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Tuesday, December 07, 2010
DE CABEÇA PARA BAIXO
O mundo está de cabeça para baixo? É o que andam falando por aí. Pode ter vários sentidos, mas uma direção interessante. Algo assim como mudar radicalmente o ângulo de visão invertendo a maneira de observar e pensar a vida.
Não significa certamente que estamos no último estágio da civilização, mas em um momento crítico, com algumas reações em cadeia que tornam o meio ambiente conturbado por questões de ordem natural e o meio comunitario incontrolável por erros de organização social.
Nada que nao possa ser arrumado, certamente. No mundo de cabeça para baixo usa-se o teto como capacho, já dizia Raul Seixas. Há sem dúvida aspectos positivos nessa inversão imprevista. Na chamada "vrschikásana", posição yoga, facilita-se o retorno venoso dos membros inferiores. Mas inverter a posição do corpo vai além disso, mostrando que em um plano mais sutil acontece uma alteração fisiológica que impõe ao sistema nervoso central uma reciclagem e um reeleitura do organismo, ativando receptores neurológicos importantes para despertar maior consciência corporal!
Talvez dar uma olhadinha no mundo de cabeça para baixo também ajude a ativar a consciência coletiva, mostrando que a sobrevivência futura depende de certa harmonia nas ações. Esse negócio de varrer a sujeira para baixo do tapete do vizinho, por exemplo, não funciona, porque estamos sofrendo intempéries que levantam a sujeira e os erros e provocam correntes que trazem tudo de volta. Tapar o sol com a peneira também está cada vez mais difícil, porque o calor anda forte e a luz atravessa barreiras políticas que ainda tentam manter moldes que não se encaixam mais.
Lembrei da peneira devido aos resultados obtidos nas reuniões do G8, os poderosos chefões que desejam fazer o Bem, mas acabam complicando e terminam mal. Culpa dos furinhos da peneira. Ou da intensidade do sol, que não apenas escalda as mentes, como provoca inesperadas insolações culturais, políticas e econômicas. Não, tapar o sol com a peneira não dá mais, definitivamente! O "8"também está demodè e irreal, porque mesmo quando invertido nao muda nada! Talvez seja mesmo melhor para o mundo virar a mesa e criar o tal G14, ou quem sabe G191. Quem sabe? Seria bom arejar a democracia mundial e permitir um sistema circulatório mais saudável no planeta.
Como se vê, ficar de cabeça para baixo pode ser interessante. Podemos verificar o resultado na virada contra o tráfico no Rio de Janeiro, uma empreitada que praticamente inverteu os polos de poder, restituindo uma condição mais saudável. Não resolveu todos os problemas, mas pelo menos iniciou um processo de recuperação social e comunitária que torna 2012 menos ameaçador...Mesmo com o bafo de vulcões vociferando sobre terras e mares, cidades encharcadas e uma Justiça lenta, é possível vislumbrar um futuro onde a sociedade humana não fique de pernas para o ar como uma barata tonta, mas em pleno domínio "vrschikásana". ( Mirna Monteiro)
Monday, November 22, 2010
O EXPRESSIONISMO
Portinari: "Retirantes" |
Estas são as características do expressionismo, que é definido também como a arte do instinto. Ele parece trazer as sensações das profundezas da mente, com plasticidade evidenciada.
Como pode-se observar nesta tela de Lazar Seggal (Brasil) e em tantas outras dos mestres do Expressionismo na Europa, como Paul Gauguim, que viveu entre 1848 e 1903 (o começo do século foi marcante para o surgimento de vários pintores do expressionismo na Alemanha) e chocou os classicos com suas obras de cores intensas, principalmente o vermelho, Paul Cèzanne, Van Gogh (1853 a 1890), Toulous-Lautrec (1864 a 1901) e Munch (1863 a 1944), entre outros famosos pintores.
O Expressionismo brasileiro, na arte de Anita Malfatti |
Kirchner: A mulher com sombrinha |
Tuesday, November 09, 2010
CRIANÇAS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA
Uma mãe, moradora no Rio Grande do Sul, confusa com ferimentos no seu bebê, coloca uma câmera escondida em casa e descobre o improvável: o próprio companheiro, pai da criança, era o criminoso! As cenas, chocantes, mostram como o sujeito torturava a criança, de poucos meses de idade!
Os desajustes de crianças, adolescentes e parte de algumas patologias observadas em adultos, que distorcem o meio familiar e afetivo, mas manifestam-se de maneira crescente no meio social, certamente tem origem no abuso infantil. Crianças que sofrem torturas físicas, sejam elas meramente fruto de psicopatia do adulto ou caso de pedofilia, irão reproduzir quando adultas comportamentos derivados dessa violência ou conviver com quadros de depressão, transtornos de ansiedade, alimentares, dissociativos, hiperatividade ou déficit de atenção ou ainda transtorno de personalidade!
O preço é extremamente alto para a sociedade! E leva à pergunta: o que está acontecendo é um crime moderno e recente, ocasionado por um modelo social desigual e desprovido de valores? Ou é um crime comum, histórico, encoberto pelas sombras e agora detectável mais frequentemente? Ou é um crime histórico contra crianças, antes reprimido por imposição de valores religiosos e sociais e recentemente "liberado" pela impessoalidade de nosso meio?
O mais importante é parar de tratar esta questão como um "tabú" e passar a escancarar a sua gravidade, discutindo abertamente o fato e a necessidade de sua denúncia. Para isso é preciso esclarecer a criança sobre o que é normal ou não, seja em relação à violência - que não pode ocorrer em qualquer circunstância - seja através de abuso sexual.
Existe um profundo preconceito em relação a informação que a criança deve receber a esse respeito. Alguns pais se horrorizam com a idéia da criança "perder a inocência" . No entanto o risco de um contato direto com o assédio é grande e o resultado muitas vezes mais grave. Não é preciso dar uma aula de educação sexual. Basta delimitar claramente comportamentos que a criança deve evitar e não permitir que sejam realizados ou comunicar suas dúvidas a respeito. A partir dos cinco anos, existe condição da criança entender e reconhecer um assédio ou um contato físico não apropriado, desde que haja uma orientação bastante simples.
A maioria das crianças sabe instintivamente que algo está errado quando existe abuso sexual. Mas não possui referência de conhecimento para reconhecer totalmente o que está acontecendo e, principalmente, denunciar o fato. Por isso conversar sobre o assunto é importante, dentro dos limites de sua compreensão. É preciso lembrar que o abuso pode acontecer principalmente com pessoas próximas, babás, professores, amigos da família, parentes e também o pai. Embora seja mais raro, a mãe também pode estar envolvida na violência contra a criança. Quanto maior o laço afetivo, maior a confusão na criança.
Não adianta fingir que o problema não existe. Estudos realizados em diferentes países sugerem que o percentual de crianças e adolescentes que sofrem algum tipo de abuso sexual varia de 3% a 36% . Países do primeiro mundo mantém incidência alta desse tipo de abuso. Não é apenas a criança que sofre. Um estudo da Universidade de Montreal, no Canadá, indica que os pais de crianças vítimas de abuso sexual podem sofrer de ansiedade, depressão, luto crônico e ter idéia fixa de vingança. Há pouca literatura médica sobre o problema, que apenas agora começa a ser encarado com maior realísmo! (MM)
Leia também:
Thursday, November 04, 2010
RACISMO, PRECONCEITO E PODER
O que leva alguém a escrever uma mensagem na internet com ofensas a outras pessoas e incitação à violência? Agressividade, frases abusivas de adolescentes, jovens e adultos e o posicionamento de grupos radicais reacendeu a discussão sobre o racismo e o preconceito, que já vinha mobilizando entidades e autoridades no intuito de impedir a disseminação de agressões em sites de relacionamento.
Como pode haver reações desse nível em um país onde a miscigenação é a base da riqueza cultural? O preconceito se torna ainda mais absurdo quando se sabe que a intenção é "filtrar" o ser humano, reduzindo qualquer poder de ação do semelhante através da força de um determinado grupo!
O racismo nada mais é do que uma manifestação primitiva na tentativa de sentir-se de alguma forma "superior". Baseia-se na impressão de que a supremacia , seja qual for, é uma garantia de sobrevivência. Determinado grupo hostiliza outro porque tem receio de contato fora do seu círculo social, onde se sente vulnerável e fragilizado. O grupo, mesmo que atue contra alguma crença pessoal, representa uma garantia de força, homogeneidade e fatores comuns.
Isso pode acontecer portanto em circunstâncias variadas. Em times de futebol que disputam campeonatos, por exemplo. Os opositores serão rechaçados pelo grupo, possivelmente com agressões verbais ou até fisicas. Na escola manifesta-se através do bullyng, onde uma criança ou adolescente é escolhido para canalizar essa necessidade de poder. No dia a dia, em circunstâncias diversas, o racismo pode se manifestar diante da mesma necessidade de supremacia e a agressão pode ser direcionada a qualquer diferença existente: aparência, defeito físico, cor da pele, idade ou sexo.
Na civilização anterior ao cristianismo, egípcios, gregos ou romanos exerciam esse poder sobre o semelhante escravizando os povos vencidos nas guerras, independente da cor ou raça. Na Idade Média a diferença tornou-se evidente através da força política da igreja, que servia de justificativa para submeter outros povos ou avaliar a inferioridade de alguém.
A questão racial apenas se tornou o enfoque da superioridade ou inferioridade no século XIX, quando o conde de Gabineau publicou o "Essai sur l'inégalité des races humaines" ou Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas...onde se afirmava a questão da superioridade ariana, que seria a "senhora natural"das demais.
Em 1889 um inglês chamado Houston Stewart Chamberlain publicou na Alemanha "Os fundamentos do Século XIX", onde retomou o mito da raça ariana. A influência dessa obra sobre o povo alemão foi grande e décadas depois daria origem a terceira maior demonstração de racismo já vivenciada em tempos modernos, através do nazismo de Hitler. O preconceito contra os negros foi mais amplo e óbvio, mas outro preconceito, contra a mulher, foi o mais duradouro da história da civilização humana.
É importante observar que o racismo é de certa forma inerente e oportunista, embora seja cultivado e dimensionado conforme interesses políticos. Ou seja, ele aparece e acontece estimulado não por alguma aversão ou real crença de superioridade, mas motivado por fatores de insegurança ou briga pelo poder dos grupos mais fortalecidos política e economicamente, em várias instâncias, da pequena comunidade a dimensão mundial!
Por isso não existe uma raça específica, por exemplo, que seja exclusiva do racismo ou preconceito. Pode ser a raça negra - que históricamente teve suas etnias dominadas e escravizadas por motivos econômicos, mas pode ser também outra raça qualquer, que esteja no "caminho"de algum objetivo de poder.
Talvez o maior preconceito da humanidade, que existiu por séculos e séculos e ainda persiste, seja o preconceito contra a mulher ou a tentativa de menosprezo pela "raça feminina"...Além de ser pressionada a ser encarada como "ser inferior" em várias fases históricas, inclusive moderna, a mulher até hoje sofre desvantagens diante necessidade histórica do homem de predominar no poder. Esse preconceito não se limita a piadas (tipo "só podia ser mulher", ou "lugar de mulher é no tanque de roupa"ou "é loira"...) mas segue em aspectos profissionais ( salários mais baixos) e avança para sérias ações de violação sexual, espancamento e assassinatos.
A mulher seria, portanto, o ser que maior pressão sofre do racismo e do preconceito. E sofre isso da própria mulher: assim como os nordestinos foram objeto da frustração na disputa política, também a figura feminina que ousou vencer e assumir o mais alto cargo da Nação, a presidência da República, foi achacada nos sites de relacionamento como Orkut, Facebook , Twitter e MSN. Em um deles uma adolescente de 16 anos publicou o seguinte em uma discussão: "Calma gente, Tancredo morreu logo depois da eleição"....
A impiedade, a grosseria, a atitude criminosa no mundo virtual, ainda que passiva na vida real, mostram que a evolução humana é muito relativa, pois o pensamento primitivo ainda sobrevive e convive com a tecnologia que rompe as barreiras da comunicação, mas não impede a precariedade do relacionamento humano.
Crimes de ódio, no mundo virtual, são no entanto muito mais evidentes e óbvios! Por esse motivo a sociedade se organiza para policiar e punir os infratores. E isso será fácil, mas ao mesmo tempo extremamente confuso, porque racismo e preconceito são interpretados de maneira muito resumida.
Um exemplo: em uma notícia publicada por site na internet, comentava-se as providencias legais contra a estudante de Direito que participava do debate racista contra os nordestinos no Twitter; logo abaixo, na participação dos leitores, alguém escreveu: "Esta (sic) idiota quer aparecer pelada em alguma revista e como não tem capacidade de chamar a atenção usou esse tipo de artifício(...).
Seremos todos racistas e preconceituosos, a ponto de realizar comentários racistas para criticar uma ação racista? Seria bom discutir essa questão de maneira ampla, mostrando que preconceito e racismo são um crime muito mais comum do que assumimos reconhecer! (Mirna Monteiro)
Como pode haver reações desse nível em um país onde a miscigenação é a base da riqueza cultural? O preconceito se torna ainda mais absurdo quando se sabe que a intenção é "filtrar" o ser humano, reduzindo qualquer poder de ação do semelhante através da força de um determinado grupo!
O racismo nada mais é do que uma manifestação primitiva na tentativa de sentir-se de alguma forma "superior". Baseia-se na impressão de que a supremacia , seja qual for, é uma garantia de sobrevivência. Determinado grupo hostiliza outro porque tem receio de contato fora do seu círculo social, onde se sente vulnerável e fragilizado. O grupo, mesmo que atue contra alguma crença pessoal, representa uma garantia de força, homogeneidade e fatores comuns.
Isso pode acontecer portanto em circunstâncias variadas. Em times de futebol que disputam campeonatos, por exemplo. Os opositores serão rechaçados pelo grupo, possivelmente com agressões verbais ou até fisicas. Na escola manifesta-se através do bullyng, onde uma criança ou adolescente é escolhido para canalizar essa necessidade de poder. No dia a dia, em circunstâncias diversas, o racismo pode se manifestar diante da mesma necessidade de supremacia e a agressão pode ser direcionada a qualquer diferença existente: aparência, defeito físico, cor da pele, idade ou sexo.
Na civilização anterior ao cristianismo, egípcios, gregos ou romanos exerciam esse poder sobre o semelhante escravizando os povos vencidos nas guerras, independente da cor ou raça. Na Idade Média a diferença tornou-se evidente através da força política da igreja, que servia de justificativa para submeter outros povos ou avaliar a inferioridade de alguém.
A questão racial apenas se tornou o enfoque da superioridade ou inferioridade no século XIX, quando o conde de Gabineau publicou o "Essai sur l'inégalité des races humaines" ou Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas...onde se afirmava a questão da superioridade ariana, que seria a "senhora natural"das demais.
Em 1889 um inglês chamado Houston Stewart Chamberlain publicou na Alemanha "Os fundamentos do Século XIX", onde retomou o mito da raça ariana. A influência dessa obra sobre o povo alemão foi grande e décadas depois daria origem a terceira maior demonstração de racismo já vivenciada em tempos modernos, através do nazismo de Hitler. O preconceito contra os negros foi mais amplo e óbvio, mas outro preconceito, contra a mulher, foi o mais duradouro da história da civilização humana.
É importante observar que o racismo é de certa forma inerente e oportunista, embora seja cultivado e dimensionado conforme interesses políticos. Ou seja, ele aparece e acontece estimulado não por alguma aversão ou real crença de superioridade, mas motivado por fatores de insegurança ou briga pelo poder dos grupos mais fortalecidos política e economicamente, em várias instâncias, da pequena comunidade a dimensão mundial!
Por isso não existe uma raça específica, por exemplo, que seja exclusiva do racismo ou preconceito. Pode ser a raça negra - que históricamente teve suas etnias dominadas e escravizadas por motivos econômicos, mas pode ser também outra raça qualquer, que esteja no "caminho"de algum objetivo de poder.
Talvez o maior preconceito da humanidade, que existiu por séculos e séculos e ainda persiste, seja o preconceito contra a mulher ou a tentativa de menosprezo pela "raça feminina"...Além de ser pressionada a ser encarada como "ser inferior" em várias fases históricas, inclusive moderna, a mulher até hoje sofre desvantagens diante necessidade histórica do homem de predominar no poder. Esse preconceito não se limita a piadas (tipo "só podia ser mulher", ou "lugar de mulher é no tanque de roupa"ou "é loira"...) mas segue em aspectos profissionais ( salários mais baixos) e avança para sérias ações de violação sexual, espancamento e assassinatos.
A mulher seria, portanto, o ser que maior pressão sofre do racismo e do preconceito. E sofre isso da própria mulher: assim como os nordestinos foram objeto da frustração na disputa política, também a figura feminina que ousou vencer e assumir o mais alto cargo da Nação, a presidência da República, foi achacada nos sites de relacionamento como Orkut, Facebook , Twitter e MSN. Em um deles uma adolescente de 16 anos publicou o seguinte em uma discussão: "Calma gente, Tancredo morreu logo depois da eleição"....
A impiedade, a grosseria, a atitude criminosa no mundo virtual, ainda que passiva na vida real, mostram que a evolução humana é muito relativa, pois o pensamento primitivo ainda sobrevive e convive com a tecnologia que rompe as barreiras da comunicação, mas não impede a precariedade do relacionamento humano.
Crimes de ódio, no mundo virtual, são no entanto muito mais evidentes e óbvios! Por esse motivo a sociedade se organiza para policiar e punir os infratores. E isso será fácil, mas ao mesmo tempo extremamente confuso, porque racismo e preconceito são interpretados de maneira muito resumida.
Um exemplo: em uma notícia publicada por site na internet, comentava-se as providencias legais contra a estudante de Direito que participava do debate racista contra os nordestinos no Twitter; logo abaixo, na participação dos leitores, alguém escreveu: "Esta (sic) idiota quer aparecer pelada em alguma revista e como não tem capacidade de chamar a atenção usou esse tipo de artifício(...).
Seremos todos racistas e preconceituosos, a ponto de realizar comentários racistas para criticar uma ação racista? Seria bom discutir essa questão de maneira ampla, mostrando que preconceito e racismo são um crime muito mais comum do que assumimos reconhecer! (Mirna Monteiro)
Monday, November 01, 2010
O PENSAMENTO ARTIFICIAL
“(...) Todos estão tão agressivos, matando a troco de nada e ainda temos armas tão poderosas(...) Fico imaginando o futuro dos meus filhos e perco o sono (...)Tenho alunos que não me respeitam, levantam na sala e me ofendem. Citam frases feitas e conceitos massificados, não conseguem entender o que falam. As pessoas andam muito irritadas, que acha?” (Ivone)
Vivemos um momento de conflitos e incertezas. Certamente a humanidade sempre passou por apuros, insegurança e ameaças, cada qual com características de sua época. Mas a diferença talvez esteja na disparidade entre o tipo de sociedade que construímos e a expectativa de um mundo mais protegido.
Aparentemente, começamos a vivenciar um processo de extrema confusão, onde a pessoa passa a ter dificuldade em distinguir a realidade da ficção, onde o mundo virtual e a mídia massificada passaram a substituir o pensamento e o questionamento comuns ao ser humano.
Falar em “insegurança” é uma maneira suave de colocar a emoção humana diante do futuro. A palavra certa é medo. Medo do descontrole da emoção, medo das conseqüências da perda de valores e da superficialidade, medo de tornar-se apenas um número em um grande arquivo, que pode ser apagado em um piscar de olhos por mãos invisíveis!
Enfim, medo da perda da consciência e individualidade, com a sensação de impotência que vem do enfrentamento com um poder que não é humano, nem tem corpo físico, mas que domina gradativamente as sociedades através do virtual.
A agressividade humana foi fundamental para a sobrevivência em épocas onde o confronto físico era inevitável. A palavra agressividade significa “Movimento para frente”, ou impulso, uma característica humana não necessariamente destrutiva. Não é portanto o tipo de agressividade que observamos hoje, que cria uma nova patologia gerada pela necessidade de destruir, seja em conceitos na fúria de discussões, em patrimônios nas invasões e outras conturbações da massa ou formas de violência, como assassinatos por motivos fúteis ou por mera vontade de finalizar com algo ou alguém.
Até que ponto as sociedades suportarão a pressão ou onde vamos parar, é uma incógnita. Mesmo porque pode haver uma recuperação de valores surgida da própria necessidade de sobrevivência. Como podemos observar a preocupação leva à tomada de consciência e as discussões podem desencadear um processo de restabelecimento.
A dúvida no entanto ainda permanece. A dificuldade de interagir diretamente no meio social será superada? Ou a tendência ao isolamento físico, substituído por relações impessoais à distância, irá aumentar?
"Será que ao nos fechar nas nossas diferenças, não estaremos nos rebaixando a categoria de consumidores passivos da cultura de massa produzida por uma economia globalizada?” pergunta Alain Touraine, sociólogo francês. Crítico do mundo moderno, Touraine considera que a globalização destruiu o social. Ele cobra uma definição da individualidade, contra o universo da instrumentalidade. A grosso modo, significa que a sociedade humana chegou a um impasse, onde o conflito central , que é cultural, tem de um lado o triunfo do mercado e das técnicas e, de outro lado os poderes comunitários autoritários.
"Será que ao nos fechar nas nossas diferenças, não estaremos nos rebaixando a categoria de consumidores passivos da cultura de massa produzida por uma economia globalizada?” pergunta Alain Touraine, sociólogo francês. Crítico do mundo moderno, Touraine considera que a globalização destruiu o social. Ele cobra uma definição da individualidade, contra o universo da instrumentalidade. A grosso modo, significa que a sociedade humana chegou a um impasse, onde o conflito central , que é cultural, tem de um lado o triunfo do mercado e das técnicas e, de outro lado os poderes comunitários autoritários.
Essa confusão entre o real e o virtual, que ameaça a individualidade humana e a sua capacidade de gerenciar a vida pessoal e comunitária, é também muito bem analisada por outro francês, um pensador de nome Baudrillard.
Para ele o sistema tecnológico desenvolvido deve estar inserido em um plano capaz de suportar esta expansão contínua. As redes geram uma quantidade de informações que ultrapassam limites a ponto de influenciar na definição da massa crítica.
Seria o efeito oposto ao pretendido. Todo o ambiente estaria contaminado pela intoxicação midiática que sustenta este sistema. Quer dizer , a grosso modo, que vivemos um “feudalismo tecnológico”.
O resultado seria uma interferência na capacidade humana de pensar “com a própria cabeça”, de maneira abrangente e lógica. “O resultado de um consumo rápido e maciço de idéias só pode ser redutor”, critica Baudrillard , que não poupa críticas aos supostos detentores do pensamento e da razão, no jogo da mídia e do entretenimento. “Hoje o pensamento é tratado de forma irresponsável. Tudo é efeito especial!”
É, existe lógica nessa visão. Hoje tudo é “efeito especial”, como um grande cenário montado para causar impressões ao longe, mas que deixa perceber a quem está no palco que é um impacto feito de papelão. Não possui consistência suficiente para equilibrar o meio real!
Os nossos valores e pensamentos são decididos na mídia eletrônica ou no universo virtual onde a informação caminha lado a lado com a alienação e o engano.
Os nossos valores e pensamentos são decididos na mídia eletrônica ou no universo virtual onde a informação caminha lado a lado com a alienação e o engano.
A alternativa?
Fala-se em conscientizar o risco e não permitir que o “cyberspace” ou ciberespaço e a mídia em geral sejam as únicas fontes de informação e formação. A retomada das rédeas da própria vida e a consciência de humanidade são condições para evitar a decadência da convivência sadia que respeita as diferenças e a criatividade inerentes ao ser humano.
Como isso pode ser realmente trabalhado pelo indivíduo, ainda é um mistério...(Mirna Monteiro)
Fala-se em conscientizar o risco e não permitir que o “cyberspace” ou ciberespaço e a mídia em geral sejam as únicas fontes de informação e formação. A retomada das rédeas da própria vida e a consciência de humanidade são condições para evitar a decadência da convivência sadia que respeita as diferenças e a criatividade inerentes ao ser humano.
Como isso pode ser realmente trabalhado pelo indivíduo, ainda é um mistério...(Mirna Monteiro)
Saturday, October 30, 2010
A ARTE DA MANIPULAÇÃO
Por que motivo somos tão influenciados por palavras e imagens? Será que possuímos capacidade crítica suficiente para "filtrar" as informações captadas e seleciona-las de acordo com a realidade?
O domínio e controle sobre os seres acontece mediante as técnicas de manipulação. O que seria isso? Seria a capacidade de manejar, impondo pensamentos e comportamentos que são absorvidos como uma esponja pela mente humana.
Há várias formas de manipulação. Na verdade todos nascemos com a capacidade de conduzir o mundo externo às nossas necessidades, até mesmo por uma questão de sobrevivência. Até mesmo um bebê depende dessa capacidade para sobreviver.
A questão é a utilização desse poder para manipulação abusiva ou da massa. Isso corresponde, em geral, à vontade de dominar pessoas e grupos em algum aspecto da vida e dirigir sua conduta. Afonso López Quintás, em "A manipulação do homem através da linguagem", exemplifica alguns tipos de "convencimento" ao qual somos submetidos sem que haja um controle consciente do processo.
Ele comenta a manipulação comercial, "que quer converter-nos em clientes, com o simples objetivo de que adquiramos um determinado produto, compremos entradas para certos espetáculos, nos associemos ao clube tal...". Já o manipulador ideólogo pretende modelar o espírito de pessoas e povos a fim de adquirir domínio sobre eles de forma rápida, contundente, massiva e fácil.
A manipulação, lembra López, corresponde à vontade de dominar pessoas e grupos. Em geral deprecia tudo que existe de real e supervaloriza idéias, mesmo que não possam ser realizadas na prática. Também não há limite nem ética para atingir seu objetivo e a mentira passa a ser uma questão de sobrevivência de sua manipulação.
Técnicas que lidam com o inconsciente também são utilizadas na manipulação da massa. É uma maneira de fazer a pessoa acreditar que mesmo algo ruim pode ser bom. Ou seja, a vontade e a interpretação dos fatos são controlados pela manipulação do inconsciente, que acredita que aquilo que deseja está na imagem que foi projetada.
Esse tipo de técnica integra o que se chama de mensagem subliminar, que age diretamente no inconsciente de quem assiste. Somos constantemente submetidos a ela em propagandas, filmes, programas, sendo influenciados por marcas e produtos - ou mesmo comportamentos - sem percebermos.
Será impossível evitar esse tipo de manipulação? Para Lopéz, existem algumas alternativas de obter um "antídoto"para a maliciosa e maniqueísta ação sobre o nosso subconsciente. Estar alerta e pensar com rigor são condições indispensáveis! Viver criativamente, ou seja, procurar enxergar além das aparências também. Lembrar que as coisas não são tão óbvias. Ou, como popularmente se diz, verificar se o "buraco é mais embaixo"... (Mirna Monteiro)
O domínio e controle sobre os seres acontece mediante as técnicas de manipulação. O que seria isso? Seria a capacidade de manejar, impondo pensamentos e comportamentos que são absorvidos como uma esponja pela mente humana.
Há várias formas de manipulação. Na verdade todos nascemos com a capacidade de conduzir o mundo externo às nossas necessidades, até mesmo por uma questão de sobrevivência. Até mesmo um bebê depende dessa capacidade para sobreviver.
A questão é a utilização desse poder para manipulação abusiva ou da massa. Isso corresponde, em geral, à vontade de dominar pessoas e grupos em algum aspecto da vida e dirigir sua conduta. Afonso López Quintás, em "A manipulação do homem através da linguagem", exemplifica alguns tipos de "convencimento" ao qual somos submetidos sem que haja um controle consciente do processo.
Ele comenta a manipulação comercial, "que quer converter-nos em clientes, com o simples objetivo de que adquiramos um determinado produto, compremos entradas para certos espetáculos, nos associemos ao clube tal...". Já o manipulador ideólogo pretende modelar o espírito de pessoas e povos a fim de adquirir domínio sobre eles de forma rápida, contundente, massiva e fácil.
A manipulação, lembra López, corresponde à vontade de dominar pessoas e grupos. Em geral deprecia tudo que existe de real e supervaloriza idéias, mesmo que não possam ser realizadas na prática. Também não há limite nem ética para atingir seu objetivo e a mentira passa a ser uma questão de sobrevivência de sua manipulação.
Técnicas que lidam com o inconsciente também são utilizadas na manipulação da massa. É uma maneira de fazer a pessoa acreditar que mesmo algo ruim pode ser bom. Ou seja, a vontade e a interpretação dos fatos são controlados pela manipulação do inconsciente, que acredita que aquilo que deseja está na imagem que foi projetada.
Esse tipo de técnica integra o que se chama de mensagem subliminar, que age diretamente no inconsciente de quem assiste. Somos constantemente submetidos a ela em propagandas, filmes, programas, sendo influenciados por marcas e produtos - ou mesmo comportamentos - sem percebermos.
Será impossível evitar esse tipo de manipulação? Para Lopéz, existem algumas alternativas de obter um "antídoto"para a maliciosa e maniqueísta ação sobre o nosso subconsciente. Estar alerta e pensar com rigor são condições indispensáveis! Viver criativamente, ou seja, procurar enxergar além das aparências também. Lembrar que as coisas não são tão óbvias. Ou, como popularmente se diz, verificar se o "buraco é mais embaixo"... (Mirna Monteiro)
Wednesday, October 27, 2010
TEORIA DA CONSPIRAÇÃO
Por trás de todas as coisas podem estar operando forças misteriosas e manipuladoras...pelo menos esta parece ser uma preocupação crescente, uma espécie de síndrome da conspiração! Ainda não reconhecida, é claro, mas claramente detectada na preocupação popular, que corre o risco de transformar-se em angústia: a sensação de perda da individualidade, da privacidade e da liberdade.
Orwell, em seu romance "1984", imaginou um mundo futuro onde todos esses valores estavam irremediavelmente perdidos e onde a mesma televisão que não podia ser desligada transformava-se em câmera sem que os indivíduos soubessem. As pessoas viviam em castas, onde o domínio principal vigiava e usufruía, enquanto a casta seguinte era vigiada e obedecia ordens. A massa, por sua vez, vivia sem rumo, absolutamente robotizada e sem ação.
Hoje, tantas décadas depois, as pessoas falam sobre os mesmos receios, que recebem outra roupagem. Os valores perdidos são a violência emergindo em diferentes momentos, de crianças em escolas e adultos que se engalfinham em estádios de futebol ou no trânsito de avenidas, a uma criminalidade tão imiscuída no meio que se torna imbatível!
Ao invés da televisão espiã, satélites poderosos e câmeras tão minúsculas que se tornam invisíveis e uma rede de informações obtidas no universo informatizado. Os novos teóricos da conspiração também falam de castas, nem tanto sociais, mas castas com domínio da informação e do conhecimento, que seriam portanto o principal alvo da espionagem, enquanto a massa se perde nos jogos da manipulação, que a ocupam com o caos e a diversão.
A listagem das teorias é enorme! Algumas complexas - como a afirmação de que o "11 de setembro" foi planejado para justificar novas guerras contra o Iraque e que os aviões que derrubaram as torres gêmeas não continham pilotos de verdade, mas automáticos, e que a operação já havia determinado os melhores ângulos para filmar e fotografar o momento da implosão do prédio!
Outras fantasiosas, como a existência de extra-terrestres que comandam parte da humanidade. Aliás, os "reptilianos" seriam os grandes vilões da humanidade, os incentivadores das guerras e da desordem ...
Algumas teorias são curiosas e engraçadas. Como a das canetas "Bic": "São fáceis de encontrar para comprar, mas depois que você as possui elas desaparecem ou surgem em lugares onde você jamais as deixaria"!...Palavras de um teórico da conspiração, que afirma ainda que mesmo que você tenha uma única caneta, encontrará várias no lugar onde a deixar, porque elas se multiplicam rapidamente e nossa visão não consegue perceber esse movimento...Bem, o bom humor permite teorias infinitas!
Se canetas podem ser sondas extra-terrestres, a tecnologia alienígena é bastante rudimentar, diante de outra teoria, esta fruto da insanidade pelo poder: a de que os alimentos estão sendo modificados para afetar genéticamente a humanidade. Bem, considerando a quantidade de hormônios em frangos e de anabolizantes em carnes vermelhas, metal pesado em peixes e venenos nas plantações, esse receio não é teórico, mas real!
Nesse pontos chegamos ao cerne da questão: as teorias da conspiração, com toda a sua dramaticidade e exageros (e humor também ) parecem eclodir no inconsciente humano, que percebe a precariedade da vida e os riscos que estamos acumulando em nosso meio por ações reais e bastante devastadoras. Não são portanto piadas ou fantasias, embora sejam alegorias e símbolos, como realidades ainda não desnudadas!
Se o poder da imaginação move o mundo, essa mania de conspirações contra a sociedade humana pode até ajudar a evitar alguns desastres. Além disso, a discussão das possibilidades várias dos acontecimentos são a demonstração da liberdade do pensamento e da especulação e atuam no imaginário social de maneira construtiva! Nesse caso, que sejam criadas as teorias!...(Mirna Monteiro)
Orwell, em seu romance "1984", imaginou um mundo futuro onde todos esses valores estavam irremediavelmente perdidos e onde a mesma televisão que não podia ser desligada transformava-se em câmera sem que os indivíduos soubessem. As pessoas viviam em castas, onde o domínio principal vigiava e usufruía, enquanto a casta seguinte era vigiada e obedecia ordens. A massa, por sua vez, vivia sem rumo, absolutamente robotizada e sem ação.
Hoje, tantas décadas depois, as pessoas falam sobre os mesmos receios, que recebem outra roupagem. Os valores perdidos são a violência emergindo em diferentes momentos, de crianças em escolas e adultos que se engalfinham em estádios de futebol ou no trânsito de avenidas, a uma criminalidade tão imiscuída no meio que se torna imbatível!
Ao invés da televisão espiã, satélites poderosos e câmeras tão minúsculas que se tornam invisíveis e uma rede de informações obtidas no universo informatizado. Os novos teóricos da conspiração também falam de castas, nem tanto sociais, mas castas com domínio da informação e do conhecimento, que seriam portanto o principal alvo da espionagem, enquanto a massa se perde nos jogos da manipulação, que a ocupam com o caos e a diversão.
A listagem das teorias é enorme! Algumas complexas - como a afirmação de que o "11 de setembro" foi planejado para justificar novas guerras contra o Iraque e que os aviões que derrubaram as torres gêmeas não continham pilotos de verdade, mas automáticos, e que a operação já havia determinado os melhores ângulos para filmar e fotografar o momento da implosão do prédio!
Outras fantasiosas, como a existência de extra-terrestres que comandam parte da humanidade. Aliás, os "reptilianos" seriam os grandes vilões da humanidade, os incentivadores das guerras e da desordem ...
Algumas teorias são curiosas e engraçadas. Como a das canetas "Bic": "São fáceis de encontrar para comprar, mas depois que você as possui elas desaparecem ou surgem em lugares onde você jamais as deixaria"!...Palavras de um teórico da conspiração, que afirma ainda que mesmo que você tenha uma única caneta, encontrará várias no lugar onde a deixar, porque elas se multiplicam rapidamente e nossa visão não consegue perceber esse movimento...Bem, o bom humor permite teorias infinitas!
Se canetas podem ser sondas extra-terrestres, a tecnologia alienígena é bastante rudimentar, diante de outra teoria, esta fruto da insanidade pelo poder: a de que os alimentos estão sendo modificados para afetar genéticamente a humanidade. Bem, considerando a quantidade de hormônios em frangos e de anabolizantes em carnes vermelhas, metal pesado em peixes e venenos nas plantações, esse receio não é teórico, mas real!
Nesse pontos chegamos ao cerne da questão: as teorias da conspiração, com toda a sua dramaticidade e exageros (e humor também ) parecem eclodir no inconsciente humano, que percebe a precariedade da vida e os riscos que estamos acumulando em nosso meio por ações reais e bastante devastadoras. Não são portanto piadas ou fantasias, embora sejam alegorias e símbolos, como realidades ainda não desnudadas!
Se o poder da imaginação move o mundo, essa mania de conspirações contra a sociedade humana pode até ajudar a evitar alguns desastres. Além disso, a discussão das possibilidades várias dos acontecimentos são a demonstração da liberdade do pensamento e da especulação e atuam no imaginário social de maneira construtiva! Nesse caso, que sejam criadas as teorias!...(Mirna Monteiro)
Monday, October 25, 2010
IMAGINAÇÃO DO EQUILÍBRIO
Por isso é possível entender porque as pessoas de "mente fértil" valorizam a capacidade imaginativa. O físico alemão Einstein considerou que a imaginação é mais importante do que o conhecimento. Afirmação que deixa até hoje muita gente confusa, porque pressupõe-se que imaginação solta é criar fantasia, boiando em um canto ficcional da mente, enquanto que imaginação reprodutora é racionalizar a realidade e criar teorias...algo que resume o pensamento humano!
Einstein comparou bem a equivalência entre imaginação e conhecimento. Imaginação é a base de tudo e é de seu fluxo, inclusive fantasioso ao extremo, que se origina o conhecimento. O conhecimento, por sua vez estimula a imaginação, em um círculo criativo que faz a evolução da sociedade humana.
A matemática perfeita! Heráclitos de Ëfeso dizia que a falta de imaginação atua como geradora de conflitos. Ora, se eu sou estéril e não consigo imaginar, não poderei saber o que se passa com meu semelhante ou com o que quer seja. Vou basear-me inteiramente no meu mundo ou no meu ponto de vista!
Com a incapacidade de imaginar, as pessoas agem como se não houvesse diferenças. O mundo seria a sua própria cabeça e, portanto, limitado a esse espaço! Heráclitos acreditava que a oposição dos contrários é condição para a transformação das coisas e isso quer dizer que sem imaginação não há evolução!
A imaginação é uma força que leva ao raciocínio com a mesma potência com que estimula a criatividade e a intuição! Ora, se eu penso, penso sobre o que? A diferença entre a imaginação que leva ao conhecimento e a imaginação reprodutiva é a mesma de um filme onde não se sabe o que vai acontecer e outro que repete a mesma imagem!
A mesma imaginação que levou o homem primitivo a olhar além de si mesmo, para poder sobreviver em um mundo inóspito e repleto de perigos. A imaginação que permitiu captar os recursos, criar mecanismos, manter um meio social e chegar ao início do conhecimento!
Por isso podemos observar que se ao longo da história política o mundo estacionou em mera aceitação e rotina do pensamento, agora passa a ser mais imaginativo! Atinge também um maior interesse no conhecimento e portanto na evolução da informação e dos costumes. Não é preciso ser um inventor ou um precursor do pensamento, mas simplesmente aprender a relacionar-se e interagir com o meio de maneira mais ampla e participante, reconhecendo as diferenças e equacionando a relação humana nos novos tempos.(Mirna Monteiro)
Tuesday, October 19, 2010
A ARTE DE ACREDITAR...SEM ENGANAR-SE
Volta e meia aparece a dúvida: em quem acreditar? No que acreditar? A insegurança sobre a verdade não é característica de pessoas jovens, assim como a certeza não é privilégio de quem viveu muitas décadas.
Sob essa ótica (verdadeira?) estamos todos no mesmo barco, o da incerteza sobre as coisas e isso pode ser angustiante! Nietzsche, ele próprio exasperado com as próprias dúvidas em uma época onde tudo era contestado de maneira extremamente econômica, concluiu que a busca da verdade não passava de simples necessidade humana de se sentir em segurança. Um mundo que "não se contradiz", seria um mundo mais confiável, com conceitos baseados na crença de valores imutáveis e, portanto, aceitos como verdade universal.
Bem, de qualquer forma nós temos nossas verdades universais. Por exemplo a igualdade entre os homens e o respeito à natureza. Naturalmente são verdades óbvias oriundas da necessidade de sobrevivência, entre outras que surgem da relação histórica do homem com o meio.
O que sabemos é que o reconhecimento da verdade, ou de alguma realidade que possamos assumir como determinante, parte de nossa capacidade de sentir a vida. O conhecimento sobre si mesmo modifica o reconhecimento da verdade. E como acreditava Sócrates, só age erradamente aquele que desconhece a verdade e, por extensão, o bem. Nesse caso permanece boiando na incerteza, ou esperneando se assim lhe ditar o temperamento, mas em ambos os casos provocando desequilíbrio e caos ao meio.
Como mestre que pretendia ensinar a pensar, sem impor uma verdade do próprio punho...ou do próprio pensamento, Sócrates colocava a busca do saber como o caminho para a perfeição humana e, por tabela, para obter a sensação de segurança que permite um enfrentamento mais tranqüilo de nossas dúvidas a respeito do que seria a verdade e a mentira.
Bem, 400 anos antes de Cristo e já se sabia o que hoje ainda constatamos. Por mais que seja teorizado o assunto e por mais que os pensadores sejam rebuscados e retóricos, realistas, fatalistas ou neuróticos, a verdade é que o drama do "onde está a verdade", resume-se a esta simples lógica socrática: observe, pense, aprenda e deduza!
Se a verdade necessita de sabedoria para ser detectada, a mentira basta a si própria, infelizmente. A sorte da humanidade é que seu tempo de vida é curto. Por isso devemos considerar a sabedoria popular, quando diz que "toda mentira tem perna curta". Aliás todos temos sempre uma boa interpretação da mentira. Rápida como o bote de uma cobra (uma mentira dá a volta ao mundo antes mesmo de a verdade ter a oportunidade de se vestir, ironizou Churchill) ou vital para a sobrevivência de alguns (A mentira é muitas vezes tão involuntária quanto a respiração, observou acertadamente o escritor Machado de Assis) a mentira é o avesso do conhecimento sem deixar de ser ilustradora da verdade (não ser descoberto em uma mentira equivale a dizer uma verdade...)
É nessa relatividade que se apoiam os grandes mentirosos da humanidade, antigos e atuais. Hitler achava que para convencer a massa era preciso uma grande mentira, cercada de muita bagunça e atritos, pois assim o caos formado esconderia ainda mais a verdade. Tinha razão, sem dúvida! É óbvio que para se conseguir impor uma mentira há necessidade de se impor o caos e a insegurança...aquele estado citado por Nietzsche, onde as convicções podem ser mais perigosas para a verdade do que a própria afirmação mentirosa!
Acreditar, portanto, parece ser a arte de desvendar o que se passa atrás das grandes afirmações, das grandes mentiras e das supostas verdades. Uma arte que começa com o conhecimento do temperamento humano que habita em todos nós e o reconhecimento de nossas fraquezas. (Mirna Monteiro)
Monday, October 18, 2010
ARTE EM PRETO E BRANCO
Mais raramente permanecia tal como o artista havia concebido. Elegante e atraente, a arte em duas cores parece mostrar muito da emoção retratada, concentrando as formas e ressaltando os mínimos detalhes.
Thursday, October 14, 2010
CONTRADIÇÕES DA ALMA HUMANA
O resgate dos 33 mineiros no Chile emocionou e fez chorar as pessoas que trabalhavam ou assistiam ao esforço, inclusive jornalístas que faziam a cobertura no local. O drama representou um tributo à vida! Um momento contrastante com perda de vidas nas guerras do Oriente Médio, a exploração e violência na África e a intolerância de Israel na Palestina.
A mundo se divide nas emoções, mas a dureza da realidade da violência não consegue matar no ser humano a justa medida da solidariedade e do respeito à dor do semelhante. Entre heróis e vilões, vivemos nos dias de hoje a dualidade do pensamento humano: vencer a todo custo, mesmo que isso represente sofrimento e perdas, ou retomar as rédeas para impedir genocídios e abusos, tornando o mundo mais seguro!
A questão é: qual das opções permitirá a sobrevivência natural? A ação do homem predador parece não se encaixar em uma sociedade mundial que miscigenou culturas e divide expectativas semelhantes em relação ao ambiente que todos desejam. Tudo indica que a postura do futuro é a do homem sensitivo e sensível ao meio, no respeito ao equilíbrio natural.
Foram 33 homens, presos a 700 metros do solo, enfrentando durante 69 dias a possibilidade de morrer na mina de cobre, enquanto pessoas do lado de fora tentavam resgatá-los. Um espaço adormecido foi ativado, o da relação humana que se identifica e aproxima, como se todas as pessoas que pisam esta terra integrassem um grande organismo, ao invés do isolamento egoísta que não consegue entender a importância da inteiração humana.
Um duro exercício que relembrou o fato de que vidas humanas não tem preço e estão acima de de vaidades ou ansiedade de lucro de grupos de
indivíduos. Estranha essa afirmação? Não, pois a mesma política que salva vidas pode ser usada para causar a destruição. Só há um problema: hoje estamos todos entrelaçados e a idéia de que é possível varrer o mundo descartando os valores éticos, soa absurda. Ainda que a briga pelos direitos de divulgação da aventura na mina do Chile deva ser acirrada, a idéia de que a vida deve ser respeitada acima de tudo renovou-se. (Mirna Monteiro)
Monday, October 11, 2010
A LEI DE MURPHY E O ACASO
Quando um sujeito chamado Edward Murphy irritou-se com a falha no funcionamento de um mecanismo no momento de uma exposição importante, "jogou" a culpa em seu assistente dizendo : "Se há mais de um modo de fazer um trabalho e um deles resulta em desastre, então alguém irá escolher esse"! Não sabia o quanto esse desabafo faria sucesso. E, dentro desse clima, o quanto contribuiria para uma confusa interpretação do destino, justificando erros e comodismos.
A "Lei de Murphy" tem sido interpretada como uma comprovação de limitação do homem sobre seu futuro. É fatalista, pois de alguma forma torna as pessoas passivas em relação a acontecimentos, que são considerados inevitáveis!
O mais curioso é que antes dele outro Murphy, Joseph, passou a vida pregando justamente o contrário em uma ampla literatura onde sobressaia a importância da motivação para a transformação. Na verdade um início da poderosa indústria literária da "auto-ajuda", que tomaria o mercado algumas décadas depois com as receitas miraculosas de transformação do meio e das condições individuais transformadoras do destino!
Mas será mesmo que são posições opostas? Ou há um erro de interpretação no que convencionamos chamar de Lei de Murphy, esta curiosa faceta do comportamento humano?
Essa postura de pensamento, aliás, serve como uma luva para quem quer acreditar que a vida já vem pronta e embalada em papel pré-determinado, com acontecimentos imutáveis que são regidos por um conjunto de acontecimentos muito mais poderosos do que o indivíduo. Lembra outra "lei" (ah, os homens e suas máximas crenças) conhecida como Finagle e popularizada em romances de ficção, que afirma que quando alguma coisa ruim acontecer, acontecerá no pior momento...o que é óbvio! Vem na extensão da famosa postura do "pior do que está não fica".
Nesse caso somos apenas mero acaso não apenas no universo, mas em nossa razão existencial!
Será mesmo que o destino está definido? Ou lidamos meramente com a leviandade humana e comodismo existencial? Por que é fácil acreditar que não se pode mudar o mundo ou as pessoas, sem assumir riscos de novas ações e decisões, no mais puro estilo "lavo minhas mãos"?
Dúvida dramática. No entanto até hoje a humanidade critica a decisão de Pilatos! O que teria acontecido se ao invés de fugir à responsabilidade de uma decisão, ele fosse dotado de consciência comunitária e tivesse enfrentado os riscos?...Ou o destino tornaria as coisas tal como são?
Provavelmente não! Uma ação sempre vai causar uma reação e modificar o futuro. Anular uma interferência consciente é permitir que outras ações determinem os acontecimentos...ações nem sempre muito éticas ou construtivas!
No entanto a fatalidade do destino pode ser confundida. Uma fatia de pão com manteiga vai sempre cair do lado da manteiga...por questões de gravidade, não de fatalidade.
A fila do lado sempre anda mais rápido...O que quer dizer que não adianta mudar de fila, pois aquela que você escolher vai andar mais devagar...por uma questão de ansiedade que muda a sua percepção do meio. Se você for contestar isso, lembre-se que se é a sua fila que sempre anda mais devagar, as outras andam depressa.. do seu ângulo de visão!
Se você está se sentindo bem não se preocupe: isso passa...para se sentir bem é preciso saber o que é sentir-se mal. Não é fatalidade, é lógica!
O gato sempre cai em pé...sem comentários! E por aí vai. Você sai de casa sem guarda-chuva e pensa: só falta chover justamente hoje! E chove, porque se você pensou, deve ter percebido inconscientemente indícios de que isso poderia acontecer. Mas negligenciou a idéia porque não queria sair de guarda-chuva...
Nesse ponto devemos considerar o fator "negligência". É ele o alimento do fatalismo e a fama da tal "lei de murphy". Suponhamos que estamos andando na rua, em calçadas irregulares e esburacadas. Caimos em um buraco ou tropeçamos no piso irregular. Caídos no chão pensamos: ai, ai, ai, eu sabia que hoje não era meu dia!...
Quer dizer, era um dia em que você não estava bem e portanto deveria ter prestado atenção aos detalhes em seu caminho, como os buracos! A culpa não é do destino, mas de sua negligência! Um acidente de carro seria evitado se antes fossem observados problemas mecânicos ou maior cuidado e atenção à direção; um assalto poderia ser evitado se as possíveis vítimas observassem melhor ao redor e dificultassem o acesso.
Se observamos por esse angulo, chegaremos a conclusão que o destino jamais poderia estar previamente traçado, mas é produto do meio, de seus acertos e erros. E portanto não é inevitável e pode ser transformado a qualquer instante, a todo momento. Podemos exagerar e imaginar que um asteróide enorme caminha para o planeta Terra anunciando o apocalipse,mas que ainda assim podemos tentar alternativas para mudar a sua trajetória ou reduzir seu impacto.
Claro que o poder de transformar o destino depende de nós, mas não apenas do indivíduo. O meio tem o grande poder transformador e talvez seja por esse motivo que um indivíduo tem a sensação de impotência para transformar o destino e sente-se uma folha na correnteza, preferindo consolar-se com a ideia da fatalidade!
Mas a ação coletiva nasce, obrigatoriamente, do indivíduo! O que nos leva a conclusão de que a omissão não é interessante para o destino de ninguém!
Preste atenção ao seu redor!... (Mirna Monteiro)
A "Lei de Murphy" tem sido interpretada como uma comprovação de limitação do homem sobre seu futuro. É fatalista, pois de alguma forma torna as pessoas passivas em relação a acontecimentos, que são considerados inevitáveis!
O mais curioso é que antes dele outro Murphy, Joseph, passou a vida pregando justamente o contrário em uma ampla literatura onde sobressaia a importância da motivação para a transformação. Na verdade um início da poderosa indústria literária da "auto-ajuda", que tomaria o mercado algumas décadas depois com as receitas miraculosas de transformação do meio e das condições individuais transformadoras do destino!
Mas será mesmo que são posições opostas? Ou há um erro de interpretação no que convencionamos chamar de Lei de Murphy, esta curiosa faceta do comportamento humano?
Essa postura de pensamento, aliás, serve como uma luva para quem quer acreditar que a vida já vem pronta e embalada em papel pré-determinado, com acontecimentos imutáveis que são regidos por um conjunto de acontecimentos muito mais poderosos do que o indivíduo. Lembra outra "lei" (ah, os homens e suas máximas crenças) conhecida como Finagle e popularizada em romances de ficção, que afirma que quando alguma coisa ruim acontecer, acontecerá no pior momento...o que é óbvio! Vem na extensão da famosa postura do "pior do que está não fica".
Nesse caso somos apenas mero acaso não apenas no universo, mas em nossa razão existencial!
Será mesmo que o destino está definido? Ou lidamos meramente com a leviandade humana e comodismo existencial? Por que é fácil acreditar que não se pode mudar o mundo ou as pessoas, sem assumir riscos de novas ações e decisões, no mais puro estilo "lavo minhas mãos"?
Dúvida dramática. No entanto até hoje a humanidade critica a decisão de Pilatos! O que teria acontecido se ao invés de fugir à responsabilidade de uma decisão, ele fosse dotado de consciência comunitária e tivesse enfrentado os riscos?...Ou o destino tornaria as coisas tal como são?
Provavelmente não! Uma ação sempre vai causar uma reação e modificar o futuro. Anular uma interferência consciente é permitir que outras ações determinem os acontecimentos...ações nem sempre muito éticas ou construtivas!
No entanto a fatalidade do destino pode ser confundida. Uma fatia de pão com manteiga vai sempre cair do lado da manteiga...por questões de gravidade, não de fatalidade.
A fila do lado sempre anda mais rápido...O que quer dizer que não adianta mudar de fila, pois aquela que você escolher vai andar mais devagar...por uma questão de ansiedade que muda a sua percepção do meio. Se você for contestar isso, lembre-se que se é a sua fila que sempre anda mais devagar, as outras andam depressa.. do seu ângulo de visão!
Se você está se sentindo bem não se preocupe: isso passa...para se sentir bem é preciso saber o que é sentir-se mal. Não é fatalidade, é lógica!
O gato sempre cai em pé...sem comentários! E por aí vai. Você sai de casa sem guarda-chuva e pensa: só falta chover justamente hoje! E chove, porque se você pensou, deve ter percebido inconscientemente indícios de que isso poderia acontecer. Mas negligenciou a idéia porque não queria sair de guarda-chuva...
Nesse ponto devemos considerar o fator "negligência". É ele o alimento do fatalismo e a fama da tal "lei de murphy". Suponhamos que estamos andando na rua, em calçadas irregulares e esburacadas. Caimos em um buraco ou tropeçamos no piso irregular. Caídos no chão pensamos: ai, ai, ai, eu sabia que hoje não era meu dia!...
Quer dizer, era um dia em que você não estava bem e portanto deveria ter prestado atenção aos detalhes em seu caminho, como os buracos! A culpa não é do destino, mas de sua negligência! Um acidente de carro seria evitado se antes fossem observados problemas mecânicos ou maior cuidado e atenção à direção; um assalto poderia ser evitado se as possíveis vítimas observassem melhor ao redor e dificultassem o acesso.
Se observamos por esse angulo, chegaremos a conclusão que o destino jamais poderia estar previamente traçado, mas é produto do meio, de seus acertos e erros. E portanto não é inevitável e pode ser transformado a qualquer instante, a todo momento. Podemos exagerar e imaginar que um asteróide enorme caminha para o planeta Terra anunciando o apocalipse,mas que ainda assim podemos tentar alternativas para mudar a sua trajetória ou reduzir seu impacto.
Claro que o poder de transformar o destino depende de nós, mas não apenas do indivíduo. O meio tem o grande poder transformador e talvez seja por esse motivo que um indivíduo tem a sensação de impotência para transformar o destino e sente-se uma folha na correnteza, preferindo consolar-se com a ideia da fatalidade!
Mas a ação coletiva nasce, obrigatoriamente, do indivíduo! O que nos leva a conclusão de que a omissão não é interessante para o destino de ninguém!
Bom dia! Que dia lindo, a vida é maravilhosa! |
Friday, October 08, 2010
Anomias da campanha eleitoral
Os últimos acontecimentos - como a denúncia de que panfletos "ensinando" a denegrir a imagem de candidatos usando artifícios e acusações vazias - trazem à tona uma questão crucial: de que maneira a sociedade pode enfrentar um pleito que decide o futuro de um país em meio a balbúrdia moral?
Sabe-se o motivo que leva as disputas políticas a se desenvolvem em meio a acusações vazias, com a intenção de confundir o eleitor. Mas como a sociedade pode admitir em pleitos eleitorais ações que seriam severamente punidas em outras circunstâncias, por ferirem princípios éticos e legais?
Parece extremamente contraditório exigir ética na vida pública, sem estabelecer os mesmos limites na apresentação e disputa daqueles que pretendem o exercício dos cargos eletivos. Naturalmente denúncias fazem parte de um processo de campanha, mas o período de propaganda eleitoral não "perdoa" os abusos ou mentiras que pretendem uma contra-propaganda do adversário. Há possibilidade de processos e retratações, mas certamente o objetivo de confundir o eleitor já foi obtido e, portanto, a punição se torna meramente retórica.
Por esse motivo - o poder do estrago mesmo que posteriormente seja esclarecida a verdade - é que criar denúncias vazias tornou-se um hábito nas campanhas eleitorais, fora e dentro das instituições. Há alguns anos, por exemplo, o Congresso Nacional transformou-se em piada para o mundo, com a profusão de CPIs e CPMIs pré-fabricadas com o objetivo eleitoreiro e não de um combate à corrupção sério e eficiente.
Não podemos permanecer em estado de anomia na campanha política, que carrega a conotação de mentiras, intrigas e fofocas e não a apresentação de planos de governo e demonstração de capacidade para o cargo pretendido. Assistir ao programa eleitoral gratuito pode ser cômico, mas também é trágico, considerando que ali estão opções de pessoas que irão legislar e governar.
Wednesday, October 06, 2010
Conhecendo a solidão
Há quem afirme que o mal do século é a solidão! Em um mundo cada vez mais povoado, as pessoas estão sós! Quase sete bilhões de seres humanos!
Por que isso acontece? Talvez pela impessoalidade e distanciamento que a superpopulação pode trazer. Há mais pessoas e menos contato. As multidões esbarram-se nas ruas, mas não existe o reconhecimento do indivíduo como companhia.
De acordo com a OMS todos os dias perto de 3 mil pessoas cometem suicídio no mundo. Claro que as causas são várias, mas há um fator comum, a solidão. Pessoas buscam a morte a cada três segundos em países organizados, como a Suécia ou Japão, assim como em áreas de menor desenvolvimento econômico.
O que é solidão? No caso daqueles que vivem em grandes cidades, solidão não corresponde exatamente ao isolamento físico. Pelo contrário, pessoas que trabalham em lugares agitados, andam em ruas congestionadas, também podem sentir o peso da solidão.
No entanto a solidão em si não é negativa, mas construtora. Descartes a considerava com propriedade uma oportunidade de aprofundar-se em si mesmo. Não se pode viver sem sentir e conhecer o próprio interior. Mas a mesma visão pode ser invertida: para Hegel, solidão consistia em não poder sair de si mesmo, o que pode causar uma espécie de angustia para alguns e alívio para outros.
O que não se pode negar é isso: cada pessoa interpreta de maneira diferente a solidão, por isso a sua conotação também pode ser extremamente positiva. Na linha do existencialismo, podemos transformar a in certeza em estímulo: ao longo da nossa experiência redefinimos nosso pensamento e adquirimos novos conhecimentos a respeito do que somos ou podemos vir a ser!
A solidão é inata ao homem, escreveu Heidegger. O que não obriga ao pensamento de que, se assim for, cada ser está por si só no mundo. Se assim fosse, o evidente equilíbrio do universo em suas diferentes formas e permanencias não funcionaria com tamanha sincronia!
Talvez tenhamos a impressão de que cada ser está por si só na morte, pois aparentemente partimos sem amarras, como um barco que desaparece no horizonte para nunca mais ser encontrado. "Os mártires penetram na arena de mãos dadas, mas são crucificados sózinhos", lembrou Huxley.
Mas mesmo após a transformação da morte, a vida segue em perfeita harmonia.
A nossa identidade, porém, fica ameaçada. O que sou? Mais um ponto favorável à existência da solidão, que nos prepara para a dúvida.
A solidão é produtiva. Quando se trabalha, se está forçosamente na mais absoluta solidão, arriscava Deleuze. Será? Quando nos afundamos em alguma tarefa, partilhamos algo. Pode ser o raciocínio de cálculos, a criação de um texto, a formulação de pensamentos, a observação do mundo. Estamos na solidão, mas não absoluta, pois partilhamos a todo instante de imagens mentais ou visuais que interferem na neutralidade do momento.
A solidão, portanto, parece ser bastante relativa e não pode ser descrita ou determinada. Não é a ausência de pessoas ao nosso redor ou a inexistência de qualquer movimento, o nascimento ou a morte, mas sim a capacidade ou incapacidade de percepção momentânea!
A não ser que estejamos falando da solidão fisica de algo que desejamos, como escreveu Simone de Beauvoir: "No meio da madrugada a solidão vem me falar de você. A noite está fria, o quarto está frio, a minha cama também está fria. Me rolo na cama...Já quase amanhece....Cadê você?
O que demonstra que este é um tipo de ansiedade que não culminará com a vitória contra a solidão, causando outra decepção comum aos seres.
"Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única autotranscedência; debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua prisão corpórea, está condenado a sofrer e gozar em solidão", escreveu Aldous Huxley.
De qualquer maneira, por mais que se esforce, o ser humano sempre recai sobre o mesmo erro de interpretação da cura para a sensação do vazio interior. Nietzsche, cujo olhar crítico parecia menosprezar o meio e estar acima das idiotices humanas, não sabia lidar com seu próprio vazio, apegando-se a momentos fugazes que jamais o libertaram da sensação de solidão.
Em 1885 escreve a Peter Gast: "Ah, se soubesse como estou agora tão só no mundo! E como me é preciso representar uma comédia para não cuspir, as vezes, de pura sociedade, no rosto de alguém! (...) Quando estiver com você em Veneza, cessara, então, por algum tempo, toda a "cortesia"e a "comédia", e a "sociedade" e todas as maldições nicenses...não é verdade, meu caro amigo?"... De maneira fugaz, talvez...(Mirna Monteiro)
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