Wednesday, May 07, 2008

O humor nos anos 40

Definição do limão


O limão é um fruto que nasceu com complexo de chefe de repartição pública: é azedo demais! O limão galego é o limão operário: nasce até com calos no corpo.
De todos os elementos no reino frutífero, o limão é aquele que menos probabilidade tem de sofrer de diabetes.
No reino vegetal ele representa o que o povo representa no reino animal: um infeliz a quem os poderosos espremem até a última gota! Só que o sumo do povo se transforma em capital, enquanto o sumo do limão se transforma em limo...nada!
A mulher do limão é a lima...é de amargar essa mulher!...(revista Bom Humor - 1947)

Algaravias

Na época em que vivemos, um burro que virasse homem seria deputado!

Em certas noites o céu parece ter ido feito de cola-tudo, onde se colam vagalumes sem tempo de apagar a luz

Existem mulheres quen são verdadeiras rosas...nem siquer faltam as espinhas!

O cometa nasce quando um estrela espirra!

Porta giratória é uma porta sem batente.

Se Sansão fosse careca, Dalila não entraria para a historia.

Muitos objetos começam a ser feitos a partir de um esqueleto; o corpo humano acaba nele! ( Revista Bom-Humor - ed 34 - 1947)

Saturday, March 08, 2008

A SÍNDROME DE EVA



Quando Eva vivia no Paraiso ao lado de Adão, as coisas funcionavam maravilhosamente. Até que apareceu em cena uma serpente enroscada em uma macieira e todos sabemos o que aconteceu. Adão não era nenhum retardado quando provou o fruto proibido, mas a culpa coube a Eva. Era ela quem devia nortear Adão e, portanto, não deveria sugerir que abocanhassem o fruto proibido.
A mulher sempre foi responsabilizada por tudo desde o gênesis...
Mas a historia continua:
Desde a expulsão do Paraiso, as coisas ficaram difíceis. Adão e Eva resolveram dividir as tarefas, porque era a única forma de sobrevivência.
Ela sentia as dores do parto para povoar o mundo, ele corria atrás da caça.
Ela garantia a sobrevivência da prole a partir da raiz, ele defendia a família.
Ele se preocupava com coisas práticas. E ela continuava a exercer a antiga responsabilidade de nortear Adão.
A humanidade varou milênios, passou a marcar a passagem do tempo e o que aconteceu, desde o final do século XX, a Adão e Eva?
Boa pergunta!
Bem, Eva continua com duas mãos e dez dedos, mas em compensação está tendo de multiplicar a cabeça. Transformou-se em um ser muito diferente: para sobreviver, depende de visão periférica, de capacidades múltiplas e muita energia física e emocional, já que além de manter as responsabilidades da Eva tradicional, a  geradora, assumiu todas as outras que cabiam à Adão, o mantenedor.
E Adão? Adão está dividido: em parte mantém o seu antigo papel, em outra simplesmente nenhum.
Eva multiplicada, Adão dividido.
Situação polêmica, contraditória.
Eva acha que conquistou espaços e cresceu. Será? Eva ainda se atrapalha quando estabelece o tempo necessário para a prole, quando o mundo profissional exige todas as horas do seu dia.
Adão resmunga, preso ainda aos velhos preconceitos de milênios atrás. Parte dele achou um caminho intermediário e descobre que funções antigamente exercidas apenas pela mulher tem uma importância e um conteúdo interessantes. Mas a maior parte de Adão permanece exatamente como era.
Nunca foi tão difícil para a mulher exercer o seu papel de formadora da humanidade. Sim, porque é impossível negar a dimensão de sua ação no destino humano, mesmo que o poder de transformação tenha sido exercido entre quatro paredes.
Valores foram rompidos e a Eva de hoje, cada vez mais, não tem como dividir funções de sobrevivência.
Adão está confuso.
A humanidade portanto se torna confusa!
A vida de Eva complicou-se: ela acumula funções que eram de Adão. Como ninguém é de ferro e a Eva moderna não é um elástico que pode ser indefinidamente esticado sem estriar-se e romper-se, é preciso priorizar as ações. E isso leva à mudanças sociais profundas, a partir da família.
Quais as conseqüências dessa nova realidade?
A resposta pode não ser muito agradável.
A vida forma um conjunto perfeito, como uma orquestra, onde cada ser exerce um papel. Todos sabemos que mudar o curso de um rio ou devastar uma floresta pode ser perigoso para a sobrevivência humana.
A mulher sempre exerceu um papel mediador entre a realidade imediata e o futuro. Ao gerar e inteirar-se com sua cria ela determina não apenas o destino de um indivíduo, mas de toda a coletividade.
Uma sociedade pacífica e organizada não é responsabilidade só da mulher, mas quem vai negar que uma criança bem cuidada, amada e orientada, tem maiores chances de tornar-se um ser humano produtivo e equilibrado?
O que parece bem claro é que a mudança, para que esse equilibrio seja alcançado, depende de mais transformações. Por exemplo, a responsabilidade no gerar. Filhos são responsabilidade de ambos, pai e mãe. No entanto não podem crescer educados unicamente por terceiros, como se fossem orfãos, em troca de uma mentalidade excessivamente consumista.
Não é incomum encontrar pais que se desdobram para ganhar dinheiro achando que a criança será feliz com roupas de grife, tecnologia de última geração e escolas particulares. Obviamente tudo isso parece ótimo, mas depende do preço a ser pago. O excesso de supérfluo não pode compensar a ausência de uma relação frequente entre pais e filhos.
Talvez não seja preciso andar com as crianças a tiracolo, como a cultura indígena determina (crianças que são amamentadas e próximas dos pais ficam mais fortes e mais independentes no futuro), mas sem dúvida é preciso rever a relação dos pais com os filhos na nossa sociedade moderna. O aspecto emocional do indivíduo, desde a gestação, é fundamental. Sem isso teremos crianças, adolescentes e adultos problemáticos, presas fáceis de drogas e da depressão.
Parece que Adão e Eva ainda estão muito longe de viver o paraíso...(Mirna Monteiro)

Wednesday, March 05, 2008

Sementes de abóbora...


categoria- literatura


(...) Das Dores foi avisada por um colega, responsável por outro distrito, de que tivera de colocar a sua filha Carla dentro de uma sala e trancá-la, porque a moça estava descontrolada e arrancara um naco do braço de um policial, tamanha a força de sua mordida.
Estava constrangido, porque os tapas e pontapés que Carla teria dado haviam rendido no revide um braço deslocado e um olho roxo.
Ao chegar à delegacia Das Dores encontrou Carla sentada no chão, com a roupa suja e rasgada, o rosto inchado e o braço em uma tipóia improvisada.
Sentindo-se abalada e sem forças, sentou-se ao lado dela e a abraçou, sem nada dizer.
Sentia-se frágil como nunca havia se sentido antes. Como delegada, considerava-se proprietária de algum tipo de imunidade absoluta. Um braço ou uma perna...pelo menos um dedo mínimo... do corpo do poder!
No entanto, a sua filha ali estava, presa, espancada e humilhada! E ela nada podia fazer!
- Mãe, não adianta ter ilusões. Este é um mundo porco, onde ninguém é livre porra nenhuma! Tem montes de merda controlando a vida da gente! Tem uma coisa chamada sistema financeiro que tem poder de vida e morte sobre todos os humanos, ninguém te escapatória e quem pensa que é livre é imbecil, porque somos todos escravos, fazemos trabalho escravo e morremos nos quilombos urbanos!
Das Dores estava inconformada com o ar de tristeza de Carla. Não sabia o que responder.
Carla soluçava.
- Sabe, mãe, o que é pior de tudo? – perguntou, olhando entre lágrimas para Das Dores – O pior de tudo é que quem faz esse mundo de merda somos nós mesmos!

(...)Desde esse dia, Carla não mais sorriu. Recolheu-se a um mundo particular, fechando as portas a quem quer que fosse,
Por mais que todos tentassem alegrá-la, ela respondia com um meio sorriso, apertando novamente os lábios, como se sentisse alguma dor.
As vezes observava Anna, sentada ao seu lado, percebendo o quanto ela se preocupava com seu distanciamento. Uma tarde olhou em seus olhos e disse que o amor que a amiga lhe dedicava era insuficiente diante do ódio no mundo ao qual pertenciam.
- Não é possível ser feliz em um mundo como este – repetia.
Anna contestava, dizendo que talvez esse fosse o verdadeiro desafio da vida, o de conseguir sobreviver e manter-se inteiro, de corpo e alma, em uma sociedade poderosamente hipócrita.
- Não, não e não - respondia Carla irritada - As pessoas são burras e más. Não entendem, são facilmente enganadas e distorcem a realidade...Passar por este mundo sem contaminar-se, mantendo a alma pura como a de uma criança, é um desafio impossível!
No fundo de seu coração, embora consciente da ignorância que permeava seu caminho, Anna silenciosamente concordava.
- Não é possível aceitar tantos erros, nem é possível corrigir nada disso - continuava Carla com a voz desanimada – O ser humano é defeituoso demais, parece o mesmo animal primitivo chutando os outros para fora de sua caverna, onde escondeu os ossos para roer. Não vale a pena!
Falava com um fio de voz, cada vez mais baixo, como se estivesse se apagando. Não reagiu ao abraço de Anna.
Pobre Carla!
(...)
Foi por essa época queAnna começou a desconfiar que não era mera impressão e que realmente havia perdido a memória de coisas fundamentais. Nas suas lembranças havia grandes espaços em branco, como se registros tivessem sido apagados com uma borracha.
Foi um lento retorno ao domínio dos conhecimentos perdidos.
Mas não a tempo de evitar que a tragédia se abatesse sobre Carla!
Certa tarde, ao retornar para casa, sentiu falta da prima. Das Dores, Júlio e as crianças não sabiam dela.
Anna sentiu o coração apertar-se. Percebeu claramente o risco de uma tragédia. Correu ao quarto de Carla, sabendo que deveria procurar alguma coisa. Não encontrando nada de diferente, foi para o seu próprio quarto e viu, sobre a cômoda, um grande envelope branco.
Dentro dele havia um bilhete, escrito por Carla.
“Querida prima e amiga, há coisas que não podem ser explicadas. Sei que vocês me amam, não me importo com Douglas e aquela Hellen, que não passa de uma loura aguada com olhos de vidro fosco. Eu lembro bem dela, que quase morreu de ódio quando nos casamos e acho que, agora, o Queixo Quadrado merece aqueles gambitos finos e brancos e aquelas mãos ossudas.
Mas como eu já lhe disse, o amor de vocês não é suficiente diante da força da maldade que encontro por todos os lados. Acredite, até dentro de mim.
(...) A humanidade não passa de um amontoado de cabeças vazias, tão vazias quanto o coração e por isso todo mundo está secando. As pessoas mudam de cara por não suportarem a própria imagem, fogem de si mesmas como o diabo da cruz.
É estranho, não é? Muito estranho. Tão estranho quanto esta carta aqui e a cara que você deve estar fazendo ao ler este amontoado de besteiras. Hi,hi,hi, isso é uma risada!
É que estou muito inspirada.
Me perdoe, diga às crianças que eu fui qualquer coisa que não sou, despeça-se de minha mãe por mim. Eu não suportaria fazer isso pessoalmente.
Se quiser lembrar de mim, lembre-se que eu sou aquela que cuspiu no sistema. Que ele vá para aquele lugar e que os poderes mundiais caguem sementes de abóbora!”

Logo abaixo, em letra miúda, Carla havia invertido o nome, assinando “Alrac”.
- Por que sementes de abóbora? – surpreendeu-se Das Dores (....)
(Trecho do livro "O Circulo", MM)

Thursday, November 01, 2007

A MORTE ENTENDE A VIDA

A morte certamente é a única certeza humana, por mais que esta frase soe desagradavelmente simplista. Mas há outra condição causada pela morte que vagueia com a mesma determinação na boca popular ou nas altas discussões filosóficas: a morte jamais é enfrentada com ausência de emoção.

Medo, dor, sofrimento, raiva, resignação, são sentimentos comuns à morte. Seja a emoção proveniente de quem tem consciência de que irá morrer, como no caso da perda de alguém importante.

O que diferencia o tipo de sentimento diante da morte sem dúvida é a própria vida ou a qualidade da vida daqueles que enfrentam o rompimento. Não no que se refere ao poder econômico ou social, mas à capacidade filosófica ou mesmo religiosa, que levam a um enfrentamento que pode ser mais realista (não fatalista) ou resignado.


Escreveram que Sócrates, ao beber da taça que continha o veneno, foi orientado a andar até sentir as pernas dormentes. A certa altura apalpou as pernas e disse: - Quando chegar ao coração será o fim!
Naquele momento, Sócrates enfrentava a própria morte com absoluta serenidade. Sem fatalismo dramático, mas com realismo. Se houve medo, soube bem desdenhá-lo, voltando-se para Críton, um dos amigos presentes, e dizendo que devia um galo a Esculápio.
- Vais lembrar de pagar a dívida?
O grupo presente, diante das últimas palavras do filósofo, rompeu em prantos, chegando aos berros, como no caso de Apolodoro.



O que vemos aqui é um enfrentamento da morte que poderíamos considerar natural. Ora, Sócrates já havia ingerido a cicuta, depois de ter lutado para preservar a vida e perdido a batalha. Como qualquer pessoa que procura interpretar o universo, o filósofo bem sabia que o ciclo natural é inevitável e seu fim havia sido selado no momento em que ingeriu o veneno.

No entanto quem o amava e assistia a cena, não resistiu à tragédia do desenlace. Alguns com lágrimas sentidas pela perda, outros, como Apolodoro, de forma extremada e extenuada.

Quem parte leva saudades...quem fica, fica com o que?

Para onde foi quem eu tanto amo?
O que restou lhe guarda semelhança
Irá desfazer-se como pó
Pois é feito de pó!
Aquilo que aqui ficou e não posso ver
Vejo que nada é apesar de ser
Mas aquilo que se foi
E apenas se percebe
É tudo que mais desejo nesta vida...


Há poesia na morte? Para aqueles que enfrentam a partida de alguém a coisa não é tão simples. Filtrar essa realidade com pensamentos poéticos é tarefa quase impossível. No momento da partida o problema não é a morte em si, mas a ausência de quem se ama.

É essa a realidade a ser enfrentada. A dor da perda e o medo de nunca mais rever quem tanto se ama é torturante. Para superar essa dor, dizem todos, é preciso paciência. O tempo cura as feridas, cicatriza a dor e mantém a saudade sob controle.

Esquecer, para a maioria das pessoas, é impossível. Mas todos que passam pela perda, admitem que o tempo realmente suaviza. A mesma natureza que impõe a morte, também fornece o remédio para a cura das suas dores.

A dor da morte, que é dos que ainda não a enfrentaram, é traduzida das mais diferentes maneiras. Talvez o maior choque seja a constatação de que nosso corpo, que interpretamos como o absoluto, se transforme em uma embalagem vazia, com prazo de validade. Há aqueles que se apegam ao máximo aos restos (que antes eram o absoluto) e busquem artifícios, como o congelamento que trará na posteridade, em um futuro onde o homem assumir-se-á como Deus e trará de volta à vida o que parece ser uma embalagem descartável.


Quem sabe? Outros preferem calcar a esperança e diminuir a dor em monumentos, que todos os anos são visitados, em uma reciclagem de memória. O que é injusto, pois a importância de alguém não pode ser medida por prédios fúnebres e por mais amada que seja certamente chegará o dia em que esse lugar será abandonado, nas gerações que se sucedem.



Para aqueles que duvidam da morte e a interpretam como uma transição, com base em doutrinas religiosas ou esotéricas ou mesmo filosofia (no universo nada se perde, tudo se transforma), transformar-se em pó parece ser purificador, romântico e também higiênico, em um mundo super-povoado que não tem espaço físico, nem tempo, nem recursos para guardar restos que serão esquecidos.

Seja como for, a grande verdade é que o desafio da morte é ainda o mesmo dos tempos de Apolodoro, cujo sofrimento foi superado pela filosofia do próprio mestre. Lidar com a ausência daqueles que amamos tanto, eis o grande desafio. A morte em si não representa dor, sem esse vazio! É apenas um curso natural.

Mas o amor devotado a alguém, esse é o fundamento da morte, assim como será sempre o fundamento da vida. Nesse caso, vida e morte estão indelevelmente ligadas e equiparadas e uma não representa o fim da outra e sim um círculo, onde estão contido os segredos que mantém o universo em constante evolução. (Mirna Monteiro)

Thursday, August 30, 2007

O Destino e a inexorabilidade


Recentemente, em discussões de grupos na internet, o tema foi o "destino". Palavra fácil, com sentido complicado, pois envolve suposições, crenças ou, como não, lógica extrema. Depende do ponto de observação.
A preocupação com o futuro é evidente. É raro encontrar alguém que não se preocupe com o que vai acontecer no próximo minuto, nas próximas horas, no próximo ano ou até onde vai poder contar com essa expectativa.
Mas há algo mais nessa ansiedade. Talvez a ausência de conteúdo imediato, que promova a atenção total para o momento presente. Talvez, também, certa confusão no viver pura e simplesmente, diante de acontecimentos que não são exatamente imprevisíveis, mas que tornam a necessidade de mudanças mais premente.
Aí volta e meia alguém quer saber: como será no futuro!
Muitos desconfiam de que existe alguma programação pronta, como se a vida fosse páginas de um livro já escrito e com final definido, cuidadosamente desenvolvido para emocionar, premiar ou punir o sujeito. “Certas vezes me ponho a pensar sobre essa intrincada e incompreensível trama que é a nossa vida e me pergunto se por detrás dela não existe algum tipo de ordem ou razão”, opinou um ouvinte em uma palestra que deveria versar sobre o humor e saúde, mas que acabou se transformando em um debate existencialista.
Com toques dramáticos! Falar sobre o destino é dramático. Extenuante até, para os mais afoitos em obter alguma certeza do futuro. Existirá uma ordem, seja ela do ponto de vista individual ou coletivo, que funcione com um traçado prévio dos acontecimentos? Ou os acontecimentos são simplesmente resultado de ações, estas sim funcionando como uma mão de direção para o futuro?
Há quem afirme que tudo isso é uma bobagem e que faria melhor a humanidade se concentrasse suas preocupações em construir o momento presente e futuro, sem a cômoda impressão de que não precisa fazer absolutamente nada, pois tudo já está traçado. Cruzar os braços e resmungar a todo instante que "não ia adiantar fazer nada mesmo"...
Os antigos acreditavam que quem gerenciava os acontecimentos e o destino dos humanos eram os deuses ou forças que estariam acima das forças do homem. A mitologia descrevia o estado primordial, primitivo do mundo como o “Caos”, que segundo os poetas era uma matéria que existia desde os tempos imemoriais, sob uma forma vaga, indefinível e indescritível.
Caos era ao mesmo tempo uma divindade, talvez rudimentar, mas capaz de fecundar.Por aí já se percebe que tinha seu toque de inexorabilidade. Obviamente.  Pois foi assim que gerou a Noite. E foi do Caos e da Noite que foi gerado o Destino, uma divindade cega e portanto definitivamente inexorável, ao qual estariam submetidas todas as outras divindades.
O Destino era poderoso, por si só uma fatalidade. Os céus, o mar, a terra e os infernos, todos faziam parte de seu império, que não era nem a favor dos deuses, nem a favor dos homens.
As leis do destino eram escritas desde o princípio da criação em um lugar onde deuses podiam consultá-la. E segui-las, irremediavelmente. As leis do Destino tornaram culpados muitos mortais, apesar de sua vontade de permanecer virtuosos. Os homens jamais sabiam do seu destino. Em termos, veja bem, porque ele poderia deixar de ser misterioso através da visão dos oráculos.
Uma visão fatalista, que naturalmente modificou-se conforme a sociedade humana foi se aprimorando e sofisticando-se. O homem percebeu que regras podiam ser mudadas e cursos de rios desviados. Ainda assim, em tempos de grandes mudanças e de novos conceitos, a certeza de um destino imutável permanece forte. “Tudo que se planeja esbarra na imprevisibilidade e se transforma”, lamentou um fatalista....ora, se há imprevisibilidade e transformação não pode  haver imutabilidade!
Controvérsias e confusões. Essa interpretação de uns entra em choque com a de outros, que defendem uma nova postura do otimismo e do pensamento positivo. Defende a idéia de que o ser humano possui força suficiente em seus pensamentos para criar as situações futuras, como se desenhasse no papel o que deveria acontecer, sendo o próprio escritor do destino, o criador de seu futuro.
Neste caso não se nega a existência do Destino. Nega-se a sua fatalidade. Ele continua imponderável, mas subordinado às ações e aos resultados delas. Continua inexorável, mas consciente da que tudo que existe foi ocasionado por uma ação determinada ou um pensamento, coletivo ou individual. Se para cada ação existe uma reação, o futuro seria construído e modificado a todo momento!
Há quem não goste dessa idéia. Dá trabalho! Responsabilidade. Isso significaria que o destino, como resultado de nossas ações e pensamentos, não é imutável e definitivo, podendo ser transformado. Se for uma caca, a culpa não é do onipotente, mas nossa. Ou de quem atuou.
Essa responsabilidade, individual e coletiva, ameaça os que preferem ser irresponsáveis. Impossível controlar o mundo e o universo, reclamam. Como conter o furacão, as entranhas da terra que explodem vulcões, os tsunamis? Podemos controlar o que?
Será mesmo assim tão impotente a humanidade? Ou confundimos ações e pensamentos que deveriam estar uníssonos com o poder natural com desejos primitivos de dominar e mudar essa natureza?
Parece que o que temos hoje é simplesmente um resultado de ações passadas, em todo o universo. Não há isolamento possível e todos os acontecimentos passados interferem no presente e no futuro...Essa idéia parece ser a constatação de que nada no universo é individual – nem mesmo a consciência humana, pois ela interfere no ambiente através do pensamento.
Pensando bem, destino, seja ele estático ou em constante mutação, baila na mente humana com o movimento do prazo ao qual se apega a vida preocupada com a finitude. Se isso é de fato um final ou uma mudança, essa é uma outra história...(Mirna Monteiro)

Monday, August 27, 2007

DISFARCES DA MALDADE


- Que é isso Liandra? Caiu o seu queixo?
- Ah? Gente! Pode continuar dando risada, caiu mesmo! E aí, o que houve?
- Apolo teve sorte. Caso Meriel houvesse demorado mais um pouco para encontrá-lo, certamente morreria alí, naquele quarto, cada vez mais exangüe.
- Meu Deus! Mas essa Valeriana! Dá vontade de passar em cima dela com um rolo compressor e depois picar pedacinho por pedacinho, com uma tesoura!
- Liandra! Que violência é essa?
- ...E queimar, um a um, cada um desses pedacinhos.
- Não se pode sequer brincar com coisas assim. Deixa disso. Não combina com você. Parece contraditório que uma história sobre alguém como Meriel inspire tamanho desejo de violência.
- Mas como não? Essa Valeriana é muito baixa!
- Pode ser, realmente. Mas o mundo está cheio de valerianas. Pessoas que não conseguem encontrar dentro de sí mesmas nada que valha a pena e vivem com o objetivo de exaurir quem possui valores.
- E você não acha normal a gente sentir indignação e repulsa por pessoas assim?
- ....É, acho que sim. Mas de certa maneira especial. Não podemos ser cúmplices do mal, mas não podemos querer o direito sobre a vida e a morte desse tipo de gente. Não podemos odiar alguém, por nos indignarmos com sua capacidade de ódio.
- Assim fica difícil. Esse critério de justiça é complicado.
- Eu também achava que sim. Mas veja bem, não o é, de fato. Se você procurar sentir com o coração e não racionalizar nos padrões culturais. Suponha que existe aqui, dividindo nossa vida, alguém de sentimentos baixos como Valeriana. De que adiantaria o nosso ódio por ela? Enquanto que, se nos cuidassemos e não permitíssimos simplesmente que ela pudesse exalar sua maldade, não estaríamos compactuando nem com ela, nem com o mal, já que não permitimos nos contaminar por ele, não nos violentamos sendo igualmente baixos em nome da justiça.
- Ah, Aldo! Quer dizer que se Valeriana estivesse aqui, agora, apertando aqueles olhos ruins em cima de você e tentando espremer seu coração como se fosse uma laranja, bebendo seu sangue, você ia sorrir e dizer: não faça isso, Valeriana, está errado, minha filha?.... Que foi?
- Nada. Bem, não é isso. Eu me defenderia, com unhas e dentes se preciso fosse, mas apenas assim, como auto-defesa. Para fazer isso eu não dependeria de sentimentos baixos. Posso me defender, preservar a minha integridade física, sem permitir-me odiar quem quer que seja.
- ....Você está mesmo bem? Empaliteceu, Aldo!
- Só um ligeiro mal estar. Aquele monte de doces que comemos.....
- Sei.....
- Creio que, de qualquer forma, Valeriana não representa o lado mais perigoso do mal.
- Como assim?
- Bem, Valeriana nunca soube disfarçar com eficiência a estupidez de sua alma. Era tão agressiva e estúpida, tão ambiciosa e ansiosa, que não tinha paciência suficiente para a dissimulação do seu ódio por tudo e por todos. Seus objetivos eram claros, ela queria destruir o máximo possível, destruir sentimentos, pessoas e tudo mais que encontrasse pela frente.
- E aí? Continuo sem entender....
- Quero dizer que pior é a pessoa dissimulada, que sente o ódio profundo, o mesmo ódio de Valeriana, mas que o disfarça com palavras e ações dúbias.
- Sei...demônios travestidos de anjos...
- Nem sempre o que a boca professa, a mente e o coração admitem. Há pessoas cujas palavras são perfumadas, mas as ações, escondidas e dissimuladas, fedem a enxofre do pior. Conheci uma pessoa assim.... tinha olhos bondosos e sorriso simpático. Dizia-se extremamente religiosa e exigia das pessoas posturas de santo. Mas quando ninguém a observava, deixava o fel que escondia sair, como puz em uma ferida. Não assumia nunca os seus verdadeiros sentimentos. Agia nas sombras. Ludibriava crianças, tentando confundí-las e perante quem a podia julgar, dizia apenas palavras doces.....assim. Conseguiu guardar rancor durante anos das pessoas e não hesitou em prejudicar seus próprios filhos em nome disso. Tornou-os tão fúteis e falsos como ela.
- Bem, essa não me parece ser uma situação invulgar. É comum demais, até.
- Por causa da dubiedade humana. Há quem pense que a mistura de bons e maus sentimentos leva ao perdão divino. Seria uma impropriedade divina, se assim fosse.
- Não se pode mudar o mundo.
- ....Estamos aqui para isso, não? Ou por que seria?
- Não sei, não sei....É, deve ser...Eu não entendí uma coisa....No mesmo instante em que Valeriana atacava Apolo, quando o seduziu, Meriel saiu de seu corpo físico e a encontrou grávida, em outro espaço de tempo?
- É, parece que sim. Eu entendí que naquele instante Meriel captou exatamente o que ocorria, além do momento. Quer dizer, ela não apenas soube aquilo que ocorria naquele instante, como em um desdobramento de tempo, viu que uma nova vida surgia, conforme Valeriana pretendia ao seduzir Apolo. Como se estivesse no futuro.
- Mas ela devia é ter sonhado com isso antes e de alguma forma ter impedido que Apolo fosse seduzido por essa malvada.
- Sob essa ótica, a natureza deveria destruir o homem antes que surgisse...no momento em que se enunciasse a sua existência, para evitar o caos em que seria transformada!
- Ah, quer dizer que na sua opinião os acontecimentos são inevitáveis? Não se muda o destino?
- Absolutamente, muda-se sim. Meriel dizia que nada é definitivo e que nós criamos o nosso futuro todos os dias. O nosso amanhã vai depender do que somos hoje.
- Mas e a ação dos outros? Não creio que dependa apenas de nós mesmos o nosso futuro.
- Não sei Liandra, há tanta coisa que não consigo ainda definir. Mas é provável que haja, acima de tudo, a necessidade de desdobramentos. Aquilo que não depende de sua vontade ou que é impossível para você transformar ou evitar, certamente deve ter um peso no futuro.
- Aquela história do “há males que vem para o bem”.....Deixa para lá, senão vamos levar a vida inteira discutindo isso. Quero saber o que houve com Apolo.
- Onde estávamos?

( trecho do livro "A Colina" - MM)

Tuesday, June 26, 2007

A dor e a violência segundo Picasso


















Pablo Picasso soube retratar em sua arte o horror da violência, magnificamente traduzido em sua obra intemporal e mundialmente reconhecida, Guernica, resumindo a Guerra Civil da Espanha em um grupo de imagens.

Guernica traduz o bombardeio pelos alemães da cidade de Guernica em Vizcaya, a 26 de Abril de 1937, deixando entrever ao espectador o medo, o sofrimento e a dor vividos nesse período.








Outras obras demonstram a sensibilidade em captar a expressão da dor e da violência no cotidiano.








Em "Refluxo" (acima) e
na tela
"Os miseráveis",
formas e cores
diferenciam os
momentos do sentimento

Tuesday, June 12, 2007

Filosofando a corrupção



Dinheiro dança com a corrupção


O que? dinheiro dança? Ué, já disseram que o dinheiro se movimenta conforme a música. A dança é movimento. A música movimenta a dança. Metáforas, apenas metáforas. O dinheiro está em permanente movimento. Cumprindo suas funções sociais e econômicas. Movimentos honestos e desonestos. Construtivos e destrutivos. Por isso alguém teve a idéia de comparar o movimento do dinheiro, a uma dança. E sua utilização a música. E eu imaginei o dinheiro dançando com a corrupção. Como também dança com todos os gêneros de roubalheira. O dinheiro é cego e mudo.
A corrupção dança com o dinheiro público. Envolvendo gente importante, como membros do Judiciário, governadores, advogados, parlamentares e até ministro do Lula e o presidente do Senado. Uma confusão dos diabos. Prisões transitórias, interrogatórios...Todos os envolvidos na dança afirmam que são inocentes. Quantos dançarinos irão para a cadeia? Corrupto na cadeia é exceção. O dinheiro que dança com a corrupção não tem voz. Como não tem voz o dinheiro que dança com a honestidade. Se o dinheiro falasse, a corrupção seria denunciada. E a honestidade reconhecida.
Acompanho pela imprensa e pela tevê o drama do presidente do Senado. Culpado ou inocente? A dúvida dificulta a resposta. Será que o Conselho de Ética do Senado dará a resposta conclusiva? Ética. Como é bela e desejável a dança do dinheiro com a ética. Principalmente nos poderes Executivos, Legislativos e Judiciários. Mas a corrupção dificilmente deixará de paquerar o dinheiro. Sempre de olhos abertos, à espera de uma oportunidade de dançar com ele. E assim o baile vai continuar. Até quando? O tempo responderá. No momento, a pergunta é: qual será o desfecho da ação da Polícia Federal? Alguém poderá adivinhar? (crônica de Roberto Monteiro, junho de 2007)


(O jornalista Roberto Monteiro escreveu ao longo de sua carreira, mais de 20 mil editoriais e 12 mil crônicas, todos publicados em orgão de imprensa. Além do trabalho como jornalista, Monteiro foi autor de contos e peças teatrais, diretor e produtor de programas e musicais na televisão, sendo premiado com os troféus Roquete Pinto, Tupiniquim e outros nas décadas de 50, 60 e 70)

Thursday, May 31, 2007

A comilança





















(...)Estava difícil falar com Das Dores. Com sua pouca altura, já pesava mais de 150 quilos, adquiridos ao longo dos últimos anos.


Estava cada vez mais irascível. A comida farta não atenuava seu mau humor, nem suavizava a sua visão pessimista e egocêntrica.

(...) Havia clínicas especializadas no assunto. A gordura em excesso era o mal dos paises industrializados e a obesidade mórbida crescia na mesma medida em que o mundo parecia entrar em um processo de histeria em massa e os países pobres, castigados pelo calor, pelas epidemias e pelos desastres da natureza, exibiam seres esqueléticos esperando a morte.
Das Dores não se comovia com os extremos das desgraças.
- Passei minha vida dentro de uma delegacia, vendo horrores e tentando salvar quem fosse possível! E para que? Não há como vencer o mal! – afirmava, com voz alterada.
O ar de equilíbrio na casa do neto a irritava. Mas a idéia de uma internação, ainda que fosse em um spa repleto de conforto, a enojava.
- Sinto-me bem, não é o que importa? Depois, não estou assim tão gorda...
Silvester sentia vontade chorar. Mas de nada adiantavam as suas súplicas. Das Dores, depois de cada discussão, comia ainda mais.

Quando ela não mais saiu de casa, Júlio e Silvester perderam de vez a esperança de recuperá-la.
- Sua avó está se matando aos poucos. Devemos interná-la à força! – disse Júlio. Aquela altura a mulhr não conseguia mais caminhar na rua, nem entrar em um carro.
Aliás, Das Dores não cabia em nenhum lugar. Até as portas pareciam encolher e prender os seus quadris nas esquadrias. Mandara reforçar a cama, que mais parecia um bloco maciço, mas o problema era o colchão: nenhum material suportava muito tempo seu peso e em geral seu corpo afundava o material, fosse da mais alta densidade, fosse de mola, fosse a espuma composta de nanotubos de carbono ou o que quer que existisse!
Um mecanismo complexo de trilhos em aço, comandados por sistema computadorizado, era imprescindível para ajudá-la a levantar-se.(...) O vaso sanitário era uma obra-prima da engenharia, com a circunferência de uma banheira pequena e com todo o equipamento necessário para que Das Dores apenas se preocupasse em sentar-se. (...)

- Ela se empanturra para depois soterrar o sistema de esgoto! – resmungava Júlio.
Mas na verdade ele estava apavorado, sentindo-se impotente com a situação de Das Dores.
- Sua avó vai explodir, não tenha dúvida! A pele está esticada demais!
Certo dia, ao verificar que o sistema computadorizado da cama registrava 230 quilos de peso, Silvester deu o ultimato à Das Dores. Ela seria internada em uma clínica.
- Que raio de neto é você? Está invadindo a minha privacidade!
Ele ficou desconcertado. Pedia desculpas, mas não tinha como evitar tal intromissão.

- Desculpe nada! Você herdou o desvario de sua mãe, a loucura de Anna e a bunda mole de Júlio!
Eu quero comer! Eu gosto! Comer! Comer o quanto puder, entendeu? É minha vida, meu estômago, meus humores, porra! – berrava, enchendo a boca de uva-passa coberta de chocolate e cuspindo para todo lado.
- Não pode ser assim, vó! Já imaginou quantas pessoas poderiam ser alimentadas com toda comida que sua gula consome? Você está comendo por vinte!
O rosto rechonchudo de Das Dores petrificou-se. (...)



Trecho de "O Círculo" -MM

Friday, March 09, 2007

O desafio de ser mulher!


Há alguns anos ainda havia uma certa euforia nos discursos que comemoravam o Dia Internacional da Mulher (8 de março), como se isso justificasse a existência de uma deferência especial, que, quer queira ou não, sempre deixou em aberto a "diferença" do ser feminino.
Afinal, havia muito a ser comemorado pelas mulheres, ao passo que os homens nada tinham a festejar. Não havia sido criado o "Dia do Homem", porque o homem sempre dominou o espaço social, político e produtivo nos séculos e séculos passados.
Mulheres não! Aliás, mulheres eram alijadas da política e das decisões. Pelo menos, abertamente e até onde nosso conhecimento permite. Em séculos bárbaros, onde a força física era a única alternativa para sobrevivência, as mulheres ficavam de fora, costurando as feridas abertas pelas guerras e invasões!
Quando o mundo se revolucionou industrialmente e a sociedade humana passou a uma nova etapa cultural, as mulheres do mundo ocidental mudaram, brigaram pelo espaço e pela participação política e negaram-se a perpetuar a imagem de úteros sem cérebro... E hoje têm direitos e deveres igualitários em sociedades democráticas e livres!
Certo?
Errado!
Pois é, as coisas não são bem assim não! Começando pelo fim, podemos dizer que a situação da mulher não melhorou, em absoluto! A mulher do terceiro milênio é um ser livre por conveniência no mundo ocidental e isso quer dizer, na prática, que a sua liberdade é totalmente discutível.
A mulher do chamado "mundo livre" é um ser extremamente sobrecarregado de funções, confuso com a necessidade de reestruturação da família, onde é, cada vez mais não apenas a "cabeça", mas o corpo todo: houve uma gradativa "fuga" da responsabilidade do homem sobre a família!
Por outro lado, a mulher ainda sofre os mesmos preconceitos de sempre. Ganha menos que o homem quando exerce a mesma função profissional, trabalha em dobro e têm menos direitos e privilégios de carreira nas empresas.
Nunca antes a mulher sofreu tamanha carga de violência! Em todo o mundo, ela é espancada e assassinada em número crescente! Estamos falando do mundo ocidental, evoluído, o mundo do capital e da liberdade...nas culturas da Asia e Oriente Médio a situação vai mal também. Mostra a situação da mulher dos tempos bárbaros: sem direitos a opinar, sob forte restrição de liberdade social e individual e sujeita a penas bárbaras, como no caso do apedrejamento até a morte se houver suspeita de adultério!
Mulher do oriente, mulher do ocidente... Isso faz pensar: se de um lado ela sofre penalidades bárbaras e cruéis, de um extremismo insuportável, de outro, nas modernas cidades dos paises desenvolvidos, ela sofre penalidades bárbaras e cruéis também...embora reconhecidamente ilegais.
Interessante: de um lado a mulher é sufocada por véus e ameaçada de pedradas por uma cultura cruel e de outro é sufocada pela realidade e ameaçada por facadas e tiros por inoperância da Justiça, em uma sociedade que apesar de alardear liberdade e igualdade ainda é cercada de preconceitos!
Vai mal a situação da mulher!
O alarde a respeito das conquistas femininas é relativo e cheira a manipulação do moderno sistema de consumo e na dança do giro de capital! Há interesses na engrenagem que move o mundo moderno, o que não significa necessariamente que podemos interpretar nesse conjunto alguma "vitória da mulher", já que a manipulação é um perigo de muitas faces.
Provavelmente, ainda assim, a mulher ´poderá superar as dificuldades e acertar os ponteiros com a sociedade. Poderá, quem sabe, cumprir com o mais fundamental de todos os desafios e ajudará a equilibrar o mundo.
Mas ainda há muito trabalho pela frente antes de considerar que há de fato um equilíbrio a ser comemorado! (Mirna Monteiro)