Mas subitamente esses grupos sem pretensão transformam-se em máquinas de divulgação política.
Há alguns anos acompanho a evolução dos sites de relacionamento. Antes a moda era o Orkut, depois o Facebook, Twitter, entre tantos outros. A curiosidade é explicada: de que maneira esse novo tipo de contato entre as pessoas acontece e qual o formato futuro da relação humana.
Uma das formas de relacionamento são os grupos, em diferentes categorias e assuntos. Há grupos de todos e para tudo, especialmente no Facebook. Até que ponto isso pode ser uma arma contra a liberdade de expressão e o domínio da informação nas próximas décadas?
Esta é uma área nova para estudos. Há pouca pesquisa e relatos sérios sobre esse novo recurso de comunicação. O que se sabe é que a aparente inocência de grupos que reúnem pessoas que desejam trocar experiencias ou compensar o distanciamento das relações humanas pode transformar-se em uma perigosa arma de manipulação das ideias.
Denúncias de imposição ideológica, da apologia à violência e ao preconceito, da intriga e da criação de "celeiros políticos" que pretendem atuar agressivamente nas imediações das campanhas, tornam-se comuns.
Grupos que começam com objetivos inocentes de "quero um amigo", "meu nome é X" , "Luta contra a corrupção" ou mesmo grupos de categorias profissionais, crescem rápido, chegando a milhares de membros, e de súbito tem seu objetivo inicial deturpado e desviado para objetivos particulares de grupos radicais, ligados à violência ou facções políticas extremistas ou simplesmente para campanha eleitoral.
Os grupos tornam-se o objeto de desejo de pessoas, mas também de empresas e políticos que buscam armar seus palanques, nem sempre de forma direta, mas indireta, utilizando "laranjas" que representariam a "voz popular".
Nesse emaranhado reconhecemos os liberais, os conscientes, os predadores ou os déspotas. Os "donos de grupos" tomam para si a "decisão" de manipular o destino de cem, duzentas, mil ou dez mil pessoas, que são adicionadas a esses espaços muitas vezes sem saber que estão fornecendo apoio numérico...ainda que nunca tenham tido nenhum tipo de contato com essas pessoas. Grupos de 10 mil membros em geral possuem uma rotatividade de menos de 1%.
Por esse motivo a eficácia do controle das ideias e imposição politico-partidária dentro desses grupos maliciosos ainda é uma incógnita.
A escravidão da informação ou a manipulação das ideias é um risco que a sociedade deve avaliar e combater. Grupos violentos ou que propositalmente deformam a informação abalam e comprometem a liberdade de expressão. É uma contradição que espaços livres se transformem em espaços escravizados e controlados pelos "donos" ou fundadores de grupos. Mas esse parece ser o desafio da "nova liberdade" obtida no campo virtual, onde a ética apenas funciona quando defendida pelos elementos que participam desses grupos.
Caso contrário, é um espaço tão primitivo quanto "as terras sem lei", onde vence quem tiver menos escrúpulos, soterrando a razão em estratégias que independem da quantidade de pessoas envolvidas. Ou seja, pequenos ditadores dominam um grupo ao cercar as razões éticas, anulando-as rapidamente, ao contrário do que ocorre fora do virtual, que demarca com clareza as responsabilidades e abusos regulados pela legislação comum.
MANIPULAÇÃO VIRTUAL
Enquanto a imprensa é criticada por seu comprometimento econômico e político, os espaços virtuais funcionam como uma espécie de espelho dessa realidade prática. A mesma imprensa livre ou comprometida também exerce o seu papel na internet. Paralelamente as conversas no trabalho, nas ruas e outros lugares que exigem contato pessoal são igualmente levadas ao espaço virtual, processando-se ali de maneira mais livre, pela impressão de anonimato.
Para as empresas e profissionais da imprensa há grandes controvérsias no espaço virtual. Ao mesmo tempo em que a Internet chegou ampliando as relações no mundo todo e tornando o trabalho da informação muito mais amplo, também provocou a evasão do leitor dos jornais.
Os riscos da informação distorcida ou manipulação da opinião aumentam no uso da internet. Mesmo que parte das empresas jornalísticas sejam comandadas por interesses financeiros - submetendo-se à pressão de aspectos comerciais e políticos - a ainda livre publicação virtual não impede o mesmo risco, misturando informação correta e positiva, com a informação maliciosa, principalmente no campo político.
Se a Internet oferece um campo vasto, a centralização de pessoas nos sites de relacionamento tornaram a exploração dos grupos um excelente negócio.
Falar em mídia digital é resumir as possibilidades de ação. A comunicação virtual permite roupagens tão variadas, que tentar defini-las na linguagem usual não define a sua dimensão. (cont.) (Mirna Monteiro)