Monday, October 24, 2011

INEFICIÊNCIA E RISCOS DA PENA CAPITAL

Criaram recentemente uma petição a favor da pena de morte e através de redes sociais pessoas procuram angariar apoio para que isso seja encaminhado para a Presidência da República, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Ainda não se sabe se haverá adesão a tal ideia, ao menos para permitir que seja efetivada, mas só o fato de existir uma petição a respeito já nos faz ruminar sobre o vai-e-vem da revolta do homem contra o homem e o risco sempre iminente de ações bárbaras e involutivas.
Pena de morte resolve alguma coisa? De que maneira a existência da pena capital poderia beneficiar uma sociedade que pretende ser justa e pacífica? Aparentemente a história nos responde a essa dúvida de maneira categórica: adotar a pena capital pode resolver um problema político imediato, mas não soluciona a questão crucial da sociedade que pretende o respeito a leis.
Quem adota a pena de morte hoje? Temos os EUA que ainda mantém, em muitos estados, a pena capital. Mas é um exemplo de que a prática não funciona, pelo menos não como educadora social ou medida profilática do crime. Os índices de violência confirmam que a pena de morte não reduz a criminalidade.  Os EUA são um país pródigo em violência e principal referência quando se fala em "serial-killer" ou tiroteios em público. Psicopatas não se amedrontam com a perspectiva de serem presos e condenados à morte. Em geral são suicidas.
Irã, Arábia Saudita, China, Coréia do Norte, são países que mantém a punição drástica. Há séculos. E há séculos vêm matando os condenados, sem que isso de fato mude nada, motivos e ações que levam a essa pena. A morte torna-se então pontual!
No entanto todo indivíduo tem direito a vida. Parece natural privar da liberdade aquele que se atreve a assassinar outra pessoa, mas não é natural repetir o erro imperdoável cometido por ele...com ele.
O ser humano sente grande dificuldade de projetar para um plano imparcial a discussão entre vítimas e algozes. Castrar quimicamente um sujeito pedófilo ou estuprador horroriza mais do que a ideia de deitar um assassino em uma maca para injetar substâncias letais. A morte é sempre subjetiva.
Quando se fala em castração química de pedófilos - como alguns paises pretendem - fala-se em subtrair o impulso sexual  criminoso que afeta crianças perigosamente. Os  criminosos, neste caso, continuam vivos e com todas as chances de retomar uma vida normal.
Pelo menos em tese. Porque o impulso da violência sexual não depende do desejo sexual propriamente. A necessidade de exercer poder sobre a vítima pode continuar. O orgão sexual pode ser substituído pela humilhação da vítima ou até por objetos que representem o falo.
A pena de morte subtrairia essa possibilidade mas caminha entre nebulosas situações. Por exemplo, ser usada como arma política, onde a mentira pode criar supostos criminosos que incomodam o poder.
Em suma, sequer seria o olho, por olho, mas uma injustiça movido por interesses de poder.
O velho sábio Sócrates, nos relatos de Platão, foi condenado a pena de morte por questões políticas e temporais, em um momento onde atenienses eram dominados por um pequeno grupo de poder que quando não exilava o cidadão inconformado com as regras, o obrigava a beber cicuta. Muitos atenienses morreram envenenados apenas por não concordar com a política da época.
A pena capítal, portanto, pode servir como agressão à própria sociedade que depende de proteção.
A cultura pode servir para ampliar o futuro ou travar uma sociedade, mantendo o cidadão nas trevas. Países que adotam métodos bárbaros para punir ações que invadem o direito individual de escolha e a privacidade de alguém, horrorizam os países ocidentais.
O mesmo argumento ético que pretende punir esses abusos elimina aquele que ao invés de cortar cabeças e apedrejar adúlteras, usa o poder de injeções letais e outras formas de violência que subtraem a vida alheia.
A complexidade da condenação de atos violentos e a busca de uma punição que seja educadora é um desafio, mas dificilmente encontra uma resposta na violência, pois as motivações de um crime sempre serão diferentes da racionalidade da punição de quem julga.
Pena de morte no Brasil? Será que os violentos crimes do tráfico serão suspensos e evitados diante da existência da pena capital?
Em um país que sequer pune o criminoso com penas de detenção adequadas, com brechas na lei que permite a liberdade de infratores e onde condenados podem passear por bom comportamento e acabam aproveitando a oportunidade para novos crimes?
Provavelmente melhor seria retirar essa petição e substitui-la por outra que exija de nossos legisladores vergonha na cara e a criação de leis que realmente funcionem, diferenciando os criminosos de acordo com a gravidade de suas ações e mantendo-os privados da liberdade com o rigor necessário. Quando a lei funcionar de fato, os crimes vão diminuir, porque não é a pena de morte que impede a imensa diversidade de ações criminosas, mas a existência da punição!
Quando conseguirmos uma Justiça atuante em todos os setores e para todos os códigos, conseguiremos obter o controle da criminalidade e sem dúvida aumentaremos o senso de responsabilidade do cidadão para seu meio. Mas a manutenção do equilíbrio social sempre dependerá o privilégio ético. (Mirna Monteiro)

Thursday, October 06, 2011

AS VÁRIAS FACES DO MEDO

Sentir medo até certo ponto é natural. Se não tivéssemos a percepção do perigo não poderíamos preservar a vida.
Se estivermos em uma situação de risco ou que simula um risco - como uma montanha-russa por exemplo- sabemos que o mecanismo físico do receio vai fazer com que nosso cérebro provoque uma descarga poderosa de adrenalina para aliviar o corpo desse estresse momentâneo...
Até aí, tudo bem. No entanto quando passamos a sentir medo de situações ou momentos que não conseguimos definir ou racionalizar, nossa capacidade de defesa pode ficar comprometida. Seria o medo irracional, lesivo à sociedade e "politicamente incorreto", pois dá origem a distorções que retornam como as ondas em uma praia. Não se trata de estados alterados, originados por alguma patologia, como a violência psicopata, mas de omissões imiscuídas no nosso dia a dia, de maneira quase imperceptível. É o medo de manifestar uma opinião, de expressar-se, de reclamar, de exigir direitos que são importantes para a manutenção da vida! É a necessidade de recolher-se, encolhendo-se e até mesmo anulando-se, vaporizando-se. O que acontece?
O problema do medo exagerado é o isolamento gradual da realidade, a ponto de atrapalhar o próprio senso de preservação. Um tipo de sensação negativa que vai além do receio de situações de risco, do ataque de um animal ou da agressão de um semelhante.
Há medo evidente de participar da vida e interagir com o meio. Ou seja, perde-se o "ponto" que justifica nossa própria existência.
Elimina-se assim, infelizmente, a nossa capacidade de vivenciar e sentir o prazer do contato humano, já que qualquer um, em qualquer circunstância, representa uma ameaça.
Atuar torna-se um risco e as pessoas evitam até mesmo opinar e exigir respeito às mais elementares regras de convivência.
"Imagine se vou reclamar em um restaurante...vão cuspir no próximo prato"..."Não se pode criticar o site de relacionamento, vai que acabe "sumindo" todos os meus dados e amigos"..."Como vou reclamar de diferenças no preço?...Vão pensar que estou contando meus trocados"...
Pior quando o medo se esconde atrás de uma capa de indiferença. "Eu não vou reclamar porque não adianta mesmo". Ou pelo receio da crítica, de ser alvo das atenções ou de ter de manter um compromisso com a situação após o episódio.
Quem age assim antecipa por conta própria a situação de risco. O funcionário que "cospe no prato" de um cliente que reclamou algum direito está lá, existe, ou foi criado? Como se pode viver partindo do pressuposto de que todas as pessoas que preparam ou servem os pratos cometem um ato assim, que é criminoso, apesar de servir de piadas!
Críticas e reclamações e a inconformação com  situações artificiais e ameaçadoras podem ser extremamente positivas para melhorar serviços e garantir o cumprimento de leis e da cidadania. A sociedade precisa aprender a ouvir e realizar críticas que possuem fundamento.
Como vivemos em um mundo de extremos, convém lembrar que reclamar sem motivo é tão ruim quanto a omissão. Para saber se exercitamos um direito saudável é só avaliar a situação naquele momento: é um tipo de distorção que pode afetar o conjunto social?
Também devemos lembrar que "o outro" nem sempre é o vilão da história. E verificar se nossa tentação de omitir-se a exercer a cidadania de maneira equilibrada, sem agressão, mas com firmeza, não está partindo de uma insegurança excessiva, ou da necessidade de aprovação constante, por recear criticas!
Atitudes de rejeição e agressividade também são uma demonstração de medo e ansiedade de auto-preservar-se e não de princípios...
Há exemplos mais dramáticos do que uma cuspida. O risco que passamos quando nosso semelhante temeroso e confuso tem uma arma na mão ou dirige um veículo que se transforma em uma máquina de destruição. Não basta olhar para os dois sentido ao atravessar uma via, já que um bêbado não distingue o asfalto da avenida daquela calçada cheia de pedestres. Tampouco o segurança da agência bancária ou do shopping pode ser confiável, já que um descontrole súbito pode disparar uma arma, que por sua vez pode ir parar nas mãos de uma criança que a leva para a escola com a finalidade de impressionar os coleguinhas ou confundir a ficção com a realidade.
Politicamente temos de assumir uma atitude de equilíbrio. Visceralmente dependemos do controle de nossos instintos primários para respirar no ambiente social. Vivemos em comunidade e partilhamos esse meio. É onde encontramos a sobrevivência. Dizer que se vive só é irreal. Apenas viveríamos sós se fossemos isolados em uma ilha feita de rocha. Não há sobrevivência na vivência estéril. É preciso reconhecer o valor do meio social e contribuir para que haja maior garantia de convivência pacífica. (M M)

Wednesday, September 14, 2011

PEQUENOS E GRANDES PECADOS

Pecado de cá, pecado de lá! Todo mundo, sem exceção, passa por alguma situação em que resmunga "que pecado" ou coisa semelhante, mesmo que seja um ateu declarado e sacramentado...ou nem tanto. É que a palavra tem uma conotacão bíblica e há quem a acuse de instrumento de mera repressão. O que não parece corresponder a verdade, já que a palavra pecado ganhou no transcorrer da história uma conotacão ética, ainda que possa ser distorcida e abusada em sua interpretacão...
Pecado...essa palavra em grego significa algo assim como errar o alvo. Do ponto de vista bíblico é um ato de rebeldia contra as leis do Criador. Na nossa sociedade atual exemplifica atos que são contrários ao bem e isso não envolve necessariamente qualquer crença, mas necessidade de sobreviver. Nossas leis são baseadas na ética e moral, fundamentais para que haja convivência comunitária, mas também comercial. Em resumo, regras existem para permitir a sobrevivência comum e evitar o caos!
Mas a questão é a seguinte: pecados podem ser dimensionados em sua gravidade? Digamos que sua definição mais imparcial, a de que o pecado é o oposto da virtude, enquanto que a maior virtude é a sabedoria, seja  admitida, socráticamente. Nesse caso o pecado poderia ter gravidade variada, de acordo com a dimensão de seu dano, ou da ignorância do seu ato!
O que reduziria também, em uma ou outra circunstâncias, a virtude de quem imagina ser imune ao pecado...
No dia a dia alguns detalhes de acontecimentos corriqueiros - tão rotineiros que se não prestarmos atenção não os perceberemos- levam a um choque de interesses e, consequentemente, a um estado interessante da sabedoria versus pecado, ou da felicidade versus ignorância.
Exemplo? digamos que uma mulher esteja vendendo filmes pirateados, meio camuflada entre a multidão. Discretamente ela aborda uma ou outra pessoa. Bem discretamente, pois seu ato é ilícito, certo?
Bastante tentador o preço baixo. Um casal abordado hesita. "Estou louco para ver este filme aqui", diz o rapaz, já retirando o dinheiro do bolso. A namorada balança a cabeca :"Pirata, amor, deve ser cheio de defeitos!"... os três discutem a questão da legalidade daquele negócio.
Três visões diferentes de um mesmo problema: o rapaz, louco pelo filme a preço de banana; a namorada, hesitante e preocupada com a legalidade do negócio que dificulta a troca por defeitos eventuais no produto; a vendedora, que havia saído de casa as cinco horas da manhã e enfrentava a oitava hora de jejum, garantindo que não havia motivo para preocupação.
Três pecados diferentes. Ninguém aqui parece virtuoso! Quem está cometendo o pecado maior?
Questão de interpretação? Do ponto de vista legal o maior "pecador" ou infrator nem esta ai nessa cena: seria o autor do material clandestino, embora isso não suavize a ação de outros envolvidos!
Vamos a outro exemplo, este mais drástico: um assassino em série, estuprador e cruel, é preso e pouco tempo depois é encontrado morto em sua cela. A opinião pública se divide: o sujeito foi morto na prisão? Nesse caso ele merecia ou não a pena de morte improvisada? Quem cometeu o maior pecado, o assassino de mulheres ou o assassino do assassino de mulheres, que sobreviveria em um país onde a Justiça é relativamente branda com matadores?
Complicada, esta questão. Nietzsch abominava a idéia do pecado pois só conseguia entende-lo pelo ângulo doutrinário, através da concepção religiosa, que o enfurecia. Tanto que ele formalizou a sua interpretacão crítica dos valores morais defendidos pelo cristianismo, refutando o "ideal", mas esquecendo-se que, no final das contas, a amoralidade torna a sociedade incontrolável.
Ou seja, se Nietzsch vivesse neste terceiro milênio, defenderia a amoralidade quando algum bandido invadisse a sua casa e roubasse suas cuecas? Certamente pensaria mais sob a ética e repressão aos instintos animais que habitam o interior humano e que precisam de atenção para manter-se sob controle.
O que, na linha pessimista de Schopenhauer é absolutamente incontrolável. Para ele a vida humana é dominada por egoísmos rivais. A satisfação de um indivíduo necessariamente acarreta o sofrimento do outro.
Defendendo a ideia de que o egoismo é uma postura natural de um ser em relação a outro a interpretacão do pecado se transforma. O ser humano passa a ser um animal sem consciência ou apego a um semelhante desde que isso não seja fundamental no momento para a sua sobrevivência.
Ou seja, vocifera palavrões, aumenta o som apesar do horário que impõe silêncio, apodera-se de um bem alheio, usa cargos políticos para roubar e farta-se de pronunciar mentiras e falsas acusações para conturbar a ordem e confundir os que nada ou pouco sabem.
Quais dessas ações destrambelhadas que despertam a animalidade humana pela ausência de auto-crítica e ética, são mais nocivas e perigosas? 
Provavelmente nenhuma, sob o ponto de vista de motivação, ou seja, ausência da ética e respeito ao meio.  Ainda assim nos consolamos criando uma escala pessoal de valores, que tenta se encaixar nas regras que regem esse meio. Pecadinho e "pecadões". Crimes pequenininhos e crimes sem tamanho...
Muitos pontos de vista sao irritantes nestas questoes...pecados tornam-se maleaveis como material emborrachado! Verdade que quem rouba um quilo de feijao merece o perdão que aquele que rouba a carteira não merece! E que a corrupção tem lá suas variáveis. O problema é que o dinheiro paga o perdão de forma direta ou indireta, tornando a punição de grandes pecados uma ficção moderna. Mas são esses grandes e poderosos pecados que se escondem sob a capa da invulnerabilidade, aqueles que destroem a ética, estimulam a violência e provocam o caos social. (Mirna Monteiro)

Thursday, September 08, 2011

A INTOLERÂNCIA COMO AUTO-AGRESSÃO

Há pouco mais de um ano o mundo surpreendeu-se com a ação de Israel ao expulsar a pacifista Mairead Corrigan Maguire, premio Nobel da Paz, que trabalhava para ajudar os palestinos isolados na Faixa de Gaza. A ação não apenas espantou pessoas de todos os países, mas resumiu tudo aquilo que mais ameaça o mundo atual: a incapacidade de entender que o direito de soberania de um país caminha juntamente com  o direito do indivíduo e que não existe mais uma ação isolada que não repercuta política e economicamente com o restante do mundo.


Por isso temos leis internacionais, baseadas em direitos universais e insofismáveis. Questão de sobrevivência do planeta! Hoje a dependência entre os países impõe uma política integrada.
Maguire é uma pacifista. Como é possível exercer a intolerância sobre alguém que defende a paz? Isso nos lembra a repetição histórica de atos obscuros e intolerantes, que pretendiam diminuir o contato das pessoas com o mundo e o conhecimento. Giordano Bruno foi queimado vivo na Idade Média porque percebeu que o universo é infinito em transformação contínua, o que contrariava as verdades estabelecidas na época.

O próprio Sócrates, como relata Platão, foi condenado pelo poder político por opor-se às idéias dos dirigentes. Não concordava em cultuar personalidades ou divindades, porque não tinha cabimento o conhecimento ou o poder divino ser de posse de algum grupo, fosse político ou religioso! Deus e o conhecimento não poderiam ser privilégio de ninguém, pela própria condição de imanentes!
Pessoas não são produto e não podem ter proprietários. Portanto o indivíduo, esteja onde estiver, é livre, limitado pelo igual direito do semelhante. Não há cultura que possa anular essa condição. Israel dificultou o contato da ajuda humanitária e dos palestinos isolados na faixa de Gaza e essa é uma forma de autoritarismo sobre essa população. O fato de insistir em desafiar leis internacionais também é contrário à necessidade de equilibrar o meio e demonstrar na prática a intenção de inteirar-se ao mundo e respeitar a vida.
A crítica a mentalidade do " salve-se quem puder" e da pilhagem feita entre os destroços de guerras é uma determinante para o ambiente que teremos no futuro.
Como exemplo podemos citar o fato do mundo passar por grandes problemas - como a crise econômica que assola países europeus e os EUA, o que não justifica a tomada de ações que prejudiquem parte do globo.  Como negativas à adoção de medidas contentoras da poluição ambiental e outras ações que coloquem em risco a saúde do planeta. Essa é também uma forma de intolerância à realidade, pressupondo a possibilidade de sobreviver em qualquer circunstância. 
A intolerância é inimiga do convívio, renega o contato, a troca de informações para o desenvolvimento humano e é absolutamente isolante: separa da realidade aqueles que a exercem! E assim como nos tempos do obscurantismo, prejudicam o meio e atrasam a evolução da vida

Wednesday, August 24, 2011

FAUVISMO E A LIBERDADE DA COR

Criar seguindo o impulso dos instintos!
As cores fortes, completas, sem grandes  misturas ou qualquer outra alteração. Uma exaltação da cor primária.
Um colorido brutal, a pincelada forte, como se a emoção fosse "jogada" na tela, em formas amplas e ríspidas.
Podemos definir o "fauvismo" dessa forma. Esse termo, aliás, é injusto e teve origem a partir das observações corrosivas do crítico de arte Louis Vauxcelles, após ter visitado uma mostra de pinturas de vários artistas, entre eles Henry Matisse.
Vauxcelles utilizou a expressão “Les Fauves” ao se referir aos artistas. O uso pejorativo da expressão, que pode significar “os animais selvagens”, acabou persistindo e prevaleceu nas críticas imediatamente posteriores.

O fauvismo teve origem no final do Século 19, ao contar com precursores como Paul Gauguin e Vincent Van Gogh. Sua curta duração caracterizaria os movimentos vanguardistas posteriores. Mas foi uma iniciativa ousada na época, sob a liderança de Matisse e adotada por pintores como Georges Braque, Andre Derain, Georges Roualt, Kees van Dongen e Raoul Dufy.

Embora a fase desse tipo de arte tenha sido curta, é inegável a sua contribuição para novas manifestações no expressionismo e realismo, até chegar à arte moderna.

As obras aqui mostradas são de Vlaminck e André Derain, que posteriormente substituiu o prazer visual de sua pintura pelo clássico.

Obra de Georges Braque transforma borrões em imagens expressivas,
que dimensionam as formas 

A cor vermelha harmonizando o ambiente, de Matisse

A expressividade sem requintes obtida por Matisse nesta obra "A mulher de Chapéu"

Wednesday, August 10, 2011

A DOR E A VIOLÊNCIA SEGUNDO PICASSO

Pablo Picasso soube retratar em sua arte o horror da violência, magnificamente traduzido em sua obra atemporal e mundialmente reconhecida, Guernica, resumindo a Guerra Civil da Espanha em um conjunto de imagens que mostram todos os sentimentos que envolvem os absurdos da guerra.

A obra traduz o bombardeio pelos alemães da cidade de Guernica em Vizcaya, a 26 de Abril de 1937, deixando entrever ao espectador o medo, o sofrimento e a dor vividos nesse período.


Uma das figuras de "Guernica": a dor causada pela guerra, onde inocentes são sacrificados.



Em "Refluxo", com o estilo cubista que seria sua marca,  demonstrava uma preocupação com a sociedade marginalizada e suas tristezas e ironias. 
"A qualidade de um pintor depende da quantidade de passado que traz consigo", considerou Picasso, definindo a necessária sensibilidade ao mundo e não apenas à própria experiência na expressão da arte.










"Os miseráveis", ainda em sua "fase azul" : contrição e desalento diante dos desafios
da sobrevivência, tendo a 
miséria como realidade.
Mais tarde, em sua fase de
cubismo, Picasso ironizaria a
realidade humana
ao invés de mostrá-la cruamente

Sunday, July 31, 2011

COTIDIANO

A cena se passa em um consultório médico:
- Doutor, não sei o que acontecendo comigo, ando muito esquisito. Imagine que quando vejo pessoas sofrendo ou cenas dos ataques israelenses na Palestina, ou mesmo criancas de paises africanos...eu choro!
-Hum...vou receitar um antidepressivo...
-Mas este? Eu tenho problemas de gastrite!
- Sem problemas, vou receitar este aqui, toma junto também.
- Mas doutor,esse ai ataca meu fígado, que está meio cirrótico...
- Ah, não tem problema, vou acrescentar mais este remedinho aqui...
- Mas...não sei não, é que já tomei esse duas vezes e ele me dá insônia!
- Isso não é problema! O senhor vai tomar duas horas antes de deitar também este outro medicamento aqui! Vai dormir como um anjo..
- Eu tenho de acordar cedo, pegar trânsito pesado e...
-Ah, fique tranquilo, logo que acordar o senhor toma esse aqui...calma que tenho amostra grátis, é uma cortesia!
- Será? Sabe  o que é, já tomei duas vezes e esse tipo de medicacão dispara a minha pressão arterial, me dá uma paura, parece que vou ter um treco!
- Bom, para garantir, vamos fazer outra receitinha para este aqui, que vai ajudar se der enjôo também.
- Mas eu li  na internet que esse aqui deixa a pessoa agitada agitado e...
- Acalme-se, por favor. Ainda não terminei. Esse aqui e mais este aqui, vai ficar tranquilo, tudo azul e lindo!.
- Nossa, mas este aqui não é aquele que todo mundo fala que dá depressão?
- Sim, mas vou lhe receitar um antidepressivo.
-...outro?
- Ah, já lhe receitei o antidepressivo? Hum, certo.  Vamos apenas aumentar a dose...
mirna monteiro

Saturday, July 30, 2011

DIÁLOGO RADICAL

A esposa cautelosa fala com o marido radical, que está lendo jornal:

Ela - Querido, soube que estão misturando palha no café em pó! Misturam também milho torrado e até substâncias nocivas à saúde!

Ele - Então suspenda o café!

Ela - E o leite? Está uma coisa horrorosa! Não há higiene e ainda por cima descobriu-se que o leite pode estar adulterado, com água e substâncias químicas para encorpar!Horrível isso!

Ele - Suspenda o leite!

Ela - E o pão? É revoltante, não tem mais qualidades nutritivas e ainda por cima ninguém consegue impedir o uso do bromato, ai de nós! A Lucinha viu um dos padeiros tossir sobre a massa dos pães...e aquele caso em que encontraram pêlos no pãozinho???????

Ele - Suspenda o pão!

Ela - Também dá medo de comer carne. Dizem que os matadouros clandestinos matam bois doentes. Falam em carne de cavalo, de cachorro, sei lá como isso foge à fiscalização. Que dão anabolizantes! Além disso os bois são assassinados a porretadas, é muito cruel!

Ele- Suspenda o carne!

Ela - Ah, ia me esquecendo do caso da margarina. Imagine que ela é feita com produtos minerais, até petróleo tem. E a margarina vegetal? Sabia que é escura, marrom e pra ficar amarelinha eles usam hidrogenagem que gruda nas artérias? Nada como margarina para aumentar o colesterol!

Ele - Suspenda a margarina!

Ela - Coisa grave é o que está acontecendo com legumes, verduras! A vizinha conhece uma plantação que é regada com água contaminada. E os defensivos? São substâncias quimicas que eles usam para eliminar as pragas e que podem provocar o câncer nos seres humanos!

Ele - Suspenda legumes e verduras!

Ela - Dizem que as frutas também...

Ele - Suspenda as frutas!

Ela -Mas bem, as coisas estão piores do que a gente pensa. A Mariana veio me mostrar uma reportagem que assusta. Sabe que galinhas e frangos são alimentados com hormônios para engordar? E as rações contaminam a carne dos frangos e até a gema dos ovos?

Ele - Suspenda a carne de frango e os ovos!

Ela - Mas o pior, o pior acontece com os produtos enlatados. Para conservar esses produtos são utilizadas drogas perigosas para os seres humanos. E os corantes e conservantes de nome esquisito? Dizem que até congelados podem estar contaminados por desleixo no transporte ou conservação. Há uma tal de salmonela...

Ele - Suspenda os produtos enlatados e congelados!

Ela - Mas pera aí. Precisamos tomar muito cuidado com o presunto que você adora comer! Ele contém excesso de fosfato. Não viu na televisão? Provoca alterações graves no organismo!

Ele - Suspenda imediatamente o presunto!

Ela - Mas e o arroz? Sabe que esse arroz vendido por ai pode acarretar problemas à saúde? Sizem que é polido demais, é um arroz industrializado, inclusive com substâncias tóxicas! Se fizerem uma vistoria séria, a maioria não escapa, pois tá cheio de ácaros...

Ele - Por Deus, suspenda o arroz!

Ela - Mas até o macarrão está sendo condenado!Ao invés de ovos usam produtos quimicos e...

Ele - Suspenda o macarrão!

Ela - Mas e os peixes? Onde é que morreram milhões de peixes mesmo? Por causa da contaminação das águas do mar. Os navios despejam porcarias e os peixes são contaminados, nos rios também há contaminação por mercúrio e outros metais! Os peixes vendidos podem estar também mal conservados e...

Ele - Suspenda definitivamente os peixes!

Ela - Já ouviu falar do tal glutamato nos queijos? Dizem que causa uma doença esquisita na gente, é...

Ele - Suspenda o queijo!

Ela - Mas você adora doces industrializados, sabe que eles também contém aditivos perigosos? E há mais, pesquisas mostraram que há elementos nocivos no açucar branco, sabe que açucar é marrom, né, e pra branquear, já viu, açucar refinado prejudica muito...

Ele - Suspenda os doces, o açucar, os adoçantes e o diabo!

Ela- Como se fosse suficiente! E o problema da água? Usam muito cloro e um tal de fluor que é despejo químico do primeiro mundo! Já se sabe que isso faz um mal danado...

Ele- Suspenda a água!

Ela - ...Como se não bastasse isso, estamos no limite respirando tanto gás venenoso no ar, eles estão provocando muitas doenças.

Ele - (Exasperado)Suspenda a respiração!

Ela - (surpreendida) Mas querido, se a solução for suspender água, comida e ar, vamos morrer!

Ele - Solução mais higiênica não existe! Pelo menos morremos com saúde!
(do jornalista e escritor Roberto Monteiro)

Tuesday, July 26, 2011

CONSIDERAÇÕES SOBRE A INVEJA

Não, não se trata de correr em busca do sal grosso, de carrancas e patuás. Ainda que a inveja possa ser tratada de forma doméstica - como uma dor-de-cotovelo entre amigas, o aborrecimento por atributos que um colega de trabalho ou até um desconhecido que tenha projeção na mídia possuam em detrimento de seus próprios, o carro luxuoso que você não pode ter ou um simples sorvete maior que o outro, ela é sem dúvida perigosa.
A inveja transtorna e causa doenças para aqueles que ficam ruminando suas decepções e tristezas. Mas se o "olho gordo" é tratado popularmente de maneira até folclórica e bem humorada, esse tipo de sentimento pode ser considerado a própria origem do mal.
A inveja é menosprezada em sua nocividade. Causa mais estragos do que poderíamos supor. Provavelmente ela se esconde, quietinha e camuflada, nos bastidores de todas as grandes desgraças da humanidade.
Exagêro? Não exatamente. Veja só o caso de Caim e Abel... os mais céticos devem reconhecer que não há como negar a antiguidade da inveja, tampouco a sua realidade, mesmo abominando o registro bíblico.
Ela ( a inveja) está onipresente nas grandes guerras, nas revoluções, no sadismo da humanidade. Calígula era extremamente invejoso e isso norteava a sua crueldade. Poder e inveja formam um coquetel desastroso. Hitler era frustrado pela sua falta de talento, tanto que imaginou um mundo onde toda a arte existente estaria sob sua guarda. De preferência acabando com os autores, porque a inveja admira o talento, mas não pode perdoa-lo.
A inveja é amiguinha da mediocridade. Vivem de mãos dadas, suportando-se mutuamente, mas tentando unir-se para destruir o objeto de sua ira. É, porque a inveja se esconde também sob a ira, esse sentimento odiento que faz o sujeito cuspir a maldade. A dramaticidade aqui é importante para definir a balbúrdia criada na humanidade por esse sentimento inerente, que habita a alma humana como um protozoário potencial, ou um defeito natural em hibernação - se não for vigiado acaba ganhando espaço.
No final das contas a única alternativa para evitar que a inveja faça seus estragos é cultivando o próprio talento. Uma espécie de "vacina" contra esse mal, que permite uma vida menos espremida e perigosa, dolorosamente competitiva e regida pela moral e valores supérfluos que pretendem controlar o mundo da mesma maneira que se controla o gado no pasto.
Se a virtude depende de disposição para para criar e construir, a inveja também depende da decisão de não permitir o artificialismo do poder. De alguma forma é preciso quebrar o círculo vicioso que impõe a agressividade na conquista de um espaço através da eliminação do objeto da inveja, que afinal pode ser sublimada, como todo e qualquer sentimento, individual ou políticamente no espaço coletivo. (Mirna Monteiro)

Monday, July 25, 2011

OLHOS PARA O CÉU

A possível visão de um objeto voador não identificado mexe com as pessoas, excita a mente, dá agulhadas na criatividade, aumenta a adrenalina e a sensação do inusitado. Discos voadores aparecem no cotidiano com frequência, pelo menos do ponto de vista do observador, leigo no assunto...ou todos seríamos especialistas em misteriosas visões de luzes piscantes ou pratos coloridos que surgem no firmamento?
Quem tem a visão solitária em geral é considerado, no mínimo, alguém confuso com algum fenômeno natural. Afinal temos objetos voadores de sobra em nossa órbita terrestre. Falando sinceramente, a humanidade nem sabe como se livrar do lixo espacial que subiu em foguetes milionários e que transformou-se em sucata orbital...contingências da ciência.
Mas será que satélites artificiais fora da órbita ou balões metereológicos dentro dela podem ser confundidos com discos voadores? Será que truques podem enganar uma assistência diversificada e com pontos de visão de diferentes ângulos?
Os felizardos que avistaram Ovnis juram que não. Discos voadores são diferentes, afirmam. Em um relato um motorista solitário, que jurou sobriedade total, afirma que viu um objeto enorme, a pouca distância, um tipo de máquina de forma ovalada com luzes ao seu redor. "Isso não é satélite nem aqui, nem em Marte" resmungou ele ao ser confrontado sobre o assunto.
É, confrontado! Não é possível aceitar a idéia de que ovnis possam ser objetos alienígenas identificados. A internet está repleta de fotos e filmagens de possíveis discos voadores. Sempre tem alguém que joga um balde de água fria nos ânimos dos avistadores dos aclamados Ovnis! "Montagem grosseira"ou "Reflexo do sol", ou "a latinha de cerveja que você bebeu, amassou e jogou", entre outras. 
Como no avistamento do objeto em Embú, na Grande São Paulo, neste domingo. Dezenas de pessoas garantem que viram o objeto, que foi filmado. Uma luz no centro, um monte de luzes azuis cercado esse miolo. "É óbvio que não é disco voador, ficou quase meia hora ali parado", setenciou um especialista em Ovnis ao ver fotos e vídeo gravado. Uma das pessoas que presenciaram a aparição ( ?) revoltou-se: "Não é disco voador porque ficou parado, piscando? Se estivesse andando seria satélite? Ou se andasse rápido seria um avião ultrassônico? Como é que ele sabe se é, por acaso ele já viu algum?"
Nessas horas os papéis chegam a inverter-se, de forma dramática: "Juro pelos meus olhos que a terra há de comer que eu ví um objeto estranho", assombrou-se um senhor que antes era cético. E um estudioso em Ovnis ironizou: "o ET desse objeto foi puxado por uma cordinha e pousou no quintal de algum engraçadinho"... Crença contra negação ou lucidez contra o medo? Medo do desconhecido, medo do constrangimento, medo de ser ridicularizado, em uma sociedade que aprendeu a pensar linearmente.
Bem, uma coisa não se pode negar. Todas as pessoas que presenciam esse tipo de experiência não aceitam contradições. A mente já antecipa a necessidade de que seja uma demonstração de que há vida extraterrestre, pois essa possibilidade habita o inconsciente humano desde sempre. A partir do momento em que aventa-se a possibilidade de enganos em uma aparição, a sensação coletiva é de grande frustação! Sentimentos opostos  em uma mesma emoção: "Meu Deus, é um disco voador, cuidado que podemos ser abduzidos" e ao mesmo instante "não seria um disco voador?...Que pena, não creio!"...