Thursday, May 31, 2012

A CRIANÇA, A OMISSÃO E A MORTE

obra de  Marusz Levandowsk

Uma criança pequena é atropelada na rua e fica no chão, enquanto as pessoas passam por ela, como se ela fosse invisível, apesar do sangue que escorre pela rua. Um segundo veículo passa sobre a criancinha. Até que alguém para e puxa o pequeno corpo para o meio fio. Ainda assim vai embora e o socorro demora!
Cena de um filme de terror? Alguma ficção de zumbís que comem cabeças humanas? Não!
Isso aconteceu em uma rua de grande movimento na China!
O horror da cena leva obrigatoriamente a uma revisão de nossos valores e conceitos, em um mundo onde as culturas se misturam e onde, mais cedo ou mais tarde, seremos obrigados a definir questões éticas e legais de maneira global, sem interferir na soberania de cada país, mas de maneira a preservar a sobrevivência futura.
Cenas como esta - que acontecem impunemente em cenários de guerra, mas que parecem ficção de mau gosto no cotidiano de uma área urbana - representam não apenas a morte de um indivíduo, mas de valores humanos fundamentais à sobrevivência futura do coletivo. 
O surgimento de um padrão cultural unificado vem acontecendo não exatamente pelos acordos econômicos, mas às custas do intercâmbio cultural crescente, através da informação veiculada principalmente através da internet, que mostra a semelhança entre pessoas de todo o mundo. Mas com limites óbvios: até que ponto essa relação pode mudar hábitos e culturas que menosprezam o direito individual do homem?
A China tornou-se uma potência econômica, espalhando seus produtos pelo mundo todo. Tem uma cultura antiga, de uma filosofia surpreendente. É de Confúcio, um de seus filósofos eternos, o dizer "Se queres prever o teu futuro, estuda o teu passado".
Hoje  Confúcio é apenas história, não mentalidade. Com 1,3 bilhões de habitantes, a China é apenas um retrato moderno da mentalidade do consumo, onde a vida perde a importância diante da necessidade do poderio econômico. Que ao contrário da expectativa dos países superindustrializados não oferece segurança alguma de futuro. É como uma armação enorme, erguida sobre escombros e recoberta de ouro, mas que pode a qualquer momento desmoronar e tornar a fartura em um perigoso jogo de sobrevivência.
É claro que a China não é um exemplo isolado. A "corrida pelo ouro" na busca da expansão da economia do consumo já afetou os EUA, a Europa e surpreende o mundo neste momento com grande queda no crescimento  da India, que registra o menor índice em dez anos.
Com a economia mundial em crise, a desaceleração da economia na India soa ameaçadora, mas demonstra como o sistema mundial é frágil.
Frágil em economia, que por sua vez utiliza um sistema que fragiliza a sociedade, reduzindo a importância do fator humano e criando uma mentalidade pragmática que não funciona justamente por exaurir indiscriminadamente a vida natural. 
A imagem da criança atropelada a ali deitada enquanto pedestres passam por ela é apenas um exemplo desse risco. Essa cena se repete no mundo todo, não apenas nas áreas de guerra - onde o sofrimento e a destruição possuem a mesma intenção econômica - mas em países que se vangloriam de manter os direitos humanos em dia, assim como o respeito ao meio, mas que terminam por criar regras que também rebaixam os direitos do indivíduo diante da necessidade do consumo.
É um indício perigoso da asfixia e morte de valores éticos fundamentais para a vida e sobrevida no planeta.(Mirna Monteiro)


Leia também
http://artemirna.blogspot.com.br/2012/05/o-que-pretendemos-da-vida.html


  http://artemirna.blogspot.com.br/2012/04/consumir-ou-nao-consumir-eis-questao.html

http://www.youtube.com/watch?v=k7drtDdKxcE

Tuesday, May 22, 2012

XUXA, OPRAH E A PEDOFILIA

É preciso coragem para tornar pública uma situação de abuso na infância. Pessoas costumam soterrar em algum espaço perdido essa memória dolorida, terrível, que é subestimada pelo nosso sistema, pela nossa cultura, pela nossa incapacidade de perceber o peso da confusão, da humilhação, da atrocidade de um ato que mesmo sublimado, permanece corroendo as vítimas até a idade adulta, a maturidade, a velhice.
Quando uma pessoa atinge grande notoriedade e admiração da massa, sua responsabilidade aumenta na denúncia desse crime. O que não quer dizer que seja mais fácil para alguma celebridade admitir que foi vítima de pedofilia do que para uma criança ainda confusa ou para um adulto anônimo. 
Por isso quando pessoas como a apresentadora americana Oprah Winfrey ou a brasileira Xuxa Meneghel resolvem abrir em detalhes essa experiência traumática e proibida,  é preciso admitir que é um fato surpreendente. 
É uma denúncia de um crime hediondo, inaceitável e, portanto, acima de qualquer crítica vazia ou piadismo barato. 
O problema da pedofilia é grave no mundo todo. Está presente na maioria dos paises porque não é uma questão cultural, mas um desvio da personalidade e atinge crianças de ambos os sexos. A pessoa que abusa de crianças, seja de um bebê, seja de um adolescente, é em geral dotada de baixa auto-crítica e age da mesma maneira que um psicopata. Psicopatas sabem que cometem um crime, mas não sentem piedade de suas vítimas.
Ao comentar seu próprio drama, Oprah, Xuxa e todas as pessoas que denunciam o abuso, estão alertando a sociedade de maneira direta e corajosa, evitando que a pedofilia ocupe um espaço fictício na preocupação da sociedade humana.
Abuso de crianças causam danos físicos, morais e psicologicos para toda a vida. E tudo isso se volta contra a própria sociedade.
Se não houver respeito à dor das vítimas, que haja consciência do desequilíbrio que essa agressão pode provocar ao meio. Não importa a maneira como esse abuso acontece, sua frequência ou a medida de sua violência: o cérebro humano capta essa agressão e jamais apaga a experiência, mesmo que ela aconteça na primeira infância. Permanece em geral no inconsciente, reprimida pela confusão, pela vergonha, pelo constrangimento e decepção!
É triste ver como a pedofilia faz estragos! Mas é bom ver pessoas que estão lutando para que a pedofilia seja finalmente encarada com a seriedade merecida, denunciada e punida com rigorosidade!

Thursday, May 17, 2012

AFETIVIDADE E OS DANOS DA OMISSÃO

Há coisas que não esquecemos. O cérebro humano registra absolutamente tudo que acontece, na impressão física ou emocional. Nem sempre esta memória pode ser "acessada" pelo simples fato de que o cérebro humano possui um mecanismo biológico que bloqueia memórias indesejáveis ou desconfortáveis, como uma forma de defesa emocional.
O que não quer dizer que que a ação de experiências traumáticas ou desagradáveis sejam neutralizadas. A ausência da consciência do fato não impede que determinadas patologias possam instalar-se e interferir no comportamento de uma pessoa. Freud observou bem a existência de mecanismos de supressão de memórias, hoje reconhecida como um mecanismo biológico, e não simplesmente mental.

Recentemente a Justiça condenou um pai ao pagamento de uma indenização de R$ 200 mil  por abandono afetivo da filha, hoje adulta. Ainda que a matéria seja controvertida, não deixa de ser uma vitória do bom senso, diante de uma realidade crescente - a irresponsabilidade na criação dos filhos - que afeta a base social de maneira progressiva, tornando a sobrevivência coletiva um risco.
Seria esta uma afirmação exagerada? Não há exagero. O ser humano é absolutamente vulnerável às sensações do mundo externo, sejam elas construtivas ou destrutivas, mas determinantes em comportamentos futuros e estados emocionais. Ou seja, não precisamos de qualquer mecanismo para criar equilíbrio ou desequilíbrio em um ser humano além daquele que determina a afetividade ou a ausência da afetividade.

O que seria o abandono afetivo dos pais? Seria a usurpação da afetividade, ou seja, a omissão não apenas do contato, mas da expressão de cuidados e emoção construtiva, como o amor. No caso da criança e do adolescente essa omissão pode ter efeito catastróficos, comprometendo o equilíbrio emocional e "empurrando" a criança para desequilíbrios e conflitos emocionais, que podem ir desde a má formação do caráter, até problemas físicos e emocionais, que não raro acabam desembocando no uso de drogas ou comportamentos anti-sociais.
A questão da afetividade é reconhecida juridicamente há poucos anos, com o aumento da irresponsabilidade familiar e a obviedade dos danos individuais e coletivos dessa ação. Estudos científicos comprovam esta relação. Um dos exemplos mais interessantes é a influência da afetividade no controle de patologias como a psicopatia. Estudos demonstram que a predisposição genética a comportamentos psicopatas pode ser atenuada quando a criança é criada em ambiente afetivo, enquanto que o contrário também ocorre, ou seja, a tendência a comportamentos violentos ou anti-sociais pode ser estimulada quando a criança é vítima de violência e ambiente hostil.

Exigir responsabilidade materna e paterna é uma urgência não apenas em respeito ao indivíduo, mas à coletividade. Ao abandonar o lar, um pai ou uma mãe causam profundas feridas emocionais ao filho, seja uma criança ou adolescente. Negar o contato e a afetividade aos filhos após romper a relação com o cônjuge é cruel e irresponsável.
A questão é prática, ainda que pareça ser emotiva. Cuidar exige atenção às necessidades materiais, mas também, psicológicas. A ausência de amor não elimina, necessariamente, a questão da afetividade. Ou seja, alegar impossibilidade de amar um filho não é argumento para o abandono material e emocional, conforme entendeu a Justiça nos raros casos de processo. (Mirna Monteiro)

Wednesday, May 16, 2012

O QUE EXIGIMOS DA VIDA

...Estamos perdendo o rumo?


Volta e meia encontramos alguém que desabafa, aflito: “estão todos loucos!  As pessoas estão perdendo a lucidez”

Por que? Os motivos são vários – irritação excessiva, ausência de auto-controle, falta de afetividade e tendência à destruição. Dentro da própria família os sintomas são cada vez mais óbvios – desagregação, egocentrismo, disputa interna, clima inamistoso.
Mas o que mais se ouve e impressiona é a afirmação de que as pessoas estão perdendo a capacidade crítica e qualquer freio moral.
A ausência de capacidade crítica torna a pessoa extremamente vulnerável ao erro e engano. A falta de “freios morais” a torna potencialmente perigosa, sujeita a achar natural a invasão da privacidade alheia ou apropriação de bens que não lhe pertencem ou ainda a atos violentos.

Seria um sintoma de loucura? Ou de histeria coletiva, um fator que desagrega a sociedade da racionalidade que permite uma convivência produtiva e pacífica?
Perguntas e perguntas. Que parece haver uma gradativa perda de identidade e um processo de histeria coletiva - onde se age pela emoção, sem um racicínio independente e lógica individual - isso parece! Há quem afirme que a sociedade moderna  está cada vez mais integrada por pessoas que confundem a realidade com a ilusão criada pela ficção ou pela mídia, farta em mensagens subliminares

Somos seres racionais e a nossa vontade é racional. Assim nos percebemos lúcidos e com capacidade de definir a realidade. Qualquer pensamento ou emoção que extrapolem determinados limites podem ser interpretados como uma ficção ou uma ilusão sob controle.
Mas é preciso considerar a capacidade humana de reintegrar-se em seu isolamento mental. No momento em que divagamos dentro de nós mesmos, a concepção do certo, errado ou do que é real pode mudar. Podemos permitir que haja maior abertura para a irracionalidade, a fantasia e a ilusão. Ou permitir uma reestruturação do pensamento diante de uma nova realidade, que permitirá maior segurança de sobrevivência.

Assim como nos sentimos seguros quando percebemos a realidade fora de nós, onde podemos ter a percepção sobre ela e diferenciar o que de fato é consistente e o que é ilusão, também a incapacidade de lidar com as duas realidades pode ser perigosa.
Tornar-se excessivamente pragmático portanto é colocar em risco a própria sanidade, uma vez que a pessoa que vive exclusivamente para uma realidade imediata e material – aquela que considera única – é facilmente dominada pelas regras desse mundo plastificado.
Ficará, por exemplo, mais sujeita à pressões de uma sociedade imediatista e superficial e mais sensível ao processo de histeria que se instala coletivamente.

O estudo da psicanálise demonstra a importância de nosso inconsciente. Considerando a Filosofia, esse mundo interior se torna muito mais amplo e capacitado para conduzir-se conscientemente e não consistir-se simplesmente em um reflexo do mundo exterior.

Deveríamos conscientizar a importância de nosso mundo mental, ou de nossa alma. No entanto, estamos sempre na dúvida sobre quais das sensações devem ser priorizadas em determinado momento: a liberdade do pensamento livre e da imaginação solta em nosso mundo interior, onde as percepções são tão ilimitadas, e a percepção da realidade externa, comunitária, que divide-se no mundo material.
Quando estamos sonhando, vivemos uma realidade ou uma ilusão? Para os mais pragmáticos, essa é uma pergunta absurda. Ora, o excesso de racionalidade leva à falta de criatividade e crescimento mental e portanto limita a capacidade de compreensão de um mundo lúdico ou mental.
Se nosso mundo interior, formado de sonhos, pensamentos e imagens, é perfeitamente estabelecido e desperta sensações, inclusive físicas, apesar da imaterialidade do mundo interior, por que não seria também uma realidade, em outro nível de percepção?
O que se pretende portanto é o equilíbrio entre a realidade imediata e a capacidade de percepção e criatividade humana. Atingir a medida certa não é tão importante quanto pensar sobre sua própria capacidade de integrar-se ao pensamento exocêntrico... que afinal representa a consciência do "uno" ou da relação entre todas as coisas. (Mirna Monteiro)

Friday, May 04, 2012

VIVA A PIPOCA!

Quem não se interessa em saber qual alimento possui propriedades "mágicas" para a saúde e a perpetuação da juventude? Todos, certamente. Preocupar-se com a saúde e beleza transformou-se em obsessão para muitas pessoas, que procuram dietas milagrosas, lotam as academias de ginástica e enfrentam qualquer desafio para conseguir "consertar-se" com novas tecnologias e cirurgias corretivas.
Mas o seria uma dieta perfeita? Aquela que acaba com os já famosos radicais livres, varrendo gorduras das artérias, mantendo baixos índices de glicemia e assim afastando o fantasma do diabetes, do colesterol ruim e da degradação física?
Dieta perfeita, do ponto de vista científico, seria aquela que beneficia o organismo, preenchendo todas as suas necessidades. Pode variar, de acordo com o ambiente, os hábitos e a idade e é isso que traz confusão. Não é possível criar um tipo de dieta especial que sirva para todo mundo.
Mas todos se animam com as novidades...que na verdade são alimentos que sempre existiram. Por exemplo, as maravilhas da pipoca! Sim, essa pipoca que todo mundo adora e que consome aos quilos nos cinemas, mas que deve ser consumida com certa moderação (umas três xícaras de pipoca pronta tem menos de 100 calorias) e preparada com água ou pouco óleo e pouco sal, sem manteiga, que pode ser substituída pelo azeite.
Pipoca possui vitaminas do complexo B, ajuda a tonificar o estômago, prevenir a ansiedade e melhorar a digestão (uns goles de água intercalados ajudam o processo). Mas o bom é que tem alta quantidade de antioxidantes e ajuda a diminuir o risco de distúrbios cardiovasculares, mostrando ainda quantidades razoáveis de zinco, potássio e fósforo. Como tem vitamina A, luteína e zeaxantina ajuda a prevenir doenças como a catarata e beneficia quem tem diabetes. O que é ótima notícia.
Mas não se vive de pipoca. Se você comer apenas pipoca, não vai dar certo. É preciso consumir alimentos frescos, verduras, saladas, tubérculos, frutas...é imensa a listagem de propriedades que podem ajudar na saúde. Brócoles contra o câncer, maracujá para estresse, melancia para desintoxicar, banana para enxaqueca ou para dormir, maçâ para socorrer o coração!
Tem mais: alimentos integrais para nutrir, fazer o intestino andar, "varrer" gorduras das artérias...a lista é interminável. Tanto que no final das contas ninguém come direito, diante de tantas opções.
Há no entanto uma regra básica: tudo pode fazer bem, se consumido com preparo adequado e na quantidade  moderada. E tudo que é industrializado, é alimento transformado e portanto reduzido em seu poder anti-radical...Mas considerando que nossa economia está calcada na produção, retornar aos tempos das poções mágicas feitas com produtos frescos colhidos na hora pode causar uma pane mundial.
É nesse ponto que paramos para refletir o grande beco sem saída do sistema humano, que impõe cada vez mais uma alimentação multiplicada por processos químicos ou genéticos, encharcada com venenos defensivos de pragas e industrializada, sob alegação de que essa é a única alternativa para o mundo não passar fome.