Vinte milhões de pessoas no mundo tentaram acabar com a própria vida durante o ano. Pelo menos um milhão conseguiu morrer por métodos variados, alguns inesperados. Os dados são da ONU e projetam a escala crescente de atos suicidas.
O que leva a um aumento tão dramático do suicídio? Essa ação acontece com maior frequência em países do leste europeu, como Lituânia e Rússia, mas sempre manteve uma ocorrência considerável em outros países com cultura e ambiente diferentes, como o Japão.
Nos últimos tempos atentar contra a própria vida tem ocorrido de maneira inesperada. Soldados americanos por exemplo. No mês de julho o Pentágono foi surpreendido com um número recorde de suicídios nas tropas: 38 soldados!
Mas a pressão psicológica não se limita à tropas de combate. Este ano cresceram as tentativas para acabar com a própria vida na Europa, em lugares como a Grécia, que passou por graves problemas econômicos e aplicou medidas rigorosas para conter o déficit público e o endividamento do Estado. Aposentadorias foram fortemente afetadas pelos cortes. Um homem de 77 anos atirou contra a própria cabeça em uma praça em frente ao parlamento de Atenas, acusando o governo de traição.
Pode ter sido um gesto dramático, mas não raro. Entre quatro paredes e sem alarde as tentativas de suicídio acabam realmente atingindo o objetivo. O medo de enfrentar a pobreza parece ser um motivo comum. Em Milão, na Itália, pequenos empresários, profissionais liberais e desempregados encabeçam a onda de suicídios que comove o país, que criou uma rede de ajuda psicológica para ajudar aos interessados.
Algo assim como o CVV (Centro de Valorização da Vida) no Brasil, que mantém apoio via telefone.
Os suicídios estão preocupando tanto, que até sites de relacionamento como o Facebook mantém um tipo de serviço para socorrer quem pretende atentar contra a própria vida, via e-mail ou telefone.
EUA, Europa e Asia estão na metade da escala de crescimento dos suicídios. Os países da America Central e do Sul, como o Brasil, mantém as taxas mais baixas.
Desgaste emocional
Parece não faltar motivos e muito variados para que alguém pretenda resolve-los acabando com a vida. O ato em si entretanto é motivo de estudos e discussões polêmicas, porque o ambiente não seria o fator gerador do suicídio, mas sim estimulador.
O medo da sobrevivência sem dúvida pesa e muito. A onda de suicídios na Coréia do Sul, há uns dois anos, quando morreram 40 pessoas por dia atirando-se do alto de prédios inclusive, coincidiu com a crise financeira asiática.
Na verdade o número de suicidas é infinitamente maior do que mostram as estatísticas porque nelas não estão contabilizados os casos de lenta degradação, como no consumo de drogas e potencialização de outros riscos como o hábito da alta velocidade nas estradas...
Para Schopenhauer, a vida era um erro e a morte nada mais seria do que a correção desse erro existencial. Uma maneira cômoda de evitar os desafios da existência.
Morrer em uma guerra ou vitima da violência das ruas, no trânsito ou no ataque marginal, é uma fatalidade. Mas acabar com a própria existência contraria o instinto, que é sobreviver em qualquer circunstância. Talvez as artificialidades da vida moderna e a necessidade de trabalhos repetitivos, robotizados, em longas jornadas, exasperem a alma humana e acabem tornando a visão da vida frágil. A ponto de torná-la dispensável quando a pressão - ou depressão - aumentam.
Para a maioria das pessoas, o suicídio é uma maneira extrema de mostrar domínio sobre a vida, agredindo o meio na linguagem cifrada de desprezo. No entanto a tradução mais realista mostra apenas o medo, a sensação de estar sem forças para superar situações que são ameaçadoras. Seria portanto um ato de covardia, um reconhecimento da inabilidade em lidar com a vida.
O ato suicida é um ato desesperado, que pode ser evitado na maioria dos casos com a discussão sobre os motivos e uma nova interpretação a respeito do futuro. A vida não é estática, modifica-se mais do que a rotina permite perceber.
Seria o momento da "respiração": cada vez mais, na rotina moderna, respira-se menos e pior e esse fato interfere na capacidade humana de renovar-se e evitar a depressão. Acumula-se informações em excesso, mas o pensamento é cada vez mais desprezado em função da mentalidade superficial.