Sentir a arte em todas as suas manifestações depende de estímulo. E no Brasil há poucas alternativas para o contato com a Arte. É o caso da música, que vive dois extremos em nossa cultura: extremamente técnica ou absurdamente popular, desprovida até de seus princípios básicos. Entre os dois extremos, encontramos valores da MPB, de grande qualidade musical. Mas não somos preparados para apreciar a musica e desenvolver nosso talento musical. Veja a opinião do maestro Antonio Mármora, que durante décadas lecionou música nas escolas, para crianças e jovens.
O que está faltando no ensino básico?
Na Europa você sente a importância do estudo da música. Todas as escolas do exterior integram a Arte a cultura geral. No Brasil o enfoque maior é informatização, matérias de exatas, mas a Arte é relegada. Como é que nós podemos exigir de um adolescente, hoje em dia, civismo, cidadania, ele não tem nada na escola?"
É só uma questão prática, de má política ou falta capacidade para entender a importância da arte?
Ninguém aprecia aquilo que não conhece. Antigamente existia o ensino da música, tudo bem que era uma coisa menor, sem a ênfase das demais disciplinas, mas existia".
É uma grande perda...
Sim, afeta até a qualidade da família. O mercado de trabalho centralizou a necessidade prática e o ensino humanístico sumiu. Ele permanece em escolas da Europa, mas não no Brasil. Qualquer ensino considerado opcional não é valorizado pelo aluno. A arte exerce grande influência ao ser humano. O som é um agente muito poderoso. Todos os seres gostam.
A teoria musical é considerada de difícil assimilação por algumas pessoas...
Sim, mas se você partir do som, não há como não assimilar. De uma música popular pode-se passar à erudita, de maneira que seja compreendida. Isso é fundamental ao equilíbrio da pessoa, assim como a arte e humanidades em geral. Cultura!
Há necessidade de descobrir a música erudita primeiro para “afinar o ouvido”? O que se ouve dizer com frequência é que nunca se ouviu tanta música no Brasil....embora de baixa qualidade.
Música erudita não morre, é uma lavagem de alma. O indivíduo sente isso quando passa a conhecer, a ouvir e sentir. Mas a apreciação musical pode começar com qualquer estilo, desde que seja uma boa música, e tomar contato com noções gerais, passar a entender a instrumentação. Senão não entende nada e passa a aceitar qualquer coisa que se jogue em cima dele, música de baixa qualidade, corriqueira demais, quando tem dois acordes, é uma coisa! A letra então!...
Isso prova o quanto estamos deseducados musicalmente?
Sim, embora haja muita coisa boa. Nossa música popular tem verdadeiras jóias musicais. A oportunidade de aprender a diferenciar é que é rara. Para mim não há coisa melhor do que encontrar ex-alunos e ouvir o comentário de noções musicais que ficaram marcadas em sua memória. É gostoso você ser lembrado como alguém que pensou em fazer alguma coisa.
O processo de criação de uma música depende de que?
A música é inspiração, sentimento, um grande amor, natureza, tantas coisas. O conhecimento teórico facilita e lapida a música. Nós temos compositores que compõe música popular de extrema qualidade melódica, como Jobim, Milton Nascimento, Chico Buarque, um compositor extraordinário. Como professor fui obrigado a me adaptar, ser eclético e conhecer vários estilos musicais, porque você tem que captar a expectativa da classe para saber o que você vai ofertar para eles. (Mirna Monteiro)
Boa eu também tô fazendo isso.
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