Recentemente participei de uma discussão onde a temática girava em torno das artimanhas políticas. Havia evidente indignação nas criticas e opiniões a respeito da classe politica brasileira, com adjetivos nada agradáveis.
De repente uma pergunta primária trouxe um silêncio inesperado: "Como é que nós permitimos isso, gente? Como é que o povo cai nessa situação?"
Pode completar essa cena com a expressão de grande constrangimento geral!
Bem...
Vivemos uma fase de conflitos, onde todos os acontecimentos pressionam para grandes mudanças. Até o momento a sociedade humana mudou muito pouco em sua essência.
Kant acreditava que a dignidade é qualidade inerente ao homem. E que essa dignidade seria determinante do valor moral, de forma que o respeito ao semelhante deveria gerar uma relação emoldurada pela dignidade.
Podemos divagar sobre esse pensamento e arriscar até que ponto as sociedades humanas assimilam em sua cultura a afirmação de que seres humanos seriam mais evoluídos a partir de sua capacidade de valorizar a própria dignidade. Porque ao longo da história humana a dignidade e a honra ocuparam espaços de importância vital, mas sempre foram soterrados pelas ações obscuras e secretas, que ocorriam nos bastidores da filosofia e do imaginário popular.
Intrigas, planos secretos, mentiras e o uso da boa fé do cidadão integram o caldeirão dos grupos que se unem no interesse de dominar a sociedade.
Os soberanos nunca dormiram em paz, conforme podemos observar nos registros históricos. Bons governantes ou déspotas corriam sempre o risco que se escondia nas sombras. As guerras eram travadas com outros soberanos, mas os bastidores do próprio reino sempre foram fonte de conspirações.
Fora desse cenário, convinha manter os cidadãos longe da verdade.
Ao longo da história humana, isso nunca mudou. Os cenários se modificaram, a tecnologia transformou o mundo, mas sempre a serviço de um mesmo senhor: o poder e a manipulação da massa.
Do ponto de vista político, existe realmente diferença entre um camponês do século XVIII e o cidadão dos nossos dias?
Nenhuma, considerando a capacidade de um ou outro de entender o que acontece o seu redor e quais seriam as razões de seu calvário ou de sua rotina menos dolorosa.
Seja em tempos primitivos, seja neste início do Terceiro Milênio, a maneira como o poder domina a sociedade de várias culturas diferentes, ainda é a mesma. Essencialmente, o ser humano é o mesmo, confuso em sua interpretação do que seria ético e preservaria a sua dignidade.
Aí chegamos no começo desta conversa e à observação indignada: "como é que nós permitimos isso, gente?"
Podemos dizer que essa também não é uma pergunta inusitada e foi justamente essa indignação popular que registrou historicamente levantes e revoluções.
Mas por maior que seja a tendência em minimizar as mudanças no estabelecimento da dignidade humana, somos obrigados a admitir que pela primeira vez na história da humanidade- pelo menos na história conhecida da humanidade - há algo diferente, que se coloca frente aos acontecimentos gerados pelos grupos de poder e domínio político. Trata-se de um processo inverso ao domínio da comunicação da massa, cuja cartilha começa a mostrar rupturas e amassados.
Esse processo parece ser inevitável e é fortalecido por novos meios de comunicação e da abertura da consciência do indivíduo diante da dignidade citada por Kant, onde fica latente a necessidade de obediência a leis que partam do próprio cidadão que anseia pela ética.
Leis criadas pelo poder político não estão mais sendo reconhecidas como leis válidas, porque estão entrando em conflito com a necessária preservação da dignidade humana!
O atual Congresso, com parlamentares imbuídos de um poder não reconhecido pelo cidadão, que tentam manipular não apenas decisões democráticas, mas o último reduto da dignidade do cidadão, que é a Justiça ética, limpa e imparcial, está remexendo com as entranhas da sociedade, que pela primeira vez, ainda sem racionalizar o sentimento, está estabelecendo o espírito crítico não apenas individual, mas também coletivo.
Manipulados que começam a conscientizar que são submetidos a essa manipulação, ou a uma falsificação de sua dignidade, deixam de ser influenciados pelos opressores. Estejam eles vestidos de revoltados sem consciência da dignidade, de grande mídia, de parlamentares, de governantes ou de um tipo de Sistema Judiciário que se esconde sob mera linguística, com citações e repetições desnecessárias para justificar atos políticos que a ética popular não reconhece. (Mirna Monteiro)
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