Thursday, March 25, 2010

FAZER JUSTIÇA

Em uma sociedade onde os valores se confundem e os abusos são cada vez mais comuns, a busca da punição de pessoas que cometem crimes torna-se mais complicada.

A justiça é um mecanismo, não é a essência humana. Representa uma necessidade do elemento humano. Quer dizer, necessitamos desse mecanismo para equilibrar o meio e permitir a sobrevivência. O senso de ética e respeito, de direitos e deveres pode ser inerente ao ser humano, mas a sua interpretacão e seu peso e medida vão depender das circunstâncias de sobrevivência.





Se para sobreviver é preciso ordem e limites que determinem o espaco individual de cada ser no meio coletivo, não bastam as regras. Dependemos do peso da punicão para garantir que o indivíduo supere seus impulsos de sobrevivência ou dê vazão a instintos primários, sem considerar o meio. Ou seja, o controle das acões será regido pelas leis da coletividade apenas no caso do indivíduo sentir a sua coesão e a eficiência de sua acão como se fosse imponderável.

O conceito pode ser adequado, mas a prática...Como todo mecanismo humano, há falhas, as vezes leves, as vezes tão grosseiras que tornam o resultado oposto ao próprio ideal de Justiça. Não basta existir a legislacão. A maior falha está na aplicação da lei, porque para isso dependemos do elemento humano.


Em "A República", Platão descreve o ideal de uma sociedade harmônica, pacífica e fraterna, que impede o caos social. Os dirigentes locais são racionais, o egoísmo não existe e as paixões ficam sob controle.Interesses pessoais não estão acima dos interesses coletivos.





Século IV A.C! Platão, discípulo fiel de Sócrates, sabia que a interpretação da sociedade perfeitamente organizada e com um sistema de justiça operante e funcional dependia do aprimoramento do caráter humano. Portanto, era utópico!

Sócrates sabia que o maior entrave para o equilibrio social estava no próprio homem que buscava a sobrevivência pisoteando os próprios recursos que iriam garanti-la. O poder que permitia defesa de agressores também criava vulnerabilidade no meio. A única maneira de conseguir respeito ao semelhante e ao espaco coletivo equilibrado sem o uso das regras e da punicão a quem as violasse seria o aperfeicoamento do caráter humano. O fim da ignorância, a celebracão da sabedoria!...O que pelo andor da escola de filosofia da época, extremamente temida pelos centros de poder, seria realmente uma utopia...

A situacão permanece, camuflada por novos conceitos. A mesma sociedade que cria os mecanismos de Justica para se proteger, alimenta os desajustes criados pelos mecanismos de poder, nos lobbies junto ao congresso, que influenciam a protecão de grupos em detrimento do conjunto social, entre os próprios políticos e entre parte das pessoas que atuam diretamente em setores essenciais.



O resultado é a sensacão de impotência popular. Lado a lado ao conceito vulgar de que é preciso "levar vantagem em tudo" encontramos a realidade de acões que contrariam os princípios de equilibrio social, neutralizando os esforcos para combater a violência e a corrupcão.

Uma sociedade sem egoísmo e igualitária é utópica. No entanto mecanismos que determinem limites para uma convivência pacífica podem ser realidade.







Por toda a história da humanidade, "quebrou-se o galho" com o exercício da justiça e o aprimoramento do Direito em nada mudou o problema essencial.

A lei nem sempre é justa. Um exemplo? O sujeito que rouba um pão porque está com fome - e portanto estaria exercendo o seu instinto primário de sobrevivência- é submetido à pena da lei da mesma maneira que o malandro que rouba um objeto supérfluo.

Há atenuantes e agravantes que pesam na pena de um crime. Mas nesse caso o mecanismo da Justiça deveria funcionar como um relógio, no compasso dos acontecimentos. Como isso não acontece, aqueles que roubaram o pão e outros que cometeram um estelionato ou outras modalidade de roubo(e no nosso sistema atual mesmo quem comete crimes muito mais graves) ficam detidos em uma mesma cela, a espera do julgamento, que poderá levar muito tempo.

Outro exemplo de falha? O próprio princípio do Direito, que diz que ninguém é culpado até prova contrária e portanto não pode dispensar um defensor. Os juristas dizem que qualquer crítica a respeito é devaneio do leigo, pois o direito não poderia ser exercido de outra forma.

No entanto, do ponto de vista de quem sofre a criminalidade ou atos violentos, para que esse aspecto fosse entendido e digerido, haveria necessidade de absoluta funcionalidade. E de que maneira isso seria funcional: que com os direitos preservados de acusação e defesa, Justiça fosse realmente feita.

Mas o mesmo sistema que precisa garantir direito de defesa, não pode garantir um resultado justo! Um assassino que pague um jurista competente pode conseguir liberdade, enquanto que um inocente que não tem recursos financeiros para defesa pode ser condenado por um defensor público menos interessado!

Estamos fadados a manter um sistema judiciário que não funciona direito? Os argumentos que tentam justificar as falhas parecem insuperáveis!

O resultado de um julgamento como o ocorrido com o caso Nardoni alivia a pressão e o medo do cidadão comum que tem consciência da fragilidade da nossa Justica. O fato de políticos corruptos denunciados serem alvo da Justica também alivia a impressão de uma sociedade onde a mentalidade do "vale tudo" deturpou valores e desencadeou uma espécie de caos ético.

No julgamento dos acusados de assassinar a menina Isabella Nardoni, pessoas que se reuniram na frente do Fórum ou acompanhavam os relatos através da imprensa surpreenderam-se com o advogado de defesa do casal, que utilizava argumentos como o de que "não havia provas"! E no entanto esse assassinato reuniu um dos trabalhos mais minuciosos de coleta de provas. Algo ainda inédito no Brasil, com novos recursos que permitiram recriar os acontecimentos.

Um trabalho com coleta de provas submetidas a comprovacão científica de detalhes que forneceram um histórico com mínima margem de erro do que havia ocorrido desde que a família havia estacionado na garagem do prédio, até o momento em que a policia foi chamada, após a menina ser atirada pela janela.

É ético o fato de juristas utilizarem argumentos a respeito dos quais não tem comprovacão a não ser a versão de defesa do cliente, que podem ser falsos ou pouco nobres? Ou seja, defesa e acusacão estariam acima de qualquer conceito ético ou moral? No entanto, se não houver um defensor, o julgamento de uma criminoso não pode acontecer!

Essa é uma pergunta desprezada pelo fato de que seria pueril e utópico, assim como a "República" de Platão. Além disso se não houver um defensor, o julgamento de uma criminoso não pode acontecer!

No entanto sem ética e moral não pode haver justica ou qualquer mecanismo judiciário funcional!

Caso os Nardoni tivessem admitido o crime e demonstrado arrependimento suficiente para convencer o júri, provavelmente seriam condenados com uma sentenca mais leve. Isso aplacaria o desespero popular diante de um crime que representa o medo da sociedade diante de uma violência que se instala dentro da própria familia, último reduto de convivência pacífica e auto-protecão?

A resposta a isso não é tão importante como a urgência de delimitar o que, afinal, é certo e torna a vida mais digna e os demônios sob controle. A única maneira de reduzir essa confusão ética e moral na sociedade é manter uma crescente rigidez em relacão à punicão de quem comete crimes, sejam eles na esfera criminalista, seja na civil.

Não é possivel organizar a sociedade e considerar o sistema judiciário ativo e competente com casos isolados de punicão de assassinos ou a tolerância a "casos menores", como processos por crimes de colarinho branco ou de irresponsabilidade civil. (Mirna Monteiro)

Thursday, March 11, 2010

COTIDIANO

Círculo medicamentoso
A cena se passa em um consultório médico:
- Doutor, não sei o que acontecendo comigo, ando muito esquisito. Imagine que quando vejo pessoas sofrendo ou cenas dos ataques israelenses na Palestina, ou mesmo criancas da Biafra...eu choro!
-Hum...vou receitar um antidepressivo...
-Mas este? Eu tenho problemas de gastrite!
- Sem problemas, vou receitar este aqui também.
- Mas doutor,esse ai ataca meu fígado, que está meio cirrótico...
- Ah, não tem problema, vou acrescentar mais este remedinho aqui...
- Mas...não sei não, é que já tomei esse duas vezes e ele me dá insônia!
- Isso não é problema! O senhor vai tomar duas horas antes de deitar também este outro medicamento aqui! Vai dormir como um anjo..
- Eu tenho de acordar cedo, pegar trânsito pesado e...
-Ah, fique tranquilo, logo que acordar o senhor toma esse aqui...calma que tenho amostra grátis, é uma cortesia!
- Será? Sabe  o que é, já tomei duas vezes e esse tipo de medicacão dispara a minha pressão arterial, me dá uma paura, parece que vou ter um treco!
- Bom, para garantir, vamos fazer outra receitinha para este aqui, que vai ajudar se der enjôo também.
- Mas eu li  na internet que esse aqui deixa a pessoa agitada agitado e...
- Acalme-se, por favor. Ainda não terminei. Esse aqui e mais este aqui, vai ficar tranquilo, tudo azul e lindo!.
- Nossa, mas este aqui não é aquele que todo mundo fala que dá depressão?
- Sim, mas vou lhe receitar um antidepressivo.
-...outro?
- Ah, já lhe receitei o antidepressivo...Hum... certo!  Vamos apenas aumentar a dose...

Sunday, March 07, 2010

Que dia da mulher!





Não gosto muito de comemorar o "Dia Internacional da Mulher". Soa meio estranho, como um tiro que sai pela culatra: pretende-se dimensionar a gratidão social pela acão feminina, e no entanto isso é absolutamente impossível, pois a mulher não é uma simples coadjuvante na sociedade humana.

Reforça a mentalidade geral que cria dificuldades para equilibrar a sociedade. Talvez um pouco tendencioso? Ou discriminatório? Seria exagero dizer deletério?




Ela, a mulher, não é complemento, é um ser inteiro, "é" a civilizacão humana, assim como o homem. Seria esquisito, pelo mesmo motivo, o "Dia do Homem". A não ser que isso tivesse o mesmo objetivo de outras tantas datas que visam sacudir o consumo. Humanos são os animais racionais e exagerados do planeta e a natureza criou as devidas diferenças, que são físicas. O homem inventou a discriminação pelo poder de maneira abusiva e absolutamente oportunista, porque já que a mulher paria, ele caçava.

Há quem justifique a deferência por causa do histórico de discriminacão feminina. "Pobre mulher, sempre achatada pela prepotência masculina"...Essa mania de querer simplificar situacões complexas da nossa civilizacão acaba nisso mesmo, em um dia por ano.

Ah, dirão outros, a comemoração se justifica pela sua origem, que data de 1857, em 8 de marco, quando em uma greve operárias têxteis de uma fábrica de New York acabaram fechadas dentro do local de trabalho que foi incendiado. Cerca de 130 mulheres morreram. Em 1910, durante uma conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher".

Durante décadas não se falou muito no assunto, até que a partir dos anos 80 o mundo lembrou de comemorar a data e a prática foi crescendo.

Quer dizer, uma data que pode ser um bom motivo para lembrar o quanto a situacão da mulher mudou quase nada desde do final do século IXX. Acha que mudou muito?

Não, não mudou muito. A mulher do século XXI é a do século IXX.






O que mudou? A mulher é hoje poderosa na economia mundial e assume cargos políticos...mas nunca antes foi tão sufocada, sofrendo abusos diversos e estourando as estatísticas de maus tratos e assassinatos!

As mulheres são maioria nas universidades e ocupam cargos em todos os setores produtivos...É, é verdade sim, mas ela continua sofrendo a mesma discriminação salarial das americanas que morreram carbonizadas na greve de 1857.

Estamos no terceiro milênio e mulher ganha menos que o homem pela mesma funcão...

Há paises que ainda mutilam o orgão sexual das meninas, para que no futuro o corpo não funcione para o prazer. E em outros lugares, como a China e a Índia, recém-nascidos do sexo feminino são assassinados pela própria família por uma questão de dote. É que mulher dá prejuizo...

Esse negócio de um dia de comemoracão, como se de fato houvesse conscientizacão das tragédias da humanidade, poderia talvez surtir efeito se ficassem definidas as distorcões geradas no meio, de maneira a evitar que permanecessem gravitando em torno da mulher.

Mas, infelizmente, somos uma civilização que tenta desvendar o universo e está prestes a descobrir a origem da vida na Terra, enquanto mantém em seu quintal sociedades absolutamente atrasadas.

A mulher não conquistou seu espaço. Cada mulher que nasce tem pela frente o desafio do esforço contínuo para sobreviver, ser respeitada e construir a sociedade. Talvez ela conte com novas circunstâncias, em um mundo onde cada vez mais a verdade vem à tona por força da comunicação. Mas essas mesmas circunstâncias acabam distorcendo sua imagem e impondo outros rótulos.

Tudo se tornou tão confuso que tem mulher que critica mulher que escolhe ser mãe e esposa ao invés de uma executiva cheia de sucesso e cirrose.






Mulher é pressionada de todos os lados, quando come e quando não come, quando trabalha a sociedade ou quando trabalha o próprio ego. Não há alternativa!

Encurtando a história, a verdade é que a mulher, o homem, a criança e a natureza são a mesma coisa. Não há como separar, por maior que seja a necessidade política de segregação para exercício do poder. O que se quer é o equilibrio que nunca existiu!

No final das contas, tudo bem...que mal há em um dia de comemoração? Desde que não seja paternalista ou extremista ou consumista, ou puxa-saco, enfim, um dia de festa para compensar o ano de alheamento e omissão, ou para aliviar a consciência da negligência com a vida.

Mas as conquistas que deveríamos comemorar, ah, essas ainda não aconteceram! (Mirna Monteiro)

Tuesday, April 28, 2009

O VERBO DEMOCRATIZAR

Democracia é mesmo um problema, mas é surpreendentemente reveladora. Veja bem: Sócrates criticou a democracia ateniense, que era democrática até certo ponto (que o digam as mulheres e os escravos) e no final das contas acabou tendo de beber cicuta, uma bebida um tanto quanto drástica, extremamente letal e dolorosamente facista.
Citando o berço da democracia da nossa confusa humanidade, é preciso lembrar que Aristóteles já desconfiava que a democracia esbarrava em um erro de interpretação... "devido ao fato de que todos são iguais em certo sentido, acreditou-se que todos fossem absolutamente iguais entre si"...
Outro dia, em um site de relacionamento da internet, o assunto em discussão era ela mesma, a democracia! Muitos estavam participando, ansiosos por opinar em um assunto tão fundamental para a sociedade humana. "Democracia no Brasil não existe" afirmou um sujeito, incógnito sob o apelido de "Traça-tudo". Muitos responderam e iniciou-se um bate-boca (bate-tecla?)a respeito. "Claro que existe, senão a gente não ia estar aqui falando besteira", concordaram alguns.
Em resumo, o debate tornou-se violento, um xingando o outro. Principalmente quando alguém escreveu que democracia era um verbo esquecido. Foi quando Traça-tudo atingiu o auge de sua fúria desbocada e escreveu em caixa alta: "quem falou que democracia é verbo, seu burro?"...
Pois é! É esse o problema. As pessoas ainda não aprenderam que para discutir democracia, é preciso conhecer a conjugação do verbo democratizar! Aí reside a principal igualdade democrata! Parece certo dizer que democracia permite a todos um mesmo ponto de partida mas, quanto ao que será atingido, depende de cada um.
Talvez fosse interessante repetir algumas conjugações do verbo Democratizar. "Se eu democratizasse", para "democratizares tu", então "nós democratizaremos" e portanto "vós democratizaríeis " ao invés de "democratizem vocês", oras!
Aí talvez pudessemos considerar o que já está democratizado! Não simplesmente do ponto de vista semântico, mas na prática individual, na relação do dia a dia, com o respeito aos princípios da cidadania. Se não somos todos iguais, que as diferenças sejam respeitadas, em consideração ao verbo. Seria um bom começo...(Mirna Monteiro)

Tuesday, April 07, 2009

Mulheres no limite do risco

Os números são alarmantes: cada vez mais mulheres são assassinadas. Não apenas no Brasil. A violência contra a mulher cresceu em vários paises do mundo. Afinal, o que está acontecendo?
Nas discussões uma das causas apontadas é a mudança da ação da mulher no meio social, não assimilada pelo homem. A opinião é baseada em um dado da ONU (Organização das Nações Unidas) que afirma que em 70% dos casos de mulheres assassinadas no mundo todo o autor é o próprio companheiro.
Parece ser esta a realidade! Nos últimos anos as agressões à mulheres feitas pelos companheiros ou por ex-namorados ou ex-conjuges cresceu assustadoramente. O Brasil lidera essa estatística absurda.
Podemos considerar a grande incidência de assassinatos em El Salvador, por exemplo, ou em paises como o Irã e a Nigéria, onde a repressão é tão grande que o adultério leva a morte por apedrejamento. No Paquistão, o estupro coletivo continua sendo uma das formas de punição de mulheres consideradas desonradas, entre os grupos mais radicais. Em muitos paises africanos além do risco de assassinato, a mulher encara outras formas de violência, como a mutilação. Calcula-se que ao ano três milhões de mulheres perdem parte de seu corpo - o clítoris - em um ritual que persiste na tentativa de torna-las um mero instrumento passivo de prazer e procriação.
Mas e o Brasil, onde a cultura é multifacetada e a liberdade é amplamente discutida?
Bem, por aqui as coisas seguem confusas.Mulher ganha menos do que o homem no exercício da mesma função profissional, salvo honrosas exceções. Calcula-se que 25% das mulheres sofre algum tipo de violência. Quanto mais pobre, mais sujeita está à opressão contínua. O interessante é que as mulheres espancadas sustentam a família. As mulheres trabalham muito mais horas do que os homens no ambiente doméstico, mesmo quando elas cumprem jornadas de 40 horas ou mais fora de casa.
Ou seja, trabalham, cuidam da casa, sustentam a família e ainda apanham do companheiro.
A maioria considera que os filhos e a família vem em primeiro lugar, sendo mais importantes do que ela própria. A mulher em geral sofre calada. Ou morre! A maioria dos assassinatos é feita com arma de fogo, mas como podemos acompanhar nos casos escabrosos, facas ou simplesmente espancamento também terminam com a vida das mulheres.
Nesse caso nem mesmo quando pertence a classes socio-econômicas mais altas, a mulher fica imune. As agressões não respeitam idade ou classe social. A diferença está no fato de que mulheres que exercem profissões bem remuneradas tem maior chance de afastar-se de situações de agressão.
O aumento da violência contra a mulher preocupa o mundo pelo seguinte: é uma espécie de termômetro social. Embora a mulher tenha enfrentado a repressão e a violência por toda história da civilização, a sobrevivência da sociedade depende de seu equilíbrio no gerenciamento da família.
O alto índice de violencia contra a mulher demonstra que a sociedade está perdendo suas rédeas e caminhando perigosamente para o caos social, onde o desrespeito à vida torna-se insuportável.
Não se trata de uma questão de violência centralizada ou direcionada, mas de uma completa ausência de limites. E isso é uma verdadeira ameaça à sobrevivência humana.(Mirna Monteiro)

Tuesday, March 03, 2009

As amazonas

Mulheres guerreiras, dispostas a defender espaços e idéias, não são novidade. Há relatos antiguíssimos que falam sobre o assunto. Mas em geral essas mulheres são colocadas como "dissidentes sociais", que preferiram o isolamento, agrupando-se para evitar qualquer predação.

Bom, é possível entender. Se até bem pouco tempo atrás, no início do século XX, mulher não tinha direito de votar, nem de opinar na política do país (nem de sua cidade ou, via de regra, de seu núcleo familiar) é possível entender sim!
O problema é que os registros dessa "dissidência" não são exatamente imparciais...


Vênus de Willendorf

Nos antigos cultos acreditava-se que a origem era a mulher. Não havia deuses masculinos, mas a "deusa-mãe": a divindade era representada pela mulher. Mesmo nas histórias de nossos indígenas encontramos um a versão dos Uaupés sobre o antigo poder das mulheres, a sua derrubada e a ascenção dos homens, que teria acontecido pela intervenção do "Filho do Sol", o mítico Iuruparí. E foi um golpe baixo: Iurupari aproveitou-se de uma mulher que havia parado para urinar, jogou-a sobre uma pedra e violou-a, roubando seus objetos sagrados.

Quem primeiro narrou o mito das Amazonas foi Heródoto de Halicarnasso, no séc. V a.C. na obra História. Segundo a mitologia grega, as Amazonas eram filhas do deus Ares (deus da guerra, filho de Zeus) e da ninfa Harmonia (ligada ao culto dos deuses de Samotrácia).



E eram fortes e implacáveis segundo a mitologia. Talvez estivessem apenas defendendo o seu espaço, mas sabe como é, as sociedades primitivas eram bem cruéis com a mulher. Mesmo na época dos grandes pensadores, a mulher não tinha permissão para filosofar. Mesmo assim, tivemos, desde sempre, grandes filósofas.

A inteligência e o pensamento eram representados pela deusa Minerva (versão latina da deusa Atena) só que ela não nasce do corpo de sua mãe, mas da cabeça de seu pai, Zeus. Ou seja, era negado que uma mulher pudesse ser inteligente sem que houvesse permissão divina de uma figura preponderante masculina!

Tudo bem! Vai assim que as mulheres que não se enquadravam nos modelos criados pela sociedade sempre foram consideradas abusivas e combatidas. Como exemplo podemos citar
o confronto do oitavo dos "Doze Trabalhos de Hércules".

O desafio era o seguinte: depois do herói lutar contra monstros imbatíveis e aterrorizantes, ele recebeu a ordem de arrebatar o cinto da rainha das amazonas, Hipólita.

Hércules deve ter estranhado. Mas viu que a arrancar um cinto de Hipólita poderia ser mais difícil do que cortar as cabeças da Hidra de Lerna.

No final das contas, Hipólita apaixonou-se pelo herói. Por amor, ofereceu o cinto sem luta, mas a ciumenta mulher de Zeus, Hera (que odiava Hércules)disfarçou-se de amazona e provocou a confusão entre as hostes.
Hércules acabou por sacrificar, sem querer, Hipólita. Quer dizer, sem querer...querendo!
Pobre Hipólita!



Mas as histórias das amazonas são em geral coroadas de sucesso. Outra rainha das Amazonas, Talestris, teria vencido o rei persa, Ciro o Grande. Vitórias em tantos casos que as amazonas eram temidas pelos mais fortes!


Em todas as épocas, as amazonas impressionaram o mundo. Cristóvão Colombo, no regresso da primeira viagem ao Novo Mundo, por volta de 1490, ao descer em uma das ilhas das Caraíbas, levou o maior susto. Sofreu uma recepção francamente hostil de uma tribo guerreira composta exclusivamente por mulheres!

Foi um assombro! Mulheres européias, nessa época, mal tinham permissão para respirar, metidas em espartilhos e toneladas de saias! Luís de Santangel, homem da corte dos Reis Católicos (Fernando e Isabel), relatou o ocorrido nestes termos: "a primeira ilha que se encontra, para quem vai de Espanha rumo às Índias e onde não há nenhum homem. Estas mulheres não se ocupam de qualquer actividade feminina, só executam exercícios com o arco e flechas fabricados com canas e cobrem-se de lâminas de cobre que possuem em abundância"...

Pois é, foi assim que Cristóvão Colombo e os seus homens foram os responsáveis pela passagem do mito das amazonas da Grécia para o Novo Mundo. Na selva, sem cavlagar, mas absolutamente livres. De qualquer forma, mulheres guerreiras!



Segundo o folclorista Walcyr Monteiro, o navegante espanhol Francisco de Orellana e seus tripulantes, em 1541, ao chegarem ao Mar Dulce, atual rio Amazonas, teriam sido atacados por uma tribo de mulheres descritas pelo Frei Gaspar de Carvajal como muito altas e de peles muito claras, com cabelos compridos, trançados e enrolados no alto da cabeça. E mais: guerreando completamente nuas, portando apenas seus arcos e flexas.
Pelos relatos, aquela foi uma batalha e tanto, na foz do rio Nhamundá (atual limite entre o Pará e o Amazonas).Os espanhóis foram vencidos e tiveram que fugir, mas conseguiram capturar um índio que contou sobre a tribo de mulheres.

Em 1639 temos o relato de Acuñha, que fala de mulheres que viviam sem o socorro dos homens em terras brasileiras. Aliás, os homens seriam recebidos com arcos na mão, mas se fossem reconhecidos como confiáveis eram convidados a dividir a rede. As crianças nascidas desses encontros seriam criadas pelas mães quando meninas. Os filhos machos seriam entregues ao pai no ano seguinte. O que demonstra que havia uma continuidade na relação, de qualquer maneira!



Já no século XX, em 1953 o etnólogo Theodor Koch-Grümberg publicou um trabalho sobre "Mitos e Lendas dos Indios Taulipáng e Arekuná" e deu de cara com a história das mulheres guerreiras. Ele afirmou que elas seriam mulheres sem homens que em tempos passados eram gente...mas agora estavam transformadas em Mauari, ou demônios das montanhas!
Disse ele que havia cerca de setenta tribos semelhantes na região; que elas viviam sem a presença de homens e que dominavam as tribos vizinhas.

Mulheres endemoniadas, nos primórdios da civilização, na doce mitologia grega ou nos relatos de terras desconhecidas ou da Amazônia impenetrável! Ou simplesmente mulheres que buscavam a sobrevivência em tempos difíceis. A lenda das amazonas ainda continua com as páginas sendo gradativamente preenchidas ao longo dos séculos, em novos cenários, também como guerreiras da paz, principalmente para preservar o futuro da humanidade.(Mirna Monteiro)

Thursday, January 01, 2009

Começar de novo



Pois bem, começou um novo ano. Com direito a muitos pulos, seja nas ondas do mar, seja com o pé direito. Dinheiro no sapato? Por que não? Assim como os caroços de uva, cereja ou romã, embrulhados na carteira.

Vale tudo para dar uma "empurradinha" no destino. Simpatias podem parecer absurdas para uns e outros, mas na verdade funcionam como um mecanismo que "dispara" um processo inconsciente de esperança de mudança. O problema é saber até que ponto estamos mesmo digerindo os riscos e atuando para melhorar as perspectivas.

A questão é: e agora? Os ânimos andam acirrados. Crise econômica no mundo, distúrbios ecológicos e fenômenos naturais ameçadores...é preciso uma boa dose de otimismo para seguir em frente com prognósticos que deixam nossos cabelos em pé.

E as previsões? Estão em todos os lados. Sempre há alguém com inspiração profética. "No ano de 2009 vai morrer um cantor muito famoso no Brasil" ou "Os Estados Unidos invadem um país", ou "um atentado de repercussão mundial irá acontecer, o mundo ficará perplexo" ou ainda "um grande terremoto arrasa uma cidade inteira"...

Terrível!...Mas espere um momento...estas "pré-visões" são muito óbvias! Afinal são acontecimentos comuns. Ah, essas previsões! Já não se fazem mais "Nostradamus" como a versão original. As suas profecias cifradas dão dor de cabeça até hoje aos estudiosos de sua quadras.

Deveríamos talvez nos render ao óbvio, já que não conseguimos explicações para o que é complicado. Se consideramos o horóscopo chinês, este é o ano do Boi...prosperidade através da força e do trabalho duro. Nada de moleza, de tudo pronto, tipo "destino delivery".

Mas já que aqui estamos, vamos arriscar as nossas previsões. Digamos que será muito difícil ter paz quando um país bombardeia outro em pleno Natal, derramando tragédia sobre civis, adultos desprevenidos e crianças assustadas, que nem sabem direito o motivo pelo qual estão morrendo.

Será complicado também manter-se à margem de chuvas torrenciais que provocam morte e inundação. A natureza anda brava. Como é soberana, o único recurso é rezar para que o raio não caia no mesmo lugar mais de uma vez.

É, mas há coisas que não podemos prever, mas podemos desejar. Por exemplo, que haja bom senso nas decisões e que a violência seja considerada inaceitável e duramente condenada, ao invés de ser interpretada como ação inevitável. Se não podemos dominar a natureza do universo, podemos lapidar a natureza humana, que afinal é problemática justamente pelo fato de insistir em transformar o meio. Que o faça, portanto, de maneira a favorecer o futuro da própria humanidade.



Precisamos parar de acusar a consciência de ingenuidade. Como se fosse possível haver lógica na destruição. "Transformamos aqui, para originar outra coisa ali"...Ora, isso poderia dar certo se a transformação não levasse a humanidade para o ralo. Qual a vantagem da prepotência, se ela não serve para o futuro?

Talvez seja o caso de aprendermos a realizar previsões e profecias. Desde a mais tenra idade! Se não obtivermos com isso uma renovação fenomenal nas criações humanas, pelo menos teremos menos pernas quebradas e choques do inesperado!

Seja como for, precisamos começar 2009 pensando seriamente sobre 2010 e os próximos anos. O tempo não pára! Por falar nisso, já está vigorando a nova reforma ortográfica. Aliás, "pára" não vai ter mais acento, é "para" mesmo, seja verbo, seja preposição...Assim sendo, o tempo não para! (Mirna Christhensen-MM))

Leia mais sobre o futuro; http://artemirna.blogspot.com/2007/08/o-destino-e-inexorabilidade.html

Friday, December 26, 2008

CONFLITOS DA EUTANÁSIA

Quando o assunto é eutanásia, o choque é inevitável. Talvez nem tanto pela dúvida entre o direito ou não de antecipar a morte de um ser terminal e em sofrimento extremo. Mas simplesmente pelo fato de lidar com aquilo que o ser humano mais teme: a morte!
Morte significa o fim de alguém ou de um sentimento ou qualquer coisa que se finda definitivamente. É o desconhecido, um acontecimento que não permite a quem quer que seja lidar com alguma certeza. Por esse motivo a idéia de provocar a morte - mesmo que por piedade - é chocante!
O termo eutanásia deriva do grego "eu" ou "boa" e de "tanatos" que significa "morte". Assim sendo, eutanásia significa boa morte ou morte serena, que era defendida por Sócrates e depois por seu discípulo Platão. Por toda a história da humanidade, em momentos de desespero diante do sofrimento inevitável e terminal de algum ser, homem ou animal, o medo da morte cedia espaço à piedade.

Será mesmo possível a "morte suave, doce, fácil", sem sofrimento, sem dor, para abreviar agonia muito grande e dolorosa de alguém? Seria o ato que põe termo à vida de quem que sofre de enfermidade incurável ou então a aleijados padecendo dores cruéis, atendendo ao desejo de quem sofre, natural?
Sob essa ótica, sim, parece ser a morte piedosa uma ação natural, movida pelo sentimento de humanidade. Mas nem por isso deixa de ser controversa, quando todos sabemos que nem sempre os atos justificáveis ficam limitados ao bom senso. Sempre há o risco de, diante da aceitação da eutanásia, acontecerem distorções futuras.
No entanto, a maioria das pessoas pode ficar chocada quando assiste uma cena em que um animal é mortalmente ferido e recebe um tiro de misericórdia, ao mesmo tempo em que sente alívio pelo fim da tortura da dor e e da morte lenta. Contradições da alma humana ou superação do medo da morte em nome da piedade?
Hoje a eutanásia é usada na medicina veterinária em casos terminais. Os veterinários não aceitam esse termo, preferindo chamá-lo de "descanso" de um animal em extremo sofrimento e em situação irreversível.

Seria a eutanásia um ato de respeito à natureza? Ou a natureza deve seguir o seu curso mesmo quando envolve o sofrimento, enquanto assistimos à dor de outros com braços cruzados e impotentes diante do ciclo natural da vida?
Esta é certamente a decisão mais difícil para uma sociedade que conta com recursos da ciência para salvar vidas, mas também para tornar a morte piedosa e indolor. Talvez a resposta esteja na certeza de que a natureza dita suas regras, mas também as modifica. Nada parece ser definitivo em um universo em eterna transformação. E o respeito à natureza também é influenciado pelas circunstâncias, que nunca são idênticas e dependem da razão e do bom senso em sua decisão.(Mirna Monteiro)

Sunday, December 21, 2008

Ah, o Natal!

Natal é sempre uma data especial. Mesmo para quem pretende evitar que isso aconteça. Não tem jeito. Quem é ateu e não quer reconhecer que participa da festa que simboliza o nascimento de uma nova era através de Cristo, comemora! Quem é católico e assíduo à Missa do Galo, tentando evitar os atropelos superficiais da data, também comemora! E outros, que as vezes nem sabem direito porque motivo estão atolando o cartão de crédito ou exagerando na gastronomia natalina, igualmente comemoram!

Aqueles que estão sós, sentem que alguma coisa está fora do lugar na noite de Natal. Para a grande maioria das pessoas, crentes ou descrentes, modernas ou tradicionais, comedidas ou consumistas, o Natal é basicamente um momento para reunir a família e tentar vivenciar sentimentos humanitários. O que, no nosso mundo atual, é extremamente importante. Apesar de girar a roda econômica e sustentar-se sobre o consumo, o Natal é o momento que restou para humanizar uma sociedade cada vez mais superficial.

No meio de tudo isso, cada um tenta se equilibrar como pode. Afinal o Natal encabeça as festas de final de ano, ou de desfechos e mudanças, mesmo que tudo isso funcione mais a nível da emoção do que da praticidade.

Multiplicidade



Natal significa uma série de coisas, como podemos observar. Da decoração luminosa aos biscoitos de gengibre, da figura paternal (e confortadora) de Noel, à beleza dos cristais de gelo e dos bonecos de neve, que por incrivel que pareça estão até nos climas tropicais!

É também, para muitas famílias, a única data do ano em que a confraternização acontece.



Entrevistadas nas ruas, as pessoas concordam: no Natal, apesar de tudo, sempre há um clima mais amistoso. As famílias entram em uma espécie de movimento coordenado, discutem o espaço para reunir-se, a participação na ceia. É, porque nos dias de hoje a tradição foi incorporada por um toque de "a união faz a força": a ceia, para continuar farta, é democraticamente participada, tanto no seu planejamento como na sua execução. É um ponto a mais para favorecer a humanidade da data.




O colorido e as luzes também iluminam os momentos. No Natal as pessoas percorrem as ruas iluminadas, e mesmo sob a chuva caminham com melhor humor. Nas casas a decoração é realizada cada vez mais cedo. A tradição está sendo "esticada": muitos começam a criar a clima natalino em novembro. Este ano em outubro já piscavam luzinhas e enfeites. A explicação é óbvia: a data traz tranquilidade e visual reconfortante. Assim sendo dezembro é pouco...



Afinal, quem não gosta de anjos dourados e gnomos simpáticos? Ou do toque dos sinos e do encanto das musicas natalinas...que aliás, andam em baixa. Não se ouve com frequência os acordes tradicionais do natal. Mas há quem afirme que é só uma fase.



Isso porque o Natal é a data mais resistente à mudanças, a tradição que percorre séculos e séculos imune a transformações. Podemos viver em um cenário cibernético, mas quem resiste ao romantismo e encanto da imagem européia de São Nicolau ou Sant-Claus ou de pinheiros nevados e bolas de vidro coloridas?




De qualquer forma convém lembrar que o Natal é mais do que pinheiros nevados e papai-noel abonado. Pode ser um interessante momento de reflexão em família, de grande inteiração com as pessoas, de um sorriso extra e coração mais leve. Sem isso não há como obter inspiração para o futuro!

Assim sendo, Feliz Natal a todos nós!


Mirna Monteiro

Friday, October 10, 2008

ESPELHO MEU

Muito provavelmente a imagem que você vê no espelho é uma interpretação muito pessoal e diferente daquela que passamos às pessoas. A explicação é a seguinte: ao observar seu próprio rosto, você já está preparado para interpretar além dos traços físicos. Mas quem está "do lado de fora" de seu corpo também baseará a imagem em expectativas e interesses individuais.
E quando tentamos passar essa interpretação pessoal de nossa imagem para uma tela ou um desenho? Até que ponto vamos nortear outras pessoas para observar o ângulo e a forma que enxergamos em nós mesmos?Essa resposta pode estar nos auto-retratos de artistas famosos.

Em tons impressionantes, Caravaggio
colocou sua face
na cabeça degolada de Golias



No entanto o mestre do jogo de luz e
sombras nesta tela de auto-retrato
expressou-se com timidez


Edvard Munch, famoso por seu estilo
impressionista em telas como "O grito"


Van Gogh, depois do ato tresloucado que
o levou a cortar a própria orelha


Picasso e sua auto-interpretação
Parece perplexo e confuso


Tarsila do Amaral, impecável
em seu auto-retrato






O surreal Salvador Dali