Falar ou calar, eis a questão!...Não se pode negar que as palavras representam o peso de tudo que existe. Enquanto não verbalizamos alguma coisa, seja o que for, existe a impressão de ficção e inconsistência. Se assim for, depreende-se que ao falar, as pessoas têm maior percepção da realidade, do meio ou de seu semelhante.
Para o bem ou para o mal, naturalmente. Popularmente costuma-se dizer que calar é ouro...ou, traduzindo, calar "esconde" não apenas o ouro, mas a personalidade e o caráter de quem cala.
Ainda que a matraca solta muitas vezes seja o sinônimo de descontrole e má ação, o silêncio pode demonstrar a necessidade de se proteger ou evitar exposição por razões nem sempre nobres. A palavra proferida com malícia esconde a hipocrisia e pretende criar situações artificiais e nem sempre favoráveis ao meio, mas sim a quem as engendrou. Para isso é preciso utilizar a capa do silêncio...
O silêncio é extremamente compatível com a malícia. A linguagem se presta a "gregos e troianos"...para a expressão da verdade e em contrapartida à distorção dela. No entanto uma pessoa maliciosa observa mais do que fala e quando utiliza a linguagem já calculou o impacto de suas palavras engendradas no silêncio da observação.
No entanto o silêncio também é compatível com quem não confia em si mesmo ou pretende esconder aquilo que pretende. Insegura e avessa ao ambiente, esse tipo de personalidade pode causar estragos pois o fato de se isolar pode ser compensado com alguma ação inesperada e tão danosa quanto os pensamentos que nunca são verbalizados, permanecendo como uma ameaça camuflada.
Já quem se expressa em geral desnuda o pensamento, mesmo quando pretende usar o verbo para ludibriar ou conturbar o ambiente. Corre o risco de ser considerado burro ou reconhecido como um gênio. Mas está cumprindo com a lógica da interação.
Veja bem, quem tem a pura intenção da convivência sadia, não se furta à palavra, pois é através dela que vai estabelecer o contato com o mundo. Quando nascemos dependemos da "ponte das palavras", com sons e articulações que permitam nosso gradativo contato com a realidade e a vida e estimulem a nossa inteligência.
Por isso é fácil entender que pensadores estivessem sempre em conflito entre o isolamento e a necessidade de contato com a realidade através das palavras...que nem sempre eram recebidas com a boa vontade que mereciam. A verdade que flui através das palavras pronunciadas com ênfase da fé ou com a sonoridade da sinceridade são como o alho para vampiros.
A omissão, por exemplo, odeia a força das palavras, pois elas obrigam a reconhecer uma realidade que pretende evitar. Friedrich Nietzsche, que tinha o seu pendor para a crítica sem floreios, lamentava o fato de que conviver com as pessoas era difícil porque é mais difícil ainda ficar calado...afinal não é possível filosofar sem expressar as conclusões acerca do que se vê e com as coisas com as quais convivemos.
Felizmente a filosofia existe para evitar a tentação do silêncio e o risco da perpetuação dos erros da omissão ou do ignorar. Tivemos sempre pensadores faladores, que ajudaram a iluminar espaços escuros ou denunciar palavras vazias.
A ciência começa pela observação, mas o resultado construtivo dela apenas se efetiva com a ação desencadeada pela comunicação do pensamento.
Dialogar é a máxima expressão da comunicação entre as pessoas. Por mais que a palavra possa ter sentidos opostos, representando ou negando uma realidade, é através dela que se pode explorar a verdade. Poderíamos dizer que o silêncio é ouro quando origina linguagem igualmente preciosa, enquanto que o silêncio escuro é o que impede o círculo entre pensamento e linguagem. Neste caso, o mais danoso dos males. (Mirna Monteiro)
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