Tuesday, January 16, 2007

Literatura















( ...)A Jorge não importava quem eram aqueles homens. Via um velho ser covardemente espancado e uma criança ser maltratada. Isso bastava.
Sem hesitar, sentindo a tragédia no ar como uma corrente elétrica, saltou sobre o grupo, puxando o homem ensangüentado pelo braço.
- Heidnisch! Unverschämt! – berrava, enquanto distribuía sopapos a esmo.
Jorge era ainda suficientemente jovem e forte para enfrentar uma situação de violência. Mas antes que pudesse avaliar as suas chances, enquanto distribuía socos e pontapés, sentiu um objeto duro bater em sua cabeça, com tanta força que teve a impressão de seu cérebro tremia, ressoando como um sino.
Ao mesmo tempo, em uma fração de segundo, ouviu uma voz conhecida gritar para que parassem.
Quando recobrou os sentidos, ouviu vozes e lembrou-se daquele grito. Pela primeira vez na vida sentiu realmente medo de enfrentar o que viria.
Percebeu que ainda estava deitado na neve. Haviam colocado alguma coisa sob sua cabeça, para mantê-la levantada.
Havia vários rapazes em torno dele. Alguém o segurava e Jorge não queria saber quem era. Mas seus olhos moveram-se como se não tivessem controle e fixaram os do filho caçula, Reinhard.
O instante de silêncio que se seguiu pareceu a Jorge longo demais. Reinhard, com os olhos de um azul mais frio do que o ar daquela noite, ajudou-o a levantar-se.
- Vá embora, pai! – disse, antes de virar-se e juntar-se ao grupo, que saia do lugar.
Jorge olhou em torno. Não havia sinal do homem espancado e da criança. Observou o filho, que seguia atrás dos outros rapazes.
Mas Reinhard não olhou para trás.
Sem saber o que fazer, Jorge retornou para a ponte, pensando se não deveria, afinal, debruçar-se sobre o parapeito e deixar-se escorregar para a água gelada e escura do Danúbio.
A cabeça latejava, dolorida e ele sentia o sangue quente escorrendo no couro cabeludo e endurecendo nos fios de cabelo congelados pela neve.
Escorregar para aquele rio!
Seria rápido! Um primeiro choque e depois o amortecimento. Não sentiria mais dor, não sentiria sequer o frio! Provavelmente iria desfalecer, vencido por um sono irresistível!
Lembrou-se da velha Tereza, de olhos assustados, comentando sobre alguém que havia perdido a alma ao atropelar a vida e provocar a própria morte. Sacrilégio abominável...quase podia ouvir a voz morna de Tereza. Quantos anos ele tinha então? Era tão pequeno! E tão feliz!
Perderia a alma!
Jamais se reencontraria com as pessoas que tanto amava.
Como Emma!
Imaginou se estaria sendo ridículo por considerar a crença de uma pessoa simples como Tereza. Deveria ser cético, duro e frio, para manter o controle e a sanidade.
Exatamente como as pessoas que tanto desprezava na vida...
Afastou-se da murada e retornou, encontrando o boné de lã caido próximo a calçada. Mesmo úmido, ele lhe deu conforto e a cabeça parou momentaneamente de latejar.
Não sentia cansaço, nem frio.
Andou até amanhecer, quando resolveu pegar um trem a esmo, sem se preocupar com seu destino. (...) (trecho do livro "O Círculo"-MM)

Sunday, January 07, 2007

Estamos perdendo o rumo?


Volta e meia encontramos alguém que desabafa, aflito: “estão todos loucos!  As pessoas estão perdendo a lucidez”

Por que? Os motivos são vários – irritação excessiva, ausência de auto-controle, falta de afetividade e tendência à destruição. Dentro da própria família os sintomas são cada vez mais óbvios – desagregação, egocentrismo, disputa interna, clima inamistoso.
Mas o que mais se ouve e impressiona é a afirmação de que as pessoas estão perdendo a capacidade crítica e qualquer freio moral.
A ausência de capacidade crítica torna a pessoa extremamente vulnerável ao erro e engano. A falta de “freios morais” a torna potencialmente perigosa, sujeita a achar natural a invasão da privacidade alheia ou apropriação de bens que não lhe pertencem ou ainda a atos violentos.

Seria um sintoma de loucura? Ou de histeria coletiva, um fator que desagrega a sociedade da racionalidade que permite uma convivência produtiva e pacífica?
Perguntas e perguntas. Que parece haver uma gradativa perda de identidade e um processo de histeria coletiva - onde se age pela emoção, sem um racicínio independente e lógica individual - isso parece! Há quem afirme que a sociedade moderna  está cada vez mais integrada por pessoas que confundem a realidade com a ilusão criada pela ficção ou pela mídia, farta em mensagens subliminares

Somos seres racionais e a nossa vontade é racional. Assim nos percebemos lúcidos e com capacidade de definir a realidade. Qualquer pensamento ou emoção que extrapolem determinados limites podem ser interpretados como uma ficção ou uma ilusão sob controle.

Mas é preciso considerar a capacidade humana de reintegrar-se em seu isolamento mental. No momento em que divagamos dentro de nós mesmos, a concepção do certo, errado ou do que é real pode mudar. Podemos permitir que haja maior abertura para a irracionalidade, a fantasia e a ilusão. Ou permitir uma reestruturação do pensamento diante de uma nova realidade, que permitirá maior segurança de sobrevivência.

Assim como todos nos sentimos seguros quando percebemos a realidade fora de nós, onde podemos ter a percepção sobre ela e diferenciar realidade de ilusão, também a incapacidade de lidar com as duas realidades pode ser perigosa.
Tornar-se excessivamente pragmático portanto é colocar em risco a própria sanidade, uma vez que a pessoa que vive exclusivamente para uma realidade imediata e material – aquela que considera única – é facilmente dominada pelas regras desse mundo imediato.
Ficará, por exemplo, mais sujeita às pressões de uma sociedade imediatista e superfial e mais sensível ao processo de histeria que se instala coletivamente.

O estudo da psicanálise demonstra a importância de nosso inconsciente. Considerando a Filosofia, esse mundo interior se torna muito mais amplo e capacitado para conduzir-se e não consistir simplesmente em um reflexo do mundo exterior.

Deveríamos conscientizar a importância de nosso mundo mental, ou de nossa alma. No entanto, estamos sempre na dúvida sobre quais das sensações – a liberdade do pensamento livre e da imaginação solta em nosso mundo interior, onde as percepções são tão ilimitadas, e a percepção da realidade externa, comunitária, que divide-se no mundo material, devem ser priorizadas em determinado momento.

Quando estamos sonhando, vivemos uma realidade ou uma ilusão? Para os mais pragmáticos, essa é uma pergunta absurda. Ora, o excesso de racionalidade leva à falta de criatividade e crescimento mental e portanto limita a capacidade de compreensão de um mundo lúdico ou mental.
Se nosso mundo interior, formado de sonhos, pensamentos e imagens, é perfeitamente estabelecido e desperta sensações, inclusive físicas, apesar da imaterialidade do mundo interior, por que não seria também uma realidade, em outro nível de percepção?

O que se pretende portanto é o equilíbrio entre a realidade imediata e as natural criatividade humana(MC)

Thursday, December 28, 2006

HAJA BOA SORTE NO ANO NOVO!





Ah, as superstições!Tecnicamente são crenças que não possuem qualquer fundamento científico. Mas são irresistíveis, aguçadas pela intuição. As superstições integram a essência intelectual humana e não há época ou lugar da história onde não estejam presentes.
Por isso quando chega a passagem do ano, é quase impossível evitar alguns rituais e cuidados.
Por exemplo, quem vai colocar uma ave na ceia de ano novo, se souber que aves ciscam “para trás” e simbolizam retrocesso?
Porco dá sorte, mesmo com o risco do colesterol embutido.
Para compensar, frutas mágicas: romãs e uvas, cujas sementes se transformam em poderosos ímãs de dinheiro farto o ano todo, quando saboreadas imediatamente após as 12 badaladas do reveillon e guardadas na carteira
Há tantas possibilidades de rituais que garantem um ano bom e farto, que todos ficamos confusos. Afinal, ninguém quer perder uma boa oportunidade de garantir a boa sorte.
Por esse mesmo motivo lojas de roupas íntimas vendem a rodo nos dias que antecedem o revelillon. Calcinhas e cuecas novas garantem renovação da vida e, dependendo da cor, ainda promovem conquistas importantes!

Quais?Ora, se pretender luz e paz, use branco! Calma, tranqüilidade e segurança e tudo mais relacionado à vida espiritual exige a cor azul!

Prosperidade financeira e riqueza? Amarelo, sem dúvida! Precisa de auto-confiança, amor-próprio e auto-afirmação? Use verde!
Violeta influencia positivamente emoções e humor. Mas quando a questão é amor, ah, aí depende: quer romantismo e amor? Cor de rosa é ótimo! Ou prefere paixão, sensualidade e conquista? Vermelho, o grande estimulador do desejo. E também dá pique para o trabalho!
Há quem fique tão animado com as possibilidades, que usa todas as cores! Outros, mais discretos, colocam roupas íntimas coloridas e cobrem o corpo de branco puro, rescendendo a luminosidade.
O que importa é a expectativa e a esperança de transformação. Mas lembre-se: nada de roupas apertadas! Você não vai querer um novo ano incômodo, com pouco espaço, não é!
Mas o mais engraçado mesmo fica por conta dos rituais no momento da meia-noite. Conheço pessoas que enquanto estendem a taça de champanhe para o brinde (champanhe é importante, inclusive deixando alguns golinhos na taça e atirando-os pra trás, tipo bye, bye ano velho), sacam de uma verdadeira lista de simpatias.
É uma espécie de “gula” por boa sorte! E podemos então assistir a um verdadeiro espetáculo: no momento da algazarra da meia-noite, a pessoa sobe em uma cadeira, toma um gole de champanhe, desce da cadeira usando apenas o pé direito, pula três vezes, joga o champanhe sobre os ombros (que meleca, né?) pula várias vezes com o pé direito, tomando cuidado para não perder o dinheiro que já foi enfiado dentro do sapato (também tem essa).
Corre a engolir uma colherada de lentilhas e depois 12 bagos de uva, reservando as sementes, além de três cerejas, cujas sementes também vão ficar na carteira o ano todo, para garantir a prosperidade financeira.
Ainda não acabou. É preciso beijar alguém do sexo oposto para garantir o amor, comer um doce para garantir um ano gostoso e suave ou se tiver namorado (a) roubar um fio de seu cabelo e juntá-lo ao seu em um saquinho branco, para garantir a relação...
Ato contínuo, a gula pela boa sorte leva a reunir sete moedas, seis delas distribuídas a seis amigos, guardando uma na carteira, juntamente com as sementes. Isso porque já colocou embaixo do tapete da entrada da casa outras sete moedas que vão ficar o ano inteiro arranhando o piso, mas garantindo a fortuna!
É, ninguém falou que atrair sorte é fácil...de fato é complicado mesmo.
Mas vale a pena!
Há quem se empolgue tanto, que na véspera do ano novo faz uma limpeza geral nas gavetas e armários, espalha
montinhos de arroz cru pelos cantos da casa, orando por proteção, coloca ramos de arruda (contra maus olhado, oras!) , muitas plantas e flores (para energizar o ambiente) e queima incensos pelos cômodos!
E não se pode esquecer dos ramos de trigo!
Como podemos ver, superstições e crenças são invencíveis. Na verdade, quem vai contrariar a importância desses rituais? Na falta de pular sete ondas na praia, pula-se sobre o assoalho de apartamentos imaginando um enorme oceano à sua frente, e o resultado será certamente a mesma vontade de melhorar!
O importante, sem dúvida, é isso: a oportunidade de relaxar, sonhar, brincar e renovar a esperança! Concorda? (Mirna Monteiro)

Thursday, December 21, 2006

FILOSOFIA DO NATAL




Por mais que se critique a tradição do Natal, acusando a data de estar cada dia mais superficial e voltada para o consumo, não há como negar que o final de ano ainda possui um encanto e oferece uma oportunidade rara das pessoas repensarem suas relações familiares e sociais. Em qual outra ocasião o amor fraternal, desvinculado de interesses pessoais, é o tema principal? Amor e Natal!
Para começo de conversa o amor é um sentimento que deve ser absolutamente livre de interesses
Para ser assim interpretado, deve estar desvinculado da ansiedade de recompensa, seja ela em forma de atenção, seja em forma de sentimento igual, seja materialmente.
Isso nos leva a pensar que quando amamos as pessoas, deveríamos simplesmente nos ater ao prazer desse sentimento - o amar, o apreciar, o deleitar-se com o fato de determinadas pessoas existirem.
Isso é possível, felizmente, mesmo em um mundo onde os nossos semelhantes parecem cada vez mais figuras de ficção, como nos filmes.Depende talvez de um exercício de contemplação!
Assim torna-se fácil sentir pela natureza, pelo universo e também pelas pessoas que vivem em nosso mundo um sentimento de afeto, uma inteiração e unidade. O que trocando em miúdos, é amor!
Tudo bem? Anda soterrado em trabalho neste fim de ano? Não há tempo para sequer pensar em contemplação do próprio nariz?
Tornamos determinadas datas tão conturbadas, a ponto de perder o rumo. Final de um ano e começo de outro tem essa característica terrível, de extremos, um deles repleto de simbolismos positivos.
Não é difícil sentir pela natureza, pelo universo e também pelas pessoas que vivem em nosso mundo um sentimento de afeto, uma inteiração e unidade. É preciso fechar os olhos para o mundo imediato e conturbado para poder descobrir esse universo de sentimentos e luz.
Há quem defenda que o amor é questão de atitude, pois permitir-se um sentimento e deixar a alma divagar em seus cantos e recantos transforma a sua abstração em um elemento real na emoção do indivíduo.
No entanto sabemos que aquele que se permite ao sentimento e o conscientiza, acalma as próprias ansiedades existenciais. Ou seja, o amor traz maior benefício a quem ama, do que propriamente ao objeto desse amor, que certamente se beneficiará dele também em várias outras instâncias de emoção ou realidade prática.

Ora, assim sendo, o verdadeiro afeto não cobra retorno, pois já se constitui um benefício emocional. Quando eu me permito amar, eu me sinto melhor, meus humores agradecem e meu fígado também! Somos animais interativos, corpo e alma! Nosso cérebro se encarrega de transferir nossos benefícios emocionais para nosso mecanismo físico.
No amor incondicional e universal não há uma cobrança da afetividade e portanto não há risco da frustração. Amar as pessoas incondicionalmente, em termos universais e manter a sensação de unidade (somos todos integrantes de um mesmo universo) é indubitavelmente positivo para o bem estar pessoal e social e certamente para o futuro da espécie humana.
Permitir-se o sentimento a pessoas próximas a nós de maneira desprendida pode ser também benéfico para nosso equilibrio emocional e nossa saúde fisica. Diferente do amor-paixão que exige mais do que um grande domínio dos instintos, preocupado em evitar a frustração do não retorno deste amor.
Vivenciamos sentimentos diferentes, variáveis. Não existe apenas um tipo de afeição, um tipo de amor ou um único tipo de dependência afetiva. Amores e amores, sentimentos e sentimentos, interesses "X" ou "Y"....não há uniformidade possível nas questões emocionais. Não há como nivelar. O que importa é vivenciar bons sentimentos.
Mas nesta época é possível entender melhor o sentimento humano e a necessidade de interação e unidade com o seu mundo físico e espiritual. Comercial ou não, religioso ou absolutamente ateu, a verdade é que o Natal é realmente um momento muito especial, que se torna cada vez mais precioso!

Saturday, November 18, 2006

O ESPELHO DISTÔNICO


Quando você olha no espelho, vê a mesma imagem que outras pessoas fazem de você? Se respondeu sim, é bom parar e observar muito bem a situação.
Quando outra pessoa olha para você, ela vai enxergar através do próprio prisma, considerando todas as expectativas, preconceitos, interesses, entre inúmeros outros fatores mentais e emocionais que podem interferir na sua avaliação.
Mas o problema não é a visão diferenciada das pessoas. O problema é aquilo que você imagina que será captado!

Esse é o drama a ser enfrentado na preocupação excessiva da imagem física. Uma pesquisa demonstrou que essa dificuldade de auto-percepção, aliada à preocupação em ser bem recebido pelo meio social, pode causar sérios danos à vida. Um deles é o risco de mortes de adolescentes e jovens por anorexia nervosa e bulimia. O outro é uma nova obsessão, a de realizar cirurgias plásticas e outras intervenções a ponto de ir mudando não apenas  detalhes físicos, como a própria personalidade. Em alguns casos o  resultado do exagero também é fatal; em outros transforma a pessoa em um ser com aparência artificial.

Uma em cada três pessoas tem imagem distorcida de si mesma, ainda que esteja com o peso ideal. Entre as mulheres, 31% com peso adequado se acham mais gordas do que deveriam. Curiosamente, entre os homens ocorre o oposto: 25% dos que tem peso adequado se acham mais magros do que deveriam ser...

Há como fugir desse esteriótipo? Difícil. A mídia cria o modelo, por exigência do mercado e os seres comuns do planeta correm atrás desse ideal de beleza.
É a escravidão mental que atinge a maioria das pessoas, independente do grau de instrução ou de sua condição econômica. Aparece na forma da insegurança emocional que recheia o medo de ser observado e julgado pelo meio.
É também um sintoma de que todos julgamos o mundo como se fossemos individuais e solitários!
De qualquer maneira a mulher sempre foi uma das maiores vitimas do modelo social, que eliminava com isso sua força política, ao resumi-la ao aspecto visual.
Na Grécia antiga Vênus de Milo mostrava um corpo feminino forte, sem os extremos exagerados que vemos entre a Renascença, onde a beleza feminina era traduzida em formas quase obesas e excessivamente arredondadas, e os espartilhos do século 19, que deixavam a “cintura de vespa”.  A Vênus aliás conseguiu vencer o tempo como um símbolo da beleza feminina...mesmo estando fora do padrão em muitas fases da história.
Engorda, emagrece, cintura fina, ombros largos e estufados...o corpo feminino já virou quadrado, retângulo, triângulo e trapézio! Pior foi o emagrecimento absoluto que começou a ganhar força após os anos 60, do século XX. As modelos eram tão magras e frágeis que pareciam bonecas.
Hoje a beleza da moda é o corpo magro e malhado, ornado de músculos. No início deste século XXI, onde as protuberâncias são obtidas com próteses e as gorduras sugadas em lipoesculturas e outros novos processos, pretende-se criar a "beleza perfeita"...Se é que isso é possível.  Perfeição artificial tornou o desejo de muitas pessoas, homens e mulheres. Só que o seu conceito ainda é discutível.

A verdade é que a mulher, ao longo da história, sempre foi tratada como objeto decorativo e sofreu pressões relacionadas aos “dotes físicos”. A culpa é da variedade de atributos físicos e de biotipos. Dependendo da época, um biotipo acertava o alvo.
Na Inglaterra do século XV as damas desejavam morrer ao constatar que não possuíam a pele alva o suficiente (apenas camponesas eram coradas), o corpo rechonchudo, a testa larga, olhos largos, cabelos claros (loiros ou ruivos), entre outras especificações, como pés delicados e mãos de seda.
Hoje as adolescentes ficam sem comer e vomitam por ver nas passarelas a magreza absoluta. Modelos têm corpo de eterna adolescente anoréxica, com pernas compridas e finas e corpo longilíneo o suficiente para tornar qualquer pano enrolado o máximo na arte da elegância.
Provavelmente em breve esse tipo cairá de moda. O que virá?
Afinal, o que é bonito e o que é feio? O que esperamos ao tentar nos metamorfosear constantemente? Todos sabemos que a diversidade do elemento humano impede a padronização de um determinado modelo. O que se perde ao se manter uma aparência equilibrada, sem os exageros do momento? A beleza da moda garante a harmonia em um relacionamento? Ou é aval da felicidade?

Para a feminista americana Nancy Wolf, a beleza não passa de uma invenção do homem para escravizar a mulher. Seria um sistema monetário, assim como o ouro. A anorexia seria um dano político causado às mulheres pela necessidade de manter o corpo magro e esbelto a qualquer preço.
Talvez essa seja uma visão extremamente radical, um tanto simplista, mas não deixa de ter algum sentido. Só que hoje não apenas a mulher, mas também o homem  é vítimas de um padrão ditado pela mídia.
A mania da magreza é, naturalmente, cultivada pelo meio cultural e atinge mais intensamente o sexo feminino, embora o padrão de beleza moderno também tenha como alvo o sexo masculino, como "necessidade de mercado". Mas seres humanos não podem ser tratados como mercadoria descartável, ou “modificável”.
Talvez o mundo devesse exigir que as modelos nas passarelas fossem tão diversificadas fisicamente como as criações que vestem. Caso contrário correremos o risco de perder, no futuro, a essência da beleza humana, transformada em seres com aparência alienígena, verdadeiros ciborgs da tecnologia estética.
(Mirna Monteiro)

Monday, November 13, 2006

COR E CONSCIÊNCIA








O "Abaporu"
uma
das obras
mais populares
de
Tarsila do Amaral





Inquieta e criativa, Tarsila do Amaral foi uma mulher à frente de seu tempo. Nascida em 1886, participou de novas fases da arte, como o modernismo e deu início à pintura social no Brasil.

Como mulher, rompeu barreiras de preconceito. Casou-se três vezes. Seu segundo marido foi Oswald de Andrade.

Tarsila estudou com Albert Gleizes e Fernand Léger, grandes mestres cubistas e manteve estreita amizade com Blaise Cendrars, poeta franco-suiço.

Iniciou sua pintura “pau brasil” dotada de cores e temas acentuadamente brasileiros. Em 1926 expôs em Paris. Fez grande sucesso na época.

A sua obra mais conhecida, o “Abaporu”, foi pintada em 1928, como um presente à Oswald de Andrade, que se emplogou com a tela e criou o Movimento Antropofágico.
De 1936 à 1952, Tarsila trabalhou como colunista nos Diários Associados Nos anos 50 voltou ao tema “pau brasil” e em 1951 participou da I Bienal de São Paulo. Em 1963, em uma sala especial, expôs na VII Bienal de São Paulo e no ano seguinte na XXXII Bienal de Veneza. Faleceu em São Paulo, em 1973.











Mamoeiro
























"A Cuca":
folclore
brasileiro






















"Operários" (acima) e "Segunda Classe" (abaixo) : preocupação

com a vida do brasileiro e consciência política estão claras

nas pinturas da fase social de Tarsila
































"Nú" :
sob
influência
do
cubismo

Saturday, October 28, 2006

ONDE ESTÁ A VERDADE?


Por que

as pessoas

mentem

tanto?



Nos velhos tempos dos sofistas, mestres itinerantes do conhecimento politicamente correto, a mentira era utilizada como artifício do poder, ou seja, a verdade era "ligeiramente" deturpada ao sabor das intenções sofistas. Por isso essa palavra ganhou uma conotação perjorativa.
Passados uns 3 mil anos, a mentira parece permanecer inevitável no exercício do poder, seja ele político, econômico, familiar ou social.

E ainda funciona! Velho como a humanidade, pois certamente esse artifício já nasceu com o homem, que para sobreviver precisava enganar seus predadores.
Mas mesmo sendo tão conhecida, é possível reconhecer a mentira? Ou as pessoas disfarçam, aceitando-as como verdade, quando lhes convém, mesmo que reconheçam a sua precariedade?

O problema é que a mentira pode ser extremamente destruidora. Como na política ou nas ciladas criadas pela inveja.Na Filosofia, a mentira é perigosa. É o caso do sofisma.O sofista faz retórica. O filosofo faz dialética.

Na retórica o ouvinte é levado por uma enxurrada de palavras que, se adequadamente compostas, vão persuadir, convencer, mas sem transmitir conhecimento algum. Já na dialética, que opera por perguntas e respostas, a pesquisa procede passo a passo, e não é possível ir adiante sem deixar esclarecido o que ficou para trás. O sofista refuta por refutar, para ganhar a disputa verbal. O filósofo refuta para purificar a alma de sua ignorância

Há quem considere deteminadas verdades destruidoras...Muitos que pedem a franqueza não estão preparados pra poder lidar com a realidade.Há verdades que não precisam ser ditas, assim como há mentiras que são necessárias.













Será que o pensamento livre, crítico, independente poderá prevalecer e a sociedade encontrar e uma forma de convivência baseada na verdade? Admitir a realidade não nos torna mais fortes e preparados para os desafios da vida?

Talvez o problema não seja a franqueza, mas a ausência de isenção ao utilizar a verdade.

Não vamos confundir mentiras com "faz de conta"! Imaginar uma realidade e conduzi-la ao sabor das próprias expectativas, como fazem as crianças nas brincadeiras, faz bem. Tanto é que a criança começa a entrar em choque com a realidade quando ela percebe que o faz-de-conta é muito diferente das mentiras que os adultos começam, logo cedo, a ensinar!

E o pior é que usando de hipocrisia e mentiras, os adultos pretendem que a criança seja absolutamente sincera! Crianças são inexperientes, mas são extremamente sensíveis à toda atitude contrária à natureza.

Da mesma maneira, o faz-de-conta dos adultos, através da ficção, é extremamente salutar. Aliás, é uma mola que impulsiona o mundo! A imaginação humana é premonitória e rica em estímulos para o futuro. Que o diga os grandes escritores de ficção, como Julio Verne!

O mundo seria enfadonho e estático sem a mentira? Os próprios deuses do Olimpo adoravam intrigas e se divertiam com isso. Eu já considero que há um ligeiro engano de interpretação: não é a mentira, mas a falta de imaginação que tornaria o mundo chato.

A mentira é perigosa!

Enfrentar a verdade é a única chance de sobrevivência individual, familiar, comunitária, ou da própria humanidade

Não é possivel concordar com a idéia de que podemos conviver com a hipocrisia e mentirinhas. O desejo da verdade aparece muito cedo nos seres humanos. Há necessidade de confiar nas coisas e nas pessoas


Por isso, neste terceiro milênio, a sociedade entra em choque constatando uma terrível realidade: a mentira está terminantemente contida nos meios de comunicação e expressão, seja eles quais forem. Tornaram-se instrumentos com alto poder de persuasão e de confusão também!

Mas há o contrapeso: é suficientemente capaz de arrancar a esperança de que o pensamento livre, crítico, independente ainda haverá de prevalecer? Que uma forma de convivência mais baseada na verdade possa vir a ocorrer ?

Cresce em nossa sociedade a exigência da verdade, clara e límpida. É o desejo e a necessidade da busca da verdade. Há um sentimento generalizado e crescente de que os valores éticos devem retornar, sob pena de convulsão social.

Em tempos onde o acesso à destruição é quase prosaico, não se pode fingir que mentiras são inofensivas. Seria utópico imaginar uma sociedade, deformada como a nossa sociedade humana, com a herança que possuímos, feita de seres absolutamente honestos e isentos. Mas sabemos que as pessoas são diferentes e é essa diferença que permite equilibrar o mundo. Há pessoas com valores definidos, as tais do "fio de barba", assim como há aquelas que vivem para a malicia, mentira e hipocrisia.


Tão certo como o anseio
do ser humano pela Verdade.
Como sofremos pela falta dela!

Mirna Monteiro

MENTIRAS E MENTIRAS

A mentira reina sobre o mundo!

Assim se expressou Teixeira de Pascoaes, escritor português, em "A Saudade e o Saudosismo", no começo do século XX. Por toda história humana, a Mentira foi tema incondicional de filósofos, escritores e poetas.

Por que? Porque sempre permeou a relação humana, de uma forma ou de outra. Tanto que há "classificações" para a Mentira. Por exemplo:

Mentira piedosa - aquele tipo de mentira que tenta evitar um constrangimento. É quase inevitável, diante da ansiedade de quem espera a resposta que, se verdadeira, causará algum desastre, ainda que aparentemente superficial.

Mentira cruel - aquela que objetiva ofender a magoar e é absolutamente inversa à mentira piedosa, procurando contrariar e causar algum estrago.

Mentira fútil- aquela que é dita por força do hábito, do mesmo jeito que se toma água quando se tem sede.

Mentira defensiva - aquela que objetiva "blindar-se" contra qualquer ameaça, mesmo quando isso é apenas uma subjetividade.

Mentira planejada - essa é a mais terrível forma da mentira. É aquela que desvirtua o meio social, cultural, que provoca catástrofes políticas e guerras. Serve ao poder! Em sua forma mais amena é feita de artifícios e acompanhada de estratégias de manipulação da opinião.
Terrível, de qualquer forma!

Ah, a mentira, quanta dor de cabeça já causou. Não faltaram aos pensadores idéias mirambolantes de detectá-la e anulá-la:

"Se desconfiarmos que alguém mente, finjamos crença: ele há-de tornar-se ousado, mentirá com mais vigor, sendo desmascarado. Por outro lado, ao notarmos a revelação parcial de uma verdade que queria ocultar, finjamos não acreditar, pois assim, provocado pela contradição, fará avançar toda a rectaguarda da verdade", escreveu Arthur Schopenhauer, em "Aforismos para a Sabedoria de Vida" .

Será mesmo? Com o perdão de Schopenhauer, acho esse conselho um risco! Pois sabemos hoje, neste mundo tecnológico e de disputas tão intensamente influenciadas pelo grande poder do terceiro milênio - o da mídia - que deixar o sujeito acreditar que a mentira de fato está fluindo, acaba por faze-lo crer que aquilo que diz é uma espécie de verdade.

Ora, o mentiroso que acredita tanto em sua própria mentira, é o mais perigoso dos enganadores! Pois neste caso a ênfase de seu discurso ganha dimensão de uma possível verdade. E aí, sabe-se lá onde vamos parar!

Mentiras podem ter lá as suas categorias e graus, mas convenhamos, não há mentira inocente. Com isso já concordava Rousseau.

"Para tornar inocente uma mentira, não basta que a intenção de prejudicar não seja expressa, é necessário também ter a certeza de que o erro em que se induz aqueles a quem se fala não poderá prejudicá-los a eles nem a ninguém, seja de que maneira for. É raro e difícil ter-se essa certeza e, por isso, é difícil e raro que uma mentira seja perfeitamente inocente"...

Pois é! Talvez a única mentira menos nociva, ou inocente, seja aquela que, nos dias atuais e cheios de ameaças, tenta proteger a própria privacidade.

Ainda assim, ao admitir a mentira, seja ela romântica ou destruidora, estamos nos violentando. Como negar que a verdade é um valor indispensável? O verdadeiro confere às coisas, aos seres humanos, ao mundo, um sentido que não teriam se fossem considerados indiferentes à verdade e à falsidade.

Que situação, não é mesmo! Não queremos a Mentira, mas não conseguimos estabelecer uma convivência sem que ela esteja imiscuida em nossas verdades.

"Ninguém acredita em ninguém, todos sabem a resposta. Mente-se só para dar a entender ao outro que a alguém nada nele importa, que dele não se necessita, que lhe é indiferente o que ele pensa acerca de alguém". (MM)

Monday, October 09, 2006

O NATURALISMO DE MANET













O naturalismo foi radical e pretendia mostrar a vida, emoções e as situações cotidianas com crueza e o máximo do realismo. Atingiu todas as formas de arte. Surgido no século IXX influenciou muitos artistas, inclusive Manet. Antecedeu o realismo.
Nas suas telas, Manet procurava chegar ao máximo da realidade, nas formas e nas cores. Como todos os grandes artistas, foi muito criticado. Sua temática para as telas era provocadora. Além disso não utilizava as técnicas acadêmicas convencionais nas pinturas.
Edouard Manet nasceu em Paris, em 23 de janeiro de 1832. Morreu em abril de 1883.















Cristo e os Anjos
















Manet pintou Emile Zola, que também integrou o movimento naturalista com sua literatura. Zola lançou sua obra-prima Germinal em 1885, depois da morte de Manet.

Sunday, October 01, 2006

AMORES VIRTUAIS III



















PARTE III
Amor e amores podem acontecer a qualquer momento e independente de circunstâncias programadas. O ser humano teria potencial para amar indefinidamente, não apenas as pessoas com as quais convive ou tem qualquer tipo de contato, mas também com aquelas que sabe que existem, estendendo esse amor à natureza e ao universo como um todo, na consciência da estreita relação entre os seres e as coisas.

Mas assim como o amor é multifacetado – e na variação dos motivos que levam a crer que exista, há situações de grande fragilidade do sentimento, motivado apenas por desejos, a condição do amor virtual se complica.

Fatalmente, a relação virtual, assim como a platônica, tem um prazo, certamente muito mais reduzido do que as paixões no mundo imediato, onde uma série de circunstâncias colaboram para continuidade de encontros.

Provavelmente, quando essa relação se torna apaixonada e envereda pela sexualidade, começa a contagem regressiva. Eros cede espaço à Afrodite. E é nesse tempo que os amantes virtuais chegam a um impasse: viver ou não viver a paixão no mundo real!

É realmente um impasse! O mundo virtual é um espaço protegido, onde somos deuses navegando para onde a imaginação ou a vontade própria indicar. Quando esse espaço deixa de nos oferecer proteção e prazer, é só clicar, que ele desaparece!

Além disso no mundo virtual não há necessidade da mentira, mas em paralelo não há razão também para não fantasiar a própria vida. Informações pessoais podem ser suprimidas (e devem, até por questões de segurança) e o exercício da hipocrisia pode ser dispensado, pois se não há modelo imposto, ou mesmo identidade desnudada, não há necessidade de jogar e auto-proteger-se de palavras ditas por personagens que beiram a ficção!
Mas e diante da possibilidade de inserir esse mundo virtual, no mundo real?

A possibilidade de tudo ruir faz com que muitas relações virtuais bem sucedidas cheguem ao final, com o afastamento. Há muitos motivos que podem desestimular a continuidade desse tipo de relação. Por exemplo, a distância real!
Quando estamos no mundo virtual, não há distâncias, nem condição social, raça ou cor, que realmente surtam qualquer efeito. Por mais que as pessoas tentem manter preconceitos, a mágica do virtual tem o poder de confundi-los e reduzi-los, pois os elementos que aguçam o preconceito, como a pressão moral, a característica física, entre outros, são atenuados ou até mesmo suprimidos. (...)

No momento do enfrentamento real, todos os preconceitos sobem à tona. Todas as idealizações que complementaram a personalidade e a imagem do amor virtual também se aguçam e podem entrar em choque com a constatação de novos elementos que integram a realidade.
Normalmente o resultado do amor virtual, quando pretende a realidade, é acabar assim como começou, no próprio mundo virtual, onde rompantes de paixão e rompimentos são assimilados muito facilmente, pois a grande margem da fantasia que cerca essas relações permitem uma reconstituição da ideia da perda.

(...)Outros resolvem arriscar. A possibilidade da relação ruir e se fragmentar no contato com a realidade continua existindo. Mas também existe a possibilidade dessa relação virtual ter sido construída sobre alicerces, firmes o suficiente para enfrentar qualquer impacto da realidade sobre a inevitável fantasia da superfície.
No final das contas, o amor virtual acaba sugerindo que o simples desejo e a paixão que decorre dele é fruto da construção da fantasia, principalmente quando a sexualidade entra em cena e cria modalidades de paixões.
Paixões virtuais não têm relação, necessariamente, com sexo virtual. O sexo virtual utiliza a relação com o simples objetivo de estímulo e prazer imediato, “descompromissado” e sem qualquer vínculo de afetividade ou compatibilidade.

A variedade de relação no mundo virtual apenas nos mostra o quanto o mundo cibernético ganha espaço na realidade humana. O que deixa cada vez mais próximas e reais as mirabolantes cenas da ficção, onde as pessoas vivem isoladas em cubículos, trabalhando, viajando e mantendo a inteiração profissional, social e pessoal única e exclusivamente através de um mundo virtual sofisticado, e tão realista em poder que permitirá até mesmo a sensação do toque físico. Um mundo que poderá simplesmente retratar que a realidade é subjetiva demais para nos apossarmos dela! ( “Amores Virtuais” de Mirna Monteiro)