Monday, July 19, 2010

O HABITO DA VIOLÊNCIA



Nos tempos primitivos a preservação da vida passava pela violência. A selvageria humana foi de certa maneira justificada em fases de grande dificuldade de sobrevivência.
Em tempos mais modernos Jean-Jacques Rousseau, que merecia o titulo de fundador da etnologia, afirmava que o estado natural do homem é selvagem. E se assim fosse, seria fundamental que houvesse consciência da necessidade da civilidade.
Rousseau, um pensador e pesquisador que pertencia a uma época absolutamente primitiva em termos de tecnologia, pelos idos do século XVIII, já dizia que a sobrevivência humana dependia da sociedade civil. Um pacto com toda a comunidade, o que permitia vantagens para a preservação da vida, da liberdade, da preservação da propriedade, da igualdade, enfim, dos bens e da segurança.
Se ele viajasse no tempo, ficaria surpreendido ao chegar neste terceiro milênio e verificar que o ser humano não mudou nada! Sem dúvida ficaria satisfeito com a precisão de suas observações a respeito da selvageria humana.

Tenta-se há séculos definir regras claras para conscientizar o homem e criar um ambiente de coexistência pacífica e produtiva. Como isso tudo fica dependente do respeito às leis as quais todos devem submeter-se igualmente e a convivência entre os homens está atrelada à responsabilidades mútuas óbvias, parecemos um caranguejo na areia quente.
Agora a intenção é dar um basta à violência a partir de sua raiz! Como? Proibindo que a educação utilize qualquer ato agressivo contra as crianças.



Aí, nesse ponto, costuma-se ouvir uma exclamação indignada: mas como? Nem uma palmada?
Vamos considerar o seguinte: vivemos em tempos mais selvagens do que a natureza de Rousseau poderia imaginar. A selvageria humana não tem espaço em um mundo tecnológico e sem valores. Qualquer animal dos velhos tempos protegia a sua cria para garantir a sobrevivência, mas chegamos ao ponto em que uma genitora coloca seu bebê recém-nascido em um saco e o joga no lixo!
Chocante!
Isso nos leva a pensar como é possível uma sociedade que briga pela vida das baleias e golfinhos e percebe que a natureza é de uma preciosidade inimaginável, abrigar elementos que jogam criancinhas no lixo! Ou as espancam a ponto de matá-las ou aleija-las, ou criando graves problemas psicológicos que afetarão a sua conduta quando adulto!
Logicamente uma palmada não causa necessariamente estragos físicos em uma criança de bom porte. Mas como o ser humano interpreta a vida ao sabor de seus desvios e exageros, o chamado "corretivo" transforma-se em tortura corporal e mental, que causa danos irreparáveis e vai influenciar a vítima ao longo de sua vida adulta.


Por incrível que pareça há pessoas que acreditam que os filhos são sua propriedade. Mas uma criança não é um bem de consumo e não tem dono. Todo ser possui a liberdade individual inata, natural, ainda que o ser humano seja absolutamente dependente de cuidados em sua fase inicial de vida, muito mais do que qualquer outra espécie.
O que a sociedade precisa entender é que ao gerar um filho o casal não "ganha um bem", mas assume uma grande responsabilidade!
A responsabilidade legal e moral de criar e proteger aquele ser, que deverá ser liberado quando for autossuficiente. Quanto maior o cuidado com suas necessidades, melhor ele responderá ao convívio com a família ao longo de sua vida. E melhores condições de enfrentar o meio terá!
É possível educar um filho sem o castigo físico? Obviamente que sim!
Há uma enorme diferença entre educar com firmeza e responsabilidade e ignorar os problemas para tentar corrigi-los depois com uso da violência ou da imposição do medo. Se a criança não responde a uma orientação e à atitude firme dos pais algo está errado! Esse "algo errado" pode estar nos próprios pais.

O ser humano, em sua origem, sempre buscou resolver seus conflitos de interesses através da violência e da superioridade sobre o outro. A superioridade da força muscular, da capacidade inventiva de armas e a superioridade intelectual. Os adultos tem esse grupo de poder sobre a criança. Nada mais justo que não utilize a força física para agredir um ser indefeso.
A agressão não passa de uma maneira de se livrar de um problema sem precisar resolve-lo. A violência gera medo, não educa em absoluto. O que educa é a atenção, a firmeza do caráter dos pais, o interesse pela criança e a afetividade amplamente demonstrada, a disposição de conversar e interagir.

Uma criança que sente segurança e confia nos pais será sempre uma pessoa acessível a educação e fases de maior carga emocional e mudanças são mais facilmente superadas.
Abusos contra crianças devem ser sempre denunciados.
O que é que os outros tem a ver com a educação de nossos filhos?
Tudo!
Como se sabe, pais não são "donos" de seu filhos, mas responsáveis por eles. E por tudo que eles representarão no futuro em sua participação no meio comunitário!
De que maneira isso poderá repercutir no futuro?
Se conseguirmos evitar a violência contra a criança, conseguiremos reduzir drasticamente a violência no meio social, obtendo talvez mais sucesso no controle da "selvageria" que habita o ser humano.(Mirna Monteiro)


4 comments:

  1. Anonymous6:43 AM

    Uma concepção metafísica do mal o considera como um elemento do conflito interno do ser, como a luta entre dois princípios antagônicos. O mal é tanto real quanto o bem, e, como tal, tem causa própria, antitética à do bem. O mal surgiria no seio do ser como uma sombra que desliza em sua superfície.
    Yolanda B

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  2. Anonymous8:43 PM

    É muito dificil denunciar tal situaçâo, mais de uma ocasiâo tive a impressâo de que uma criança nas vizinhanças, pequena ainda,chora demais como se estivesse sofrendo.Mas tenho medo de exagerar,de ser impressâo apenas,ñâo tenho coragem de denunciar.Acredito que isso aconteça com todas as pessoas.No caso daquela menina que foi jogada pela janela do apartamento,li que alguns vizinhos já tinham ouvido algo,poderiam ter salvado a vida dela se denunciassem antes?Acho que não,é triste mas acho que nao. Abraços

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  3. Danilo Mangini6:17 AM

    Sim, devemos impedir a violência contra a criança. Mas não creio que isso vá "reduzir drasticamente a violência no meio social". Não acredito na máxima de Rousseau, segundo quem o homem nasce bom e a sociedade o corrompe. Agora, dar surras em crianças sem dúvida não ajuda a melhorar quem já nasceu com seus vícios e virtudes.

    Obs: Mesmo quando discordo de você aprecio seus textos. Você expõe com clareza seus pontos de vista, a maior virtude de quem escreve.

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  4. Mendes.mendes5:05 PM

    Achei interessante a relação aqui colocada entre o problema da educação e formação do ser desde sua infância com Rousseau, muito pertinente. Rousseau nos faz ver na existência moral uma complexidade quando ensina que o homem começa por simplesmente existir, homem da natureza ou homem selvagem,para só depois passar a existir moralmente como homem da sociedade.
    Por meio de sua ação moral, o homem passa a ter uma absoluta
    independência, uma absoluta responsabilidade e uma absoluta autonomia sobre a importunidade de seus crimes, de sua infelicidade e de seus sofrimentos, assim frente à beleza, à justiça e à
    felicidade. No tratamento com nossos rebentos determinados portanto o futuro da sociedade.

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