Wednesday, May 16, 2012

O QUE EXIGIMOS DA VIDA

...Estamos perdendo o rumo?


Volta e meia encontramos alguém que desabafa, aflito: “estão todos loucos!  As pessoas estão perdendo a lucidez”

Por que? Os motivos são vários – irritação excessiva, ausência de auto-controle, falta de afetividade e tendência à destruição. Dentro da própria família os sintomas são cada vez mais óbvios – desagregação, egocentrismo, disputa interna, clima inamistoso.
Mas o que mais se ouve e impressiona é a afirmação de que as pessoas estão perdendo a capacidade crítica e qualquer freio moral.
A ausência de capacidade crítica torna a pessoa extremamente vulnerável ao erro e engano. A falta de “freios morais” a torna potencialmente perigosa, sujeita a achar natural a invasão da privacidade alheia ou apropriação de bens que não lhe pertencem ou ainda a atos violentos.

Seria um sintoma de loucura? Ou de histeria coletiva, um fator que desagrega a sociedade da racionalidade que permite uma convivência produtiva e pacífica?
Perguntas e perguntas. Que parece haver uma gradativa perda de identidade e um processo de histeria coletiva - onde se age pela emoção, sem um racicínio independente e lógica individual - isso parece! Há quem afirme que a sociedade moderna  está cada vez mais integrada por pessoas que confundem a realidade com a ilusão criada pela ficção ou pela mídia, farta em mensagens subliminares

Somos seres racionais e a nossa vontade é racional. Assim nos percebemos lúcidos e com capacidade de definir a realidade. Qualquer pensamento ou emoção que extrapolem determinados limites podem ser interpretados como uma ficção ou uma ilusão sob controle.
Mas é preciso considerar a capacidade humana de reintegrar-se em seu isolamento mental. No momento em que divagamos dentro de nós mesmos, a concepção do certo, errado ou do que é real pode mudar. Podemos permitir que haja maior abertura para a irracionalidade, a fantasia e a ilusão. Ou permitir uma reestruturação do pensamento diante de uma nova realidade, que permitirá maior segurança de sobrevivência.

Assim como nos sentimos seguros quando percebemos a realidade fora de nós, onde podemos ter a percepção sobre ela e diferenciar o que de fato é consistente e o que é ilusão, também a incapacidade de lidar com as duas realidades pode ser perigosa.
Tornar-se excessivamente pragmático portanto é colocar em risco a própria sanidade, uma vez que a pessoa que vive exclusivamente para uma realidade imediata e material – aquela que considera única – é facilmente dominada pelas regras desse mundo plastificado.
Ficará, por exemplo, mais sujeita à pressões de uma sociedade imediatista e superficial e mais sensível ao processo de histeria que se instala coletivamente.

O estudo da psicanálise demonstra a importância de nosso inconsciente. Considerando a Filosofia, esse mundo interior se torna muito mais amplo e capacitado para conduzir-se conscientemente e não consistir-se simplesmente em um reflexo do mundo exterior.

Deveríamos conscientizar a importância de nosso mundo mental, ou de nossa alma. No entanto, estamos sempre na dúvida sobre quais das sensações devem ser priorizadas em determinado momento: a liberdade do pensamento livre e da imaginação solta em nosso mundo interior, onde as percepções são tão ilimitadas, e a percepção da realidade externa, comunitária, que divide-se no mundo material.
Quando estamos sonhando, vivemos uma realidade ou uma ilusão? Para os mais pragmáticos, essa é uma pergunta absurda. Ora, o excesso de racionalidade leva à falta de criatividade e crescimento mental e portanto limita a capacidade de compreensão de um mundo lúdico ou mental.
Se nosso mundo interior, formado de sonhos, pensamentos e imagens, é perfeitamente estabelecido e desperta sensações, inclusive físicas, apesar da imaterialidade do mundo interior, por que não seria também uma realidade, em outro nível de percepção?
O que se pretende portanto é o equilíbrio entre a realidade imediata e a capacidade de percepção e criatividade humana. Atingir a medida certa não é tão importante quanto pensar sobre sua própria capacidade de integrar-se ao pensamento exocêntrico... que afinal representa a consciência do "uno" ou da relação entre todas as coisas. (Mirna Monteiro)

Friday, May 04, 2012

VIVA A PIPOCA!

Quem não se interessa em saber qual alimento possui propriedades "mágicas" para a saúde e a perpetuação da juventude? Todos, certamente. Preocupar-se com a saúde e beleza transformou-se em obsessão para muitas pessoas, que procuram dietas milagrosas, lotam as academias de ginástica e enfrentam qualquer desafio para conseguir "consertar-se" com novas tecnologias e cirurgias corretivas.
Mas o seria uma dieta perfeita? Aquela que acaba com os já famosos radicais livres, varrendo gorduras das artérias, mantendo baixos índices de glicemia e assim afastando o fantasma do diabetes, do colesterol ruim e da degradação física?
Dieta perfeita, do ponto de vista científico, seria aquela que beneficia o organismo, preenchendo todas as suas necessidades. Pode variar, de acordo com o ambiente, os hábitos e a idade e é isso que traz confusão. Não é possível criar um tipo de dieta especial que sirva para todo mundo.
Mas todos se animam com as novidades...que na verdade são alimentos que sempre existiram. Por exemplo, as maravilhas da pipoca! Sim, essa pipoca que todo mundo adora e que consome aos quilos nos cinemas, mas que deve ser consumida com certa moderação (umas três xícaras de pipoca pronta tem menos de 100 calorias) e preparada com água ou pouco óleo e pouco sal, sem manteiga, que pode ser substituída pelo azeite.
Pipoca possui vitaminas do complexo B, ajuda a tonificar o estômago, prevenir a ansiedade e melhorar a digestão (uns goles de água intercalados ajudam o processo). Mas o bom é que tem alta quantidade de antioxidantes e ajuda a diminuir o risco de distúrbios cardiovasculares, mostrando ainda quantidades razoáveis de zinco, potássio e fósforo. Como tem vitamina A, luteína e zeaxantina ajuda a prevenir doenças como a catarata e beneficia quem tem diabetes. O que é ótima notícia.
Mas não se vive de pipoca. Se você comer apenas pipoca, não vai dar certo. É preciso consumir alimentos frescos, verduras, saladas, tubérculos, frutas...é imensa a listagem de propriedades que podem ajudar na saúde. Brócoles contra o câncer, maracujá para estresse, melancia para desintoxicar, banana para enxaqueca ou para dormir, maçâ para socorrer o coração!
Tem mais: alimentos integrais para nutrir, fazer o intestino andar, "varrer" gorduras das artérias...a lista é interminável. Tanto que no final das contas ninguém come direito, diante de tantas opções.
Há no entanto uma regra básica: tudo pode fazer bem, se consumido com preparo adequado e na quantidade  moderada. E tudo que é industrializado, é alimento transformado e portanto reduzido em seu poder anti-radical...Mas considerando que nossa economia está calcada na produção, retornar aos tempos das poções mágicas feitas com produtos frescos colhidos na hora pode causar uma pane mundial.
É nesse ponto que paramos para refletir o grande beco sem saída do sistema humano, que impõe cada vez mais uma alimentação multiplicada por processos químicos ou genéticos, encharcada com venenos defensivos de pragas e industrializada, sob alegação de que essa é a única alternativa para o mundo não passar fome.

Thursday, April 26, 2012

CONSUMIR OU NÃO CONSUMIR, EIS A QUESTÃO!

Dizem que nada melhor para a depressão do comprar, seja lá o que for, mas de preferência produtos que aumentem a auto-estima, como roupas, sapatos, cosméticos, perfumes...ou o mais recente lançamento eletrônico, um sofisticado home theater, ou aquele iPad com recursos incríveis.
O problema não é exatamente exercitar o consumo ocasionalmente, visando obter produtos que vão ter uma utilidade real. O problema, que vem sendo considerado grave, é o exagero do consumo e o excesso do descarte de produtos.
Mais do que um impulso, muita gente que vive uma necessidade de consumo de supérfluos, nem imagina que pode sofrer de um mal chamado oniomania. Que é isso?. É o nome de uma doença, que envolve a compulsão exagerada do consumo.
Imagine só! Quem diria que consumir em excesso é doença! e não simples questão de hábito, como gostar de música ou televisão...o tempo todo!
Consumidores compulsivos acabam na condição de acumuladores de produtos que se tornam supérfluos por falta de uso. Roupas que são guardadas e nunca utilizadas, objetos que envelhecem sem que a embalagem seja aberta. Consumir pode ser uma doença, quando ultrapassa a linha da necessidade da pessoa. Uma doença perigosa que transforma o planeta em uma lata de lixo com limites de armazenamento.
Quem resiste à tentação do último iPad, da enorme tv "HD", daquela bota sensacional ou aquele carro automático?...Infelizmente, a maior parte das pessoas apenas resiste ao consumismo excessivo quando o bolso não consegue comportar o sonho desse consumo. Mesmo quem não chega ao exagero, debatendo-se em meio aos cartões de crédito como no caso dos que sofrem de oniomania, nem sempre resiste a essa troca constante de produtos e objetos.
Por que motivo somos tão sensíveis a este tipo de apelo?
A história da civilização humana mostra que possuir bens sempre foi uma maneira de demonstrar superioridade nos tempos de grandes riscos de sobrevivência. Longos períodos de guerra ou de desastres climáticos que impediam a colheita necessitavam da garantia de bens para a troca ou negociação de espaços ou produtos escassos. O ouro comprava  o saco de batatas ou o milho aos quais a maioria não tinha acesso nos períodos de extrema penúria. Nos tempos de abundância, o possuir transformava-se no prazer do luxo e do supérfluo.
E hoje? Um produto não serve como garantia futura porque é feito para não durar. Carros, eletrodomésticos, móveis, tudo aquilo que o sujeito comprava antes da mentalidade dos supérfluos, transformou-se em produtos com data marcada para pifar, estragar ou desfazer-se.
Supérfluos tornaram-se uma especie de "atestado de boa vida".  Mas ao invés de segurança, oferecem uma condição oposta: nunca foi tão perigoso o hábito da ostentação.
Perdemos a medida entre o possuir simplesmente e a necessidade real de consumo!
A grande mola que desencadeia esse comportamento estranho e absurdo do compra-e-joga-fora é o poder de persuasão da mídia, que utiliza sem pudor técnicas de convencimento - como mensagens subliminares e a vitória da resistência pela repetição da ordem de consumo.
Pensando bem, qual a vantagem de chegar a um nível de adquirir coisas tão frenético?
Encontramos um exemplo claro da diferença entre o desejo e a sensação de estar de bem com a vida. Desejo é ansiedade por alguma coisa, que assim que for obtida, perde a graça, pois não permite a sensação de plenitude. É como comer alimentos que fornecem muita caloria e pouca nutrição, o que provoca "fome eterna" ou uma espécie de frustração, pois parece encher a barriga, mas não acalma a necessidade de comer.
Tudo que é novidade, é agradável. O cheiro de um carro novo, de uma geladeira recém-saída da fábrica, um traje com suas fibras impecáveis.
Mas para manter essa sensação teríamos de trocar o carro em alguns meses, a geladeira em algumas semanas e usar apenas uma única vez uma peça de vestuário, pois depois de lavada, já não seria mais a mesma!
Sob o ângulo de visão do desejo desse tipo de perfeição, até mesmo a realidade vivida em países de alta produção - onde adquirir um produto novo é mais vantajoso financeiramente do que arrumar o antigo (ou nem tão antigo assim) seria imperfeita. Pois não há velocidade suficiente para manter o novo, que fica velho assim que é adquirido!
O resultado da mentalidade do consumo é muito lixo. Produtos que deveriam durar dez, vinte anos, são programados para apresentar problemas em pouco tempo.
A mão de obra e as peças de reposição são caras demais, pois interessa ao sistema manter sempre a compra de novos produtos, que por sua vez vão para o lixo, pois já são de má qualidade no momento que saem das linhas de produção.
Imaginar que a economia mundial não sobreviveria sem esse desprezo ao homem e ao seu meio ambiente é o maior dos enganos. Essa mentalidade, que surgiu após a segunda guerra, com o Japão derrotado pela bomba nuclear assumindo uma rígida postura de produção, a tal ponto  que trabalhadores japoneses doavam parte de seu salário para a implementação dessa corrida ao consumo, é ameaçadora!
Com a introdução de um programa de qualidade total para ganhar o mercado mundial, o Japão recriou a economia moderna a partir dos destroços da guerra. Objeto de desejo dos EUA que foi plenamente alcançado poucas décadas depois.
Poderemos controlar tantos desajustes? Ao ter consciência de que trabalha para consumir e não para viver, a sociedade começa a questionar os exageros que estão trazendo mais prejuízos do que vantagens. É o momento de reciclar aquilo que temos em casa. Saquinhos de supermercado não fazem diferença na ecologia, mas o dia a dia da população em evitar excessos sim!
Trocar desnecessariamente o carro, a televisão, a geladeira, enfim, o sofá ou a mesa de jantar, definitivamente, está fora de moda. A ordem é reciclar, renovar, recriar, criando evidentes vantagens não apenas para o bolso e o meio ambiente, mas para a própria segurança: a mentalidade do descartável afeta o respeito à vida. que se torna banal em meio a tanto descarte! (Mirna Monteiro)

Thursday, April 12, 2012

O QUE FAZER DA SEXTA-FEIRA 13

É de tremer nas bases imaginar aquele sujeito degringolado, com uma máscara de plástico, perseguindo as pessoas na série "Sexta-feira 13". Desde 1980 foram 12 filmes de terror com essa personagem e uma geração inteira de assustados com a data fatídica, que no entanto já era considerada complicada há séculos ou talvez milênios. Muito antes do tal de "Jason", o mascarado da ficção que inferniza as telas de cinema. Ou dos inúmeros outros "Jasons" que surgiram no rastro desse predador ficcional, mas nem por isso menos maligno!
Com ou sem essas cenas, esse dia sempre foi interpretado de maneira depreciativa. Já alguns dias antes as pessoas ficam preocupadas com a sexta-feira 13. Uns reclamam que já na véspera - ontem - começaram a dar topadas e machucar o dedão, perderam a hora do dentista e uma restauração despencou, que o pneu do carro furou e "alguma coisa está esquisita"...ainda que seja devido à azia provocada pelo abuso do "fast food" de quinta-feira, dia 12...onde também se machuca o dedão e se perde duas horas no trânsito endemoniado das marginais e avenidas.
De qualquer forma, estranha a escolha de duas datas que separadas não impressionam ninguém. Muito pelo contrário, sexta-feira é o dia mais aclamado da semana, considerado a linha divisória entre a responsabilidade do trabalho e as delícias do descanso. O número 13, por outro lado, tem má fama injusta, pois é considerado número da sorte em diversas culturas.
Há algumas explicações para a escolha da sexta-feira 13 como dia complicado, Lendas nórticas contam que Loki, deus do fogo, aproveitou um encontro de doze deuses para conturbar o ambiente e ferir o deus solar Baldur, favorito de Odin, o deus dos deuses. Naturalmente ele, Loki, era o décimo terceiro.
Mas a história de que reunir 13 pessoas não dá muito certo também pode ter tido origem na Escandinávia, que exilou a deusa da fertilidade e do amor, Frigga, no alto de uma montanha, durante a conversão ao cristianismo  de tribos norticas. Frigga passou a reunir-se com outras 11 bruxas e, dizem as más línguas, o demônio. O que irritou as pessoas, que passaram a considerar a sexta-feira 13 um dia maligno!...Frigga, aliás, originou o nome sexta-feira no calendário romano, que no final das contas apenas chegaria à outros lugares, como a Inglaterra, no século V, com sua semana de sete dias.
Bobagem explicar isso. Para os crédulos, a sexta-feira 13 está acima de cronologias e do desenrolar da história. É um dia cercado de mistérios e de energias conflitantes, simplificadas na forma de superstições.
Ainda assim, talvez a melhor explicação esteja o fato de que a sexta-feira era um dia consagrado à deusa, ou ao feminino. Em uma sociedade que se tornava masculina e patriarcal, esse dia passou a ser mal visto.
Ah, há muitas outras histórias rondando a sexta-feira 13. Nenhuma tão horrível como o tal do Jason dos anos 80 do século XX, mas também com cores dramáticas, como a caça aos templários, que teria sido ordenada  por Felipe IV em 13 de outubro de 1307.
Como sabemos, sexta-feira é um dia bem quisto normalmente e o dia 13...ora, na numerologia o 13 transforma-se em 1+3= 4...quatro significa potência e constância, o percorrer passo a passo o caminho! Há 4 estações do ano, a lua tem 4 fases, agua, terra, ar e fogo são os 4 elementos que permitem a vida!
Melhor que isso impossível. Não, tem mais sim: hoje, dia 13 de abril, é o Dia do Beijo!
Que seja uma boa sexta-feira 13! (Mirna Monteiro)

LEIA TAMBÉM:
http://artemirna.blogspot.com.br/2011/04/o-beijo-como-expressao-do-sentimento.html

Wednesday, April 11, 2012

CRÍTICA DA LOUCURA

Erasmo, falando em nome da Loucura: "Vê-se claramente que
o homem não nasceu para gozar aqui na terra de uma
felicidade perfeita".
Hoje e há 500 anos atrás as mesmas críticas da Loucura 
Os loucos são mais felizes? Depende do tipo da loucura, certamente. "Os loucos receberam o privilégio de censurar e moralizar sem ofender ninguém. Príncipes  riem-se de todo o coração quando um tolo lhes diz coisas que seriam mais do que suficientes para enforcar um filósofo"!
Palavras da própria "Loucura". Afinal apenas quem é louco defende verdades que podem se voltar contra ele mesmo ou seu conforto.
Os sábios tem duas línguas, uma para dizer o que pensam e outra para falar conforme as circunstâncias, já dizia Eurípedes.
Falar aquilo que se pensa é uma condição rara. Os motivos variam, passando de interesses políticos e pessoais até a omissão gentil ou piedosa, onde a trava na língua é motivada por consideração ao próximo. A extrema sinceridade nem sempre pode ser aceita ou digerida, mesmo porque nem sempre é a representação da verdade, mas simplesmente uma interpretação que pode mudar sob luzes mais intensas do que o pensamento de quem a concebe.
É o caso da crítica certamente. Não falamos simplesmente da argumentação que tenta mostrar a beleza ou as falhas de determinada obra de arte, de uma peça de teatro ou um filme. Falamos da visão crítica da vida e da sociedade. "Glauco enalteceu a injustiça, o filósofo Favorino louvou Tersides e a febre quartã, Sinésio a calvice e Luciano a mosca parasita", argumenta Erasmo de Roterdam (ou Rotterdam), que de Geraldo passou a Desidério Erasmo, antes disso. Afirmações e opiniões não são necessariamente verdade ou observações construtivas, muito pelo contrário.
Quantas besteiras afirmamos pensando que são verdades!
Sob essa ótica, a observação crítica deve passar pelo crivo da imparcialidade do pensamento, o que é muito difícil. Daí a necessidade de certa dose de audácia ou loucura, que acabou gerando as idéias de Erasmo, que ainda hoje, mais de quinhentos anos depois, ainda cabem perfeitamente como crítica à sociedade! Em seu "Elogio à Loucura", mostra bem o quanto podemos ser ridículos e confusos na ansiedade em criar uma normalidade aparente.
A "Loucura" de Erasmo de Roterdam é independente, despeja suas considerações e interpretações sem que o autor assuma sua autoria ("não sou eu, mas "ela" quem fala, a loucura dos homens" ). É extremamente bem humorada, sarcástica e cruel.
"Nunca terei louvado bastante a Pitágoras por ter se transformado em galo. Esse filósofo, em virtude da metempsicose (vou interromper aqui para lembrar que metempsicose teria origem na alma humana que também habitaria outros seres vivos, tipo reencarnações) passou por todos os estágios: filósofo, homem, mulher, rei, confidente, peixe, cavalo, rã e creio até que esponja. E depois de todas essas transmigrações declarou que o homem era o mais infeliz dos animais, pois todos estão satisfeitos em ficar nos limites prefixados pela natureza, enquanto só o homem se esforça para ultrapassa-la"
O que, segundo a Loucura, dá uma imensa dor de cabeça aos seres humanos, que ao renegar a natureza tal como ela é, vivem em desarmonia e terror, com medo da vida e da morte e envoltos na infelicidade da ciência fabricada.
Vamos a algumas considerações da Loucura de Erasmo:

PODER -  Não posso deixar de lastimar a sorte dos príncipes. Oh, como são infelizes! Inacessíveis à verdade, só contam com a amizade de aduladores (...)Por que os príncipes detestam a companhia de filósofos? Ah! Bem vejo que isso se deve ao medo que os príncipes tem de encontrar  entre os filósofos algum petulante que se atreva a dizer o que é verdadeiro e não agradável"...

O POLÍTICO - Observemos em que consistem as obrigações de um homem que é posto à testa de uma nação. Deve dedicar-se dia e noite ao bem publico e nunca ao seu interesse privado; pensar exclusivamente no que é vantajoso para o povo; ser o primeiro a observar as leis de que é autor e depositário, sem desviar-se nunca de nenhuma delas; observar co firmeza, com os próprios olhos, a integridade dos secretários e dos magistrados; não esquecer nunca de que os vícios e os delitos dos seus súditos são infinitamente menos contagiosos que os do senhor(...)...

O BOBO - Dizemos ser louco todo aquele que, sendo curto das vistas, toma um burro por um jumento ou que por ter pouco discernimento, considera excelente um mau poema. Ao mesmo tempo quando um homem comete um estranho erro, não só de senso, mas também de inteligência, nele persistindo longamente - por exemplo, ao escutar o zurro de um burro, julga ouvir uma sinfonia.

O LOUCO - A loucura é bem mais espalhada do que em geral se pensa. As vezes é um louco que se ri de outro louco, divertindo-se ambos mutuamente.

RELIGIÃO - Outra espécie de extravagantes é constituída pelos que confiando em certos sinais externos de devoção, em certos palanfrórios, em certas rezas que algum piedoso impostor inventou para se divertir ou por interesse, estão convencidos de que vão gozar de uma inalterável felicidade, conquistar riqueza, obter honra, satisfazer determinados prazeres, viver longamente e levar uma velhice robusta e, como se isso não bastasse, ainda esperam ocupar no paraiso um posto elevado(...) Tempo de voar entre as inefáveis e eternas delícias do céu, uma vez abandonados pelos bens na terra, aos quais se aferram de todo o coração.

PERDÃO DIVINO - Persuadidos dos perdões e indulgências, ao negociante, ao militar, ao juiz, basta atirarem a uma bandeja uma pequena moeda, para ficarem tão limpos e puros dos seus numerosos roubos como quando sairam da pia batismal...Quem já terá visto homens mais tolos que julgam que entrarão infalivelmente no reino dos céus recitando todos os dias sete versículos que eu não sei quais sejam (...) No entanto, foi um demônio quem fez tão bela descoberta: mas um demônio tolo, que tinha mais vaidade do que talento(...).

RELATIVIDADE - Se um esfomeado come carne podre, cujo fedor obrigaria outro a tapar o nariz, se ele a come com tanto gosto como se se tratasse do alimento mais fino, eu vos pergunto se por isso devce ser considerado menos feliz. Ao contrário, se um enfastiado comesse iguarias e em lugar do seu gosto sentisse náuseas, onde estaria nesse caso a sua felicidade? Para um homem que tem uma mulher feissima, mas na qual vê perfeitamente a sua bela, não é o mesmo que se tivesse desposado uma Vênus?

EGOÍSMO TOLO - Ora, é impossível gozar um bem quando se está sozinho.

SABEDORIA  - Os sábios são em numero tão escasso que nem vale a pena falar deles, e eu desejaria mesmo saber se é possível descobrir algum. No curso de tantos séculos, a Grécia se vangloria de ter produzido apenas sete sábios. É na verdade maravilhoso! O gênero humano deve mesmo muito a essa felicidade da Grécia! Foram mesmo sete?

O VINHO -  ...Consiste em tirar  e dissipar do ânimo dos mortais as aflições, as inquietações e a tristeza, perversas filhas da razão: mas por pouco tempo, porque depois de algumas horas de sono, voltam a atormentar-nos imediatamente e, como se costuma dizer, a todo galope. Não será isso inteiramente o oposto do bem que eu proporciono ao mortais? Minha embriaguez é muito diferente da de Baco: enche a alma de alegria, de tripúdio e de delícias, dura até o fim da vida e não custa dinheiro nem dá remorsos...

HIPOCRISIA - E que coisas estranhas não se dizem e fazem quando morre um parente próximo? Chega-se ao ponto de pagar pessoas que finjam chorar e gesticulam como cômicos. Quanto  maior é a alegria experimentada no coração, tanto maior é a tristeza que o rosto aparenta, o que deu origem ao provérbio grego: chorar na sepultura da madrasta. Este tira o quanto pode, seja de onde for, e dá tudo de presente à própria barriga, com o risco de morrer de fome depois de satisfeita a gulodice. Aquele que põe toda a sua felicidade no ócio e no sono.

AGIOTAS - os negociantes, sobretudo, são os mais sórdidos e estúpidos atores da vida humana: não há coisa mais vil do que a sua profissão e, como coroamento da obra, exercem-na da maneira mais porca. São, em geral, perjuros, mentirosos, ladrões, trapaceiros, impostores. No entanto, devido a sua riqueza, são tidos em grande consideração e chegam a encontrar frades aduladores, que lhes fazem humildemente a corte e publicamente lhes dão o nome de veneráveis, a fim de lhes abiscoitar uma parte dos mal adquiridos tesouros.

ESCRITORES- Todos esses escritores tem parentesco comigo (a Loucura) sobretudo quando só escrevem coisas insípidas. Quanto aos autores que só escrevem para poucos, isto é, para pessoas de fino gosto e perspicazes, confesso-vos ingenuamente que merecem mais compaixão do que inveja.
Mas falemos agora de um autor que escreva sob meus auspícios e do qual seja eu a Minerva. Não conhecendo a meditação nem a tortura do cérebro, nem as vigílias, escreve tudo que sonha, tudo que lhe vem à cabeça. (...) Quem poderá negar que esse homem seja verdadeiramente feliz?

PLAGIADORES - Os plagiadores que com suas facilidades se apropriam das obras alheias, gozando da glória que aqueles dos quais eles a roubaram conseguiram com imensa dificuldade. (...) Esses nomes - por Júpiter imortal! - não tem significação alguma. Considerando-se toda a vastidão da terra, pouquíssimos são os que os louvam, não sendo muito diverso dos dos ignorantes o gosto dos sábios.

ADVOGADOS - Pretendem os advogados levar a palma sobre todos os os eruditos e fazem um grande conceito da sua arte. Ora, para vos ser franca, a sua profissão é, em última análise, um verdadeiro trabalho de Sífiso. Com efeito eles fazem uma porção de leis que não chegam a conclusão alguma.
Que são o digesto, as pandectas, o código? Um amontoado de comentários, de glosas, de citações. Com toda essa mixórdia, fazem crer ao vulgo que, de todas as ciências, a sua é a que requer o mais sublime e laborioso engenho. E como sempre se acha mais belo o que é mais difícil, resulta que os tolos tem alto conceito dessa ciência.

SUPERIORIDADE- Vejamos, agora, os bobalhões dos estóicos, que se reputam tão próximos e afins dos deuses. Mostrai-me apenas um, dentre eles, que mesmo sendo mil vezes estoico, nunca tendo feito a barba, distintivo da sabedoria (se bem que tal distintivo seja também comum aos bodes) precisará deixar seu ar cheio de orgulho (...) Ora meus senhores, o instrumento propagador do gênero humano é aquela parte, tão deselegante e ridícula que não se lhe pode dizer o nome sem provocar o riso. (...)

"Ecomium Moriae" foi publicado em Paris em 1509, sobreviveu por séculos e recebeu o título de "Elogio da Loucura" quando foi traduzido no Brasil.  Apesar das críticas ferozes a toda forma de hipocrisia, a obra demonstra que as qualidades e erros humanos independem da época e da cultura, deixando entretanto em aberto a transformação das idéias através da comunicação. Considerando, é claro, a persistência da razão que em tempos de mediocridade pode ser interpretada como loucura... ( Mirna Monteiro)    

Thursday, March 22, 2012

A ÁGUA E A ESSÊNCIA HUMANA

Há dia para tudo e todas as coisas, até para a água. Hoje é "Dia da Água". Como se fosse possível comemorar em um dia um elemento que significa a existência de vida no planeta. Tão precioso quanto insignificante para uns, irrelevante para outros, trivial entre outros tantos, secundário ou até inexistente, na interpretação de quem não pensa a vida como um conjunto químico perfeito e permanente e não necessariamente interminável, mas como algo que não precisa ser conscientizado. 
A água é tudo, obviamente, ninguém poderá contestar essa realidade. Planeta desidratado é planeta morto. Quando a ciência alerta para o risco da água tornar-se cada vez mais rara, as pessoas se espantam! Mas o nosso planeta tem mais água do que terra! E tem mesmo, mas distribuída à sua maneira e não à maneira dos homens. Água potável, além de ser limitada  e infinitamente menor do que as áreas sólidas, existe em partes do planeta e de maneira irregular. 
Cidades inchadas de pessoas, em muitos países, estão no risco da escassez. Alerta-se para o fato de que em 2025 dois terços da população mundial vai estar em apuros. Pode-se correr o risco de afogamento de um lado e a escassez completa de água de outro.
Essa possibilidade causa arrepios! Subitamente as cenas da ficção que mostram um planeta com enormes regiões áridas ou com água insalubre começam a ganhar contornos de realidade possível. Gangues malvadas que roubam garrafinhas de água ao invés de estourar caixas eletrônicos. Países com reservas aquíferas sofrendo ameaças de invasão! Tudo isso por causa desse elemento que hoje sai farto de nossas torneiras, a um custo cada vez mais alto, o que demonstra que mesmo sendo vital  para a humanidade não é mais acessível e gratuito como nos tempos dos córregos limpos que matavam a sede de nossos ancestrais.
Há grande dificuldade nas pessoas para entender que a realidade não é imutável, mas sim dinâmica como um sonho ou a imaginação liberta. A terra se transforma, dia a dia, como resultado de um conjunto de ações e pensamentos. Não há como evitar as transformações, mas certamente é possível direcioná-las seja para problemas, seja para soluções. 
O problema da água não é técnico, mas essencialmente humano. (Mirna Monteiro)

Thursday, March 08, 2012

O DESAFIO DE SER MULHER

Há alguns anos ainda havia uma certa euforia nos discursos que comemoravam o Dia Internacional da Mulher (8 de março), como se isso justificasse a existência de uma deferência especial, que, quer queira ou não, sempre deixou em aberto a "diferença" do ser feminino.
Afinal, havia muito a 
ser comemorado pelas mulheres, ao passo que os homens nada tinham a festejar. Não havia sido criado o "Dia do Homem", porque o homem sempre dominou o espaço social, político e produtivo nos séculos e séculos passados.
Mulheres não! Aliás, mulheres eram alijadas da política e das decisões. Pelo menos, abertamente e até onde nosso conhecimento permite. Em séculos bárbaros, onde a força física era a única alternativa para sobrevivência, as mulheres ficavam de fora, costurando as feridas abertas pelas guerras e invasões!
Quando o mundo se revolucionou industrialmente e a sociedade humana passou a uma nova etapa cultural, as mulheres do mundo ocidental mudaram, brigaram pelo espaço e pela participação política e negaram-se a perpetuar a imagem de úteros sem cérebro... E hoje têm direitos e deveres igualitários em sociedades democráticas e livres!
Certo?
Errado!
Pois é, as coisas não são bem assim não! Começando pelo fim, podemos dizer que a situação da mulher não melhorou, em absoluto! A mulher do terceiro milênio é um ser livre por conveniência no mundo ocidental e isso quer dizer, na prática, que a sua liberdade é totalmente discutível.
A mulher do chamado "mundo livre" é um ser extremamente sobrecarregado de funções, confuso com a necessidade de reestruturação da família, onde é, cada vez mais não apenas a "cabeça", mas o corpo todo: houve uma gradativa "fuga" da responsabilidade do homem sobre a família!
Por outro lado, a mulher ainda sofre os mesmos preconceitos de sempre. Ganha menos que o homem quando exerce a mesma função profissional, trabalha em dobro e têm menos direitos e privilégios de carreira nas empresas.
Nunca antes a mulher sofreu tamanha carga de violência! Em todo o mundo, ela é espancada e assassinada em número crescente! Estamos falando do mundo ocidental, evoluído, o mundo do capital e da liberdade...nas culturas da Asia e Oriente Médio a situação vai mal também. Mostra a situação da mulher dos tempos bárbaros: sem direitos a opinar, sob forte restrição de liberdade social e individual e sujeita a penas bárbaras, como no caso do apedrejamento até a morte se houver suspeita de adultério!
Mulher do oriente, mulher do ocidente... Isso faz pensar: se de um lado ela sofre penalidades bárbaras e cruéis, de um extremismo insuportável, de outro, nas modernas cidades dos paises desenvolvidos, ela sofre penalidades bárbaras e cruéis também...embora reconhecidamente ilegais.
Interessante: de um lado a mulher é sufocada por véus e ameaçada de pedradas por uma cultura cruel e de outro é sufocada pela realidade e ameaçada por facadas e tiros por inoperância da Justiça, em uma sociedade que apesar de alardear liberdade e igualdade ainda é cercada de preconceitos!
Vai mal a situação da mulher!
O alarde a respeito das conquistas femininas é relativo e cheira a manipulação do moderno sistema de consumo e na dança do giro de capital! Há interesses na engrenagem que move o mundo moderno, o que não significa necessariamente que podemos interpretar nesse conjunto alguma "vitória da mulher", já que a manipulação é um perigo de muitas faces.
Provavelmente, ainda assim, a mulher ´poderá superar as dificuldades e acertar os ponteiros com a sociedade. Poderá, quem sabe, cumprir com o mais fundamental de todos os desafios e ajudará a equilibrar o mundo.
Mas ainda há muito trabalho pela frente antes de considerar que há de fato um equilíbrio a ser comemorado! (Mirna Monteiro)

Thursday, March 01, 2012

A SÍNDROME DE EVA E A PERDA DO PARAISO

Quando Eva vivia no Paraíso ao lado de Adão, as coisas funcionavam maravilhosamente. Até que apareceu em cena uma serpente enroscada em uma macieira e todos sabemos o que aconteceu. Adão não era nenhum retardado quando provou o fruto proibido, mas a culpa coube a Eva. Era ela quem devia nortear Adão e, portanto, não deveria sugerir que abocanhassem o fruto proibido.
A mulher sempre foi responsabilizada por tudo desde o gênesis...
Certamente se ignorarmos o aspecto bíblico, a situação será sempre muito semelhante. O que importa é a realidade prática, ainda que metaforicamente exposta.
Mas a historia continua:
Desde a expulsão do Paraiso, as coisas ficaram difíceis. Adão e Eva resolveram dividir as tarefas, porque era a única forma de sobrevivência.
Ela sentia as dores do parto para povoar o mundo, ele corria atrás da caça.
Ela garantia a sobrevivência da prole a partir da raiz, ele defendia a família.
Ele se preocupava com coisas práticas. E ela continuava a exercer, bem ou mal, a antiga responsabilidade de nortear Adão.
A humanidade varou milênios, passou a marcar a passagem do tempo e o que aconteceu, desde o final do século XX, a Adão e Eva?
Boa pergunta!
Bem, Eva continua com duas mãos e dez dedos, mas em compensação está tendo de multiplicar a cabeça. Transformou-se em um ser muito diferente: para sobreviver, depende de visão periférica, de capacidades múltiplas e muita energia física e emocional, já que além de manter as responsabilidades da Eva tradicional, a  geradora, assumiu todas as outras que cabiam à Adão, o mantenedor.
E Adão? Adão está dividido: em parte mantém o seu antigo papel, em outra simplesmente nenhum.
Eva multiplicada, Adão dividido.
Situação polêmica, contraditória.
Eva acha que conquistou espaços e cresceu. Será? Eva ainda se atrapalha quando estabelece o tempo necessário para a prole, quando o mundo profissional exige todas as horas do seu dia.
Adão resmunga, preso ainda aos velhos preconceitos de milênios atrás. Parte dele achou um caminho intermediário e descobre que funções antigamente exercidas apenas pela mulher tem uma importância e um conteúdo interessantes. Mas a maior parte de Adão permanece exatamente como era.
Nunca foi tão difícil para a mulher exercer o seu papel de formadora da humanidade. Sim, porque é impossível negar a dimensão de sua ação no destino humano, mesmo que o poder de transformação tenha sido exercido entre quatro paredes.
Valores foram rompidos e a Eva de hoje, cada vez mais, não tem como dividir funções de sobrevivência.
Adão está confuso.
A humanidade portanto se torna confusa!
A vida de Eva complicou-se: ela acumula funções que eram de Adão. Como ninguém é de ferro e a Eva moderna não é um elástico que pode ser indefinidamente esticado sem estriar-se e romper-se, é preciso priorizar as ações. E isso leva à mudanças sociais profundas, a partir da família.
Quais as conseqüências dessa nova realidade?
A resposta pode não ser muito agradável.
A vida forma um conjunto perfeito, como uma orquestra, onde cada ser exerce um papel. Todos sabemos que mudar o curso de um rio ou devastar uma floresta pode ser perigoso para a sobrevivência humana.
A mulher sempre exerceu um papel mediador entre a realidade imediata e o futuro. Ao gerar e inteirar-se com sua cria ela determina não apenas o destino de um indivíduo, mas de toda a coletividade.
Uma sociedade pacífica e organizada não é responsabilidade só da mulher, mas quem vai negar que uma criança bem cuidada, amada e orientada, tem maiores chances de tornar-se um ser humano produtivo e equilibrado?
O que parece bem claro é que a mudança, para que esse equilibrio seja alcançado, depende de mais transformações. Por exemplo, a responsabilidade no gerar. Filhos são responsabilidade de ambos, pai e mãe. No entanto não podem crescer educados unicamente por terceiros, como se fossem orfãos, em troca de uma mentalidade excessivamente consumista.
Não é incomum encontrar pais que se desdobram para ganhar dinheiro achando que a criança será feliz com roupas de grife, tecnologia de última geração e escolas particulares. Obviamente tudo isso parece ótimo, mas depende do preço a ser pago. O excesso de supérfluo não pode compensar a ausência de uma relação frequente entre pais e filhos.
Talvez não seja preciso andar com as crianças a tiracolo, como a cultura indígena determina (crianças que são amamentadas e próximas dos pais ficam mais fortes e mais independentes no futuro), mas sem dúvida é preciso rever a relação dos pais com os filhos na nossa sociedade moderna. O aspecto emocional do indivíduo, desde a gestação, é fundamental. Sem isso teremos crianças, adolescentes e adultos problemáticos, presas fáceis de drogas e da depressão.
Parece que Adão e Eva ainda estão muito longe de viver o paraíso...(Mirna Monteiro)