obra de Marusz Levandowsk |
Uma criança pequena é atropelada na rua e fica no chão, enquanto as pessoas passam por ela, como se ela fosse invisível, apesar do sangue que escorre pela rua. Um segundo veículo passa sobre a criancinha. Até que alguém para e puxa o pequeno corpo para o meio fio. Ainda assim vai embora e o socorro demora!
Cena de um filme de terror? Alguma ficção de zumbís que comem cabeças humanas? Não!
Isso aconteceu em uma rua de grande movimento na China!
O horror da cena leva obrigatoriamente a uma revisão de nossos valores e conceitos, em um mundo onde as culturas se misturam e onde, mais cedo ou mais tarde, seremos obrigados a definir questões éticas e legais de maneira global, sem interferir na soberania de cada país, mas de maneira a preservar a sobrevivência futura.
Cenas como esta - que acontecem impunemente em cenários de guerra, mas que parecem ficção de mau gosto no cotidiano de uma área urbana - representam não apenas a morte de um indivíduo, mas de valores humanos fundamentais à sobrevivência futura do coletivo.
O surgimento de um padrão cultural unificado vem acontecendo não exatamente pelos acordos econômicos, mas às custas do intercâmbio cultural crescente, através da informação veiculada principalmente através da internet, que mostra a semelhança entre pessoas de todo o mundo. Mas com limites óbvios: até que ponto essa relação pode mudar hábitos e culturas que menosprezam o direito individual do homem?
A China tornou-se uma potência econômica, espalhando seus produtos pelo mundo todo. Tem uma cultura antiga, de uma filosofia surpreendente. É de Confúcio, um de seus filósofos eternos, o dizer "Se queres prever o teu futuro, estuda o teu passado".
Hoje Confúcio é apenas história, não mentalidade. Com 1,3 bilhões de habitantes, a China é apenas um retrato moderno da mentalidade do consumo, onde a vida perde a importância diante da necessidade do poderio econômico. Que ao contrário da expectativa dos países superindustrializados não oferece segurança alguma de futuro. É como uma armação enorme, erguida sobre escombros e recoberta de ouro, mas que pode a qualquer momento desmoronar e tornar a fartura em um perigoso jogo de sobrevivência.
É claro que a China não é um exemplo isolado. A "corrida pelo ouro" na busca da expansão da economia do consumo já afetou os EUA, a Europa e surpreende o mundo neste momento com grande queda no crescimento da India, que registra o menor índice em dez anos.
Com a economia mundial em crise, a desaceleração da economia na India soa ameaçadora, mas demonstra como o sistema mundial é frágil.
Frágil em economia, que por sua vez utiliza um sistema que fragiliza a sociedade, reduzindo a importância do fator humano e criando uma mentalidade pragmática que não funciona justamente por exaurir indiscriminadamente a vida natural.
A imagem da criança atropelada a ali deitada enquanto pedestres passam por ela é apenas um exemplo desse risco. Essa cena se repete no mundo todo, não apenas nas áreas de guerra - onde o sofrimento e a destruição possuem a mesma intenção econômica - mas em países que se vangloriam de manter os direitos humanos em dia, assim como o respeito ao meio, mas que terminam por criar regras que também rebaixam os direitos do indivíduo diante da necessidade do consumo.
É um indício perigoso da asfixia e morte de valores éticos fundamentais para a vida e sobrevida no planeta.(Mirna Monteiro)
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