Tuesday, December 06, 2011

A TAL FELICIDADE

Fim de domingo, encontro com algumas pessoas que não via há muito tempo, todas elas diferentes, idades variadas, interesses opostos e desconhecidas entre si, mas com alguma coisa em comum: uma nostalgia surpreendentemente descrita com as mesmas palavras. "Não sei explicar, mas entardecer de domingo sempre me deixa meio "deprê" (depressivo)...
É mesmo uma coincidência! Ou não? Afinal, o que é que tem de diferente o final de um domingo em relação a outro dia qualquer? A expectativa da segunda-feira, talvez?
- É, pode ser sim, só de pensar em enfrentar aquele trânsito de novo, pô meu, ninguém merece...
Foi esta uma das respostas. Pensei sobre ela. Poderia ser uma explicação, já que na sexta-feira a situação se inverte. Todo mundo adora uma sexta-feira, muito mais do que o sábado ( engraçado isso). Mas se assim é, por que pessoas que não trabalham na segunda-feira também parecem sentir essa "síndrome nostálgica" do fim de domingo? O problema seria a expectativa?
Essa expectativa parece ser o "calcanhar de Aquiles" da humanidade. Pretende-se sempre esperar que tudo se conserte, que as emoções se organizem e que surjam fatos que permitam a todos atingir subitamente a felicidade. Mas nenhuma situação ou emoção surge "do nada". Tudo que existe tem uma origem e um desdobramento.
Entende-se por felicidade o absoluto bem estar físico e mental. Tão absoluto que para grande parte das pessoas esse momento ideal acaba tornando-se inacessível, boiando em alguma montanha escarpada ou flutuando sobre abismos imensuráveis. 
- Felicidade não existe! - garantiu alguém - Esse negócio de felicidade só estraga, tem gente complexada, revoltada, odiando o mundo, por achar que foi discriminada pela vida, se aprender que é tudo ficção vai ser melhor.
A expectativa acaba tomando a forma de desdém, como na fábula da raposa e das uvas. Para que me preocupar com aquilo que não posso ter e que por esse motivo pode não existir? 
Pensamentos azedos demais para uvas que vão amadurecer um dia e que podem ser mais doces do que nossa imaginação supõe. Se a raposa não tivesse tamanha ansiedade e expectativa em alcançar as uvas que parecem inacessíveis, teria a oportunidade de provar sua doçura ainda que o peso dos cachos maduros vergassem até ela. 
A tal felicidade, que tantos desejam e outros tantos desdenham por não a conceber, é mais acessível do que imaginamos, se prestarmos atenção ao fato de que ela não é um pontinho flutuante, mas simplesmente um espaço dentro de nossa própria consciência, geralmente espremido e reduzido pelo excesso de expectativas e ansiedades superficiais que tomam nosso tempo e embotam nossos sentidos.
Tanto isso é verdade que quanto mais superficial o mundo se torna, maior é a quantidade de antidepressivos e outras drogas ingeridos pela humanidade. Para alegria ( seria a tal felicidade?) da industria farmacêutica e dos laboratórios de manipulação.
O "conhece-te a ti mesmo" que mantém-se moderno há alguns milhares de anos, pode ser a origem da felicidade, pois obriga a mente a trabalhar em sintonia com o mundo das idéias e não o mundo do consumo de carros milionário e mansões que supõem-se ser o passaporte para se atingir status e estado de absoluta felicidade. 
Será que quando possuímos mansões, carrões e bilhões, espantamos de vez aquela nostalgia e a ansiedade de ser feliz? Uma pesquisa que cruzou o PIB (a riqueza gerada por cada país) das maiores economias do mundo com o chamado índice de Gini, que mede a desigualdade social e tentou estabelecer com base nesses dados o índice de satisfação com a vida mostrou que nem sempre riqueza e menor desigualdade são sinônimos de felicidade. Aliás o Brasil registrou um índice de satisfação com a vida muito maior do que outros países mais ricos.
O que podemos constatar? Que a tal felicidade é relativa, pois envolve fatores subjetivos. Qualidade de vida, no entanto, parece ser fundamental para a felicidade, mas não necessariamente o dinheiro, ainda que o dinheiro possa ajudar a se obter melhor qualidade de vida. Mas o conhecimento, a saúde, a capacidade de enfrentar os desafios da vida com bom humor e tolerância, a sabedoria para transformar subjetivos fracassos em bem sucedidas experiências, o respeito ao meio e a capacidade de integração à natureza são fatores considerados preponderantes para um indivíduo sentir-se bem. Ou feliz! (Mirna Monteiro)

2 comments:

  1. Angel4:55 AM

    Desejo a você...
    Fruto do mato
    Cheiro de jardim
    Namoro no portão
    Domingo sem chuva
    Segunda sem mau humor
    Sábado com seu amor
    Filme do Carlitos
    Chope com amigos
    Viver sem inimigos
    Filme antigo na TV
    Ter uma pessoa especial
    E que ela goste de você
    Música de Tom com letra de Chico
    Frango caipira em pensão do interior
    Ouvir uma palavra amável
    Ter uma surpresa agradável
    Ver a Banda passar
    Noite de lua Cheia
    Rever uma velha amizade
    Ter fé em Deus

    Esta receita é de Drummont de Andrade.Achei muito interessante para complementar esta maravilhosa materia,parabéns. abraços

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  2. Anonymous10:54 AM

    Existe uma nostalgia que é comum a todos......inexplicavel....

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