Tuesday, June 12, 2012

ONDE ESTÁ A VERDADE?

PORQUE AS PESSOAS MENTEM TANTO?


Nos velhos tempos dos sofistas, mestres itinerantes do conhecimento politicamente correto, a mentira era utilizada como artifício do poder, ou seja, a verdade era "ligeiramente" deturpada ao sabor das intenções sofistas. Por isso essa palavra ganhou uma conotação pejorativa.
Passados uns 3 mil anos, a mentira parece permanecer inevitável n exercício do poder, seja ele político, econômico, familiar ou social.
E ainda funciona! Velho como a humanidade, pois certamente esse artifício já nasceu com o homem, que para sobreviver precisava enganar seus predadores.
Mas mesmo sendo tão conhecida, é possível reconhecer a mentira? Ou as pessoas disfarçam, aceitando-as como verdade, quando lhes convém, mesmo que reconheçam a sua precariedade?
O problema é que a mentira pode ser extremamente destruidora. Como na política ou nas ciladas criadas pela inveja.Na Filosofia, a mentira é perigosa. É o caso do sofisma.O sofista faz retórica. O filosofo faz dialética.
Na retórica o ouvinte é levado por uma enxurrada de palavras que, se adequadamente compostas, vão persuadir, convencer, mas sem transmitir conhecimento algum. Já na dialética, que opera por perguntas e respostas, a pesquisa procede passo a passo, e não é possível ir adiante sem deixar esclarecido o que ficou para trás. O sofista refuta por refutar, para ganhar a disputa verbal. O filósofo refuta para purificar a alma de sua ignorância
Há quem considere deteminadas verdades destruidoras...Muitos que pedem a franqueza não estão preparados pra poder lidar com a realidade.Há verdades que não precisam ser ditas, assim como há mentiras que são necessárias.
Será que o pensamento livre, crítico, independente poderá prevalecer e a sociedade encontrar e uma forma de convivência baseada na verdade? Admitir a realidade não nos torna mais fortes e preparados para os desafios da vida?
Talvez o problema não seja a franqueza, mas a ausência de isenção ao utilizar a verdade.

Não vamos confundir mentiras com "faz de conta"! Imaginar uma realidade e conduzi-la ao sabor das próprias expectativas, como fazem as crianças nas brincadeiras, faz bem. Tanto é que a criança começa a entrar em choque com a realidade quando ela percebe que o faz-de-conta é muito diferente das mentiras que os adultos começam, logo cedo, a ensinar!

E o pior é que usando de hipocrisia e mentiras, os adultos pretendem que a criança seja absolutamente sincera! Crianças são inexperientes, mas são extremamente sensíveis à toda atitude contrária à natureza.

Da mesma maneira, o faz-de-conta dos adultos, através da ficção, é extremamente salutar. Aliás, é uma mola que impulsiona o mundo! A imaginação humana é premonitória e rica em estímulos para o futuro. Que o diga os grandes escritores de ficção, como Julio Verne!

O mundo seria enfadonho e estático sem a mentira? Os próprios deuses do Olimpo adoravam intrigas e se divertiam com isso. Eu já considero que há um ligeiro engano de interpretação: não é a mentira, mas a falta de imaginação que tornaria o mundo chato.
A mentira é perigosa!
Enfrentar a verdade é a única chance de sobrevivência individual, familiar, comunitária, ou da própria humanidade
Não é possÍvel concordar com a idéia de que podemos conviver com a hipocrisia e mentirinhas. O desejo da verdade aparece muito cedo nos seres humanos. Há necessidade de confiar nas coisas e nas pessoas
Por isso, neste terceiro milênio, a sociedade entra em choque constatando uma terrível realidade: a mentira está terminantemente contida nos meios de comunicação e expressão, seja eles quais forem. Tornaram-se instrumentos com alto poder de persuasão e de confusão também!
Mas há o contrapeso: é suficientemente capaz de arrancar a esperança de que o pensamento livre, crítico, independente ainda haverá de prevalecer? Que uma forma de convivência mais baseada na verdade possa vir a ocorrer ?
Cresce em nossa sociedade a exigência da verdade, clara e límpida. É o desejo e a necessidade da busca da verdade. Há um sentimento generalizado e crescente de que os valores éticos devem retornar, sob pena de convulsão social.
Em tempos onde o acesso à destruição é quase prosaico, não se pode fingir que mentiras são inofensivas. Seria utópico imaginar uma sociedade, deformada como a nossa sociedade humana, com a herança que possuímos, feita de seres absolutamente honestos e isentos. Mas sabemos que as pessoas são diferentes e é essa diferença que permite equilibrar o mundo. Há pessoas com valores definidos, as tais do "fio de barba", assim como há aquelas que vivem para a malicia, mentira e hipocrisia.Tão certo como o anseio
do ser humano pela Verdade.

Sunday, June 03, 2012

CONSCIÊNCIA E CORES

O "Abaporu", uma das obras mais
populares de Tarsila do Amaral

Inquieta e criativa, Tarsila do Amaral foi uma mulher à frente de seu tempo. Nascida em 1886, participou de novas fases da arte, como o modernismo e deu início à pintura social no Brasil.
Como mulher, rompeu barreiras de preconceito. Casou-se três vezes. Seu segundo marido foi Oswald de Andrade.
Tarsila estudou com Albert Gleizes e Fernand Léger, grandes mestres cubistas e manteve estreita amizade com Blaise Cendrars, poeta franco-suíço.
Iniciou sua pintura “pau brasil” dotada de cores e temas acentuadamente brasileiros. A maneira como lidava com os temas, buscando a essência natural e política das formas, encantou críticos de outros países. Em 1926 expôs em Paris. Fez grande sucesso na época.
Mamoeiro: evidenciando a natureza
A sua obra mais conhecida, o “Abaporu”, foi pintada em 1928, como um presente à Oswald de Andrade, que se emplogou com a tela e criou o Movimento Antropofágico.
De 1936 à 1952, Tarsila trabalhou como colunista nos Diários Associados. Nos anos 50 voltou ao tema “pau brasil” e em 1951 participou da I Bienal de São Paulo. Em 1963, em uma sala especial, expôs na VII Bienal de São Paulo e no ano seguinte na XXXII Bienal de Veneza. Faleceu em São Paulo, em 1973.

"A Cuca": folclore brasileiro
"Nú": sob influência do cubismo
"Operários" (acima) e "Segunda Classe" (abaixo) : preocupação
com a vida do brasileiro e consciência política estão claras
nas pinturas da fase social de Tarsila

Thursday, May 31, 2012

A CRIANÇA, A OMISSÃO E A MORTE

obra de  Marusz Levandowsk

Uma criança pequena é atropelada na rua e fica no chão, enquanto as pessoas passam por ela, como se ela fosse invisível, apesar do sangue que escorre pela rua. Um segundo veículo passa sobre a criancinha. Até que alguém para e puxa o pequeno corpo para o meio fio. Ainda assim vai embora e o socorro demora!
Cena de um filme de terror? Alguma ficção de zumbís que comem cabeças humanas? Não!
Isso aconteceu em uma rua de grande movimento na China!
O horror da cena leva obrigatoriamente a uma revisão de nossos valores e conceitos, em um mundo onde as culturas se misturam e onde, mais cedo ou mais tarde, seremos obrigados a definir questões éticas e legais de maneira global, sem interferir na soberania de cada país, mas de maneira a preservar a sobrevivência futura.
Cenas como esta - que acontecem impunemente em cenários de guerra, mas que parecem ficção de mau gosto no cotidiano de uma área urbana - representam não apenas a morte de um indivíduo, mas de valores humanos fundamentais à sobrevivência futura do coletivo. 
O surgimento de um padrão cultural unificado vem acontecendo não exatamente pelos acordos econômicos, mas às custas do intercâmbio cultural crescente, através da informação veiculada principalmente através da internet, que mostra a semelhança entre pessoas de todo o mundo. Mas com limites óbvios: até que ponto essa relação pode mudar hábitos e culturas que menosprezam o direito individual do homem?
A China tornou-se uma potência econômica, espalhando seus produtos pelo mundo todo. Tem uma cultura antiga, de uma filosofia surpreendente. É de Confúcio, um de seus filósofos eternos, o dizer "Se queres prever o teu futuro, estuda o teu passado".
Hoje  Confúcio é apenas história, não mentalidade. Com 1,3 bilhões de habitantes, a China é apenas um retrato moderno da mentalidade do consumo, onde a vida perde a importância diante da necessidade do poderio econômico. Que ao contrário da expectativa dos países superindustrializados não oferece segurança alguma de futuro. É como uma armação enorme, erguida sobre escombros e recoberta de ouro, mas que pode a qualquer momento desmoronar e tornar a fartura em um perigoso jogo de sobrevivência.
É claro que a China não é um exemplo isolado. A "corrida pelo ouro" na busca da expansão da economia do consumo já afetou os EUA, a Europa e surpreende o mundo neste momento com grande queda no crescimento  da India, que registra o menor índice em dez anos.
Com a economia mundial em crise, a desaceleração da economia na India soa ameaçadora, mas demonstra como o sistema mundial é frágil.
Frágil em economia, que por sua vez utiliza um sistema que fragiliza a sociedade, reduzindo a importância do fator humano e criando uma mentalidade pragmática que não funciona justamente por exaurir indiscriminadamente a vida natural. 
A imagem da criança atropelada a ali deitada enquanto pedestres passam por ela é apenas um exemplo desse risco. Essa cena se repete no mundo todo, não apenas nas áreas de guerra - onde o sofrimento e a destruição possuem a mesma intenção econômica - mas em países que se vangloriam de manter os direitos humanos em dia, assim como o respeito ao meio, mas que terminam por criar regras que também rebaixam os direitos do indivíduo diante da necessidade do consumo.
É um indício perigoso da asfixia e morte de valores éticos fundamentais para a vida e sobrevida no planeta.(Mirna Monteiro)


Leia também
http://artemirna.blogspot.com.br/2012/05/o-que-pretendemos-da-vida.html


  http://artemirna.blogspot.com.br/2012/04/consumir-ou-nao-consumir-eis-questao.html

http://www.youtube.com/watch?v=k7drtDdKxcE

Tuesday, May 22, 2012

XUXA, OPRAH E A PEDOFILIA

É preciso coragem para tornar pública uma situação de abuso na infância. Pessoas costumam soterrar em algum espaço perdido essa memória dolorida, terrível, que é subestimada pelo nosso sistema, pela nossa cultura, pela nossa incapacidade de perceber o peso da confusão, da humilhação, da atrocidade de um ato que mesmo sublimado, permanece corroendo as vítimas até a idade adulta, a maturidade, a velhice.
Quando uma pessoa atinge grande notoriedade e admiração da massa, sua responsabilidade aumenta na denúncia desse crime. O que não quer dizer que seja mais fácil para alguma celebridade admitir que foi vítima de pedofilia do que para uma criança ainda confusa ou para um adulto anônimo. 
Por isso quando pessoas como a apresentadora americana Oprah Winfrey ou a brasileira Xuxa Meneghel resolvem abrir em detalhes essa experiência traumática e proibida,  é preciso admitir que é um fato surpreendente. 
É uma denúncia de um crime hediondo, inaceitável e, portanto, acima de qualquer crítica vazia ou piadismo barato. 
O problema da pedofilia é grave no mundo todo. Está presente na maioria dos paises porque não é uma questão cultural, mas um desvio da personalidade e atinge crianças de ambos os sexos. A pessoa que abusa de crianças, seja de um bebê, seja de um adolescente, é em geral dotada de baixa auto-crítica e age da mesma maneira que um psicopata. Psicopatas sabem que cometem um crime, mas não sentem piedade de suas vítimas.
Ao comentar seu próprio drama, Oprah, Xuxa e todas as pessoas que denunciam o abuso, estão alertando a sociedade de maneira direta e corajosa, evitando que a pedofilia ocupe um espaço fictício na preocupação da sociedade humana.
Abuso de crianças causam danos físicos, morais e psicologicos para toda a vida. E tudo isso se volta contra a própria sociedade.
Se não houver respeito à dor das vítimas, que haja consciência do desequilíbrio que essa agressão pode provocar ao meio. Não importa a maneira como esse abuso acontece, sua frequência ou a medida de sua violência: o cérebro humano capta essa agressão e jamais apaga a experiência, mesmo que ela aconteça na primeira infância. Permanece em geral no inconsciente, reprimida pela confusão, pela vergonha, pelo constrangimento e decepção!
É triste ver como a pedofilia faz estragos! Mas é bom ver pessoas que estão lutando para que a pedofilia seja finalmente encarada com a seriedade merecida, denunciada e punida com rigorosidade!

Thursday, May 17, 2012

AFETIVIDADE E OS DANOS DA OMISSÃO

Há coisas que não esquecemos. O cérebro humano registra absolutamente tudo que acontece, na impressão física ou emocional. Nem sempre esta memória pode ser "acessada" pelo simples fato de que o cérebro humano possui um mecanismo biológico que bloqueia memórias indesejáveis ou desconfortáveis, como uma forma de defesa emocional.
O que não quer dizer que que a ação de experiências traumáticas ou desagradáveis sejam neutralizadas. A ausência da consciência do fato não impede que determinadas patologias possam instalar-se e interferir no comportamento de uma pessoa. Freud observou bem a existência de mecanismos de supressão de memórias, hoje reconhecida como um mecanismo biológico, e não simplesmente mental.

Recentemente a Justiça condenou um pai ao pagamento de uma indenização de R$ 200 mil  por abandono afetivo da filha, hoje adulta. Ainda que a matéria seja controvertida, não deixa de ser uma vitória do bom senso, diante de uma realidade crescente - a irresponsabilidade na criação dos filhos - que afeta a base social de maneira progressiva, tornando a sobrevivência coletiva um risco.
Seria esta uma afirmação exagerada? Não há exagero. O ser humano é absolutamente vulnerável às sensações do mundo externo, sejam elas construtivas ou destrutivas, mas determinantes em comportamentos futuros e estados emocionais. Ou seja, não precisamos de qualquer mecanismo para criar equilíbrio ou desequilíbrio em um ser humano além daquele que determina a afetividade ou a ausência da afetividade.

O que seria o abandono afetivo dos pais? Seria a usurpação da afetividade, ou seja, a omissão não apenas do contato, mas da expressão de cuidados e emoção construtiva, como o amor. No caso da criança e do adolescente essa omissão pode ter efeito catastróficos, comprometendo o equilíbrio emocional e "empurrando" a criança para desequilíbrios e conflitos emocionais, que podem ir desde a má formação do caráter, até problemas físicos e emocionais, que não raro acabam desembocando no uso de drogas ou comportamentos anti-sociais.
A questão da afetividade é reconhecida juridicamente há poucos anos, com o aumento da irresponsabilidade familiar e a obviedade dos danos individuais e coletivos dessa ação. Estudos científicos comprovam esta relação. Um dos exemplos mais interessantes é a influência da afetividade no controle de patologias como a psicopatia. Estudos demonstram que a predisposição genética a comportamentos psicopatas pode ser atenuada quando a criança é criada em ambiente afetivo, enquanto que o contrário também ocorre, ou seja, a tendência a comportamentos violentos ou anti-sociais pode ser estimulada quando a criança é vítima de violência e ambiente hostil.

Exigir responsabilidade materna e paterna é uma urgência não apenas em respeito ao indivíduo, mas à coletividade. Ao abandonar o lar, um pai ou uma mãe causam profundas feridas emocionais ao filho, seja uma criança ou adolescente. Negar o contato e a afetividade aos filhos após romper a relação com o cônjuge é cruel e irresponsável.
A questão é prática, ainda que pareça ser emotiva. Cuidar exige atenção às necessidades materiais, mas também, psicológicas. A ausência de amor não elimina, necessariamente, a questão da afetividade. Ou seja, alegar impossibilidade de amar um filho não é argumento para o abandono material e emocional, conforme entendeu a Justiça nos raros casos de processo. (Mirna Monteiro)

Wednesday, May 16, 2012

O QUE EXIGIMOS DA VIDA

...Estamos perdendo o rumo?


Volta e meia encontramos alguém que desabafa, aflito: “estão todos loucos!  As pessoas estão perdendo a lucidez”

Por que? Os motivos são vários – irritação excessiva, ausência de auto-controle, falta de afetividade e tendência à destruição. Dentro da própria família os sintomas são cada vez mais óbvios – desagregação, egocentrismo, disputa interna, clima inamistoso.
Mas o que mais se ouve e impressiona é a afirmação de que as pessoas estão perdendo a capacidade crítica e qualquer freio moral.
A ausência de capacidade crítica torna a pessoa extremamente vulnerável ao erro e engano. A falta de “freios morais” a torna potencialmente perigosa, sujeita a achar natural a invasão da privacidade alheia ou apropriação de bens que não lhe pertencem ou ainda a atos violentos.

Seria um sintoma de loucura? Ou de histeria coletiva, um fator que desagrega a sociedade da racionalidade que permite uma convivência produtiva e pacífica?
Perguntas e perguntas. Que parece haver uma gradativa perda de identidade e um processo de histeria coletiva - onde se age pela emoção, sem um racicínio independente e lógica individual - isso parece! Há quem afirme que a sociedade moderna  está cada vez mais integrada por pessoas que confundem a realidade com a ilusão criada pela ficção ou pela mídia, farta em mensagens subliminares

Somos seres racionais e a nossa vontade é racional. Assim nos percebemos lúcidos e com capacidade de definir a realidade. Qualquer pensamento ou emoção que extrapolem determinados limites podem ser interpretados como uma ficção ou uma ilusão sob controle.
Mas é preciso considerar a capacidade humana de reintegrar-se em seu isolamento mental. No momento em que divagamos dentro de nós mesmos, a concepção do certo, errado ou do que é real pode mudar. Podemos permitir que haja maior abertura para a irracionalidade, a fantasia e a ilusão. Ou permitir uma reestruturação do pensamento diante de uma nova realidade, que permitirá maior segurança de sobrevivência.

Assim como nos sentimos seguros quando percebemos a realidade fora de nós, onde podemos ter a percepção sobre ela e diferenciar o que de fato é consistente e o que é ilusão, também a incapacidade de lidar com as duas realidades pode ser perigosa.
Tornar-se excessivamente pragmático portanto é colocar em risco a própria sanidade, uma vez que a pessoa que vive exclusivamente para uma realidade imediata e material – aquela que considera única – é facilmente dominada pelas regras desse mundo plastificado.
Ficará, por exemplo, mais sujeita à pressões de uma sociedade imediatista e superficial e mais sensível ao processo de histeria que se instala coletivamente.

O estudo da psicanálise demonstra a importância de nosso inconsciente. Considerando a Filosofia, esse mundo interior se torna muito mais amplo e capacitado para conduzir-se conscientemente e não consistir-se simplesmente em um reflexo do mundo exterior.

Deveríamos conscientizar a importância de nosso mundo mental, ou de nossa alma. No entanto, estamos sempre na dúvida sobre quais das sensações devem ser priorizadas em determinado momento: a liberdade do pensamento livre e da imaginação solta em nosso mundo interior, onde as percepções são tão ilimitadas, e a percepção da realidade externa, comunitária, que divide-se no mundo material.
Quando estamos sonhando, vivemos uma realidade ou uma ilusão? Para os mais pragmáticos, essa é uma pergunta absurda. Ora, o excesso de racionalidade leva à falta de criatividade e crescimento mental e portanto limita a capacidade de compreensão de um mundo lúdico ou mental.
Se nosso mundo interior, formado de sonhos, pensamentos e imagens, é perfeitamente estabelecido e desperta sensações, inclusive físicas, apesar da imaterialidade do mundo interior, por que não seria também uma realidade, em outro nível de percepção?
O que se pretende portanto é o equilíbrio entre a realidade imediata e a capacidade de percepção e criatividade humana. Atingir a medida certa não é tão importante quanto pensar sobre sua própria capacidade de integrar-se ao pensamento exocêntrico... que afinal representa a consciência do "uno" ou da relação entre todas as coisas. (Mirna Monteiro)

Friday, May 04, 2012

VIVA A PIPOCA!

Quem não se interessa em saber qual alimento possui propriedades "mágicas" para a saúde e a perpetuação da juventude? Todos, certamente. Preocupar-se com a saúde e beleza transformou-se em obsessão para muitas pessoas, que procuram dietas milagrosas, lotam as academias de ginástica e enfrentam qualquer desafio para conseguir "consertar-se" com novas tecnologias e cirurgias corretivas.
Mas o seria uma dieta perfeita? Aquela que acaba com os já famosos radicais livres, varrendo gorduras das artérias, mantendo baixos índices de glicemia e assim afastando o fantasma do diabetes, do colesterol ruim e da degradação física?
Dieta perfeita, do ponto de vista científico, seria aquela que beneficia o organismo, preenchendo todas as suas necessidades. Pode variar, de acordo com o ambiente, os hábitos e a idade e é isso que traz confusão. Não é possível criar um tipo de dieta especial que sirva para todo mundo.
Mas todos se animam com as novidades...que na verdade são alimentos que sempre existiram. Por exemplo, as maravilhas da pipoca! Sim, essa pipoca que todo mundo adora e que consome aos quilos nos cinemas, mas que deve ser consumida com certa moderação (umas três xícaras de pipoca pronta tem menos de 100 calorias) e preparada com água ou pouco óleo e pouco sal, sem manteiga, que pode ser substituída pelo azeite.
Pipoca possui vitaminas do complexo B, ajuda a tonificar o estômago, prevenir a ansiedade e melhorar a digestão (uns goles de água intercalados ajudam o processo). Mas o bom é que tem alta quantidade de antioxidantes e ajuda a diminuir o risco de distúrbios cardiovasculares, mostrando ainda quantidades razoáveis de zinco, potássio e fósforo. Como tem vitamina A, luteína e zeaxantina ajuda a prevenir doenças como a catarata e beneficia quem tem diabetes. O que é ótima notícia.
Mas não se vive de pipoca. Se você comer apenas pipoca, não vai dar certo. É preciso consumir alimentos frescos, verduras, saladas, tubérculos, frutas...é imensa a listagem de propriedades que podem ajudar na saúde. Brócoles contra o câncer, maracujá para estresse, melancia para desintoxicar, banana para enxaqueca ou para dormir, maçâ para socorrer o coração!
Tem mais: alimentos integrais para nutrir, fazer o intestino andar, "varrer" gorduras das artérias...a lista é interminável. Tanto que no final das contas ninguém come direito, diante de tantas opções.
Há no entanto uma regra básica: tudo pode fazer bem, se consumido com preparo adequado e na quantidade  moderada. E tudo que é industrializado, é alimento transformado e portanto reduzido em seu poder anti-radical...Mas considerando que nossa economia está calcada na produção, retornar aos tempos das poções mágicas feitas com produtos frescos colhidos na hora pode causar uma pane mundial.
É nesse ponto que paramos para refletir o grande beco sem saída do sistema humano, que impõe cada vez mais uma alimentação multiplicada por processos químicos ou genéticos, encharcada com venenos defensivos de pragas e industrializada, sob alegação de que essa é a única alternativa para o mundo não passar fome.

Thursday, April 26, 2012

CONSUMIR OU NÃO CONSUMIR, EIS A QUESTÃO!

Dizem que nada melhor para a depressão do comprar, seja lá o que for, mas de preferência produtos que aumentem a auto-estima, como roupas, sapatos, cosméticos, perfumes...ou o mais recente lançamento eletrônico, um sofisticado home theater, ou aquele iPad com recursos incríveis.
O problema não é exatamente exercitar o consumo ocasionalmente, visando obter produtos que vão ter uma utilidade real. O problema, que vem sendo considerado grave, é o exagero do consumo e o excesso do descarte de produtos.
Mais do que um impulso, muita gente que vive uma necessidade de consumo de supérfluos, nem imagina que pode sofrer de um mal chamado oniomania. Que é isso?. É o nome de uma doença, que envolve a compulsão exagerada do consumo.
Imagine só! Quem diria que consumir em excesso é doença! e não simples questão de hábito, como gostar de música ou televisão...o tempo todo!
Consumidores compulsivos acabam na condição de acumuladores de produtos que se tornam supérfluos por falta de uso. Roupas que são guardadas e nunca utilizadas, objetos que envelhecem sem que a embalagem seja aberta. Consumir pode ser uma doença, quando ultrapassa a linha da necessidade da pessoa. Uma doença perigosa que transforma o planeta em uma lata de lixo com limites de armazenamento.
Quem resiste à tentação do último iPad, da enorme tv "HD", daquela bota sensacional ou aquele carro automático?...Infelizmente, a maior parte das pessoas apenas resiste ao consumismo excessivo quando o bolso não consegue comportar o sonho desse consumo. Mesmo quem não chega ao exagero, debatendo-se em meio aos cartões de crédito como no caso dos que sofrem de oniomania, nem sempre resiste a essa troca constante de produtos e objetos.
Por que motivo somos tão sensíveis a este tipo de apelo?
A história da civilização humana mostra que possuir bens sempre foi uma maneira de demonstrar superioridade nos tempos de grandes riscos de sobrevivência. Longos períodos de guerra ou de desastres climáticos que impediam a colheita necessitavam da garantia de bens para a troca ou negociação de espaços ou produtos escassos. O ouro comprava  o saco de batatas ou o milho aos quais a maioria não tinha acesso nos períodos de extrema penúria. Nos tempos de abundância, o possuir transformava-se no prazer do luxo e do supérfluo.
E hoje? Um produto não serve como garantia futura porque é feito para não durar. Carros, eletrodomésticos, móveis, tudo aquilo que o sujeito comprava antes da mentalidade dos supérfluos, transformou-se em produtos com data marcada para pifar, estragar ou desfazer-se.
Supérfluos tornaram-se uma especie de "atestado de boa vida".  Mas ao invés de segurança, oferecem uma condição oposta: nunca foi tão perigoso o hábito da ostentação.
Perdemos a medida entre o possuir simplesmente e a necessidade real de consumo!
A grande mola que desencadeia esse comportamento estranho e absurdo do compra-e-joga-fora é o poder de persuasão da mídia, que utiliza sem pudor técnicas de convencimento - como mensagens subliminares e a vitória da resistência pela repetição da ordem de consumo.
Pensando bem, qual a vantagem de chegar a um nível de adquirir coisas tão frenético?
Encontramos um exemplo claro da diferença entre o desejo e a sensação de estar de bem com a vida. Desejo é ansiedade por alguma coisa, que assim que for obtida, perde a graça, pois não permite a sensação de plenitude. É como comer alimentos que fornecem muita caloria e pouca nutrição, o que provoca "fome eterna" ou uma espécie de frustração, pois parece encher a barriga, mas não acalma a necessidade de comer.
Tudo que é novidade, é agradável. O cheiro de um carro novo, de uma geladeira recém-saída da fábrica, um traje com suas fibras impecáveis.
Mas para manter essa sensação teríamos de trocar o carro em alguns meses, a geladeira em algumas semanas e usar apenas uma única vez uma peça de vestuário, pois depois de lavada, já não seria mais a mesma!
Sob o ângulo de visão do desejo desse tipo de perfeição, até mesmo a realidade vivida em países de alta produção - onde adquirir um produto novo é mais vantajoso financeiramente do que arrumar o antigo (ou nem tão antigo assim) seria imperfeita. Pois não há velocidade suficiente para manter o novo, que fica velho assim que é adquirido!
O resultado da mentalidade do consumo é muito lixo. Produtos que deveriam durar dez, vinte anos, são programados para apresentar problemas em pouco tempo.
A mão de obra e as peças de reposição são caras demais, pois interessa ao sistema manter sempre a compra de novos produtos, que por sua vez vão para o lixo, pois já são de má qualidade no momento que saem das linhas de produção.
Imaginar que a economia mundial não sobreviveria sem esse desprezo ao homem e ao seu meio ambiente é o maior dos enganos. Essa mentalidade, que surgiu após a segunda guerra, com o Japão derrotado pela bomba nuclear assumindo uma rígida postura de produção, a tal ponto  que trabalhadores japoneses doavam parte de seu salário para a implementação dessa corrida ao consumo, é ameaçadora!
Com a introdução de um programa de qualidade total para ganhar o mercado mundial, o Japão recriou a economia moderna a partir dos destroços da guerra. Objeto de desejo dos EUA que foi plenamente alcançado poucas décadas depois.
Poderemos controlar tantos desajustes? Ao ter consciência de que trabalha para consumir e não para viver, a sociedade começa a questionar os exageros que estão trazendo mais prejuízos do que vantagens. É o momento de reciclar aquilo que temos em casa. Saquinhos de supermercado não fazem diferença na ecologia, mas o dia a dia da população em evitar excessos sim!
Trocar desnecessariamente o carro, a televisão, a geladeira, enfim, o sofá ou a mesa de jantar, definitivamente, está fora de moda. A ordem é reciclar, renovar, recriar, criando evidentes vantagens não apenas para o bolso e o meio ambiente, mas para a própria segurança: a mentalidade do descartável afeta o respeito à vida. que se torna banal em meio a tanto descarte! (Mirna Monteiro)

Thursday, April 12, 2012

O QUE FAZER DA SEXTA-FEIRA 13

É de tremer nas bases imaginar aquele sujeito degringolado, com uma máscara de plástico, perseguindo as pessoas na série "Sexta-feira 13". Desde 1980 foram 12 filmes de terror com essa personagem e uma geração inteira de assustados com a data fatídica, que no entanto já era considerada complicada há séculos ou talvez milênios. Muito antes do tal de "Jason", o mascarado da ficção que inferniza as telas de cinema. Ou dos inúmeros outros "Jasons" que surgiram no rastro desse predador ficcional, mas nem por isso menos maligno!
Com ou sem essas cenas, esse dia sempre foi interpretado de maneira depreciativa. Já alguns dias antes as pessoas ficam preocupadas com a sexta-feira 13. Uns reclamam que já na véspera - ontem - começaram a dar topadas e machucar o dedão, perderam a hora do dentista e uma restauração despencou, que o pneu do carro furou e "alguma coisa está esquisita"...ainda que seja devido à azia provocada pelo abuso do "fast food" de quinta-feira, dia 12...onde também se machuca o dedão e se perde duas horas no trânsito endemoniado das marginais e avenidas.
De qualquer forma, estranha a escolha de duas datas que separadas não impressionam ninguém. Muito pelo contrário, sexta-feira é o dia mais aclamado da semana, considerado a linha divisória entre a responsabilidade do trabalho e as delícias do descanso. O número 13, por outro lado, tem má fama injusta, pois é considerado número da sorte em diversas culturas.
Há algumas explicações para a escolha da sexta-feira 13 como dia complicado, Lendas nórticas contam que Loki, deus do fogo, aproveitou um encontro de doze deuses para conturbar o ambiente e ferir o deus solar Baldur, favorito de Odin, o deus dos deuses. Naturalmente ele, Loki, era o décimo terceiro.
Mas a história de que reunir 13 pessoas não dá muito certo também pode ter tido origem na Escandinávia, que exilou a deusa da fertilidade e do amor, Frigga, no alto de uma montanha, durante a conversão ao cristianismo  de tribos norticas. Frigga passou a reunir-se com outras 11 bruxas e, dizem as más línguas, o demônio. O que irritou as pessoas, que passaram a considerar a sexta-feira 13 um dia maligno!...Frigga, aliás, originou o nome sexta-feira no calendário romano, que no final das contas apenas chegaria à outros lugares, como a Inglaterra, no século V, com sua semana de sete dias.
Bobagem explicar isso. Para os crédulos, a sexta-feira 13 está acima de cronologias e do desenrolar da história. É um dia cercado de mistérios e de energias conflitantes, simplificadas na forma de superstições.
Ainda assim, talvez a melhor explicação esteja o fato de que a sexta-feira era um dia consagrado à deusa, ou ao feminino. Em uma sociedade que se tornava masculina e patriarcal, esse dia passou a ser mal visto.
Ah, há muitas outras histórias rondando a sexta-feira 13. Nenhuma tão horrível como o tal do Jason dos anos 80 do século XX, mas também com cores dramáticas, como a caça aos templários, que teria sido ordenada  por Felipe IV em 13 de outubro de 1307.
Como sabemos, sexta-feira é um dia bem quisto normalmente e o dia 13...ora, na numerologia o 13 transforma-se em 1+3= 4...quatro significa potência e constância, o percorrer passo a passo o caminho! Há 4 estações do ano, a lua tem 4 fases, agua, terra, ar e fogo são os 4 elementos que permitem a vida!
Melhor que isso impossível. Não, tem mais sim: hoje, dia 13 de abril, é o Dia do Beijo!
Que seja uma boa sexta-feira 13! (Mirna Monteiro)

LEIA TAMBÉM:
http://artemirna.blogspot.com.br/2011/04/o-beijo-como-expressao-do-sentimento.html

Wednesday, April 11, 2012

CRÍTICA DA LOUCURA

Erasmo, falando em nome da Loucura: "Vê-se claramente que
o homem não nasceu para gozar aqui na terra de uma
felicidade perfeita".
Hoje e há 500 anos atrás as mesmas críticas da Loucura 
Os loucos são mais felizes? Depende do tipo da loucura, certamente. "Os loucos receberam o privilégio de censurar e moralizar sem ofender ninguém. Príncipes  riem-se de todo o coração quando um tolo lhes diz coisas que seriam mais do que suficientes para enforcar um filósofo"!
Palavras da própria "Loucura". Afinal apenas quem é louco defende verdades que podem se voltar contra ele mesmo ou seu conforto.
Os sábios tem duas línguas, uma para dizer o que pensam e outra para falar conforme as circunstâncias, já dizia Eurípedes.
Falar aquilo que se pensa é uma condição rara. Os motivos variam, passando de interesses políticos e pessoais até a omissão gentil ou piedosa, onde a trava na língua é motivada por consideração ao próximo. A extrema sinceridade nem sempre pode ser aceita ou digerida, mesmo porque nem sempre é a representação da verdade, mas simplesmente uma interpretação que pode mudar sob luzes mais intensas do que o pensamento de quem a concebe.
É o caso da crítica certamente. Não falamos simplesmente da argumentação que tenta mostrar a beleza ou as falhas de determinada obra de arte, de uma peça de teatro ou um filme. Falamos da visão crítica da vida e da sociedade. "Glauco enalteceu a injustiça, o filósofo Favorino louvou Tersides e a febre quartã, Sinésio a calvice e Luciano a mosca parasita", argumenta Erasmo de Roterdam (ou Rotterdam), que de Geraldo passou a Desidério Erasmo, antes disso. Afirmações e opiniões não são necessariamente verdade ou observações construtivas, muito pelo contrário.
Quantas besteiras afirmamos pensando que são verdades!
Sob essa ótica, a observação crítica deve passar pelo crivo da imparcialidade do pensamento, o que é muito difícil. Daí a necessidade de certa dose de audácia ou loucura, que acabou gerando as idéias de Erasmo, que ainda hoje, mais de quinhentos anos depois, ainda cabem perfeitamente como crítica à sociedade! Em seu "Elogio à Loucura", mostra bem o quanto podemos ser ridículos e confusos na ansiedade em criar uma normalidade aparente.
A "Loucura" de Erasmo de Roterdam é independente, despeja suas considerações e interpretações sem que o autor assuma sua autoria ("não sou eu, mas "ela" quem fala, a loucura dos homens" ). É extremamente bem humorada, sarcástica e cruel.
"Nunca terei louvado bastante a Pitágoras por ter se transformado em galo. Esse filósofo, em virtude da metempsicose (vou interromper aqui para lembrar que metempsicose teria origem na alma humana que também habitaria outros seres vivos, tipo reencarnações) passou por todos os estágios: filósofo, homem, mulher, rei, confidente, peixe, cavalo, rã e creio até que esponja. E depois de todas essas transmigrações declarou que o homem era o mais infeliz dos animais, pois todos estão satisfeitos em ficar nos limites prefixados pela natureza, enquanto só o homem se esforça para ultrapassa-la"
O que, segundo a Loucura, dá uma imensa dor de cabeça aos seres humanos, que ao renegar a natureza tal como ela é, vivem em desarmonia e terror, com medo da vida e da morte e envoltos na infelicidade da ciência fabricada.
Vamos a algumas considerações da Loucura de Erasmo:

PODER -  Não posso deixar de lastimar a sorte dos príncipes. Oh, como são infelizes! Inacessíveis à verdade, só contam com a amizade de aduladores (...)Por que os príncipes detestam a companhia de filósofos? Ah! Bem vejo que isso se deve ao medo que os príncipes tem de encontrar  entre os filósofos algum petulante que se atreva a dizer o que é verdadeiro e não agradável"...

O POLÍTICO - Observemos em que consistem as obrigações de um homem que é posto à testa de uma nação. Deve dedicar-se dia e noite ao bem publico e nunca ao seu interesse privado; pensar exclusivamente no que é vantajoso para o povo; ser o primeiro a observar as leis de que é autor e depositário, sem desviar-se nunca de nenhuma delas; observar co firmeza, com os próprios olhos, a integridade dos secretários e dos magistrados; não esquecer nunca de que os vícios e os delitos dos seus súditos são infinitamente menos contagiosos que os do senhor(...)...

O BOBO - Dizemos ser louco todo aquele que, sendo curto das vistas, toma um burro por um jumento ou que por ter pouco discernimento, considera excelente um mau poema. Ao mesmo tempo quando um homem comete um estranho erro, não só de senso, mas também de inteligência, nele persistindo longamente - por exemplo, ao escutar o zurro de um burro, julga ouvir uma sinfonia.

O LOUCO - A loucura é bem mais espalhada do que em geral se pensa. As vezes é um louco que se ri de outro louco, divertindo-se ambos mutuamente.

RELIGIÃO - Outra espécie de extravagantes é constituída pelos que confiando em certos sinais externos de devoção, em certos palanfrórios, em certas rezas que algum piedoso impostor inventou para se divertir ou por interesse, estão convencidos de que vão gozar de uma inalterável felicidade, conquistar riqueza, obter honra, satisfazer determinados prazeres, viver longamente e levar uma velhice robusta e, como se isso não bastasse, ainda esperam ocupar no paraiso um posto elevado(...) Tempo de voar entre as inefáveis e eternas delícias do céu, uma vez abandonados pelos bens na terra, aos quais se aferram de todo o coração.

PERDÃO DIVINO - Persuadidos dos perdões e indulgências, ao negociante, ao militar, ao juiz, basta atirarem a uma bandeja uma pequena moeda, para ficarem tão limpos e puros dos seus numerosos roubos como quando sairam da pia batismal...Quem já terá visto homens mais tolos que julgam que entrarão infalivelmente no reino dos céus recitando todos os dias sete versículos que eu não sei quais sejam (...) No entanto, foi um demônio quem fez tão bela descoberta: mas um demônio tolo, que tinha mais vaidade do que talento(...).

RELATIVIDADE - Se um esfomeado come carne podre, cujo fedor obrigaria outro a tapar o nariz, se ele a come com tanto gosto como se se tratasse do alimento mais fino, eu vos pergunto se por isso devce ser considerado menos feliz. Ao contrário, se um enfastiado comesse iguarias e em lugar do seu gosto sentisse náuseas, onde estaria nesse caso a sua felicidade? Para um homem que tem uma mulher feissima, mas na qual vê perfeitamente a sua bela, não é o mesmo que se tivesse desposado uma Vênus?

EGOÍSMO TOLO - Ora, é impossível gozar um bem quando se está sozinho.

SABEDORIA  - Os sábios são em numero tão escasso que nem vale a pena falar deles, e eu desejaria mesmo saber se é possível descobrir algum. No curso de tantos séculos, a Grécia se vangloria de ter produzido apenas sete sábios. É na verdade maravilhoso! O gênero humano deve mesmo muito a essa felicidade da Grécia! Foram mesmo sete?

O VINHO -  ...Consiste em tirar  e dissipar do ânimo dos mortais as aflições, as inquietações e a tristeza, perversas filhas da razão: mas por pouco tempo, porque depois de algumas horas de sono, voltam a atormentar-nos imediatamente e, como se costuma dizer, a todo galope. Não será isso inteiramente o oposto do bem que eu proporciono ao mortais? Minha embriaguez é muito diferente da de Baco: enche a alma de alegria, de tripúdio e de delícias, dura até o fim da vida e não custa dinheiro nem dá remorsos...

HIPOCRISIA - E que coisas estranhas não se dizem e fazem quando morre um parente próximo? Chega-se ao ponto de pagar pessoas que finjam chorar e gesticulam como cômicos. Quanto  maior é a alegria experimentada no coração, tanto maior é a tristeza que o rosto aparenta, o que deu origem ao provérbio grego: chorar na sepultura da madrasta. Este tira o quanto pode, seja de onde for, e dá tudo de presente à própria barriga, com o risco de morrer de fome depois de satisfeita a gulodice. Aquele que põe toda a sua felicidade no ócio e no sono.

AGIOTAS - os negociantes, sobretudo, são os mais sórdidos e estúpidos atores da vida humana: não há coisa mais vil do que a sua profissão e, como coroamento da obra, exercem-na da maneira mais porca. São, em geral, perjuros, mentirosos, ladrões, trapaceiros, impostores. No entanto, devido a sua riqueza, são tidos em grande consideração e chegam a encontrar frades aduladores, que lhes fazem humildemente a corte e publicamente lhes dão o nome de veneráveis, a fim de lhes abiscoitar uma parte dos mal adquiridos tesouros.

ESCRITORES- Todos esses escritores tem parentesco comigo (a Loucura) sobretudo quando só escrevem coisas insípidas. Quanto aos autores que só escrevem para poucos, isto é, para pessoas de fino gosto e perspicazes, confesso-vos ingenuamente que merecem mais compaixão do que inveja.
Mas falemos agora de um autor que escreva sob meus auspícios e do qual seja eu a Minerva. Não conhecendo a meditação nem a tortura do cérebro, nem as vigílias, escreve tudo que sonha, tudo que lhe vem à cabeça. (...) Quem poderá negar que esse homem seja verdadeiramente feliz?

PLAGIADORES - Os plagiadores que com suas facilidades se apropriam das obras alheias, gozando da glória que aqueles dos quais eles a roubaram conseguiram com imensa dificuldade. (...) Esses nomes - por Júpiter imortal! - não tem significação alguma. Considerando-se toda a vastidão da terra, pouquíssimos são os que os louvam, não sendo muito diverso dos dos ignorantes o gosto dos sábios.

ADVOGADOS - Pretendem os advogados levar a palma sobre todos os os eruditos e fazem um grande conceito da sua arte. Ora, para vos ser franca, a sua profissão é, em última análise, um verdadeiro trabalho de Sífiso. Com efeito eles fazem uma porção de leis que não chegam a conclusão alguma.
Que são o digesto, as pandectas, o código? Um amontoado de comentários, de glosas, de citações. Com toda essa mixórdia, fazem crer ao vulgo que, de todas as ciências, a sua é a que requer o mais sublime e laborioso engenho. E como sempre se acha mais belo o que é mais difícil, resulta que os tolos tem alto conceito dessa ciência.

SUPERIORIDADE- Vejamos, agora, os bobalhões dos estóicos, que se reputam tão próximos e afins dos deuses. Mostrai-me apenas um, dentre eles, que mesmo sendo mil vezes estoico, nunca tendo feito a barba, distintivo da sabedoria (se bem que tal distintivo seja também comum aos bodes) precisará deixar seu ar cheio de orgulho (...) Ora meus senhores, o instrumento propagador do gênero humano é aquela parte, tão deselegante e ridícula que não se lhe pode dizer o nome sem provocar o riso. (...)

"Ecomium Moriae" foi publicado em Paris em 1509, sobreviveu por séculos e recebeu o título de "Elogio da Loucura" quando foi traduzido no Brasil.  Apesar das críticas ferozes a toda forma de hipocrisia, a obra demonstra que as qualidades e erros humanos independem da época e da cultura, deixando entretanto em aberto a transformação das idéias através da comunicação. Considerando, é claro, a persistência da razão que em tempos de mediocridade pode ser interpretada como loucura... ( Mirna Monteiro)