sua jornada de trabalho.
Mas Confúcio certamente não poderia imaginar que 1.500 anos depois essa consideração sábia seria utópica, por dois motivos. Um deles é o fato de que a vocação, por mais importante que ainda seja no mundo do trabalho, é sucateada pela confusão de interpretações a respeito da alternativa de sobrevivência nas novas exigências da sociedade. Outro é a oportunidade de sobreviver, simplesmente, em um momento onde a tecnologia substitui cada vez mais a a mão de obra humana.
É claro que não se pode ser pessimista. Por toda história da civilização humana, as sociedades sempre procuraram superar as armadilhas armadas por ela mesma e contra ela mesma, na busca de novos horizontes da sobrevivência e na facilitação de seu trabalho.
Isso, desde a invenção dos instrumentos cortantes e da roda, que foi a maior criação humana em direção às maravilhas tecnológicas do futuro. Maravilhas que hoje ameaçam os postos de trabalho.
Trabalho é fundamental para a vida. Hoje a União Européia quebra a cabeça para resolver o que fazer com seus 26 milhões de desempregados - o que mostra que os países mais civilizados e culturalmente invejáveis não conseguiram evitar o peso do girar da velha roda neolítica transformada em um chip microscópico.
O pragmatismo que envolveu o mundo no século XX  parece não se encaixar na capacidade humana quando o assunto é criatividade da sobrevivência. Que o digam os EUA, que sofrem com o  desemprego e a dificuldade de acertar soluções, enquanto mantém as ações externas em modelos  que não funcionam mais.
No Brasil o processo é oposto e as taxas de desemprego diminuem e 2012 foi fechado com a menor taxa de desemprego de sua história. O brasileiro, apesar das dificuldades enfrentadas pela sociedade mundial, possui um talento inato para "dar um jeitinho" quando a situação aperta: é intuitivo e empreendedor. Mergulha de cabeça em novos empreendimentos, buscando seu lugar ao sol. As vezes até mesmo sem verificar a profundidade de seu mergulho.
Ainda existe espaço para a vocação e o exercício prazeroso do  trabalho? Sim, sem dúvida. Mas parece que isso exige boa dose de criatividade e novos caminhos, a exemplo dos antigos desbravadores, mas com nova mentalidade. Se antes as florestas eram derrubadas à força dos braços, hoje devem ser preservadas com inteligência justamente para garantir a força do trabalho futuro, que muda de formato. Se as cidades incharam e lotaram as alternativas de colocação profissional, que novos negócios sejam criados para corrigir as disfunções provocadas.
De uma maneira geral a mentalidade sobre emprego, trabalho e negócios precisa ser arejada com novas alternativas, algumas ainda não inventadas, quem sabe? A única certeza é que não se pode projetar futuro sobre escombros e sim de maneira produtiva e consciente. (MM)