A cena era interessante: um casal andava por uma feira de artesanato quando foi abordado por uma mulher ainda jovem, com roupas que misturavam o estilo cigano e um hijab meio fashion, oferecendo-se para ler o futuro.
Após uma troca de olhares e uma expressão meio constrangida, o casal recusou. Como se não tivesse entendido, a futuróloga (ou seria uma quiromante?), pegou uma das mãos da mulher e mesmo sob protesto começou a desfiar suas impressões, parando por um instante, com a expressão contrita.
Foi uma pequena pausa, suficiente para que a resistência fosse vencida. Marido e mulher ficaram alarmados e começaram a desfiar perguntas e no final da história outras pessoas foram esticando as mãos e a cigana de hijab ganhou ares de pitonisa confusa com a clientela inesperada.
Em plena era tecnológica parece estar havendo um recrudescimento da oferta e procura de previsões do futuro, seja qual for o método. Aliás a internet é um prato cheio e não é raro "tropeçar" em ofertas que prometem desvendar os próximos acontecimentos de sua vida. Próximos e passados, porque existe até anúncios desafiadores, tipo:
"você tem coragem de saber quem foi (ou o que foi...) nas suas "vidas passadas"?...
Bem, eliminando os exageros e a busca do ganho fácil, é preciso reconhecer que o interesse pelos mistérios da vida, do destino e do que existe além disso, têm
aumentado. Parece haver uma busca de compensação da impessoalidade e do ar de ameaça constante na sociedade moderna. Quem imaginava um terceiro milênio feito de seres frios e racionais, vestidos de uniforme tipo star wars, se decepcionou. Assim como nos tempos do Oráculo de Delphos, o misticismo integra o prato do dia!
A ciência é racional, busca o conhecimento, mas só o reconhece quando existem indícios que permitam pelo menos a teorização da possível realidade.
Já o ser humano é emotivo, sensível ao meio, com antenas intuitivas, prontas para captar surpreendentes descobertas que a racionalidade despreza.
O mais engraçado é quando percebemos que as "antenas" são funcionais e aparentemente uma espécie de carro-chefe da ciência. Ora, a capacidade
humana de intuir, criar e perceber realidades fantasiosas é a antecipação da busca pela explicação racional e, por fim, pela evolução da ciência!
...Se bem que a ciência anda a contestar-se também, de muitas formas. O que se acreditava antes nem sempre se efetivou séculos depois. O que prova que a ciência pretende ser, mas não é exata! Ou, ainda que permita incrível evolução, como no caso da tecnologia ou da medicina, pode ser extremamente lógica, mas imprevisível em seus resultados, originando espaços antagônicos, de criação e destruição! O que provoca sentimentos contraditórios na humanidade.
Quem vive a ciência curva-se à intuição. Albert Einstein era físico, mas reconhecia que nenhum cientista pensa com fórmulas e que tudo parte, essencialmente, do âmago humano. "Que sabe um peixe sobre a água em que nada a vida inteira?", escreveu. Ele percebeu que a imaginação era mais importante do que o conhecimento, pois este apenas se consumava a partir da criação da mente!
Bem, se a ficção é uma "realidade antecipada", ou a percepção humana de futuras realidades, parece lógica a possibilidade de antecipar a ciência de um acontecimento. Nunca antes falou-se tanto em profecias, previsões, prováveis acontecimentos que foram "percebidos" e concebidos por seus criadores como realidade inevitável. Claro que a maioria dessas previsões calculava as datas dos acontecimentos de maneira dúbia, meio confusa e até "moldavel" aos ambientes.
O fim do mundo do mundo, por exemplo! Desde que foi anunciado em quadras por Nostradamus ou enunciado em profecias antigas de diversas culturas,
esteve em vias de acontecer várias vezes, em várias fases da humanidade. É que as previsões falam de situações e cenários que, vivenciados, parecem
ser sempre iminentes!
O mais interessante porém é a certeza humana de que o planeta terra é menos estável do que seria adequado. A raça humana, uma "criança" no planeta,
que já passou por poucas e boas (mais uma vez a ciência tenta racionalizar sua história, mas os indícios de outras versões podem ser ainda desconhecidos)
pisa sobre esta terra como se fosse a única fonte de vida do universo, seu centro criador e, portanto, uma propriedade eterna.
O que no mínimo é uma idéia bastante infantilóide, já que a única certeza que podemos ter é a de que o equilibrio do ambiente necessário a vida, tal como o conhecemos e dele necessitamos, é frágil e sofre mutações cíclicas. O que torna as previsões pouco otimistas revestidas de possibilidades científicas! A não ser que a capacidade imaginativa da humanidade indique novos caminhos.(Mirna C)