Sunday, May 09, 2010

MÃE E O TERCEIRO MILÊNIO




As mulheres mudaram, obviamente as mães mudaram também. E com isso toda a sociedade, já que é o principal papel da mulher era o de orientadora de grande influência sobre a prole.

Era ou é? Sinceramente acredito que ainda seja assim...em parte. Não é possível concordar com quem diz que os filhos "se viram"e que criancas e adolescentes principalmente não precisam dos olhos atentos e da paparicacão da força materna.

Mas a sociedade muda e a opinião a respeito da maternidade e paternidade também. O problema é que não está acontecendo uma divisão equilibrada entre pai, mãe e tempo para os filhos. Quanto menos tempo a mulher tem para os filhos, mais eles crescem influenciados pela filosofia do colégio, das ruas e do mundo virtual.

Precisamos avaliar se a sociedade ganha ou perde com isso? Obviamente não, pois basta observar que conforme a mulher ganhou autonomia e auto-suficiência e maior é sua ausência na educacão dos filhos, mais problemáticas se tornam as pessoas.

Nos séculos passados a mulher era formalmente educada para educar e manter a família em equilíbrio. Questão de sobrevivência.

"Uma boa dona de casa sabe que a casa é o coracão da família (...)todos os dias pela manhã abra as janelas, deixe o ar circular e o sol entrar (...) O ambiente deve ser mantido limpo para a saude de todos..."

Receita de um livro editado em 1938. Quem diria que hoje a maioria das mães sequer pode abrir janelas sem correr o risco de invadir a casa com monóxido de carbono, poeira e ácaros?




"As roupas das camas devem ser trocadas com regularidade, sempre frescas (...)a limpeza da casa deve ser primorosa e uma boa solucão para desinfetar o assoalho é uma solucão de vinagre e borax (...)

Hoje? Na correria do dia a dia, litros e litros de desinfetantes são jogados sobre pisos e privadas, quase sufocando a familia com perfumes artificiais que espremem os brônquios. A sujeira em geral fica eternamente mascarada! Lencóis frescos? Em geral ededrons empoeirados, de preferência coloridos para evitar que a sujeira apareca...

(...)Criancas precisam de cuidados especiais (...) bebês devem receber o leite materno até os dois anos de idade, com a adicão de purê de frutas frescas e creme de legumes a partir de um ano (...)

Um bom conselho, mas 60 anos depois esse livro seria queimado pela indústria dos potinhos de papa de bebê e do leite cheio de aditivos vitaminados, que juntamente com racões esquisitas e cheias de gordura saturada compõe a alimentacão das criancas.

(...)criancas precisam de ar puro e muito movimento, para desenvolverem-se bem. Estimule brincadeiras ao ar livre pela manhã (...) Estimule a leitura, contando histórias, principalmente na hora de dormir (...) O melhor horario para a petizada ir para a cama é de duas a três horas após o por-do-sol (...) o momento deve ser especial, tranquilo, com luz indireta (...) leia uma história calmamente para seus filhos (...)

Ah! Hoje? Quando criancas passam o dia na frente da televisão e da internet, atividade ao ar livre? Que piada! Dormir entre 20 horas e 21 horas? Só se forem os pais, porque as criancas ficam navegando na net até de madrugada, fingindo que são adultos.

(...)Uma boa mãe mantém a familia unida e organizada, com as refeicões em horários regulares, sempre feitas com alimentos frescos e saborosos (...) em um ambiente de respeito e carinho as criancas são mais saudáveis e menos propensas a doencas (...)

Bem, é uma pena que isso tenha sido perdido, porque a crianca, hoje, vive em hospitais e consultórios médicos, ingerindo drogas que na maioria das vezes poderiam ser evitadas com alguns cuidados básicos de higiene e alimentacão...e atencão!

A conclusão é de que quem escreveu esse livro era extremamente sábio e saudável em 1938. Sorte de seus filhos. As mães de hoje nunca imaginariam uma coisa dessas! Em geral, quando amamentam o bebê, amamentam por no máximo 6 meses e a maioria desconhece o que seja comida fresca.



Fazer o que? É preciso trabalhar, para pagar a escola caríssima que vai educar, alimentar e criar a personalidade de seu bebê! Ser mãe hoje não é sofrer no paraiso, porque o paraiso fica sob cuidados de terceiros, que podem ou não ser a representacão do bem ou do mal!

Se bem que a valorizacão da vida caiu tanto de cotacão neste novo século que há mães supreendendo pelo desdém aos filhos. Pior, cometendo atos marginais e violentos e chegando mesmo a ferir a própria prole. Sinal do apocalipse, porque a mãe sempre foi o único colo de absoluta confianca para o ser humano! Aquele que gerou, amamentou, cuidou, amou e protegeu.





Se isso está mudando...quem poderá proteger a humanidade?

Ironias de lado, a verdade é que ser mãe, hoje, é diferente, sem dúvida! Mas a necessidade de tudo aquilo que a mãe sempre representou para os filhos, continua a mesma coisa.
Talvez a saída seja ampliar esse papel, dividindo sua enorme importância entre pai e mãe. É importante que o homem assuma responsabilidades que antes eram inerentes apenas à mulher, participando com  maior intensidade da vida dos filhos. Se assim for e essas deficiências que encontramos hoje em uma sociedade em mutação forem divididas responsavelmente entre pai e mãe, tudo poderá ser melhor do que outras fases da história humana.  Amor de mãe,. amor de paí, filhos mais felizes, sociedade mais evoluída!

Thursday, May 06, 2010

ETERNA JUVENTUDE

Ouve-se mais comentários a respeito do envelhecer, do que do viver...É tamanha a preocupacão, que chega-se a uma conclusão: o ser humano, racional, está se rebelando demais contra a ordem natural das coisas!
Em "O retrato de Dorin Gray", Oscar Wilde tenta sintetizar a preocupacão humana diante do envelhecimento do corpo, barganhando com uma tela que retrata o jovem Gray o desgaste causado pelo tempo. O quadro com sua pintura passa a "assumir" seu envelhecimento, enquanto Dorin Gray permanece lépido e faceiro, eternamente jovem, como sempre sonham os homens!
Claro que no final das contas não dá certo e Gray é obrigado a encarar o seu retrato nos tons aguados da velhice extremamente avancada e consequentemente a morte. Pois o medo da velhice está intrinsecamente ligado ao medo da morte.
Temos o complexo de "Dorian Grey"! Wilde na sua época utilizou retrato, hoje utiliza-se o bisturi. Entre outras coisas, como botox, preenchimentos, cremes mágicos, fios de ouro ou de plástico, enfim, uma infinidade de recursos que pretendem manter a aparência mais jovem.


E por dentro? Calma, existem recursos ortomoleculares! E no futuro a genética deverá criar outras maravilhas, a ponto de retardar o envelhecimento do organismo e permitir uma longevidade ainda desconhecida.
Ah, se Wilde soubesse que chegaríamos a este ponto!...Cleópatra, com seus banhos de leite, ficaria assombrada! Até a louca Condessa Elizabeth Bathory, que assassinou, bebeu e banhou-se no sangue de garotas para manter sua juventude e beleza, iria lamentar ter nascido no século XVII e não no terceiro milênio, em séculos que desafiam o universo!

Mas será que resolve mesmo? Por várias vezes a cantora Madonna, linda aos 50 anos, foi duramente criticada por manter uma performance nos palcos jovem e sensual.
Aliás todas as mulheres que se conservam maravilhosas após os 40, 50, 60 e até 70 anos (veja a Rachel Welch, que vai completar 70 em novembro) são criticadas. Parece um beco sem saida: se a pessoa não se cuida, é velha e deve ser "encostada"; caso se cuide e mantenha a saúde e a aparência de juventude, é "ridícula"...
Isso quer dizer que existe mesmo um "complô" contra aqueles que vão envelhecendo, na disputa pelo mercado de trabalho, no argumento de que tudo deve ser renovado. Os jovens sentem-se em desvantagem, pois a maturidade e a experiência podem fazer milagres que a forca da juventude, sua ansiedade e prepotência não conseguem!
Agora a situacão, pelo jeito, será invertida...a maioria da populacão mundial está amadurecendo! Ou seja, nas próximas décadas teremos 80% da populacão mundial acima dos 60 anos! E então? É bem provavel que a ciência já tenha, a esta altura, concluido pesquisas que permitirão a renovacão do organismo e a longevidade de mais de uma centena de anos não seja absolutamente rara.
O mundo será, então, fundamentalmente integrado por pessoas maduras!
O drama da humanidade, que sempre foi não envelher, pode finalmente estar bem próximo de deixar de ser dramático! Pois se a morte pode ser prorrogada, o tempo não é mais um inimigo iminente...apesar de sua relatividade...Pois se cem anos hoje é pouco, 300 anos que parecem muito agora, vão se tornar curtos demais também!
O que vai levar o homem a desejar a vida prorrogada indefinidamente. Tempo e velhice serão pormenores. O negócio será viver cada vez mais. E como o ser humano nunca está satisfeito (e tempo sempre será relativo)por mais que prolongue a sua vida ele vai chegar a desejar o impossível nesta cadeia natural de reciclagem orgânica: viver para sempre!
Nesse ponto voltamos para trás, para o amadurecimento, o envelhecimento e a morte, nesta primeira década do terceiro milênio. Por que resistimos tanto em aceitar o ciclo natural da vida? Nos tempos primitivos, a velhice era rara, pois todos morriam jovens, nas guerras e doencas. Hoje é farta, repleta de opcões.
Não vamos também fazer apologia a velhice! Pois corre-se o risco de receber respostas atravessadas.
- Nossa, mas você está tão bem com 80 anos! Reclamar do que?
-Do que? Escuta aqui, quem sabe disso é minha escoliose, minha artrite e minhas pontes de safena!

...É, envelhecer é sempre difícil, pois a natureza não barganha retratos, bisturis e botox. O corpo muda, mesmo quando as pessoas envelhecem de forma saudável, porque as mudancas não acontecem na maturidade apenas, mas a vida toda: somos um organismo em constante mutacão, desde a formacão da vida no útero!
Mudancas são mudancas e quando acontecem em sintonia com a natureza, não podem ser ruins.
Talvez ao invés de tentar mudar a natureza devessemos aprender a escuta-la, observa-la e aprender com seu ritmo.
Talvez aí esteja o segredo da juventude eterna. (Mirna Monteiro)

Thursday, April 08, 2010

PECADOS

Pecado tem uma conotacão bíblica.Para muita gente significa mera repressão. O que não parece corresponder a verdade, já que a palavra pecado tem uma conotacão ética, ainda que possa ser distorcida e abusada em sua interpretacão...

Nossas leis são baseadas na ética e moral e são fundamentais para que haja convivência comunitaria, mas também comercial. Em resumo, regras existem para permitir a sobrevivência comum e evitar o caos!






Mas a questão é a seguinte: pecados podem ser dimensionados em sua gravidade? Digamos que, se Sócrates estava certo, e parece ser dele a definicão mais imparcial, e o pecado é o oposto da virtude, enquanto que a maior virtude é a sabedoria, o pecado poderia ter gravidade variada, de acordo com a dimensão de seu dano, ou da ignorância do seu ato!

O que reduziria também, em uma ou outra circunstâncias, a virtude de quem imagina ser imune ao pecado...




No dia a dia alguns detalhes de acontecimentos corriqueiros - tão rotineiros que se não prestarmos atencão não os perceberemos- levam a um choque de interesses e, consequentemente, a um estado interessante da sabedoria versus pecado, ou da felicidade versus ignorância.

Exemplo? digamos que uma mulher esteja vendendo filmes pirateados, meio camuflada entre a multidão. Discretamente ela aborda uma ou outra pessoa. Bem discretamente, pois seu ato é ilícito, certo?

Bastante tentador o preco baixo. Um casal abordado hesita. "Estou louco para ver este filme aqui", diz o rapaz, já retirando o dinheiro do bolso. A namorada balanca a cabeca :"Pirata, amor, deve ser cheio de defeitos!"... os três discutem a questão da legalidade daquele negócio.

Três visões diferentes de um mesmo problema: o rapaz, louco pelo filme a preco de banana; a namorada, hesitante e preocupada com a legalidade do negócio que dificulta a troca por defeitos eventuais no produto; a vendedora, que havia saido de casa as cinco horas da manhã e enfrentava a oitava hora de jejum, sem café ou almoco, garantindo que não havia motivo para preocupacão.

Três pecados diferentes. Ninguém aqui parece virtuoso! Quem está cometendo o pecado maior?

Do ponto de vista legal o maior "pecador" ou infrator nem esta ai: seria o autor das copias piratas, embora isso nao suavize a acao de outros envolvidos!

Um assassino em série, estuprador e cruel, é preso e pouco tempo depois é encontrado morto em sua cela. A opinião pública se divide: o sujeito foi morto na prisão? Nesse caso ele merecia ou não a pena de morte improvisada? Quem cometeu o maior pecado, o assassino de mulheres ou o assassino do assassino de mulheres, que sobreviveria em um país onde a Justica é relativamente branda com matadores?

Nietzsch abominava a idéia do pecado pois só conseguia entende-lo pelo ângulo doutrinário, através da concepcão religiosa, que o enfurecia. Tanto que ele formalizou a sua interpretacão crítica dos valores morais defendidos pelo cristianismo, refutando o "ideal", mas esquecendo-se que, no final das contas, a amoralidade torna a sociedade incontrolável.

O que, na linha pessimista de Schopenhauer é absolutamente natural. Para ele a vida humana é dominada por egoísmos rivais. A satisfação de um indivíduo necessariamente acarreta o sofrimento do outro.

Defendendo a idéia de que o egoismo é uma postura natural de um ser em relação a outro a interpretacão do pecado se transforma. O ser humano passa a ser um animal sem consciência ou apego a um semelhante desde que isso não seja fundamental no momento para a sua sobrevivência.

Isso responde questões tão diferentes como os exemplos acima. Não é possivel comparar um ato ilegal - que é a compra e venda de produtos piratas - com o ato de assassinar alguém, que seria pela lógica a pior e mais grave acão do homem contra o meio.

No entanto isso não reduz ou diminue a gravidade de cometer uma ilegalidade. Ainda assim nos consolamos criando uma escala pessoal de valores, que tenta se encaixar nas regras que regem o meio. O sujeito que compra o filme pirata acredita que esta ajudando a vendedora que sustenta quatro filhos sozinha e esta argumenta que nao pode morrer de fome ou deixar sua prole a inanicao...o autor da fraude por sua vez deve achar que a infracao e leve embora rentavel e que seu pecado nao agride a sociedade, apenas o grupo envolvido na execucao do filme...

Muitos pontos de vista sao irritantes nestas questoes...pecados tornam-se maleaveis como material emborrachado! Verdade que quem rouba um quilo de feijao merece perdao que aquele que rouba a carteira nao merece! O problema comeca quando o pequeno pecado leva a uma oportunidade de crimes perigosos.

Thursday, April 01, 2010

DIA DA MENTIRA

Mentira não tem dia. Quer dizer, deveria ter e tem justamente hoje, primeiro dia de abril, quando pegadinhas e mentirinhas são completamente perdoáveis e ninguém pode reclamar da cara de tacho deixada por alguma inverdade...

O problema é que está perdendo a graca, tamanha a enxurrada de mentiras com as quais somos obrigados a viver o ano inteiro. Quando ouvimos algo ou alguém sempre nos perguntamos: "Mas será que isso é verdade"?

Tem sido assim. Imagine então neste ano eleitoral, quantas pegadinhas e inverdades serão ditas pelos políticos que disputam o poder?

Uma pena que o Dia da Mentira não tenha mais aquele papel irônico e "sarrista" de tempos passados. Como ocorreu em 1957, quando a BBC publicou uma noticia a respeito de uma safra recorde de espaguete nas propriedades rurais por causa do clima ameno.





Muita gente se divertiu na época, porque poucas pessoas pararam para pensar que macarrão não cresce em árvores...ou cresce?

Verdade que l de abril não se prestava apenas a mentiras, mas principalmente a pegadinhas mesmo. Algumas que arrancavam lágrimas de suas vítimas, principalmente de colegiais. Outras verdadeiramente dramáticas, como a divulgacão de um vencedor de algum prêmio milionário, que fazia o "vencedor" dar saltos de alegria e de fúria depois de perceber que havia sido vitima do Dia da Mentira.

Hoje em dia tem gente recebendo a mesma notícia todos os dias do ano, de prêmios milionários que se transformam em golpes de estelionários ou viram surpresas desagradáveis de virus nos e-mails. Sem contar com lotéricas que esquecem de registrar o jogo...

Bom seria que fosse apenas um dia no ano! Mas pelo visto o único dia que não tem mentiras e pegadinhas é justamente nesta data de hoje! Por isso o dia 1 de abril vai ser oficialmente declarado o Dia da Verdade!

Perdeu a graca!





Perdeu a graca? Mentira! Primeiro de abril para você!

Thursday, March 25, 2010

FAZER JUSTIÇA

Em uma sociedade onde os valores se confundem e os abusos são cada vez mais comuns, a busca da punição de pessoas que cometem crimes torna-se mais complicada.

A justiça é um mecanismo, não é a essência humana. Representa uma necessidade do elemento humano. Quer dizer, necessitamos desse mecanismo para equilibrar o meio e permitir a sobrevivência. O senso de ética e respeito, de direitos e deveres pode ser inerente ao ser humano, mas a sua interpretacão e seu peso e medida vão depender das circunstâncias de sobrevivência.





Se para sobreviver é preciso ordem e limites que determinem o espaco individual de cada ser no meio coletivo, não bastam as regras. Dependemos do peso da punicão para garantir que o indivíduo supere seus impulsos de sobrevivência ou dê vazão a instintos primários, sem considerar o meio. Ou seja, o controle das acões será regido pelas leis da coletividade apenas no caso do indivíduo sentir a sua coesão e a eficiência de sua acão como se fosse imponderável.

O conceito pode ser adequado, mas a prática...Como todo mecanismo humano, há falhas, as vezes leves, as vezes tão grosseiras que tornam o resultado oposto ao próprio ideal de Justiça. Não basta existir a legislacão. A maior falha está na aplicação da lei, porque para isso dependemos do elemento humano.


Em "A República", Platão descreve o ideal de uma sociedade harmônica, pacífica e fraterna, que impede o caos social. Os dirigentes locais são racionais, o egoísmo não existe e as paixões ficam sob controle.Interesses pessoais não estão acima dos interesses coletivos.





Século IV A.C! Platão, discípulo fiel de Sócrates, sabia que a interpretação da sociedade perfeitamente organizada e com um sistema de justiça operante e funcional dependia do aprimoramento do caráter humano. Portanto, era utópico!

Sócrates sabia que o maior entrave para o equilibrio social estava no próprio homem que buscava a sobrevivência pisoteando os próprios recursos que iriam garanti-la. O poder que permitia defesa de agressores também criava vulnerabilidade no meio. A única maneira de conseguir respeito ao semelhante e ao espaco coletivo equilibrado sem o uso das regras e da punicão a quem as violasse seria o aperfeicoamento do caráter humano. O fim da ignorância, a celebracão da sabedoria!...O que pelo andor da escola de filosofia da época, extremamente temida pelos centros de poder, seria realmente uma utopia...

A situacão permanece, camuflada por novos conceitos. A mesma sociedade que cria os mecanismos de Justica para se proteger, alimenta os desajustes criados pelos mecanismos de poder, nos lobbies junto ao congresso, que influenciam a protecão de grupos em detrimento do conjunto social, entre os próprios políticos e entre parte das pessoas que atuam diretamente em setores essenciais.



O resultado é a sensacão de impotência popular. Lado a lado ao conceito vulgar de que é preciso "levar vantagem em tudo" encontramos a realidade de acões que contrariam os princípios de equilibrio social, neutralizando os esforcos para combater a violência e a corrupcão.

Uma sociedade sem egoísmo e igualitária é utópica. No entanto mecanismos que determinem limites para uma convivência pacífica podem ser realidade.







Por toda a história da humanidade, "quebrou-se o galho" com o exercício da justiça e o aprimoramento do Direito em nada mudou o problema essencial.

A lei nem sempre é justa. Um exemplo? O sujeito que rouba um pão porque está com fome - e portanto estaria exercendo o seu instinto primário de sobrevivência- é submetido à pena da lei da mesma maneira que o malandro que rouba um objeto supérfluo.

Há atenuantes e agravantes que pesam na pena de um crime. Mas nesse caso o mecanismo da Justiça deveria funcionar como um relógio, no compasso dos acontecimentos. Como isso não acontece, aqueles que roubaram o pão e outros que cometeram um estelionato ou outras modalidade de roubo(e no nosso sistema atual mesmo quem comete crimes muito mais graves) ficam detidos em uma mesma cela, a espera do julgamento, que poderá levar muito tempo.

Outro exemplo de falha? O próprio princípio do Direito, que diz que ninguém é culpado até prova contrária e portanto não pode dispensar um defensor. Os juristas dizem que qualquer crítica a respeito é devaneio do leigo, pois o direito não poderia ser exercido de outra forma.

No entanto, do ponto de vista de quem sofre a criminalidade ou atos violentos, para que esse aspecto fosse entendido e digerido, haveria necessidade de absoluta funcionalidade. E de que maneira isso seria funcional: que com os direitos preservados de acusação e defesa, Justiça fosse realmente feita.

Mas o mesmo sistema que precisa garantir direito de defesa, não pode garantir um resultado justo! Um assassino que pague um jurista competente pode conseguir liberdade, enquanto que um inocente que não tem recursos financeiros para defesa pode ser condenado por um defensor público menos interessado!

Estamos fadados a manter um sistema judiciário que não funciona direito? Os argumentos que tentam justificar as falhas parecem insuperáveis!

O resultado de um julgamento como o ocorrido com o caso Nardoni alivia a pressão e o medo do cidadão comum que tem consciência da fragilidade da nossa Justica. O fato de políticos corruptos denunciados serem alvo da Justica também alivia a impressão de uma sociedade onde a mentalidade do "vale tudo" deturpou valores e desencadeou uma espécie de caos ético.

No julgamento dos acusados de assassinar a menina Isabella Nardoni, pessoas que se reuniram na frente do Fórum ou acompanhavam os relatos através da imprensa surpreenderam-se com o advogado de defesa do casal, que utilizava argumentos como o de que "não havia provas"! E no entanto esse assassinato reuniu um dos trabalhos mais minuciosos de coleta de provas. Algo ainda inédito no Brasil, com novos recursos que permitiram recriar os acontecimentos.

Um trabalho com coleta de provas submetidas a comprovacão científica de detalhes que forneceram um histórico com mínima margem de erro do que havia ocorrido desde que a família havia estacionado na garagem do prédio, até o momento em que a policia foi chamada, após a menina ser atirada pela janela.

É ético o fato de juristas utilizarem argumentos a respeito dos quais não tem comprovacão a não ser a versão de defesa do cliente, que podem ser falsos ou pouco nobres? Ou seja, defesa e acusacão estariam acima de qualquer conceito ético ou moral? No entanto, se não houver um defensor, o julgamento de uma criminoso não pode acontecer!

Essa é uma pergunta desprezada pelo fato de que seria pueril e utópico, assim como a "República" de Platão. Além disso se não houver um defensor, o julgamento de uma criminoso não pode acontecer!

No entanto sem ética e moral não pode haver justica ou qualquer mecanismo judiciário funcional!

Caso os Nardoni tivessem admitido o crime e demonstrado arrependimento suficiente para convencer o júri, provavelmente seriam condenados com uma sentenca mais leve. Isso aplacaria o desespero popular diante de um crime que representa o medo da sociedade diante de uma violência que se instala dentro da própria familia, último reduto de convivência pacífica e auto-protecão?

A resposta a isso não é tão importante como a urgência de delimitar o que, afinal, é certo e torna a vida mais digna e os demônios sob controle. A única maneira de reduzir essa confusão ética e moral na sociedade é manter uma crescente rigidez em relacão à punicão de quem comete crimes, sejam eles na esfera criminalista, seja na civil.

Não é possivel organizar a sociedade e considerar o sistema judiciário ativo e competente com casos isolados de punicão de assassinos ou a tolerância a "casos menores", como processos por crimes de colarinho branco ou de irresponsabilidade civil. (Mirna Monteiro)

Thursday, March 11, 2010

COTIDIANO

Círculo medicamentoso
A cena se passa em um consultório médico:
- Doutor, não sei o que acontecendo comigo, ando muito esquisito. Imagine que quando vejo pessoas sofrendo ou cenas dos ataques israelenses na Palestina, ou mesmo criancas da Biafra...eu choro!
-Hum...vou receitar um antidepressivo...
-Mas este? Eu tenho problemas de gastrite!
- Sem problemas, vou receitar este aqui também.
- Mas doutor,esse ai ataca meu fígado, que está meio cirrótico...
- Ah, não tem problema, vou acrescentar mais este remedinho aqui...
- Mas...não sei não, é que já tomei esse duas vezes e ele me dá insônia!
- Isso não é problema! O senhor vai tomar duas horas antes de deitar também este outro medicamento aqui! Vai dormir como um anjo..
- Eu tenho de acordar cedo, pegar trânsito pesado e...
-Ah, fique tranquilo, logo que acordar o senhor toma esse aqui...calma que tenho amostra grátis, é uma cortesia!
- Será? Sabe  o que é, já tomei duas vezes e esse tipo de medicacão dispara a minha pressão arterial, me dá uma paura, parece que vou ter um treco!
- Bom, para garantir, vamos fazer outra receitinha para este aqui, que vai ajudar se der enjôo também.
- Mas eu li  na internet que esse aqui deixa a pessoa agitada agitado e...
- Acalme-se, por favor. Ainda não terminei. Esse aqui e mais este aqui, vai ficar tranquilo, tudo azul e lindo!.
- Nossa, mas este aqui não é aquele que todo mundo fala que dá depressão?
- Sim, mas vou lhe receitar um antidepressivo.
-...outro?
- Ah, já lhe receitei o antidepressivo...Hum... certo!  Vamos apenas aumentar a dose...

Sunday, March 07, 2010

Que dia da mulher!





Não gosto muito de comemorar o "Dia Internacional da Mulher". Soa meio estranho, como um tiro que sai pela culatra: pretende-se dimensionar a gratidão social pela acão feminina, e no entanto isso é absolutamente impossível, pois a mulher não é uma simples coadjuvante na sociedade humana.

Reforça a mentalidade geral que cria dificuldades para equilibrar a sociedade. Talvez um pouco tendencioso? Ou discriminatório? Seria exagero dizer deletério?




Ela, a mulher, não é complemento, é um ser inteiro, "é" a civilizacão humana, assim como o homem. Seria esquisito, pelo mesmo motivo, o "Dia do Homem". A não ser que isso tivesse o mesmo objetivo de outras tantas datas que visam sacudir o consumo. Humanos são os animais racionais e exagerados do planeta e a natureza criou as devidas diferenças, que são físicas. O homem inventou a discriminação pelo poder de maneira abusiva e absolutamente oportunista, porque já que a mulher paria, ele caçava.

Há quem justifique a deferência por causa do histórico de discriminacão feminina. "Pobre mulher, sempre achatada pela prepotência masculina"...Essa mania de querer simplificar situacões complexas da nossa civilizacão acaba nisso mesmo, em um dia por ano.

Ah, dirão outros, a comemoração se justifica pela sua origem, que data de 1857, em 8 de marco, quando em uma greve operárias têxteis de uma fábrica de New York acabaram fechadas dentro do local de trabalho que foi incendiado. Cerca de 130 mulheres morreram. Em 1910, durante uma conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher".

Durante décadas não se falou muito no assunto, até que a partir dos anos 80 o mundo lembrou de comemorar a data e a prática foi crescendo.

Quer dizer, uma data que pode ser um bom motivo para lembrar o quanto a situacão da mulher mudou quase nada desde do final do século IXX. Acha que mudou muito?

Não, não mudou muito. A mulher do século XXI é a do século IXX.






O que mudou? A mulher é hoje poderosa na economia mundial e assume cargos políticos...mas nunca antes foi tão sufocada, sofrendo abusos diversos e estourando as estatísticas de maus tratos e assassinatos!

As mulheres são maioria nas universidades e ocupam cargos em todos os setores produtivos...É, é verdade sim, mas ela continua sofrendo a mesma discriminação salarial das americanas que morreram carbonizadas na greve de 1857.

Estamos no terceiro milênio e mulher ganha menos que o homem pela mesma funcão...

Há paises que ainda mutilam o orgão sexual das meninas, para que no futuro o corpo não funcione para o prazer. E em outros lugares, como a China e a Índia, recém-nascidos do sexo feminino são assassinados pela própria família por uma questão de dote. É que mulher dá prejuizo...

Esse negócio de um dia de comemoracão, como se de fato houvesse conscientizacão das tragédias da humanidade, poderia talvez surtir efeito se ficassem definidas as distorcões geradas no meio, de maneira a evitar que permanecessem gravitando em torno da mulher.

Mas, infelizmente, somos uma civilização que tenta desvendar o universo e está prestes a descobrir a origem da vida na Terra, enquanto mantém em seu quintal sociedades absolutamente atrasadas.

A mulher não conquistou seu espaço. Cada mulher que nasce tem pela frente o desafio do esforço contínuo para sobreviver, ser respeitada e construir a sociedade. Talvez ela conte com novas circunstâncias, em um mundo onde cada vez mais a verdade vem à tona por força da comunicação. Mas essas mesmas circunstâncias acabam distorcendo sua imagem e impondo outros rótulos.

Tudo se tornou tão confuso que tem mulher que critica mulher que escolhe ser mãe e esposa ao invés de uma executiva cheia de sucesso e cirrose.






Mulher é pressionada de todos os lados, quando come e quando não come, quando trabalha a sociedade ou quando trabalha o próprio ego. Não há alternativa!

Encurtando a história, a verdade é que a mulher, o homem, a criança e a natureza são a mesma coisa. Não há como separar, por maior que seja a necessidade política de segregação para exercício do poder. O que se quer é o equilibrio que nunca existiu!

No final das contas, tudo bem...que mal há em um dia de comemoração? Desde que não seja paternalista ou extremista ou consumista, ou puxa-saco, enfim, um dia de festa para compensar o ano de alheamento e omissão, ou para aliviar a consciência da negligência com a vida.

Mas as conquistas que deveríamos comemorar, ah, essas ainda não aconteceram! (Mirna Monteiro)

Tuesday, April 28, 2009

O VERBO DEMOCRATIZAR

Democracia é mesmo um problema, mas é surpreendentemente reveladora. Veja bem: Sócrates criticou a democracia ateniense, que era democrática até certo ponto (que o digam as mulheres e os escravos) e no final das contas acabou tendo de beber cicuta, uma bebida um tanto quanto drástica, extremamente letal e dolorosamente facista.
Citando o berço da democracia da nossa confusa humanidade, é preciso lembrar que Aristóteles já desconfiava que a democracia esbarrava em um erro de interpretação... "devido ao fato de que todos são iguais em certo sentido, acreditou-se que todos fossem absolutamente iguais entre si"...
Outro dia, em um site de relacionamento da internet, o assunto em discussão era ela mesma, a democracia! Muitos estavam participando, ansiosos por opinar em um assunto tão fundamental para a sociedade humana. "Democracia no Brasil não existe" afirmou um sujeito, incógnito sob o apelido de "Traça-tudo". Muitos responderam e iniciou-se um bate-boca (bate-tecla?)a respeito. "Claro que existe, senão a gente não ia estar aqui falando besteira", concordaram alguns.
Em resumo, o debate tornou-se violento, um xingando o outro. Principalmente quando alguém escreveu que democracia era um verbo esquecido. Foi quando Traça-tudo atingiu o auge de sua fúria desbocada e escreveu em caixa alta: "quem falou que democracia é verbo, seu burro?"...
Pois é! É esse o problema. As pessoas ainda não aprenderam que para discutir democracia, é preciso conhecer a conjugação do verbo democratizar! Aí reside a principal igualdade democrata! Parece certo dizer que democracia permite a todos um mesmo ponto de partida mas, quanto ao que será atingido, depende de cada um.
Talvez fosse interessante repetir algumas conjugações do verbo Democratizar. "Se eu democratizasse", para "democratizares tu", então "nós democratizaremos" e portanto "vós democratizaríeis " ao invés de "democratizem vocês", oras!
Aí talvez pudessemos considerar o que já está democratizado! Não simplesmente do ponto de vista semântico, mas na prática individual, na relação do dia a dia, com o respeito aos princípios da cidadania. Se não somos todos iguais, que as diferenças sejam respeitadas, em consideração ao verbo. Seria um bom começo...(Mirna Monteiro)

Tuesday, April 07, 2009

Mulheres no limite do risco

Os números são alarmantes: cada vez mais mulheres são assassinadas. Não apenas no Brasil. A violência contra a mulher cresceu em vários paises do mundo. Afinal, o que está acontecendo?
Nas discussões uma das causas apontadas é a mudança da ação da mulher no meio social, não assimilada pelo homem. A opinião é baseada em um dado da ONU (Organização das Nações Unidas) que afirma que em 70% dos casos de mulheres assassinadas no mundo todo o autor é o próprio companheiro.
Parece ser esta a realidade! Nos últimos anos as agressões à mulheres feitas pelos companheiros ou por ex-namorados ou ex-conjuges cresceu assustadoramente. O Brasil lidera essa estatística absurda.
Podemos considerar a grande incidência de assassinatos em El Salvador, por exemplo, ou em paises como o Irã e a Nigéria, onde a repressão é tão grande que o adultério leva a morte por apedrejamento. No Paquistão, o estupro coletivo continua sendo uma das formas de punição de mulheres consideradas desonradas, entre os grupos mais radicais. Em muitos paises africanos além do risco de assassinato, a mulher encara outras formas de violência, como a mutilação. Calcula-se que ao ano três milhões de mulheres perdem parte de seu corpo - o clítoris - em um ritual que persiste na tentativa de torna-las um mero instrumento passivo de prazer e procriação.
Mas e o Brasil, onde a cultura é multifacetada e a liberdade é amplamente discutida?
Bem, por aqui as coisas seguem confusas.Mulher ganha menos do que o homem no exercício da mesma função profissional, salvo honrosas exceções. Calcula-se que 25% das mulheres sofre algum tipo de violência. Quanto mais pobre, mais sujeita está à opressão contínua. O interessante é que as mulheres espancadas sustentam a família. As mulheres trabalham muito mais horas do que os homens no ambiente doméstico, mesmo quando elas cumprem jornadas de 40 horas ou mais fora de casa.
Ou seja, trabalham, cuidam da casa, sustentam a família e ainda apanham do companheiro.
A maioria considera que os filhos e a família vem em primeiro lugar, sendo mais importantes do que ela própria. A mulher em geral sofre calada. Ou morre! A maioria dos assassinatos é feita com arma de fogo, mas como podemos acompanhar nos casos escabrosos, facas ou simplesmente espancamento também terminam com a vida das mulheres.
Nesse caso nem mesmo quando pertence a classes socio-econômicas mais altas, a mulher fica imune. As agressões não respeitam idade ou classe social. A diferença está no fato de que mulheres que exercem profissões bem remuneradas tem maior chance de afastar-se de situações de agressão.
O aumento da violência contra a mulher preocupa o mundo pelo seguinte: é uma espécie de termômetro social. Embora a mulher tenha enfrentado a repressão e a violência por toda história da civilização, a sobrevivência da sociedade depende de seu equilíbrio no gerenciamento da família.
O alto índice de violencia contra a mulher demonstra que a sociedade está perdendo suas rédeas e caminhando perigosamente para o caos social, onde o desrespeito à vida torna-se insuportável.
Não se trata de uma questão de violência centralizada ou direcionada, mas de uma completa ausência de limites. E isso é uma verdadeira ameaça à sobrevivência humana.(Mirna Monteiro)

Tuesday, March 03, 2009

As amazonas

Mulheres guerreiras, dispostas a defender espaços e idéias, não são novidade. Há relatos antiguíssimos que falam sobre o assunto. Mas em geral essas mulheres são colocadas como "dissidentes sociais", que preferiram o isolamento, agrupando-se para evitar qualquer predação.

Bom, é possível entender. Se até bem pouco tempo atrás, no início do século XX, mulher não tinha direito de votar, nem de opinar na política do país (nem de sua cidade ou, via de regra, de seu núcleo familiar) é possível entender sim!
O problema é que os registros dessa "dissidência" não são exatamente imparciais...


Vênus de Willendorf

Nos antigos cultos acreditava-se que a origem era a mulher. Não havia deuses masculinos, mas a "deusa-mãe": a divindade era representada pela mulher. Mesmo nas histórias de nossos indígenas encontramos um a versão dos Uaupés sobre o antigo poder das mulheres, a sua derrubada e a ascenção dos homens, que teria acontecido pela intervenção do "Filho do Sol", o mítico Iuruparí. E foi um golpe baixo: Iurupari aproveitou-se de uma mulher que havia parado para urinar, jogou-a sobre uma pedra e violou-a, roubando seus objetos sagrados.

Quem primeiro narrou o mito das Amazonas foi Heródoto de Halicarnasso, no séc. V a.C. na obra História. Segundo a mitologia grega, as Amazonas eram filhas do deus Ares (deus da guerra, filho de Zeus) e da ninfa Harmonia (ligada ao culto dos deuses de Samotrácia).



E eram fortes e implacáveis segundo a mitologia. Talvez estivessem apenas defendendo o seu espaço, mas sabe como é, as sociedades primitivas eram bem cruéis com a mulher. Mesmo na época dos grandes pensadores, a mulher não tinha permissão para filosofar. Mesmo assim, tivemos, desde sempre, grandes filósofas.

A inteligência e o pensamento eram representados pela deusa Minerva (versão latina da deusa Atena) só que ela não nasce do corpo de sua mãe, mas da cabeça de seu pai, Zeus. Ou seja, era negado que uma mulher pudesse ser inteligente sem que houvesse permissão divina de uma figura preponderante masculina!

Tudo bem! Vai assim que as mulheres que não se enquadravam nos modelos criados pela sociedade sempre foram consideradas abusivas e combatidas. Como exemplo podemos citar
o confronto do oitavo dos "Doze Trabalhos de Hércules".

O desafio era o seguinte: depois do herói lutar contra monstros imbatíveis e aterrorizantes, ele recebeu a ordem de arrebatar o cinto da rainha das amazonas, Hipólita.

Hércules deve ter estranhado. Mas viu que a arrancar um cinto de Hipólita poderia ser mais difícil do que cortar as cabeças da Hidra de Lerna.

No final das contas, Hipólita apaixonou-se pelo herói. Por amor, ofereceu o cinto sem luta, mas a ciumenta mulher de Zeus, Hera (que odiava Hércules)disfarçou-se de amazona e provocou a confusão entre as hostes.
Hércules acabou por sacrificar, sem querer, Hipólita. Quer dizer, sem querer...querendo!
Pobre Hipólita!



Mas as histórias das amazonas são em geral coroadas de sucesso. Outra rainha das Amazonas, Talestris, teria vencido o rei persa, Ciro o Grande. Vitórias em tantos casos que as amazonas eram temidas pelos mais fortes!


Em todas as épocas, as amazonas impressionaram o mundo. Cristóvão Colombo, no regresso da primeira viagem ao Novo Mundo, por volta de 1490, ao descer em uma das ilhas das Caraíbas, levou o maior susto. Sofreu uma recepção francamente hostil de uma tribo guerreira composta exclusivamente por mulheres!

Foi um assombro! Mulheres européias, nessa época, mal tinham permissão para respirar, metidas em espartilhos e toneladas de saias! Luís de Santangel, homem da corte dos Reis Católicos (Fernando e Isabel), relatou o ocorrido nestes termos: "a primeira ilha que se encontra, para quem vai de Espanha rumo às Índias e onde não há nenhum homem. Estas mulheres não se ocupam de qualquer actividade feminina, só executam exercícios com o arco e flechas fabricados com canas e cobrem-se de lâminas de cobre que possuem em abundância"...

Pois é, foi assim que Cristóvão Colombo e os seus homens foram os responsáveis pela passagem do mito das amazonas da Grécia para o Novo Mundo. Na selva, sem cavlagar, mas absolutamente livres. De qualquer forma, mulheres guerreiras!



Segundo o folclorista Walcyr Monteiro, o navegante espanhol Francisco de Orellana e seus tripulantes, em 1541, ao chegarem ao Mar Dulce, atual rio Amazonas, teriam sido atacados por uma tribo de mulheres descritas pelo Frei Gaspar de Carvajal como muito altas e de peles muito claras, com cabelos compridos, trançados e enrolados no alto da cabeça. E mais: guerreando completamente nuas, portando apenas seus arcos e flexas.
Pelos relatos, aquela foi uma batalha e tanto, na foz do rio Nhamundá (atual limite entre o Pará e o Amazonas).Os espanhóis foram vencidos e tiveram que fugir, mas conseguiram capturar um índio que contou sobre a tribo de mulheres.

Em 1639 temos o relato de Acuñha, que fala de mulheres que viviam sem o socorro dos homens em terras brasileiras. Aliás, os homens seriam recebidos com arcos na mão, mas se fossem reconhecidos como confiáveis eram convidados a dividir a rede. As crianças nascidas desses encontros seriam criadas pelas mães quando meninas. Os filhos machos seriam entregues ao pai no ano seguinte. O que demonstra que havia uma continuidade na relação, de qualquer maneira!



Já no século XX, em 1953 o etnólogo Theodor Koch-Grümberg publicou um trabalho sobre "Mitos e Lendas dos Indios Taulipáng e Arekuná" e deu de cara com a história das mulheres guerreiras. Ele afirmou que elas seriam mulheres sem homens que em tempos passados eram gente...mas agora estavam transformadas em Mauari, ou demônios das montanhas!
Disse ele que havia cerca de setenta tribos semelhantes na região; que elas viviam sem a presença de homens e que dominavam as tribos vizinhas.

Mulheres endemoniadas, nos primórdios da civilização, na doce mitologia grega ou nos relatos de terras desconhecidas ou da Amazônia impenetrável! Ou simplesmente mulheres que buscavam a sobrevivência em tempos difíceis. A lenda das amazonas ainda continua com as páginas sendo gradativamente preenchidas ao longo dos séculos, em novos cenários, também como guerreiras da paz, principalmente para preservar o futuro da humanidade.(Mirna Monteiro)