Thursday, January 13, 2011

PREVISÕES E PROFECIAS

Quando ouvia dissertações sobre previsões e profecias em uma palestra, o sujeito na platéia adiantou-se e opinou: "Não há fundamento! Quando se acerta alguma coisa é coincidência e quando não se acerta está claro que não passa de pura imaginação humana, de ficção"! A sua frente a pessoa sorriu e pediu que um outro ouvinte abrisse um bilhete que havia recebido na entrada: "O que está escrito a respeito? " . "Que alguém sentado na terceira fileira discordaria e iria se manifestar contra a idéia de prever qualquer coisa"!

Bem, previsão comprovada...Quando negamos a possibilidade de prever os acontecimentos, negamos a nossa capacidade de observar, sentir e projetar a mente. O sábio Confúcio já sabia que não se pode viver como um mero expectador da vida, esquecendo-se de que toda a ação e pensamento determinam aquilo que a humanidade será. "Aquele que não prevê acontecimentos longínquos, expõe-se a desgraças próximas".
É verdade que prever os fatos é diferente de profetizar, mas apenas sob um ponto de vista relativo. Uma previsão baseia-se na observação do passado e do presente e uma profecia tem como mediador a visão do futuro, sem preocupar-se em estabelecer a lógica dos acontecimentos que formarão uma nova realidade.
A idéia que se tem de profecia lembra um ambiente místico, onde seres que se isolam das tentações terrenas mantém a mente livre para captar imagens do futuro através de uma sintonia que vence as barreiras do tempo. Durante toda a história da humanidade e em culturas diferentes, a profecia sempre manteve um lugar de honra, fosse na forma do Oráculo de Delphos, do feiticeiro reverenciado pela tribo, das sacerdotisas ou de sociedades místicas.
No entanto prever o futuro é uma questão de lógica, conforme a própria ciência descobriu. Nos velhos tempos os pajés tentavam descobrir quando iria chover. Nos nossos tempos equipamentos mostram claramente os mistérios da metereologia.  Oráculos tentavam desvendar os movimentos sísmicos, que hoje são claros para a geologia, que assim como a astronomia consegue prever desastres naturais da terra ou do sistema solar.
Mas será que tudo é assim mesmo, tão simples? Poderíamos através da lógica, da lei de ação e reação, dos conhecimentos da física, prever acontecimentos e evitar as desgraças e o sofrimento decorrente delas? Poderíamos evitar um divórcio em família, um assassinato passional, um acidente de trânsito ou o desmoronamento de uma encosta?
Até certo ponto, certamente teríamos de admitir essa possibilidade. Se sabemos que andar nas ruas em determinados horários pode colocar em risco nossa integridade física, assim como dirigir em estradas em alta velocidade é sinal de acidente iminente, por que isso acontece ordinariamente?

Podemos alegar que é uma questão de circunstâncias alheias a vontade. Por exemplo, enfrentar o trânsito em alta velocidade é contingência da sobrevivência...enquanto que morar em encostas é unica alternativa para um teto, apesar de que as encostas também foram desmatadas para a construção de mansões...e assim por diante! O ser humano parece viver de justificativas e argumentos de sobrevivência que contrariam a própria auto-preservação.
Nostradamus, médico e alquimista conhecido pelas suas profecias, inclusive a do fim do mundo (se é que interpretamos suas quadras com alguma precisão), teria pressentido a morte do rei Henrique II, nos contatos com a rainha Catarina de Médicis, e avisado que o Rei não deveria participar de qualquer torneio até os 41 anos. E Henrique morreu exatamente aos 41 anos vítima de uma lança que atravessou a armadura, atingindo um dos olhos, em um amigável torneio!
Parece que seja em tempos ainda obscuros, seja em plena era da ciência, a questão não é exatamente a falta de previsão, mas a vocação humana para o imediatismo e para o desafio...além do desleixo com a vida. Em tempos de grandes desafios, negar a necessidade de prever os acontecimentos é o mesmo que entregar-se aos riscos. É uma forma de descuido. Mesmo considerando a força do inevitável - acontecimentos que mesmo sendo previstos e cuidadosamente evitados ainda assim ocorrem por força de circunstâncias que independem da vontade humana - a atenção ao meio e à sequência natural dos fatos precisa ser conscientizada, com a mesma convicção com que se escova os dentes para combater as cáries ou se toma água para evitar a desidratação.

Devemos crer nas previsões e profecias? Sem dúvida!...(Mirna Monteiro)

Tuesday, January 11, 2011

ETERNOS DESEJOS


Desejos sem fim e uma permanente sensação de insatisfação! Assim caminha a humanidade, independente de onde vive ou sob qual cultura subsiste.  Descobrir o que se persegue para anular o sentimento de perda (aparentemente a cada espaço de tempo percebido parece que algo foi perdido) parece tarefa impossível. Percorre-se grandes distâncias nessa confusão. Amealhar fortunas a todo custo...ou ir em busca de doutrinas religiosas, filosofia, espaços alternativos...o que pode equilibrar aquilo que parece ser inerente a vida humana?

Em  "Escada do Desejo", Leloup lembra a relação humana com o desejo e o medo. "Não há medo sem um desejo escondido e não há desejo que não traga consigo um medo. Estão ligados. Temos medo do que desejamos e desejamos o que temos medo". Essa relação contritante resulta em patologias, doenças da alma e do corpo.

Freud acreditava  que amor e morte, impulso de vida e impulso de morte, integra o desafio humano. Seria o jogo de Eros e Tanato, que torna o homem ansioso pelo desejo de viver ou pela sensação de plenitude, e o medo da destruição ou da morte.

Será tão irremediável essa sensação? Se o ser humano é bastante velho para morrer assim que nasce, vida e morte são uma mesma realidade. O escritor Scott Fritzgerald tentou traduzir essa sensação de vazio humano, diante da eterna insatisfação e do medo, na história de Benjamin Button, invertendo a natureza a partir do nascimento. Se nascemos jovens e caminhamos para a morte justamente quando se atinge maior compreensão da vida e capacidade de sentir a plenitude, como seria se nascemos velhos e o amadurecimento significasse o rejuvenescer?

Aparentemente Fritzgerald não chegou a ponto algum. Inverter a ordem - nascer velho e rejuvenescer ao longo dos anos, tornando-se cada vez mais jovem e experiente - mostrou ser uma solução fugaz para o medo do fim. Sim, porque mesmo o rejuvenescimento teria de ter um final, como tudo neste mundo de constante mutação física! A morte, portanto, não podia ser evitada, pois o desfecho seria a regressão ao útero e a eternidade.

A juventude, portanto, é apenas uma ilusão do desejo de fugir da sensação de perda constante. Na verdade o que tememos é a constante mutação do universo, sempre em movimento, onde nenhum elemento é perdido, mas transformado. O egocentrismo humano é o pior inimigo, pois é dele que provém a sensação de nulidade e impotência diante do universo.

"A morte é parte natural da vida. Podemos escolher entre ignorar! Ou então olhar de frente para a perspectiva de nossa própria morte e, assim pensando claramente nela, minimizar o sofrimento que traz. Entretanto em nenhum desses casos podemos de fato vence-la", lembra o Dalai Lama. O budismo vê a morte como um processo normal. "A morte é como a troca de roupa, uma roupa que envelheceu e já não serve, e não o fim absoluto".

Mas, afirma o Dalai Lama, a própria imprevisibilidade da morte indica que, se cá estamos, devemos cuidar da vida e manter todas as precauções para seu equilíbrio. Talvez o segredo da plenitude esteja justamente na capacidade de entender que o desejar que tanto frustra o ser humano - pois não tem  limite até a morte- não têm fundamento e é incompatível com a plenitude. Viver bastante pode favorecer esse conhecimento. A ciência descobriu que conforme envelhecemos temos melhores condições de ser felizes ou de reconhecer o que realmente é importante na vida.

Isso pode ser comprovado na prática. Pessoas que têm longevidade demonstram equilíbrio e maior tranquilidade em relação ao futuro, procurando reconhecer motivos para sentir plenitude - e não mais baseando a felicidade em meros desejos. Cada novo dia é realmente uma nova oportunidade de viver!

Quem vive muito percebe mais intensamente a precariedade da vida, mas também a incrível força da natureza, que deve ser absorvida e não destruída ou transformada em nossos desejos. O arquiteto Oscar Niemayer, aos 103 anos, lamenta a partida de tantas pessoas que amou, mas reconhece que o respeito pela vida é imprescindível. Ainda trabalha em projetos, como sempre desprendido do dinheiro, que nunca foi para ele mais importante do que o zelo pelas suas obras. Ter 103 anos, hoje, não é mais surpreendente, ainda que seja uma caminhada para poucos. O segredo, certamente, deve envolver menor estresse pela ânsia do possuir, do ter, do querer...e da frustração que atingir unicamente esses objetivos materiais provoca!

Eternos desejos, eternas insatisfações, medo e uma vida resumida em sua percepção. Parece ser esta a conclusão. Quanto mais se artificializa, mais a humanidade parece entender que o caminho está truncado e que a vida baseada na ferocidade dos recursos materiais não fornece segurança a ninguém! Não é possível sobreviver de escombros. Quem sabe não é este um início, ainda tímido, da consciência humana e da busca do equilíbrio e da tão sonhada plenitude? (Mirna Monteiro)


 


Monday, January 10, 2011

RIA DE SEUS PRÓPRIOS PROBLEMAS




Mais do que nunca as pessoas tem a necessidade de aprender a rir. E a rir de seus próprios problemas. Será isso possível?
Rir é tão fácil como chorar. Podemos rir de tudo e de todos quando acharmos graça. Também rimos de coisas sem graça. Podemos rir sem ter motivos para rir. Rir dos próprios problemas? Achar graça por não poder pagar as dívidas?
Que o riso é terapêutico, isso é. Mas...é bom lembrar. Há muita gente que não consegue rir. Quando muito conseguem esboçar um pálido sorrido, quando a piada pede uma gargalhada!
Acho que já escrevi alguma coisa sobre a professora Ursula Hausting. Ela é especialista em pedagogia do riso. Como começa a aula? Fazendo entre os alunos uma rodada de "riso forçado". Do riso forçado os alunos chegam ao riso espontâneo.
É isso aí. Rir e coçar é só começar. É verdade. Portanto se você estiver enfrentado algum dificuldade, não se aborreça. Dê uma risada forçada. Logo você estará rindo espontaneamente da dificuldade. E então você se convencerá de que ela não era tão séria assim.
Séria. Portanto ria! O riso é o elixir do bom humor. Quem já não ouviu dizer que o bom humor é o melhor amigo da saúde? Tanto isso é verdade que os "doutores do riso"fazem sucesso nos hospitais.
O riso espanta a tristeza. O sorrido faz parte da comunicação social. O riso mata o desânimo.
O riso é individualista. Os palhaços e os humoristas são, na verdade, autênticos professores do riso. Dizem as estatísticas que o brasileiro é o povo que mais sabe rir.
Não vamos exagerar. Ainda há muita tristeza precisando de riso. Diz um provérbio antigo que "tristezas não pagam dívidas". O riso também não, mas ajuda a suportá-las. ( crônica do jornalista Roberto Monteiro)

LEIA TAMBÉM:  http://artemirna.blogspot.com/2008/07/rir-mesmo-o-melhor-remdio.html

Wednesday, January 05, 2011

VIVA O DIA DE REIS

Reis Magos: simbolismo poderoso de união entre os povos 

Ao contrário do Natal - celebrado em todos os cantos do mundo - o Dia de Reis, em 6 de janeiro, não é muito comemorado. Na Europa a data tem sua importância, principalmente na Itália, onde os presentes fazem a festa no dia 6 de janeiro e não no dia 25 de dezembro,  na Espanha e em Portugal, mas no Brasil a maioria das pessoas sequer espera essa data para desfazer a árvore de natal e outros enfeites, como as luzes!

Mas afinal, qual o significado do Dia de Reis? Belchior, Baltazar e Gaspar simbolizam a proteção ao menino Jesus que já era perseguido pelo inseguro Herodes, na visão bíblica do acontecimento. Cada um deles chegou de reinos diferentes, trazendo presentes de simbolismos fortes, como o ouro oferecido por Belchior, deferência reservada apenas aos deuses, o incenso, trazido da Índia por Gaspar, referência à divindade da criança, e a mirra, proveniente da África e ofertada por Baltazar como poder de cura.

Uma tradição interessante é a Folia de Reis, herdada dos colonizadores portugueses. Na verdade ela acontece antes e depois do dia 6 de janeiro, marcando a data através de grupos folclóricos que tocam musicas e dançam, passando nas casas a noite e cantando estrofes para que as luzes sejam acesas e eles sejam recebidos para cear ou tomar café.

Mas é interessante também como Belchior, Baltazar e Gaspar ganharam a fama de propiciar boa sorte e fortuna, recebendo comemorações e rituais diversos para que o ano seja farto. A começar pelo bolo de Reis ou uma rosca generosa, que tradicionalmente recebe em seu interior uma fava, substituída hoje por confeitos especiais ou até peças em ouro, como uma aliança que garantirá a quem recebe-la em seu bocado um bom casamento.

Tradições a parte, vivenciadas ou esquecidas, a principal comemoração do Dia de Reis para quem celebra a tradição é a consciência de que o mundo não é separado pelas culturas e origens, mas forma um mesmo espaço de convivência,onde as diferenças permitem a evolução constante. Assim como os Reis Magos vieram de origens diferentes, para reconhecer que a humanidade pode ser representada em um ideal de respeito a natureza e de convívio pacífico, na busca pela abundância de recursos e maior equilíbrio no nosso sistema. (MM)

Monday, January 03, 2011

ONDE ESTÁ A VERDADE?

Por que

as pessoas

mentem

                  tanto?


Nos velhos tempos dos sofistas, mestres itinerantes do conhecimento politicamente correto, a mentira era utilizada como artifício do poder, ou seja, a verdade era "ligeiramente" deturpada ao sabor das intenções sofistas. Por isso essa palavra ganhou uma conotação pejorativa.
Passados uns 3 mil anos, a mentira parece permanecer inevitável n exercício do poder, seja ele político, econômico, familiar ou social.
E ainda funciona! Velho como a humanidade, pois certamente esse artifício já nasceu com o homem, que para sobreviver precisava enganar seus predadores.
Mas mesmo sendo tão conhecida, é possível reconhecer a mentira? Ou as pessoas disfarçam, aceitando-as como verdade, quando lhes convém, mesmo que reconheçam a sua precariedade?
O problema é que a mentira pode ser extremamente destruidora. Como na política ou nas ciladas criadas pela inveja.Na Filosofia, a mentira é perigosa. É o caso do sofisma.O sofista faz retórica. O filosofo faz dialética.
Na retórica o ouvinte é levado por uma enxurrada de palavras que, se adequadamente compostas, vão persuadir, convencer, mas sem transmitir conhecimento algum. Já na dialética, que opera por perguntas e respostas, a pesquisa procede passo a passo, e não é possível ir adiante sem deixar esclarecido o que ficou para trás. O sofista refuta por refutar, para ganhar a disputa verbal. O filósofo refuta para purificar a alma de sua ignorância
Há quem considere deteminadas verdades destruidoras...Muitos que pedem a franqueza não estão preparados pra poder lidar com a realidade.Há verdades que não precisam ser ditas, assim como há mentiras que são necessárias.
Será que o pensamento livre, crítico, independente poderá prevalecer e a sociedade encontrar e uma forma de convivência baseada na verdade? Admitir a realidade não nos torna mais fortes e preparados para os desafios da vida?
Talvez o problema não seja a franqueza, mas a ausência de isenção ao utilizar a verdade.

Não vamos confundir mentiras com "faz de conta"! Imaginar uma realidade e conduzi-la ao sabor das próprias expectativas, como fazem as crianças nas brincadeiras, faz bem. Tanto é que a criança começa a entrar em choque com a realidade quando ela percebe que o faz-de-conta é muito diferente das mentiras que os adultos começam, logo cedo, a ensinar!

E o pior é que usando de hipocrisia e mentiras, os adultos pretendem que a criança seja absolutamente sincera! Crianças são inexperientes, mas são extremamente sensíveis à toda atitude contrária à natureza.

Da mesma maneira, o faz-de-conta dos adultos, através da ficção, é extremamente salutar. Aliás, é uma mola que impulsiona o mundo! A imaginação humana é premonitória e rica em estímulos para o futuro. Que o diga os grandes escritores de ficção, como Julio Verne!

O mundo seria enfadonho e estático sem a mentira? Os próprios deuses do Olimpo adoravam intrigas e se divertiam com isso. Eu já considero que há um ligeiro engano de interpretação: não é a mentira, mas a falta de imaginação que tornaria o mundo chato.
A mentira é perigosa!
Enfrentar a verdade é a única chance de sobrevivência individual, familiar, comunitária, ou da própria humanidade
Não é possÍvel concordar com a idéia de que podemos conviver com a hipocrisia e mentirinhas. O desejo da verdade aparece muito cedo nos seres humanos. Há necessidade de confiar nas coisas e nas pessoas
Por isso, neste terceiro milênio, a sociedade entra em choque constatando uma terrível realidade: a mentira está terminantemente contida nos meios de comunicação e expressão, seja eles quais forem. Tornaram-se instrumentos com alto poder de persuasão e de confusão também!
Mas há o contrapeso: é suficientemente capaz de arrancar a esperança de que o pensamento livre, crítico, independente ainda haverá de prevalecer? Que uma forma de convivência mais baseada na verdade possa vir a ocorrer ?
Cresce em nossa sociedade a exigência da verdade, clara e límpida. É o desejo e a necessidade da busca da verdade. Há um sentimento generalizado e crescente de que os valores éticos devem retornar, sob pena de convulsão social.
Em tempos onde o acesso à destruição é quase prosaico, não se pode fingir que mentiras são inofensivas. Seria utópico imaginar uma sociedade, deformada como a nossa sociedade humana, com a herança que possuímos, feita de seres absolutamente honestos e isentos. Mas sabemos que as pessoas são diferentes e é essa diferença que permite equilibrar o mundo. Há pessoas com valores definidos, as tais do "fio de barba", assim como há aquelas que vivem para a malicia, mentira e hipocrisia.Tão certo como o anseio
do ser humano pela Verdade.

Tuesday, December 07, 2010

DE CABEÇA PARA BAIXO




O mundo está de cabeça para baixo? É o que andam falando por aí. Pode ter vários sentidos, mas uma direção interessante. Algo assim como mudar radicalmente o ângulo de visão invertendo a maneira de observar e pensar  a vida. 


Não significa certamente que estamos no último estágio  da civilização, mas em um momento crítico, com algumas reações em cadeia que tornam o meio ambiente conturbado por questões de ordem natural e o meio comunitario incontrolável por erros de organização social. 


Nada que nao possa ser arrumado, certamente. No mundo de cabeça para baixo usa-se o teto como capacho, já dizia Raul Seixas.  Há sem dúvida aspectos positivos nessa inversão imprevista. Na chamada "vrschikásana", posição yoga, facilita-se o retorno venoso dos membros inferiores. Mas inverter a posição do corpo vai além disso, mostrando que em um plano mais sutil acontece uma alteração fisiológica que impõe ao sistema nervoso central uma reciclagem e um reeleitura do organismo, ativando receptores neurológicos importantes para despertar maior consciência corporal!






Talvez dar uma olhadinha no mundo de cabeça para baixo também ajude a ativar a consciência coletiva, mostrando que a sobrevivência futura depende de certa harmonia nas ações. Esse negócio de varrer a sujeira para baixo do tapete do vizinho, por exemplo, não funciona, porque estamos sofrendo intempéries que levantam a sujeira e os erros e provocam correntes que trazem tudo de volta. Tapar o sol com a peneira também está cada vez mais difícil, porque o calor anda forte e a luz atravessa barreiras políticas que ainda tentam manter moldes que não se encaixam mais.


Lembrei da peneira devido aos resultados obtidos nas reuniões do G8,  os poderosos chefões que desejam fazer o Bem, mas acabam complicando e terminam mal. Culpa dos furinhos da peneira. Ou da intensidade do sol, que não apenas escalda as mentes, como provoca inesperadas insolações culturais, políticas e econômicas. Não, tapar o sol com a peneira não dá mais, definitivamente! O "8"também está demodè e irreal, porque mesmo quando invertido nao muda nada! Talvez seja mesmo melhor para o mundo virar a mesa e criar o tal G14, ou quem sabe G191. Quem sabe? Seria bom arejar a democracia mundial e permitir um sistema circulatório mais saudável  no planeta.


Como se vê, ficar de cabeça para baixo pode ser interessante. Podemos verificar o resultado na virada contra o tráfico no Rio de Janeiro, uma empreitada que praticamente inverteu os polos de poder, restituindo uma condição mais saudável. Não resolveu todos os problemas, mas pelo menos iniciou um processo de recuperação social e comunitária que torna 2012 menos ameaçador...Mesmo com o bafo de vulcões vociferando sobre terras e mares, cidades encharcadas e uma  Justiça lenta, é possível vislumbrar um futuro onde a sociedade humana não fique de pernas para o ar como uma barata tonta, mas em pleno domínio "vrschikásana". ( Mirna Monteiro)

Monday, November 22, 2010

O EXPRESSIONISMO

Portinari: "Retirantes"
Cores fortes, que ressaltam e ampliam os sentimentos, figuras meio deformadas, mas de maneira a evidenciar a expressão, dramaticidade.
Estas são as características do expressionismo, que é definido também como a arte do instinto. Ele parece trazer as sensações das profundezas da mente, com plasticidade evidenciada.
Como pode-se observar nesta tela de Lazar Seggal (Brasil) e em tantas outras dos mestres do Expressionismo na Europa, como Paul Gauguim, que viveu entre 1848 e 1903 (o começo do século foi marcante para o surgimento de vários pintores do expressionismo na Alemanha) e chocou os classicos com suas obras de cores intensas, principalmente o vermelho, Paul Cèzanne, Van Gogh (1853 a 1890), Toulous-Lautrec (1864 a 1901) e Munch (1863 a 1944), entre outros famosos pintores.


O Expressionismo brasileiro, na arte de Anita Malfatti

Kirchner: A mulher com sombrinha





Tuesday, November 09, 2010

CRIANÇAS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA

Uma mãe, moradora no Rio Grande do Sul, confusa com ferimentos no seu bebê, coloca uma câmera escondida em casa e descobre o improvável: o próprio companheiro, pai da criança, era o criminoso!  As cenas, chocantes, mostram como o sujeito torturava a criança, de poucos meses de idade!

Os desajustes de crianças, adolescentes e parte de algumas patologias observadas em adultos, que distorcem o meio familiar e afetivo, mas manifestam-se de maneira crescente no meio social, certamente tem origem no abuso infantil. Crianças que sofrem torturas físicas, sejam elas meramente fruto de psicopatia  do adulto ou caso de pedofilia, irão reproduzir quando adultas comportamentos derivados dessa violência ou conviver com quadros de depressão, transtornos de ansiedade, alimentares, dissociativos, hiperatividade ou déficit de atenção ou ainda transtorno de personalidade!

O preço é extremamente alto para a sociedade! E leva à pergunta: o que está acontecendo é um crime moderno e recente, ocasionado por um modelo social desigual e desprovido de valores? Ou é um crime comum, histórico, encoberto pelas sombras e agora detectável mais frequentemente?  Ou é um crime histórico contra crianças, antes reprimido por imposição de valores religiosos e sociais e recentemente "liberado" pela impessoalidade de nosso meio? 

O mais importante é parar de tratar esta questão como um "tabú" e passar a escancarar a sua gravidade, discutindo abertamente o fato e a necessidade  de sua denúncia. Para isso é preciso esclarecer a criança sobre o que é normal ou não, seja em relação à violência - que não pode ocorrer em qualquer circunstância - seja através de abuso sexual.

Existe um profundo preconceito em relação a informação que a criança deve receber a esse respeito. Alguns pais se horrorizam com a idéia da criança "perder a inocência" . No entanto o risco de um contato direto com o assédio é grande e o resultado muitas vezes mais grave. Não é preciso dar uma aula de educação sexual. Basta delimitar claramente comportamentos que a criança deve evitar e não permitir que sejam realizados ou comunicar suas dúvidas a respeito.  A  partir dos cinco anos, existe condição da criança entender e reconhecer um assédio ou um contato físico não apropriado, desde que haja uma orientação bastante simples. 

A maioria das crianças sabe instintivamente que algo está errado quando existe abuso sexual. Mas não possui referência de conhecimento para reconhecer totalmente o que está acontecendo e, principalmente, denunciar o fato. Por isso conversar sobre o assunto é importante, dentro dos limites de sua compreensão. É preciso lembrar que o abuso pode acontecer principalmente com pessoas próximas, babás, professores, amigos da família, parentes e também o pai. Embora seja mais raro, a mãe também pode estar envolvida na violência contra a criança. Quanto maior o laço afetivo, maior a confusão na criança.

Não adianta fingir que o problema não existe. Estudos realizados em diferentes países sugerem que o percentual de crianças e adolescentes que sofrem algum tipo de abuso sexual varia de 3% a 36% . Países do primeiro mundo mantém incidência alta desse tipo de abuso. Não é apenas a criança que sofre. Um estudo da Universidade de Montreal, no Canadá, indica que os pais de crianças vítimas de abuso sexual podem sofrer de ansiedade, depressão, luto crônico e ter idéia fixa de vingança. Há pouca literatura médica sobre o problema, que apenas agora começa a ser encarado com maior realísmo! (MM)
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Thursday, November 04, 2010

RACISMO, PRECONCEITO E PODER

O que leva alguém a escrever uma mensagem na internet com ofensas a outras pessoas e incitação à violência? Agressividade, frases abusivas de adolescentes, jovens e adultos e o posicionamento de grupos radicais reacendeu a discussão sobre o racismo e o preconceito, que já vinha mobilizando entidades e autoridades no intuito de impedir a disseminação de agressões em sites de relacionamento.
Como pode haver reações desse nível em um país onde a miscigenação é a base da riqueza cultural? O preconceito se torna ainda mais absurdo quando se sabe que a intenção é   "filtrar" o ser humano, reduzindo qualquer poder de ação do semelhante através da força de um determinado grupo!
O racismo nada mais é do que uma manifestação primitiva na tentativa de sentir-se de alguma forma "superior". Baseia-se na impressão de que a supremacia , seja qual for, é uma garantia de sobrevivência. Determinado grupo hostiliza outro porque tem receio de contato fora do seu círculo social, onde se sente vulnerável e fragilizado. O grupo, mesmo que atue contra alguma crença pessoal,  representa uma garantia de força, homogeneidade e fatores comuns.
Isso pode acontecer portanto em circunstâncias variadas. Em times de futebol que disputam campeonatos, por exemplo. Os opositores serão rechaçados pelo grupo, possivelmente com agressões verbais ou até fisicas. Na escola manifesta-se através do bullyng, onde uma criança ou adolescente é escolhido para canalizar essa necessidade de poder. No dia a dia, em circunstâncias diversas, o racismo pode se manifestar diante da mesma necessidade de supremacia e a agressão pode ser direcionada a qualquer diferença existente: aparência, defeito físico, cor da pele, idade ou sexo.
Na civilização anterior ao cristianismo, egípcios, gregos ou romanos exerciam esse poder sobre o semelhante escravizando os povos vencidos nas guerras, independente da cor ou raça. Na Idade Média a diferença tornou-se evidente através da força política da igreja, que servia de justificativa para submeter outros povos ou avaliar a inferioridade de alguém.
A questão racial apenas se tornou o enfoque da superioridade ou inferioridade no século XIX, quando o conde de Gabineau publicou o "Essai sur l'inégalité des races humaines" ou Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas...onde se afirmava a questão da superioridade ariana, que seria a "senhora natural"das demais.
Em 1889 um inglês chamado Houston Stewart Chamberlain publicou na Alemanha "Os fundamentos do Século XIX", onde retomou o mito da raça ariana.  A influência dessa obra sobre o povo alemão foi grande e décadas depois daria origem a terceira maior demonstração de racismo já vivenciada em tempos modernos, através do nazismo de Hitler. O preconceito contra os negros foi mais amplo e óbvio, mas outro preconceito, contra a mulher, foi o mais duradouro da história da civilização humana.

É importante observar que o racismo é de certa forma inerente e oportunista, embora seja cultivado e dimensionado conforme interesses políticos. Ou seja, ele aparece e acontece estimulado não por alguma aversão ou real crença de superioridade, mas motivado por fatores de insegurança ou briga pelo poder dos grupos mais fortalecidos política e economicamente, em várias instâncias, da pequena comunidade a dimensão mundial!
Por isso não existe uma raça específica, por exemplo, que seja exclusiva do racismo ou preconceito. Pode ser a raça negra - que históricamente teve suas etnias dominadas e escravizadas por motivos econômicos, mas pode ser também outra raça qualquer, que esteja no "caminho"de algum objetivo de poder.

Talvez o maior preconceito da humanidade, que existiu por séculos e séculos e ainda persiste, seja o preconceito contra a mulher ou a tentativa de menosprezo pela "raça  feminina"...Além de ser pressionada a ser encarada como "ser inferior" em várias fases históricas, inclusive moderna, a mulher até hoje sofre desvantagens diante necessidade histórica do homem de predominar no poder. Esse preconceito não se limita a piadas (tipo "só podia ser mulher", ou "lugar de mulher é no tanque de roupa"ou "é loira"...) mas segue em  aspectos profissionais ( salários mais baixos) e avança para sérias ações de violação sexual, espancamento e assassinatos.
A mulher seria, portanto, o ser que maior pressão sofre do racismo e do preconceito. E sofre isso da própria mulher: assim como os nordestinos foram objeto da frustração na disputa política, também a figura feminina que ousou vencer e assumir o  mais alto cargo da Nação, a presidência da República, foi achacada nos sites de relacionamento como Orkut, Facebook , Twitter e MSN. Em um deles uma adolescente de 16 anos publicou o seguinte em uma discussão: "Calma gente, Tancredo morreu logo depois da eleição"....
A impiedade, a grosseria, a atitude criminosa no mundo virtual, ainda que passiva na vida real, mostram que a evolução humana é muito relativa, pois o pensamento primitivo ainda sobrevive e convive com a tecnologia que rompe as barreiras da comunicação, mas não impede a precariedade do relacionamento humano.
Crimes de ódio, no mundo virtual, são no entanto muito mais evidentes e óbvios! Por esse  motivo a sociedade se organiza para policiar e punir os infratores. E isso será fácil, mas ao mesmo tempo extremamente confuso, porque racismo e preconceito são interpretados de maneira muito resumida.
Um exemplo: em uma notícia publicada por site na internet, comentava-se as providencias legais contra a estudante de Direito que participava do debate racista contra os nordestinos no Twitter; logo abaixo, na participação dos leitores, alguém  escreveu: "Esta (sic) idiota quer aparecer pelada em alguma revista e como não tem capacidade de chamar a atenção usou esse tipo de artifício(...).
Seremos todos racistas e preconceituosos, a ponto de realizar comentários racistas para criticar uma ação racista? Seria bom discutir essa questão de maneira ampla, mostrando que preconceito e racismo são um crime muito mais comum do que assumimos reconhecer! (Mirna Monteiro)


Monday, November 01, 2010

O PENSAMENTO ARTIFICIAL

“(...) Todos estão tão agressivos, matando a troco de nada e ainda temos armas tão poderosas(...) Fico imaginando o futuro dos meus filhos e perco o sono (...)Tenho alunos que não me respeitam, levantam na sala e me ofendem. Citam frases feitas e conceitos massificados, não conseguem entender o que falam. As pessoas andam muito irritadas, que acha?” (Ivone)



Vivemos um momento de conflitos e incertezas. Certamente a humanidade sempre passou por apuros, insegurança e ameaças, cada qual com características de sua época. Mas a diferença talvez esteja na disparidade entre o tipo de sociedade que construímos e a expectativa de um mundo mais protegido.
Aparentemente, começamos a vivenciar um processo de extrema confusão, onde a pessoa passa a ter dificuldade em distinguir a realidade da ficção, onde o mundo virtual e a mídia massificada passaram a substituir o pensamento e o questionamento comuns ao ser humano.
Falar em “insegurança” é uma maneira suave de colocar a emoção humana diante do futuro. A palavra certa é medo. Medo do descontrole da emoção, medo das conseqüências da perda de valores e da superficialidade, medo de tornar-se apenas um número em um grande arquivo, que pode ser apagado em um piscar de olhos por mãos invisíveis!
Enfim, medo da perda da consciência e individualidade, com a sensação de impotência que vem do enfrentamento com um poder que não é humano, nem tem corpo físico, mas que domina gradativamente as sociedades através do virtual.
A agressividade humana foi fundamental para a sobrevivência em épocas onde o confronto físico era inevitável. A palavra agressividade significa “Movimento para frente”, ou impulso, uma característica humana não necessariamente destrutiva. Não é portanto o tipo de agressividade que observamos hoje, que cria uma nova patologia gerada pela necessidade de destruir, seja em conceitos na fúria de discussões, em patrimônios nas invasões e outras conturbações da massa ou formas de violência, como assassinatos por motivos fúteis ou por mera vontade de finalizar com algo ou alguém.
Até que ponto as sociedades suportarão a pressão ou onde vamos parar, é uma incógnita. Mesmo porque pode haver uma recuperação de valores surgida da própria necessidade de sobrevivência. Como podemos observar a preocupação leva à tomada de consciência e as discussões podem desencadear um processo de restabelecimento.

A dúvida no entanto ainda permanece. A dificuldade de interagir diretamente no meio social será superada? Ou a tendência ao isolamento físico, substituído por relações impessoais à distância, irá aumentar?
"Será que ao nos fechar nas nossas diferenças, não estaremos nos rebaixando a categoria de consumidores passivos da cultura de massa produzida por uma economia globalizada?” pergunta Alain Touraine, sociólogo francês. Crítico do mundo moderno, Touraine considera  que a globalização destruiu o social.  Ele cobra uma definição da individualidade, contra o universo da instrumentalidade. A grosso modo, significa que a sociedade humana chegou a um impasse, onde o conflito central , que é cultural, tem de um lado o triunfo do mercado e das técnicas e, de outro lado os poderes comunitários autoritários.
Essa confusão entre o real e o virtual, que ameaça a individualidade humana e a sua capacidade de gerenciar a vida pessoal e comunitária, é também muito bem analisada por outro francês, um pensador de nome Baudrillard.
Para ele o sistema tecnológico desenvolvido deve estar inserido em um plano capaz de suportar esta expansão contínua. As redes geram uma quantidade de informações que ultrapassam limites a ponto de influenciar na definição da massa crítica.
Seria o efeito oposto ao pretendido. Todo o ambiente estaria contaminado pela intoxicação midiática que sustenta este sistema. Quer dizer , a grosso modo, que vivemos um “feudalismo tecnológico”.
O resultado seria uma interferência na capacidade humana de pensar “com a própria cabeça”, de maneira abrangente e lógica. “O resultado de um consumo rápido e maciço de idéias só pode ser redutor”, critica Baudrillard , que não poupa críticas aos supostos detentores do pensamento e da razão, no jogo da mídia e do entretenimento. “Hoje o pensamento é tratado de forma irresponsável. Tudo é efeito especial!”
É, existe lógica nessa visão. Hoje tudo é “efeito especial”, como um grande cenário montado para causar impressões ao longe, mas que deixa perceber a quem está no palco que é um impacto feito de papelão. Não possui consistência suficiente para equilibrar o meio real!
Os nossos valores e pensamentos são decididos na mídia eletrônica ou no universo virtual onde a informação caminha lado a lado com a alienação e o engano.
A alternativa?
Fala-se em conscientizar o risco e não permitir que o “cyberspace” ou ciberespaço e a mídia em geral sejam as únicas fontes de informação e formação. A retomada das rédeas da própria vida e a consciência de humanidade são condições para evitar a decadência da convivência sadia que respeita as diferenças e a criatividade inerentes ao ser humano.
Como isso pode ser realmente trabalhado pelo indivíduo, ainda é um mistério...(Mirna Monteiro)