Thursday, June 30, 2011

O DESTINO E A INEXORABILIDADE

Ou, traduzindo, o eterno receio do futuro. Recentemente, em discussões de grupos na internet, o tema foi esse mesmo,  o "destino". Palavra fácil, com sentido complicado, pois envolve suposições, crenças ou, como não, lógica extrema. Depende do ponto de observação. Mas como angustia o ser humano!
A preocupação com o futuro é evidente. É raro encontrar alguém que não se preocupe com o que vai acontecer no próximo minuto, nas próximas horas, no próximo ano ou até onde vai poder contar com essa expectativa.
Mas há algo mais nessa ansiedade. Talvez a ausência de conteúdo imediato, que promova a atenção total para o momento presente. Talvez, também, certa confusão no viver pura e simplesmente, diante de acontecimentos que não são exatamente imprevisíveis, mas que tornam a necessidade de mudanças mais premente.
Aí volta e meia alguém quer saber: como será no futuro!
Muitos desconfiam de que existe alguma programação pronta, como se a vida fosse páginas de um livro já escrito e com final definido, cuidadosamente desenvolvido para emocionar, premiar ou punir o sujeito. “Certas vezes me ponho a pensar sobre essa intrincada e incompreensível trama que é a nossa vida e me pergunto se por detrás dela não existe algum tipo de ordem ou razão”, opinou um ouvinte em uma palestra que deveria versar sobre o humor e saúde, mas que acabou se transformando em um debate existencialista.
Com toques dramáticos! Falar sobre o destino é dramático. Extenuante até, para os mais afoitos em obter alguma certeza do futuro. Existirá uma ordem, seja ela do ponto de vista individual ou coletivo, que funcione com um traçado prévio dos acontecimentos? Ou os acontecimentos são simplesmente resultado de ações, estas sim funcionando como uma mão de direção para o futuro?
Há quem afirme que tudo isso é uma bobagem e que faria melhor a humanidade se concentrasse suas preocupações em construir o momento presente e futuro, sem a cômoda impressão de que não precisa fazer absolutamente nada, pois tudo já está traçado. Cruzar os braços e resmungar a todo instante que "não ia adiantar fazer nada mesmo"...
Os antigos acreditavam que quem gerenciava os acontecimentos e o destino dos humanos eram os deuses ou forças que estariam acima das forças do homem. A mitologia descrevia o estado primordial, primitivo do mundo como o “Caos”, que segundo os poetas era uma matéria que existia desde os tempos imemoriais, sob uma forma vaga, indefinível e indescritível.
Caos era ao mesmo tempo uma divindade, talvez rudimentar, mas capaz de fecundar.Por aí já se percebe que tinha seu toque de inexorabilidade. Obviamente.  Pois foi assim que gerou a Noite. E foi do Caos e da Noite que foi gerado o Destino, uma divindade cega e portanto definitivamente inexorável, ao qual estariam submetidas todas as outras divindades.
O Destino era poderoso, por si só uma fatalidade. Os céus, o mar, a terra e os infernos, todos faziam parte de seu império, que não era nem a favor dos deuses, nem a favor dos homens.
As leis do destino eram escritas desde o princípio da criação em um lugar onde deuses podiam consultá-la. E segui-las, irremediavelmente. As leis do Destino tornaram culpados muitos mortais, apesar de sua vontade de permanecer virtuosos. Os homens jamais sabiam do seu destino. Em termos, veja bem, porque ele poderia deixar de ser misterioso através da visão dos oráculos.
Uma visão fatalista, que naturalmente modificou-se conforme a sociedade humana foi se aprimorando e sofisticando-se. O homem percebeu que regras podiam ser mudadas e cursos de rios desviados. Ainda assim, em tempos de grandes mudanças e de novos conceitos, a certeza de um destino imutável permanece forte. “Tudo que se planeja esbarra na imprevisibilidade e se transforma”, lamentou um fatalista....ora, se há imprevisibilidade e transformação não pode  haver imutabilidade!
Controvérsias e confusões. Essa interpretação de uns entra em choque com a de outros, que defendem uma nova postura do otimismo e do pensamento positivo. Defende a idéia de que o ser humano possui força suficiente em seus pensamentos para criar as situações futuras, como se desenhasse no papel o que deveria acontecer, sendo o próprio escritor do destino, o criador de seu futuro.
Neste caso não se nega a existência do Destino. Nega-se a sua fatalidade. Ele continua imponderável, mas subordinado às ações e aos resultados delas. Continua inexorável, mas consciente da que tudo que existe foi ocasionado por uma ação determinada ou um pensamento, coletivo ou individual. Se para cada ação existe uma reação, o futuro seria construído e modificado a todo momento!
Há quem não goste dessa idéia. Dá trabalho! Responsabilidade. Isso significaria que o destino, como resultado de nossas ações e pensamentos, não é imutável e definitivo, podendo ser transformado. Se for uma caca, a culpa não é do onipotente, mas nossa. Ou de quem atuou.
Essa responsabilidade, individual e coletiva, ameaça os que preferem ser irresponsáveis. Impossível controlar o mundo e o universo, reclamam. Como conter o furacão, as entranhas da terra que explodem vulcões, os tsunamis? Podemos controlar o que?
Será mesmo assim tão impotente a humanidade? Ou confundimos ações e pensamentos que deveriam estar uníssonos com o poder natural com desejos primitivos de dominar e mudar essa natureza?
Parece que o que temos hoje é simplesmente um resultado de ações passadas, em todo o universo. Não há isolamento possível e todos os acontecimentos passados interferem no presente e no futuro...Essa idéia parece ser a constatação de que nada no universo é individual – nem mesmo a consciência humana, pois ela interfere no ambiente através do pensamento.
Pensando bem, destino, seja ele estático ou em constante mutação, baila na mente humana com o movimento do prazo ao qual se apega a vida preocupada com a finitude. Se isso é de fato um final ou uma mudança, essa é uma outra história...(Mirna Monteiro)

Monday, June 27, 2011

ENTRE INTRIGAS E VILÕES


Muita maldade e intriga! Ou, pelo menos, muita fofoca e mentira, enrolação, dissimulação, etecetera e tal. A ficção não vive sem os seus vilões, seja na literatura, seja na dramaturgia. Principalmente nas novelas da TV: história que se preze deve ter a força maligna, em maior ou menor escala!
Mesmo que seja a de um vilão trambiqueiro e simpático, nem tão malvado, mas com o caráter difuso...
Naturalmente, a ficção copia a vida real e a dimensiona de formas diferentes, valendo-se do poder da criação.
Algumas histórias podem ter seus vilões atrapalhados. A maldade acaba ficando por conta das encrencas criadas pelas fofocas e ambições moderadas. Fofoca é diferente de intriga. Pode causar um grande mal, mas as personagens fofoqueiras são criadas com material diferente das intrigas!


Fofoca é produto da inveja, da ausência de caráter, da sensação de inferioridade no mundo. O fofoqueiro é um falastrão, um passional, que aproveita os fatos e os distorce, tentando obter vantagem dessa situação, ainda que seja um transitório sentimento de vitória.
Já a intriga é calculista, maquiavélica, planejada em detalhes e projetada com ênfase pelo seu arquiteto, o vilão maldoso, com ódio do mundo, psicopata ou não, mas sem dúvida, sem intenção de remorsos em seu planejamento e execução. A intriga é fruto do supérfluo, da necessidade de poder e do descaso com o futuro.
Na literatura clássica um dos vilões mais maquiavélicos ficou por conta da criada Juliana, no romance de Eça de Queirós, "O primo Basilio". Essa personagem pressionou tanto a sua presa, a ingênua e infiel Luiza, que acaba pondo a perder seus sonhos de rica "aposentadoria", pois exagera na dose do maquiavelismo.
Na verdade, Eça de Queirós foi cruel em sua punição aos fracos de caráter, que seriam vilões ou vítimas (não há heróis, decerto, nesta história) e além da morte de Luiza e da seca Juliana, intrigueira de primeira linha, até o pobre do marido Jorge acaba punido de roldão!
A figura de Juliana, a criada, é semelhante a de outra personagem vilã que recheou muitos romances, principalmente policiais: o mordomo. Agindo nas sombras e conhecendo detalhes da vida de todos a quem servia, esse tipo de vilão saboreava lentamente as intrigas e seus objetivos.
Desde os tempos de Barba-Azul até os mais novos vilões da ficção científica muita coisa mudou, inclusive a virulência, a violência e a carga de maldade, aliada aos recursos dos novos malvados cibernéticos, que podem contar em suas intrigas e maldades com a profusão tecnológica - afinal, as intrigas de hoje acabam sendo muito mais perniciosas e destruidoras. São de grande amplitude!
Os novos vilões não causam estragos individuais, mas sociais e ecológicos. Ameaçam a sobreviência da raça humana.
Apenas não mudaram em um aspecto: seja nas famosas "fofocas" dos deuses da Mitologia Grega, seja nos contos infantís da Idade Média ou nos sofisticados intrigueiros do mundo moderno, a intriga continua a mesma. Aliás, como sempre, potencialmente perigosa e com encaixe em qualquer tipo de vilão.
Um prato cheio!
(Mirna Monteiro)

Tuesday, June 14, 2011

TENTAÇÃO, DÍVIDAS, USURA E VICE-VERSA

De acordo com o Banco Central pelo menos 80 milhões de brasileiros têm alguma dívida...isso nos faz pensar que há mais mistérios na mentalidade que leva ao consumo do que o bolso do cidadão poderia supor!
Por que acumulamos dívidas? Por que motivo compramos a crédito? Afinal, os juros são sempre extorsivos,  prontos para afundar quem se atrever a ultrapassar o dia exato do vencimento de uma fatura, ou do cheque especial!
A verdade é que por mais consumista que seja este nosso mundo tecnológico e global e por mais capital que gire e role a moeda em seu verso e anverso, o ser humano sempre foi vítima da tentação do consumo, desde que a moeda de troca foi inventada!
Possuir tem conotação de poder. Quem tem poder tem maiores chances de sobrevivência, já sabiam nossos ancestrais.
Dinheiro e consumo são condições muito próximas no imaginário popular. Antes serviam à sobrevivência. Hoje servem a roda econômica.
Mas em qualquer tempo, gastar mais do que se possui é um grande problema!
A dívida nos tempos do fio de barba, que valia mais do que as dezenas de assinaturas nas papeladas exigidas pelos credores modernos, era coisa séria! Em uma sociedade onde todos se conheciam pelo nome de seus antecessores e onde o peso da família determinava a aceitação de sua descendência, compromissos eram honrados ao pé da letra e portanto os exageros eram descartados.
Inclusive aqueles assumidos com os deuses. Com algum cuidado, para não despertar a ira divina.
Mas se nos velhos tempos quem economizava era chamado de sovina, hoje é considerado precavido. A premência do consumo atinge quase todos os aspectos da vida do cidadão moderno. Tudo tem um preço, nada é de dadivoso.
Paga-se para nascer, paga-se para viver, paga-se para morrer.
Eis aí o fator que leva o homem moderno a acumular seus débitos: ansiedade com o meio em que vive. É preciso possuir muitas coisas e ao mesmo tempo nunca antes as coisas foram tão descartáveis. Para estudar é preciso pagar e para pagar é indispensável trabalhar e para trabalhar é preciso gastar com vestuário e transporte e assim a coisa vai longe.
Parece que vivemos em função do consumo.
Muitos procuram explicar a  origem dessa voracidade em comprar e as dívidas crescentes de cartões de crédito, que desembocam em inadimplências surpreendentes! 
Estamos irremediavelmente submissos ao poder do consumo?
Somos escravos da força do marketing que afaga nosso ego, mas também fornece a impressão de que somos únicos e que nossa individualidade não se perderá na massa consumidora, se comprarmos aquele carro, aquele vestido, aquela cadeira....há quem diga que consumir libera endorfina...melhora a sensação de vazio, os hormônios desregulados da TPM, a impressão de solidão ou frustrações em geral.
O que leva a uma dúvida: ora, se consumir, comprar, adquirir, é tão prazeroso e vital, como é que se vivia antes da era dourada do consumo, que começou lentamente no século XX e estourou ao final dele e já mostra sinais de descontrole neste início do século XXI? 
Nem sempre foi assim...ou foi? A sociedade humana moderna é sustentada pelo giro da moeda, mesmo antes da revolução industrial. Eram tempos onde não havia conta de energia elétrica, de água e esgoto...mas que em compensação possuia prazeres da bebida, comida e viagens que eram incomuns e onerosas. E inacessíveis para a esmagadora maioria das pessoas.
Isso faz lembrar do homem conhecido como pai do socialismo ( juntamente com Engels) nascido em 1818...Karl Marx! Ele mesmo! Pois Marx sofreu suas primeiras decepções com o sistema quando estudava Direito em Bonn. Tinha grande dificuldade em lidar com coisas práticas da vida e acumulou dívidas sobre dívidas, desesperando a família.
Não foi má sorte de iniciante. Ele gastava mais do que podia. Dois semestres depois, em Berlim, os estudos do Direito continuaram precários, ainda que Historia e Filosofia fossem menos mal, mas as dívidas iam de vento em popa. Mesmo décadas depois Marx enfrentava esporádicas penhoras da sua mobília por dividas não saldadas...

Consumir sempre foi uma vocação da humanidade. Pelo menos na escala cultural  que foi criada artificialmente para a separação de classes e a manutençao de poder politico.
Ao escrever seu primeiro livro, "Diário de um escritor", Dostoiévski, considerado fundador do Existencialismo, também foi acumulando dívidas e apenas valorizou a vida, tornando-se mais parcimonioso, depois de enfrentar o pelotão de fuzilamento do Czar. Não por causa das dívidas, mas por desavenças políticas!
Sinceramente, seria injusto justificar a dívida na história humana como proveniente unicamente da fraqueza e do desejo de consumo. Ter e cada vez possuir mais! O desejo sempre atormentou o ser humano e o levou a atos desregrados!
Mas a especulação e a tendência a lucrar nas situações mais diversas é a "mãe" da dívida!
A dívida surgiu com o habito (ou pecado) da usura, certamente muito antes da Era Cristã ter início! Ora, se não há ambição e abuso do ganho fácil, as dívidas não existem!

Brasileiros devedores...há situações tão ou mais dramáticas pelo mundo, no Ocidente ou no Oriente. Do ponto de vista do consumo podemos citar alguns recursos bastantes perigosos para quem não pretende viver a vida pendurado em débitos. Como o aparentemente inocente cartão de crédito! Terrível, um vira-casaca da pior espécie, pois se não for saldado na data certa se transforma de amigo fiel em inimigo feroz e implacável, destroçando a economia de suas vítimas e tornando-as dependentes eternas. Empréstimos em geral, tão perigosos na era da informática com seus juros modernos, quanto nos tempos primitivos da usura...após a Idade Média, porque antes a prática da usura ou do dinheiro que gerava muito mais dinheiro era proibida!
Incrível? Pois assim era!
Pelo visto, com tantos estímulos e apelos, será sempre difícil livrar-se das dívidas. Dívidas parecem encarnar a  razão do homem. Comprovação da superficialidade humana? Ou uma marca indelével do caráter de sua sociedade, que não pode ser corrigido?
Sabe-se lá!  Mas como todo exagero, faz mal. Andam falando por aí em uma tal de "síndrome do endividado", que provoca reações inesperadas e lesivas ao meio. Melhor pensar em reduzir a usura, equilibrar o consumo e trocar tentações pela observação de hábitos de vida esquecidos, mais saudáveis. Mesmo que muitos garantam que assim seria cozida a falência do sistema, poderia ser um alinhavo em uma nova fórmula de vida onde os sérios problemas econômicos fossem superados graças a uma nova mentalidade na economia mundial, menos artificial e mais consistente. As aparências enganam e o excesso de supérfluos poluindo o ambiente não assegura, em absoluto, um futuro. (Mirna Monteiro)

LEIA TAMBÉM:
http://artemirna.blogspot.com.br/2017/06/complexo-de-classe-social-e-complicado.html

Thursday, June 09, 2011

CONFLITOS DA EUTANÁSIA

Quando o assunto é eutanásia, o choque é inevitável. Talvez nem tanto pela dúvida entre o direito ou não de antecipar a morte de um ser terminal e em sofrimento extremo. Mas simplesmente pelo fato de lidar com aquilo que o ser humano mais teme: a morte!
Morte significa o fim de alguém ou de um sentimento ou qualquer coisa que se finda definitivamente. É o desconhecido, um acontecimento que não permite a quem quer que seja lidar com alguma certeza. Por esse motivo a idéia de provocar a morte - mesmo que por piedade - é chocante!
O termo eutanásia deriva do grego "eu" ou "boa" e de "tanatos" que significa "morte". Assim sendo, eutanásia significa boa morte ou morte serena, que era defendida por Sócrates e depois por seu discípulo Platão. Por toda a história da humanidade, em momentos de desespero diante do sofrimento inevitável e terminal de algum ser, homem ou animal, o medo da morte cedia espaço à piedade.

Será mesmo possível a "morte suave, doce, fácil", sem sofrimento, sem dor, para abreviar agonia muito grande e dolorosa de alguém? Seria o ato que põe termo à vida de quem enfrenta enfermidade incurável ou então a aleijados padecendo dores cruéis, natural?
Sob essa ótica, sim, parece ser a morte piedosa uma ação natural, movida pelo sentimento de humanidade. Mas nem por isso deixa de ser controversa, quando todos sabemos que nem sempre os atos justificáveis ficam limitados ao bom senso. Sempre há o risco de, diante da aceitação da eutanásia, acontecerem distorções futuras.
No entanto, a maioria das pessoas pode ficar chocada quando assiste uma cena em que um animal é mortalmente ferido e recebe um tiro de misericórdia, ao mesmo tempo em que sente alívio pelo fim da tortura da dor e e da morte lenta. Contradições da alma humana ou superação do medo da morte em nome da piedade?
Hoje a eutanásia é usada na medicina veterinária em casos terminais. Os veterinários não aceitam esse termo, preferindo chamá-lo de "descanso" de um animal em extremo sofrimento e em situação irreversível.

Seria a eutanásia um ato de respeito à natureza? Ou a natureza deve seguir o seu curso mesmo quando envolve o sofrimento, enquanto assistimos à dor de outros com braços cruzados e impotentes diante do ciclo natural da vida?
Esta é certamente a decisão mais difícil para uma sociedade que conta com recursos da ciência para salvar vidas, mas também para tornar a morte piedosa e indolor. Talvez a resposta esteja na certeza de que a natureza dita suas regras, mas também as modifica. Nada parece ser definitivo em um universo em eterna transformação. E o respeito à natureza também é influenciado pelas circunstâncias, que nunca são idênticas e dependem da razão e do bom senso em sua decisão.(Mirna Monteiro)

Monday, June 06, 2011

O RISCO DO SILÊNCIO

Falar ou calar, eis a questão!...Não se pode negar que as palavras representam o peso de tudo que existe. Enquanto não verbalizamos alguma coisa, seja o que for, existe a impressão de ficção e inconsistência. Se assim for, depreende-se que ao falar, as pessoas têm maior percepção da realidade, do meio ou de seu semelhante.
Para o bem ou para o mal, naturalmente. Popularmente costuma-se dizer que calar é ouro...ou, traduzindo, calar "esconde" não apenas o ouro, mas a personalidade e o caráter de quem cala.
Ainda que a matraca solta muitas vezes seja o sinônimo de descontrole e má ação, o silêncio pode demonstrar a necessidade de se proteger ou evitar exposição por razões nem sempre nobres. A palavra proferida com malícia esconde a hipocrisia e pretende criar situações artificiais e nem sempre favoráveis ao meio, mas sim a quem as engendrou. Para isso é preciso utilizar a capa do silêncio...
O silêncio é extremamente compatível com a malícia. A linguagem se presta a "gregos e troianos"...para a expressão da verdade e em contrapartida à distorção dela. No entanto uma pessoa maliciosa observa mais do que fala e quando utiliza a linguagem já calculou o impacto de suas palavras engendradas no silêncio da observação.
No entanto o silêncio também é compatível com quem não confia em si mesmo ou pretende esconder aquilo que pretende. Insegura e avessa ao ambiente, esse tipo de personalidade pode causar estragos pois o fato de se isolar  pode ser compensado com alguma ação inesperada e tão danosa quanto os pensamentos  que nunca são verbalizados, permanecendo como uma ameaça camuflada.
Já quem se expressa em geral desnuda o pensamento, mesmo quando pretende usar o verbo para ludibriar ou conturbar o ambiente. Corre o risco de ser considerado burro ou reconhecido como um gênio. Mas está cumprindo com a lógica da interação.
Veja bem, quem tem a pura intenção da convivência sadia, não se furta à palavra, pois é através dela que vai estabelecer o contato com o mundo. Quando nascemos dependemos da "ponte das palavras", com sons e articulações que permitam nosso gradativo contato com a realidade e a vida e estimulem a nossa inteligência.
Por isso é fácil entender que pensadores estivessem sempre em conflito entre o isolamento e a necessidade de contato com a realidade através das palavras...que nem sempre eram recebidas com a boa vontade  que mereciam. A verdade que flui através das palavras pronunciadas com ênfase da fé ou com a sonoridade da sinceridade são como o alho para vampiros.
A omissão, por exemplo, odeia a força das palavras, pois elas obrigam a reconhecer uma realidade que pretende evitar. Friedrich Nietzsche, que tinha o seu pendor para a crítica sem floreios, lamentava o fato de que conviver com as pessoas era difícil porque é mais difícil ainda ficar calado...afinal não é possível filosofar sem expressar as conclusões acerca do que se vê e com as coisas com as quais convivemos.
Felizmente a filosofia existe para evitar a tentação do silêncio e o risco da perpetuação dos erros da omissão ou do ignorar. Tivemos sempre pensadores faladores, que ajudaram a iluminar espaços escuros ou denunciar palavras vazias.
A ciência começa pela observação, mas o resultado construtivo dela apenas se efetiva com a ação desencadeada pela comunicação do pensamento.
Dialogar é a máxima expressão da comunicação entre as pessoas. Por mais que a palavra possa ter sentidos opostos, representando ou negando uma realidade, é através dela que se pode explorar a verdade. Poderíamos dizer que o silêncio é ouro quando origina linguagem igualmente preciosa, enquanto que o silêncio escuro é o que impede o círculo entre pensamento e linguagem. Neste caso, o mais danoso dos males. (Mirna Monteiro)

Wednesday, June 01, 2011

REFLETINDO AS CORES Arte em Vitral


Cor, transparência, luz e reflexo! Certamente foi esse o resultado que encantou os primeiros artífices que encararam a arte da vitralaria, até chegar à beleza dos vitrais da Idade Média.
Como surgiu a idéia do vitral? A maioria dos pesquisadores chega a um acordo: a arte em vidro foi se desenvolvendo com a adição de metais em sua composição, primeiramente em cores básicas.
Rosácea (Notre Dame). Rudimentar
mas lindíssima, a obra possui
 13 metros de diâmetro
A partir daí, com a descoberta do esmalte e o aprimoramento da arte em mosaicos, os vitrais foram surgindo, como uma jóia no acabamento de estruturas, substituindo as janelas convencionais. Primeiro, com estruturas de metal ainda grosseiras e invadindo as formas, depois com seu aprimoramento em filetes metálicos que acompanhavam e realçavam as formas.
Vidro e pigmentos foram sendo aprimorados. Você pode reparar que os vitrais mais antigos, medievais, possuem um colorido forte e sem nuances. Isso só foi possível com a descoberta de novos pigmentos, que permitiram maior suavidade e realidade no jogo das cores. O que na época era um segredo precioso e guardado a "sete chaves".
 A arte em vitral era especial e bastante onerosa! Por esse motivo poucos  eram aqueles que encomendavam o trabalho. Os grandes consumidores de vitrais eram o clero e nobres abastados.
Carlos Magno


O vitral da Virgem, na Catedral de Notre Dame
Observe as cores fortes e sem nuances e as tiras
de metal, chumbo, que ainda cortavam a figura
na sustentação do vidro.
Vitrais modernos utilizam novos materiais simplificados
 e versáteis, que permitem criar novas  formas e
disposições com efeitos surpreendentes