Thursday, July 12, 2012

PENSAMENTO ARTIFICIAL

“(...) Todos estão tão agressivos, matando a troco de nada e ainda temos armas tão poderosas(...) Fico imaginando o futuro dos meus filhos e perco o sono (...)Tenho alunos que não me respeitam, levantam na sala e me ofendem. Citam frases feitas e conceitos massificados, não conseguem entender o que falam. As pessoas andam muito irritadas, que acha?” (Ivone)



Vivemos um momento de conflitos e incertezas. Certamente a humanidade sempre passou por apuros, insegurança e ameaças, cada qual com características de sua época. Mas a diferença talvez esteja na disparidade entre o tipo de sociedade que construímos e a expectativa de um mundo mais protegido.
Aparentemente, começamos a vivenciar um processo de extrema confusão, onde a pessoa passa a ter dificuldade em distinguir a realidade da ficção, onde o mundo virtual e a mídia massificada passaram a substituir o pensamento e o questionamento comuns ao ser humano.
Falar em “insegurança” é uma maneira suave de colocar a emoção humana diante do futuro. A palavra certa é medo. Medo do descontrole da emoção, medo das conseqüências da perda de valores e da superficialidade, medo de tornar-se apenas um número em um grande arquivo, que pode ser apagado em um piscar de olhos por mãos invisíveis!
Enfim, medo da perda da consciência e individualidade, com a sensação de impotência que vem do enfrentamento com um poder que não é humano, nem tem corpo físico, mas que domina gradativamente as sociedades através do virtual.
A agressividade humana foi fundamental para a sobrevivência em épocas onde o confronto físico era inevitável. A palavra agressividade significa “Movimento para frente”, ou impulso, uma característica humana não necessariamente destrutiva. Não é portanto o tipo de agressividade que observamos hoje, que cria uma nova patologia gerada pela necessidade de destruir, seja em conceitos na fúria de discussões, em patrimônios nas invasões e outras conturbações da massa ou formas de violência, como assassinatos por motivos fúteis ou por mera vontade de finalizar com algo ou alguém.
Até que ponto as sociedades suportarão a pressão ou onde vamos parar, é uma incógnita. Mesmo porque pode haver uma recuperação de valores surgida da própria necessidade de sobrevivência. Como podemos observar a preocupação leva à tomada de consciência e as discussões podem desencadear um processo de restabelecimento.

A dúvida no entanto ainda permanece. A dificuldade de interagir diretamente no meio social será superada? Ou a tendência ao isolamento físico, substituído por relações impessoais à distância, irá aumentar?
"Será que ao nos fechar nas nossas diferenças, não estaremos nos rebaixando a categoria de consumidores passivos da cultura de massa produzida por uma economia globalizada?” pergunta Alain Touraine, sociólogo francês. Crítico do mundo moderno, Touraine considera  que a globalização destruiu o social.  Ele cobra uma definição da individualidade, contra o universo da instrumentalidade. A grosso modo, significa que a sociedade humana chegou a um impasse, onde o conflito central , que é cultural, tem de um lado o triunfo do mercado e das técnicas e, de outro lado os poderes comunitários autoritários.
Essa confusão entre o real e o virtual, que ameaça a individualidade humana e a sua capacidade de gerenciar a vida pessoal e comunitária, é também muito bem analisada por outro francês, um pensador de nome Baudrillard.
Para ele o sistema tecnológico desenvolvido deve estar inserido em um plano capaz de suportar esta expansão contínua. As redes geram uma quantidade de informações que ultrapassam limites a ponto de influenciar na definição da massa crítica.
Seria o efeito oposto ao pretendido. Todo o ambiente estaria contaminado pela intoxicação midiática que sustenta este sistema. Quer dizer , a grosso modo, que vivemos um “feudalismo tecnológico”.
O resultado seria uma interferência na capacidade humana de pensar “com a própria cabeça”, de maneira abrangente e lógica. “O resultado de um consumo rápido e maciço de idéias só pode ser redutor”, critica Baudrillard , que não poupa críticas aos supostos detentores do pensamento e da razão, no jogo da mídia e do entretenimento. “Hoje o pensamento é tratado de forma irresponsável. Tudo é efeito especial!”
É, existe lógica nessa visão. Hoje tudo é “efeito especial”, como um grande cenário montado para causar impressões ao longe, mas que deixa perceber a quem está no palco que é um impacto feito de papelão. Não possui consistência suficiente para equilibrar o meio real!
Os nossos valores e pensamentos são decididos na mídia eletrônica ou no universo virtual onde a informação caminha lado a lado com a alienação e o engano.
A alternativa?
Fala-se em conscientizar o risco e não permitir que o “cyberspace” ou ciberespaço e a mídia em geral sejam as únicas fontes de informação e formação. A retomada das rédeas da própria vida e a consciência de humanidade são condições para evitar a decadência da convivência sadia que respeita as diferenças e a criatividade inerentes ao ser humano.
Como isso pode ser realmente trabalhado pelo indivíduo, ainda é um mistério...(Mirna Monteiro)

Wednesday, July 11, 2012

MULHERES EM FÚRIA

O sexo frágil possui características óbvias. Feições delicadas, pele macia, ventre preparado para a maternidade e tendência à proteção de sua prole. A mulher, cantada em verso e prosa ao longo da civilização humana, comparada a uma flor e considerada esteio da harmonia familiar e social...
Parece que essa figura está ficando cada vez mais rara. Ou pelo menos anda dividida! O conceito da feminilidade de fato anda rachado ao meio.
Antes de provocar a ferocidade que anda distorcendo o conceito da feminilidade e a ação da mulher no meio social, convém explicar este assunto, que não pretende em absoluto criticar a politização e a ampliação do papel da mulher na sociedade, muito pelo contrário. Mas é preciso pensar e racionalizar o que alguns críticos chamam de "masculinização" da mulher, onde ocorre um fenômeno desagradável que gera descontrole e aumento na violência.
As estatísticas demonstram um aumento surpreendente de mulheres marginais, que no comando de quadrilhas são descritas como muito mais violentas do que os homens. Nas escolas adolescentes rolam pelo chão e não se limitam a puxar o cabelo de suas adversárias: usam instrumentos cortantes e cometem assassinatos.
Bebês indesejados são abandonados em sacos de lixo, córregos e vasos sanitários. Cada vez mais mulheres são usuárias de drogas e dependentes de álcool, prostituindo-se também precocemente.
Para os desavisados, essa seria uma situação enfrentada por mulheres de classes sociais mais baixas. Ainda que a condição sócio-econômica seja importante em parte desse comportamento, ela não explica o aumento da violência entre as mulheres das classes média e alta.
Casos de assassinatos cometidos por mulheres, até a frieza de esquartejamento, não são mais tão raros. Comuns, apesar de surpreendentes, são as mulheres furiosas ao volante de carros econômicos ou importados, que chegam ao cúmulo de perseguir suas vítimas após simples bate-boca no trânsito e tentar atropelá-las ou causar danos materiais.
A pergunta é: esse tipo de mulher, com tendência à violência, sempre existiu ou é uma fruto de alguma disfunção moderna, que criou patologias desconhecidas no temperamento feminino?
Mulheres psicopatas sempre existiram na história humana. Há exemplos de sobra. Não há portanto novidade no fato de acontecimentos terríveis na atualidade ter também mulheres em sua autoria. Ainda que não haja consenso, estudos demonstram que o aumento da violência extrema entre mulheres é compatível com a maior incidência da violência em geral, facilitada por circunstâncias do momento, como a sensação de impunidade.
A novidade fica por conta das mulheres que não são psicopatas e que apesar de serem afetivas e inseridas socialmente  recebem influências do meio que levam à mudanças radicais de comportamento. Como exemplo podemos citar o receio à maternidade, que deixa de ser um acontecimento puramente instintivo para se transformar em uma escolha complicada. Como criar filhos em uma sociedade de difícil sobrevivência, já saturada em seus espaços?
A violência que ocorre ocasionalmente,em momentos imprevisíveis, também é motivada pela pressão do meio, extremamente materialista e descartável, originando um estresse que atinge ambos os sexos, sem distinção. Quem não tem estrutura para lidar com essa nova realidade, desenvolvendo a inteligência emocional, é fatalmente levado a ações de violência verbal ou física.
Outro fator torna a mulher mais suscetível à pressão do meio: a desorganização do próprio organismo, com mudanças hormonais mais frequentes. O organismo feminino manteve um ritmo secular (ou milenar) que está sendo brutalmente modificado através de hábitos alimentares, posturais e emocionais. Tudo isso leva à uma patologia ainda controversa, a tal da bipolaridade, ou da mudança de humor em extremos. Ao invés de corrigir a causa, foca-se no controle da disfunção através de medicamentos psiquiátricos, o que não leva ao retorno da normalidade.
Não é possível falar sobre a fúria feminina sem observar uma grande realidade: nos últimos séculos, principalmente no seculo XX,  a sociedade patriarcal transformou valores éticos em bagaço. De tal  maneira que assistir passivamente a derrocada social e os abusos em detrimento do fator humano tornou-se insustentável. A mulher foi obrigada a assumir seu lado combativo.
Como será o futuro do temperamento feminino ainda não se sabe. Afinal a dúvida vale para o temperamento masculino, também alterado pelo novo ambiente. Mas a figura centrada, maternal e voltada para o equilíbrio familiar ainda é o ideal perseguido, seja no micro ou no macro, seja na família, seja na condução política da humanidade. Avaliar seriamente as alternativas e realizar opções não imediatistas, mas que tragam maior equilíbrio individual, parece ser uma emergência coletiva. É bem provável que dessa tempestade surja uma nova mulher, que não carregue o peso de dogmas do passado, mas que também se liberte da poluição perigosa do presente. (Mirna Monteiro)

leia também   http://artemirna.blogspot.com.br/2012/03/o-desafio-de-ser-mulher.html
                     http://artemirna.blogspot.com.br/2010/05/mae-e-o-terceiro-milenio.html
                     http://artemirna.blogspot.com.br/2011/05/maes-diferentes.html
                     http://artemirna.blogspot.com.br/2012/05/afetividade-e-os-danos-da-omissao.html