Friday, March 28, 2014

A BURCA COLORIDA DOS OCIDENTAIS

A mulher ainda paga um preço, simplesmente por ser mulher...
Surpreende o resultado de uma pesquisa do Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, que concluiu que 26% dos brasileiros consideram a mulher responsável em casos de ataques sexuais por causa das roupas que veste.
O choque desta informação é óbvio principalmente por um fato que é incontestável: ainda existe a ideia de que a mulher é um objeto, pronto para ser usado. Afinal vivemos entre modismos, onde as roupas se tornam justas e reveladoras por força do estilo imposto pelo mercado, e a quase nudez é fator climático, em um país tropical  onde a roupa de banho é ínfima e decotes e saias curtas são naturais.
Isso nos faz lembrar a rigorosidade de países do Oriente Médio, onde o ar do deserto e o sol escaldante não substituiu ainda o peso das burcas. É claro que no sol do deserto o tecido protege a pele, mas a permanência da tradição da vestimenta que cobre todo o corpo, inclusive o rosto, é essencialmente dominadora, marcando a submissão da mulher e eternizando a sua dominação.
A grosso modo, boa parte dos brasileiros ainda acredita que tem direito de usufruto sobre corpos expostos...mesmo que essa exposição seja politicamente correta. Ao mesmo tempo o homem denuncia-se como um "ser animal", não pensante e sem controle sobre o que ele considera um apelo sexual. Olhar a fêmea, despertar seus instintos, e tornar-se um predador impulsivo...
Interessante observar que essa linha tênue, que separa o instinto sexual legítimo, da agressividade criminosa sobre outro ser humano, se confunde em nossa cultura, apesar de não ser claramente admitida. Permanece como óleo na água, sem misturar-se, mas absurdamente latente e real, cruel e ameaçadora.
Em termos gerais indica que não houve ainda evolução suficiente para que a mulher possa considerar-se em condição equivalente ao homem.
Muito pelo contrário, as próprias mulheres são preconceituosas em relação ao sexo feminino.
Outro dado da pesquisa mostrou que a maioria dos entrevistados eram mulheres e dessas 63% afirmaram que "problemas domésticos devem ser discutidos em casa", mesmo quando envolvem violência do homem contra a mulher ou as crianças.
Nesse ponto devemos parar e analisar com cuidado os fatores que levem a esse tipo de situação. É preciso considerar a insegurança feminina em relação à estabilidade familiar. Denunciar o marido equivale a uma espécie de ruptura na relação. É recurso considerado extremo, quando qualquer outro não surte efeito e o desenlace da família parece a única saída.
De uma maneira geral, dizer que a mulher obteve avanços sociais e culturais ainda é prematuro. O fato de estar ocupando espaços cada vez maiores no mercado de trabalho demonstra que é mais autônoma em relação à sua sobrevivência. Mas não, necessariamente, que tenha atingido uma posição de igualdade.
Talvez de maior sobrecarga. A mulher de hoje carrega nas costas o peso da família, principalmente quando acaba o casamento e as leis acabam beneficiando o homem "que precisa refazer a sua vida", liberando-o hipocritamente de assumir o peso da responsabilidade familiar ou pelo menos a metade equivalente das responsabilidades sobre os filhos, mesmo quando goza
de situação financeira privilegiada.
São tantas as disfunções que a sociedade enfrenta em relação à mulher, que "avanços" comemorados precisam  ser analisados com maior prudência. O papel exercido pela mulher  na família, por exemplo, está em falta: ninguém assumiu essa função, que é empurrada para a escola e mantém à deriva o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Não há mudança que a mulher possa promover, se não houver simultaneamente a mudança do ser masculino.
E em meio a tudo isso, a mulher ainda depende de cuidado no vestir, de maneira a "não provocar" interpretações erradas ou despertar a sexualidade ou a agressividade no homem..
É uma situação triste, mas também ridícula. Talvez a burca resolva o problema, não é assim? Uma burca colorida, bem ocidental e disfarçada, na exata medida da confusão cultural que insiste em olhar a mulher como uma boneca inconveniente!...(Mirna Monteiro)