Wednesday, February 29, 2012

MÉDICOS ROBOTIZADOS

"É o fim do mundo!", repetia uma senhora que aguardava atendimento em um pronto-socorro de um hospital particular. Entre tantas coisas absurdas a pior delas certamente era o fato do desleixo e da falta de ética ter atingido uma área extremamente delicada, a da saúde. "Como é que eu vou saber se estou sendo tratada ou destratada?" perguntou ela, em meio ao desabafo.
Boa pergunta! Mas a resposta é impossível! Como saber até que ponto a nossa evolução social e tecnológica não se transforma em armadilha?
A ciência avança hoje a níveis surpreendentes. Mais alguns anos, dizem, e a velhice será coisa do passado, a morte será adiada em décadas e as doenças serão vencidas com a regeneração celular!
Que maravilha! Ninguém duvida disso. O problema é outro! Paralelamente à evolução científica e tecnológica, outro extremo da realidade não pode ser vencido: o desgaste da sociedade e de seus valores, o aumento da mediocridade profissional e do objetivo do capital em detrimento do fator humano!
Quem pode com isso? Trocando em miúdos, podemos afirmar que o que temos hoje, em um momento de grandes recursos da medicina, é uma péssima medicina! Afinal ainda não podemos trocar a figura do médico por robôs irrepreensíveis. Ainda dependemos do fator humano para cuidar do fator humano. É a principal razão da existência humana, manter a sua espécie!
Aparentemente o grande desafio da medicina hoje são os próprios médicos. Os mais recentes, despreparados, oriundos de universidades que não conseguem formar adequadamente o cidadão, mesmo cobrando altíssimas mensalidades. Os recém-formados, atraídos para a área por questões econômicas (ser médico "dá dinheiro", mesmo que seja impossível avaliar a vida em trocados...) encontram um mercado tão saturado, que a estrutura de qualificação do médico fica comprometida: não há hospitais suficientes para formar residentes.
E sem residência, que é a prática, é quase impossível completar o ensinamento básico do profissional de medicina!
E os mais antigos? Talvez com alguma experiência, mas completamente entregues à massificação do sistema. O paciente é visto cada vez mais como um objeto a ser descartado o mais rapidamente possível. Tempo é dinheiro! As consultas hoje são velozes e extremamente curtas. Nos consultórios particulares, a peso de ouro, é possível mais tempo. Mas na base dos convênios médicos, planos de saúde que aplicam a filosofia da quantidade em detrimento da qualidade, a consulta é de até dez minutos em média.
O tempo suficiente para um médico perguntar qual é o problema e passar a lista de exames. Sem a biomedicina, a medicina hoje não é nada. Mas isso não elimina ainda o risco de enganos causados pelo cansaço ou incompetência na interpretação dos exames ou no tratamento da patologia!
É mesmo o fim do mundo! Ou pelo menos o fim da crença de que a medicina é sempre heroica e acima de qualquer suspeita.
É possível entender o desabafo dos pacientes! E este é um problema que preocupa a todos, inclusive aos médicos, que afinal também são pacientes em algum momento da vida!
Exigir capacitação profissional é o único recurso para evitar o caos, em uma sociedade onde sobram profissionais formados em medicina, mas faltam médicos! Onde está a figura o médico, que por vocação interagia com o paciente e fazia milagres em épocas onde não havia qualquer tecnologia? 
É possível haver exercício da medicina sem a filosofia que norteia essa responsabilidade?
É bom pensar sobre o assunto... (MM)

Monday, February 13, 2012

QUEM É VOCÊ? QUEM É O OUTRO?


O comentário geral era a respeito de um crime nos Estados Unidos, onde homem que matou um casal que havia excluído a filha do quadro de amigos no Facebook. O mundo virtual parece ser um lugar onde comandamos a hora de existir ou desaparecer da tela, de conversar ou simplesmente observar o "movimento". A partir do momento desconectamos, "desligamos" esse espaço. São mundos diferentes, o virtual e o real!
Não há proteção no mundo virtual, todos sabemos disso. Nos sites, a relação esperada, de privacidade, não existe, mesmo que o quadro de amigos contenha apenas familiares. O espaço, na verdade é público e mesmo que haja garantia de privacidade, a realidade indica que os dados estão ao alcance de administradores e de hackers. Permanecem "boiando" (ou seria flutuando?) em um mundo ainda pouco desvendado.
Sites de relacionamento parecem  ser uma sala de estar isolada. É difícil imaginar o espaço virtual protegido por senhas e rodeado de regras como uma sala em ambiente público.
Essa realidade desagrada. As pessoas sentem necessidade de partilhar sua vida, suas alegrias, seus momentos de sucesso, a relação amorosa ou familiar, da mesma forma que os momentos de tristeza ou depressão. Isso é natural porque o ser humano é um animal social, preparado para conviver em grupo até mesmo para garantir a sobrevivência individual, que se torna mais garantida na sobrevivência mútua.
A relação virtual aproxima tanto as pessoas conhecidas - familiares e amigos - como reduz ou elimina o distanciamento entre pessoas desconhecidas que iniciam uma amizade através de interesses comuns. Sem essa "mágica" virtual que elimina distâncias e derruba as paredes, a possibilidade de ampliar o conhecimento fica realmente muito reduzida.
Reduzida demais para quem se habitua a navegar em um espaço que seduz justamente pelo fato de funcionar sem a carga da materialidade. Um espaço realmente sedutor, constantemente ampliado por novos recursos. Com um dispositivo mais leve e fino do que um livro, pode-se acessar e ler infindáveis obras literárias, escrever, desenhar, criar projetos, trabalhar, ouvir música, conversar, fazer compras, enfim...a ponto do sujeito que navega em um espaço tão diversificado e aparentemente infinito em suas possibilidades perguntar-se se não está havendo alguma inversão e aquilo que consideramos o mundo real não é na realidade uma espécie de limbo!
Como lidar com esse novo mundo e suas possibilidades e riscos entretanto, não é assim tão fácil. Por trás da mágica dos recursos e da sofisticação tecnológica, existe a mesma matéria básica dos tempos das trevas ou dos conflitos da civilização: o conteúdo humano, dividido entre a construção e a destruição, a verdade e a mentira, a necessidade de relacionar-se e ampliar os horizontes e a capacidade de distorcer e manipular o meio.
A grande verdade é que explorar o ciberespaço tem menor risco do que o mundo real no que se refere à preservação física (pelo menos imediata) mas não existe nenhuma garantia de segurança em qualquer outro sentido!
Mundo material, mundo virtual, mundo emocional, mundo espirital...parece que a relação humana com espaços que pareciam fictícios e isolados finalmente se fundem em um mundo inteiramente novo, diferente, mas não mais improvável!  ( Mirna Monteiro)

Tuesday, February 07, 2012

PENSAMENTOS QUE FALAM

"Perdida em seus pensamentos, a pessoa parece escutar a voz de suas entranhas"...Mais do que simples metáfora, essa frase pode ser interpretada literalmente. Depois de descobrir que os impulsos elétricos do cérebro podem movimentar matéria - o que levou à inspiração da "prótese inteligente", a ciência agora admite a possibilidade de reconstruir palavras a partir da captação das ondas cerebrais da pessoa.
A descoberta está criando celeuma. Assim como na ficção, isso parece ser o "golpe final" na privacidade dos seres. "Podem me tirar a liberdade física, mas aquilo que sei e penso pertence apenas a mim"!...Quantas vezes não encontramos afirmações semelhantes em romances, filmes e, evidentemente, na vida real?
Invadir a mente humana, não simplesmente para bloquear ou inutilizar a capacidade mental, como em uma lobotomia  ou através de drogas, mas justamente extraindo de dentro dela o pensamento, já foi a base de muita ficção. A possibilidade soa como uma ameaça. Esconder aquilo que se é e realmente se pensa integra a mais primitiva capacidade humana de se defender e garantir a sobrevivência.
A discrição da mente permitiu ao homem criar táticas de caça, de combate e auto-defesa. É a "voz interior", que alerta, comanda e traduz a intuição, o raciocínio, os "arquivos" dos acontecimentos que são acessados de maneira tão instantânea que não nos apercebemos disso.
O que aconteceria a um mundo onde a mente deixa de ser privada?
Claro que a ciência argumenta que a "invasão" é para o bem. Por exemplo, no caso de pessoas que perderam a capacidade de movimentos de algum membro, como pernas, braços e mãos, ou daquelas que se encontram em estado de coma. A implantação de chips que provocam estímulos elétricos no cérebro pode fazer com que uma pessoa comande com o pensamento a tela de um computador, um braço mecânico, ou outras próteses. Em coma profundo, a tradução do pensamento em forma de palavras ou de uma espécie de "filme". Sim, exatamente como na ficção!
Nesse ponto, paramos para respirar. E pensar (ainda sem eletrodos) se realmente é possível existir no universo qualquer ocorrência isolada. Digamos que, se a ciência pode captar impulsos elétricos do cérebro animal e transforma-los em palavras ou imagens, certamente esse é um processo que já ocorre na natureza. Ou seja, reforçamos a ideia de duas realidades em uma cajadada só: a de que a comunicação entre os seres na natureza não se faz unicamente de maneira material (dentro da nossa percepção de materialidade), determinando a obviedade da mecânica quântica, onde tudo que existe dentro e fora dos seres tem a mesma construção, "tijolinhos" de quantum, aglomerados ou dispersos, que tanto podem compor uma galáxia, um corpo humano ou o pensamento...
O que dizem nossos "quantuns"? Ou o que diz sua intuição? Ou ainda, quais são seus pensamentos a respeito?...Sem necessidade de chips!    (Mirna Monteiro)

Tuesday, January 31, 2012

A ARTE DE ACREDITAR...SEM ENGANAR-SE


Volta e meia aparece a dúvida: em quem acreditar? No que acreditar? A insegurança sobre a verdade não é característica de pessoas jovens, assim como a certeza não é privilégio de quem viveu muitas décadas.

Sob essa ótica (verdadeira?) estamos todos no mesmo barco, o da incerteza sobre as coisas e isso pode ser angustiante! Nietzsche, ele próprio exasperado com as próprias dúvidas em uma época onde tudo era contestado de maneira extremamente econômica, concluiu que a busca da verdade não passava de simples necessidade humana de se sentir em segurança.  Um mundo que "não se contradiz", seria um mundo mais confiável, com conceitos baseados na crença de valores imutáveis e, portanto, aceitos como verdade universal. 

Bem, de qualquer forma nós temos nossas verdades universais. Por exemplo a igualdade entre os homens e o respeito à natureza. Naturalmente são verdades óbvias oriundas da necessidade de sobrevivência, entre outras que surgem da relação histórica do homem com o meio. 

O que sabemos é que o reconhecimento da verdade, ou de alguma realidade que possamos assumir como determinante, parte de nossa capacidade de sentir a vida. O conhecimento sobre si mesmo modifica o reconhecimento da verdade. E como acreditava Sócrates, só age erradamente aquele que desconhece a verdade e, por extensão, o bem. Nesse caso permanece boiando na incerteza, ou esperneando se assim lhe ditar o temperamento, mas em ambos os casos provocando desequilíbrio e caos ao meio. 
 Como mestre que pretendia ensinar a pensar, sem impor uma verdade do próprio punho...ou do próprio pensamento, Sócrates colocava a  busca do saber como o caminho para a perfeição humana e, por tabela, para obter a sensação de segurança que permite um enfrentamento mais tranqüilo de nossas dúvidas a respeito do que seria a verdade e a mentira.
Bem, 400 anos antes de Cristo e já se sabia o que hoje ainda constatamos. Por mais que seja teorizado o assunto e por mais que os pensadores sejam rebuscados e retóricos, realistas, fatalistas ou neuróticos, a verdade é que o drama do "onde está a verdade", resume-se a esta simples lógica socrática: observe, pense, aprenda e deduza!

Se a verdade necessita de sabedoria para ser detectada, a mentira basta a si própria, infelizmente. A sorte da humanidade é que seu tempo de vida é curto. Por isso devemos considerar a sabedoria popular, quando diz que "toda mentira tem perna curta". Aliás todos temos sempre uma boa interpretação da mentira. Rápida como o bote de uma cobra (uma mentira dá a volta ao mundo antes mesmo de a verdade ter a oportunidade de se vestir, ironizou Churchill) ou vital para a sobrevivência de alguns (A mentira é muitas vezes tão involuntária quanto a respiração, observou acertadamente o escritor Machado de Assis) a mentira é o avesso do conhecimento sem deixar de ser ilustradora da verdade (não ser descoberto em uma mentira equivale a dizer uma verdade...)

É nessa relatividade que se apoiam os grandes mentirosos da humanidade, antigos e atuais. Hitler achava que para convencer a massa era preciso uma grande mentira, cercada de muita bagunça e atritos, pois assim o caos formado esconderia ainda mais a verdade. Tinha razão, sem dúvida! É óbvio que para se conseguir impor uma mentira há necessidade de se impor o caos e a insegurança...aquele estado citado por Nietzsche, onde as convicções podem ser mais perigosas para a verdade do que a própria afirmação mentirosa! 
Acreditar, portanto, parece ser a arte de desvendar o que se passa atrás das grandes afirmações, das grandes mentiras e das supostas verdades. Uma arte que começa com o conhecimento do temperamento humano que habita em todos nós e o reconhecimento de nossas fraquezas. (Mirna Monteiro)

Wednesday, January 25, 2012

Acariciando o coração

Descobriram que o coração possui algumas dezenas de milhares de neurônios. Parece pouco diante dos 100 bilhões de neurônios calculados no cérebro humano, mas é suficiente para uma avaliação maior na relação entre comportamento e emoção, assim como de fatores fisiológicos como estresse e riscos cardíacos.
O coração tem capacidade de pensar? A ciência não se atreve a afirmar isso, embora venha reconhecendo que estados de tensão, tristeza, depressão, de fato influenciam a saúde humana. De onde podemos deduzir que o coração humano está "equipado" para sentir.
Morrer de tristeza, um termo usado antes mesmo que a ciência soubesse muito sobre a fisiologia humana, parece ser verdadeiro. Joseph Chilton Pearce, autor de "A biologia da Transcendência", refere-se ao coração como um orgão de sabedoria inata do amor, Sem ele o ser retroage ao primitivo, permitindo que o Ego assuma o controle e a mentalidade de sobrevivência baseada no medo, na ganância, poder e controle.
Essa situação levaria à sensação de solidão e isolamento da natureza, enquanto que a capacidade de "sentir o coração" e liberar os sentimentos positivamente leva a uma maior inteligência emocional e capacidade de lidar com a vida.
De certa forma, mesmo negligenciando o coração, persiste a sensação de vazio e a necessidade de buscar uma compensação. Talvez seja esse o motivo que leva as pessoas a buscarem conforto, as vezes renegando a própria realidade.
Isso pode ser observado nos sites de relacionamento, que foram criados para interagir, adaptando-se ao longo do tempo a muitas funções diferentes. Namoro, casamento ou simplesmente sexo, discussões sobre assuntos proibidos ou dificilmente assumidos no mundo real, denúncias e discussões políticas. Tudo aquilo que integra a realidade imediata, mas que acaba se perdendo na falta de contato das pessoas ou na dificuldade de relação com a mídia, acaba se desdobrando no mundo virtual.
Mas o interessante é que a maioria das pessoas não pretende discutir grandes problemas nos sites de relacionamento.Não pretendem "martelar a mente", mas sim acariciar o coração, ou seja, manter contatos leves, que absorvam a tensão da realidade do dia a dia. O mundo virtual serve de repouso, quando as conversas são leves e as palavras trocadas são de incentivo, positividade e alento.
Não há como criticar esse desejo. Todos necessitamos de momentos paz e repouso. Em uma realidade cada vez mais drástica - onde os problemas parecem brotar como erva daninha, não por serem recentes, mas pelo fato dos disfarces que os escondiam não mais funcionarem, o estresse aumenta.
O que não quer dizer que a realidade possa ser evitada. Mas a racionalidade pode ( e deve) conviver com o bom humor, a leveza e a gentileza. Talvez a representação das duas faces da realidade, cérebro e coração, racionalidade e sentimento não seja simples metáfora, mas pura ciência. (MM)

Monday, January 09, 2012

A MORTE E A LÓGICA IRRACIONAL





Lógica, ilógica...deixando e lado a teoria das idéias, onde se pressupõe o que seria admitido como realidade ou engano dos sentidos, a morte seria uma realidade incontestável, pois é óbvia e ao mesmo tempo impossível de ser razoavelmente definida, a não ser em nossa percepção física.
Isso é muito desconfortável!
É muito pouco provável que a morte seja desconfortável para quem a enfrentou. É complicado imaginar as possibilidades além da vida, mas digamos que, na pior das hipóteses (sob a ansiedade dos que se recusam a aceitar a finitude), os seres se apaguem como uma lâmpada, sendo "nada".
"Nada" é nada, puft!
...Mas a energia obtida pelos filamentos da lâmpada está por aí...



Vamos analisar uma possibilidade científica, a de que no universo tudo é matéria, inclusive nosso pensamento ou nossa consciência. Nesse caso não pode ser ruim para quem morreu, pois se morreu em seu estado físico mais grosseiro (ou para quem quiser complicar, de material molecular acumulado e pesado, próprio para um planeta primitivo... ou o que?) sobrevive em seu estado quântico e, portanto, deve poder passear pelas dimensões do tempo ou por espaços que bem podem ser algo que interpretamos como paraíso.
Vamos divagar e aceitar as possibilidades que historicamente povoam as crenças do ser humano, desde sua forma mais primitiva, até as culturas que pretendem ser sofisticadas.

Digamos que haja espaços pré-determinados para as almas, de um lado as penadas, de outro as que cumpriram o bem, como na alegoria do inferno e do céu. Também nada poderá ser mais oportuno. Pois se quem amamos tanto é uma boa alma, decerto que irá para um espaço privilegiado, onde diferentes crenças comungam que é bem mais agradável do que aqui. E se boa alma não for, não há pelo que chorar se a morte representar um tipo de enfrentamento desconfortável...ou, quem sabe, o "puft!", ou o vazio total e irreversível...
Aparentemente, preocupar-se com a morte parece ser desnecessário. Ao contrário, preocupar-se com a vida, é fundamental! É por ela que devemos lutar, com unhas e dentes e é ela, a vida, que devemos respeitar. Toda e qualquer forma de vida deve ser respeitada.
Sendo isso inquestionável, chegamos a um acordo: a vida é tão importante, enquanto vida, que pode ser interpretada como o antagonismo da morte, o que não representa uma verdade. Por que? Ora, sabemos o que é vida! Não sabemos o que é a morte! Tudo que se sabe sobre a morte é conjectura e torna esta discussão extremamente chata.
Mas certamente esquecemos um fator de peso: o medo do desconhecido. Não é a morte em si, mas o que é provável a partir dela que a torna tão temida. Para amenizar isso não há remédio, a não ser a própria vida. Quando plena e valorizada, fornece uma espécie de coragem para enfrentar o que quer que a morte signifique. É como uma fusão com o universo. Os ateus e agnósticos mais radicais ficam furiosos com essa possibilidade, pois ela reforça a teoria do divino, pois reconhece uma força onipotente entre big-bangs e buracos negros. Uma força natural que pode não ser consciente, mas que é interdependente de todas as matérias e suas variações no mundo quântico.
É, esta discussão vai longe. Segue pela vida e além da morte! Porque pelo que se sabe, todos vamos, de mente aberta ou cara emburrada.  E em uma rotina semelhante outros aqui ficam, repetindo o mesmo questionamento de outros que virão!...(Mirna Monteiro)

Tuesday, December 27, 2011

UM ANO COMPLICADO

Uma das coisas mais interessantes do final de um ano é a sensação de um certo alívio. Algo assim como ser atendido depois da espera em uma longa fila ou a idéia de "dever cumprido" depois de um dia de trabalho exaustivo...quem sabe um sentimento dimensionado pela perspectiva de que algo está acabando, mas para dar lugar a uma nova oportunidade de inicio, Se possível com "pé direito" bem posicionado e calculado!  
Nenhuma crítica a respeito. Todos dependemos de novas chances e oportunidades para reciclar a rotina, caso contrário a vida seria chata. Uma rotina eternizada. Mário Quintana enalteceu acertadamente essa "jogada do calendário", chamando-a de "truque bom", seja na segunda-feira, no primeiro dia de cada mês ou em cada novo ano. "O bom é que nos dá a impressão de que a vida não continua, mas recomeça"...
Detalhes do calendário não importam muito, desde que obedeçan ao ciclo de renovação. O calendário romano já teve dez meses quando introduzido por Rômolo, depois dias elásticos no calendário grego. Pouco importaram essas diferenças, porque o objetivo era definir o nascimento de uma fase, seu amadurecimento, seu final e seu renascimento. 
Truque, coincidência ou inspíração, a verdade é que funciona. Final de ano é pura festa, como os rituais da antiguidade, que decerto ficaram embutidos em cantos da memória humana. É preciso se despedir do ano que passou em grande estilo, passando uma borracha na alma e recriando a expectativa de que os fracassos podem ser transformados em sucesso e os erros em acertos.Principalmente em tempos onde as pessoas ficam surpresas com a velocidade dos dias. "Este ano já ficou velho? Caramba, parece que janeiro foi no mês passado!"...
Mesmo que a sensação seja de encolhimento do calendário, é preciso se programar para a renovação! E vem as famosas listinhas. Que este ano serão interessantes. Afinal 2012 é o ano em que alardeia-se o fim do mundo, lá para os idos de dezembro.
Bem, sem pânico! Se assim for, ainda teremos todos os meses do ano para cumprir com as promessas de ano novo. Talvez, para garantir, elas tenham que ser finalmente cumpridas. Supondo que o mundo acabe realmente em dezembro de 2012. De qualquer forma  será interessante iniciar 2013 com a agenda cumprida. Seria algo assim como finalmente cumprir com uma determinação que se dilui ao longo dos meses e termina de novo no topo da lista do ano seguinte.
Antes prevenir do que remediar. No final das contas teremos afinal um ano realmente inusitado e com perspectivas de se realizar as coisas sempre adiadas. O que torna este ano que parece complicado em um momento especial no velho modelo do calendário! (Mirna Monteiro)

Thursday, December 15, 2011

ALÉM DAS VASSOURAS, BALDES E ESFREGÕES

As aparências enganam. Não é um anúncio de material de limpeza. Trata-se, pelo contrário, de um grave problema que é relegado a armários de lavanderias e quartinhos de despejo de residências familiares e que no entanto determina o movimento da sociedade, suas conquistas culturais, econômicas, políticas, sociais...
O que tem a ver vassouras com tudo isso? Bem, não há necessidade de se falar especificamente em vassouras...podemos substituir pelo aspirador de pó, por maquininhas a vapor que tiram o limo de paredes e piso e ainda substituem o ferro de passar roupa. Ou trocar detergentes por tijolinhos de sabão quando a louça suja vai para uma máquina ao invés de cumular-se em um pia...ainda assim, o que teriam essas visões aterrorizantes e meramente domésticas com as importantes decisões políticas, econômicas e sociais?
A concepção do trabalho sempre esteve ligada a uma visão negativa. Aos nobres cabia a política, aos escravos o trabalho duro. Quando a escravidão foi abolida, o trabalho foi classificado em "importantes e nobres" ou em "menores e sujos". 
Os gênios da humanidade passavam a vida enfurnados em pesquisas e inventos, os serviçais lavavam suas vestes e limpavam a bagunça de seus experimentos. 
Homens e mulheres também sempre tiveram sua divisão de responsabilidade. Ao homem cabia qualquer trabalho, ainda que pouco nobre, desde que não fosse em sua própria área doméstica, o que já atingiria uma qualificação pejorativa. 
À mulher cabia comandar a área doméstica e gerenciar os serviçais. Conforme a sociedade foi evoluindo, já no século XX, surgiu a empregada doméstica, também pouco valorizada porque estaria qualificada apenas para "limpeza geral, culinária e funções afins". A sociedade evoluiu mais um pouco, dimensionou a qualificação feminina. Lidar com política mundial, com pesquisas de células-tronco ou qualquer trabalho executivo é mais fácil do que enfrentar a rotina doméstica. Por outro lado chegar ao lar depois de um dia de trabalho duro e de um trânsito infernal e encontrar, digamos, a dinâmica interior desembestada, (tradução - casa bagunçada), pode provocar síndrome do pânico...inversa, ou seja, ao invés de ter medo de sair a pessoa terá pavor de permanecer dentro da casa!
E então...onde foi parar a empregada doméstica?
Ninguém quer saber do trabalho doméstico. Contraditoriamente, quem aceita esse trabalho ganha mais do que um motorista, balconista ou inúmeras outras profissões que vivem repletas de candidatos ansiosos por colocação e que não oferecem tantas vantagens. 
É o estigma do ambiente doméstico. Alguns interpretam as funções como "herança da escravidão". E no entanto elas integram uma realidade gritante, cotidiana, óbvia, que não tem a ver com a fase negra da história humana, fosse na Grecia antiga, fosse no Brasil colônia. Tem a ver com louça amontoada na pia, poeira no chão, roupa suja no cesto, banheiros malcheirosos e quintais com cocô de cachorro!
Se nesta fase da civilização humana, em um mundo que desvenda a engenharia genética e usa tecnologia espacial, alguém disser que serviço doméstico é bobagem, é porque vive em flats ou boiando em algum espaço dimensional repleto de serviços prontos e disponíveis, acessível a um percentual tão pequeno da população mundial que nem vale como exemplo.
Alguns países resolvem de maneira prática a dura realidade da importância do serviço doméstico (que afinal pode deixar maluco qualquer gênio da matemática quando descobre que esgotaram-se nas gavetas as cuecas limpas!). 
Como o Japão! A questão da limpeza da casa fica solucionada ao reduzir o espaço físico, para um metro quadrado por cabeça...é só assoprar em torno, nem precisa de aspirador de pó. Além, disso, detentores de uma tecnologia genial, os japoneses estão conseguindo construir robôs que chegam à perfeição de andróides e que dominam o conhecimento dos afazeres domésticos. Com a vantagem de serem permanentes (enquanto o chip funcionar, claro) e não fazer chantagem emocional comum às raríssimas pessoas que ainda trabalham com limpeza doméstica em residências e que são realmente cada vez mais paparicadas e elevadas à condição de "alfa"! Quem manda aqui? Claro que é você, a secretária do lar...porque para algumas pessoas dizer que tem uma "empregada doméstica" é considerada ofensa. Absurdo, quando todos sabem que toda família depende de um lar e que todo lar exige uma dinâmica que, subtraída, transtorna a vida da sociedade.
Bem, que venham logo os robôs...(MM)

Tuesday, December 06, 2011

A TAL FELICIDADE

Fim de domingo, encontro com algumas pessoas que não via há muito tempo, todas elas diferentes, idades variadas, interesses opostos e desconhecidas entre si, mas com alguma coisa em comum: uma nostalgia surpreendentemente descrita com as mesmas palavras. "Não sei explicar, mas entardecer de domingo sempre me deixa meio "deprê" (depressivo)...
É mesmo uma coincidência! Ou não? Afinal, o que é que tem de diferente o final de um domingo em relação a outro dia qualquer? A expectativa da segunda-feira, talvez?
- É, pode ser sim, só de pensar em enfrentar aquele trânsito de novo, pô meu, ninguém merece...
Foi esta uma das respostas. Pensei sobre ela. Poderia ser uma explicação, já que na sexta-feira a situação se inverte. Todo mundo adora uma sexta-feira, muito mais do que o sábado ( engraçado isso). Mas se assim é, por que pessoas que não trabalham na segunda-feira também parecem sentir essa "síndrome nostálgica" do fim de domingo? O problema seria a expectativa?
Essa expectativa parece ser o "calcanhar de Aquiles" da humanidade. Pretende-se sempre esperar que tudo se conserte, que as emoções se organizem e que surjam fatos que permitam a todos atingir subitamente a felicidade. Mas nenhuma situação ou emoção surge "do nada". Tudo que existe tem uma origem e um desdobramento.
Entende-se por felicidade o absoluto bem estar físico e mental. Tão absoluto que para grande parte das pessoas esse momento ideal acaba tornando-se inacessível, boiando em alguma montanha escarpada ou flutuando sobre abismos imensuráveis. 
- Felicidade não existe! - garantiu alguém - Esse negócio de felicidade só estraga, tem gente complexada, revoltada, odiando o mundo, por achar que foi discriminada pela vida, se aprender que é tudo ficção vai ser melhor.
A expectativa acaba tomando a forma de desdém, como na fábula da raposa e das uvas. Para que me preocupar com aquilo que não posso ter e que por esse motivo pode não existir? 
Pensamentos azedos demais para uvas que vão amadurecer um dia e que podem ser mais doces do que nossa imaginação supõe. Se a raposa não tivesse tamanha ansiedade e expectativa em alcançar as uvas que parecem inacessíveis, teria a oportunidade de provar sua doçura ainda que o peso dos cachos maduros vergassem até ela. 
A tal felicidade, que tantos desejam e outros tantos desdenham por não a conceber, é mais acessível do que imaginamos, se prestarmos atenção ao fato de que ela não é um pontinho flutuante, mas simplesmente um espaço dentro de nossa própria consciência, geralmente espremido e reduzido pelo excesso de expectativas e ansiedades superficiais que tomam nosso tempo e embotam nossos sentidos.
Tanto isso é verdade que quanto mais superficial o mundo se torna, maior é a quantidade de antidepressivos e outras drogas ingeridos pela humanidade. Para alegria ( seria a tal felicidade?) da industria farmacêutica e dos laboratórios de manipulação.
O "conhece-te a ti mesmo" que mantém-se moderno há alguns milhares de anos, pode ser a origem da felicidade, pois obriga a mente a trabalhar em sintonia com o mundo das idéias e não o mundo do consumo de carros milionário e mansões que supõem-se ser o passaporte para se atingir status e estado de absoluta felicidade. 
Será que quando possuímos mansões, carrões e bilhões, espantamos de vez aquela nostalgia e a ansiedade de ser feliz? Uma pesquisa que cruzou o PIB (a riqueza gerada por cada país) das maiores economias do mundo com o chamado índice de Gini, que mede a desigualdade social e tentou estabelecer com base nesses dados o índice de satisfação com a vida mostrou que nem sempre riqueza e menor desigualdade são sinônimos de felicidade. Aliás o Brasil registrou um índice de satisfação com a vida muito maior do que outros países mais ricos.
O que podemos constatar? Que a tal felicidade é relativa, pois envolve fatores subjetivos. Qualidade de vida, no entanto, parece ser fundamental para a felicidade, mas não necessariamente o dinheiro, ainda que o dinheiro possa ajudar a se obter melhor qualidade de vida. Mas o conhecimento, a saúde, a capacidade de enfrentar os desafios da vida com bom humor e tolerância, a sabedoria para transformar subjetivos fracassos em bem sucedidas experiências, o respeito ao meio e a capacidade de integração à natureza são fatores considerados preponderantes para um indivíduo sentir-se bem. Ou feliz! (Mirna Monteiro)

Tuesday, November 29, 2011

NATAL PROLONGADO

Já em final de outubro o comércio começa a apresentar vitrines natalinas, em novembro muitas famílias enfeitam a casa e montam  a arvore de natal. Podemos entender o comércio: quanto maior o prazo para as vendas antes do pico, maior tranquilidade para vender o estoque. Mas e as famílias? É bom ou nem tanto "esticar" o Natal?
Parece ser bom. A ansiedade do comércio não é a principal razão para que as pessoas tentem, a cada ano, vivenciar um pouco mais de tempo no clima do Natal. Ao ser inquiridas sobre o assunto algumas são práticas, dizendo que a decoração natalina é cada vez mais elaborada e trabalhosa demais para permanecer por poucos dias. Outras admitem que esta é uma das fases mais esperadas do ano, lembrando valores que ficam esquecidos ao longo do ano, como paz, fraternidade, alegria e troca, família e luminosidade. E visual, sabor e cheiro únicos: luzes coloridas, delicioso cheiro dos pinheiros, panetones, roscas...
Mas os panetones, que antes apareciam em dezembro, anunciando a data, agora praticamente não saem das prateleiras dos supermercados durante  todo o ano. A decoração nas ruas e nas casas dura em média 3 meses. E os pinheiros naturais, com aquele cheiro gostoso, são cada vez mais raros, substituídos pelo pinheiro artificial.
Há quem afirme que tudo isso, mais do abandono de tradições que formam um "mix" de cristandade com crenças e folclore, está tirando da comemoração o seu melhor sabor.
TRADIÇÃO MUTANTE
A tradição no entanto vem mudando sempre e recebendo adaptações de acordo com fatores culturais, sociais, ambientais ou comerciais. Festa basicamente cristã, que teria surgido no ano de 336 em Roma, ficou marcada com o dia de São Nicolau, dizem algumas fontes em mérito do Papa Nicolau, no século IV. Ele costumava presentear os pobres nos dias 5 e 6 de dezembro (que foi considerado o Dia de São Nicolau, que "abre" as comemorações natalinas que culminam na véspera do dia 25)
As coisas mudam: a moda para espaços pequenos dos
apartamentos é a arvore de natal invertida...quem diria!
Seja como for, a cada fase a tradição ganhava algum adereço. Nicolau transformou-se em Papai-Noel e na metade do século XX , ganhou a rena com nariz vermelho, com a ampliação do comércio na data. 
O problema, neste inicio do Terceiro Milênio, é que o Natal está perdendo a sua mais preciosa característica, que é a confraternização entre as pessoas, dentro e fora da família. 
Tradições que mantinham esse elo estão desaparecendo. Como a reunião na Missa do Galo, a troca de cartões com mensagens, a remessa de pequenos presentes e lembranças, como frutos da época e doces, a pessoas conhecidas. 
Mais impessoal, a comunicação é feita virtualmente por aqueles que tem o hábito de navegar na Internet - uma minoria das pessoas. Os amigos trocam presentes de maneira mecânica, através de sorteios em amigos-secretos que no final das contas são sempre criticados ou já determinados antecipadamente. Em alguns lugares, como nos EUA, o "forte" da tradição no dia 25 é comida, jogos especiais e grandes promoções das lojas de departamentos!
Apesar de tudo, a ideia é vivenciar ao máximo uma data tão especial, que encerra a emoção que todos sentem necessidade de expressar sem receio. 
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