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Sunday, March 07, 2010
Que dia da mulher!
Não gosto muito de comemorar o "Dia Internacional da Mulher". Soa meio estranho, como um tiro que sai pela culatra: pretende-se dimensionar a gratidão social pela acão feminina, e no entanto isso é absolutamente impossível, pois a mulher não é uma simples coadjuvante na sociedade humana.
Reforça a mentalidade geral que cria dificuldades para equilibrar a sociedade. Talvez um pouco tendencioso? Ou discriminatório? Seria exagero dizer deletério?
Ela, a mulher, não é complemento, é um ser inteiro, "é" a civilizacão humana, assim como o homem. Seria esquisito, pelo mesmo motivo, o "Dia do Homem". A não ser que isso tivesse o mesmo objetivo de outras tantas datas que visam sacudir o consumo. Humanos são os animais racionais e exagerados do planeta e a natureza criou as devidas diferenças, que são físicas. O homem inventou a discriminação pelo poder de maneira abusiva e absolutamente oportunista, porque já que a mulher paria, ele caçava.
Há quem justifique a deferência por causa do histórico de discriminacão feminina. "Pobre mulher, sempre achatada pela prepotência masculina"...Essa mania de querer simplificar situacões complexas da nossa civilizacão acaba nisso mesmo, em um dia por ano.
Ah, dirão outros, a comemoração se justifica pela sua origem, que data de 1857, em 8 de marco, quando em uma greve operárias têxteis de uma fábrica de New York acabaram fechadas dentro do local de trabalho que foi incendiado. Cerca de 130 mulheres morreram. Em 1910, durante uma conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher".
Durante décadas não se falou muito no assunto, até que a partir dos anos 80 o mundo lembrou de comemorar a data e a prática foi crescendo.
Quer dizer, uma data que pode ser um bom motivo para lembrar o quanto a situacão da mulher mudou quase nada desde do final do século IXX. Acha que mudou muito?
Não, não mudou muito. A mulher do século XXI é a do século IXX.
O que mudou? A mulher é hoje poderosa na economia mundial e assume cargos políticos...mas nunca antes foi tão sufocada, sofrendo abusos diversos e estourando as estatísticas de maus tratos e assassinatos!
As mulheres são maioria nas universidades e ocupam cargos em todos os setores produtivos...É, é verdade sim, mas ela continua sofrendo a mesma discriminação salarial das americanas que morreram carbonizadas na greve de 1857.
Estamos no terceiro milênio e mulher ganha menos que o homem pela mesma funcão...
Há paises que ainda mutilam o orgão sexual das meninas, para que no futuro o corpo não funcione para o prazer. E em outros lugares, como a China e a Índia, recém-nascidos do sexo feminino são assassinados pela própria família por uma questão de dote. É que mulher dá prejuizo...
Esse negócio de um dia de comemoracão, como se de fato houvesse conscientizacão das tragédias da humanidade, poderia talvez surtir efeito se ficassem definidas as distorcões geradas no meio, de maneira a evitar que permanecessem gravitando em torno da mulher.
Mas, infelizmente, somos uma civilização que tenta desvendar o universo e está prestes a descobrir a origem da vida na Terra, enquanto mantém em seu quintal sociedades absolutamente atrasadas.
A mulher não conquistou seu espaço. Cada mulher que nasce tem pela frente o desafio do esforço contínuo para sobreviver, ser respeitada e construir a sociedade. Talvez ela conte com novas circunstâncias, em um mundo onde cada vez mais a verdade vem à tona por força da comunicação. Mas essas mesmas circunstâncias acabam distorcendo sua imagem e impondo outros rótulos.
Tudo se tornou tão confuso que tem mulher que critica mulher que escolhe ser mãe e esposa ao invés de uma executiva cheia de sucesso e cirrose.
Mulher é pressionada de todos os lados, quando come e quando não come, quando trabalha a sociedade ou quando trabalha o próprio ego. Não há alternativa!
Encurtando a história, a verdade é que a mulher, o homem, a criança e a natureza são a mesma coisa. Não há como separar, por maior que seja a necessidade política de segregação para exercício do poder. O que se quer é o equilibrio que nunca existiu!
No final das contas, tudo bem...que mal há em um dia de comemoração? Desde que não seja paternalista ou extremista ou consumista, ou puxa-saco, enfim, um dia de festa para compensar o ano de alheamento e omissão, ou para aliviar a consciência da negligência com a vida.
Mas as conquistas que deveríamos comemorar, ah, essas ainda não aconteceram! (Mirna Monteiro)
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