Wednesday, September 12, 2012

TIA NASTÁCIA, GRANDE PERSONAGEM DE LOBATO

Tia Nastácia era uma negra de beiços grandes, amada por todos que a conheciam, cozinhava divinamente e vivia em um sítio onde a criatividade e a fantasia faziam parte da realidade. Por uma dessas interpretações preconceituosas, está sendo considerada vítima de racismo e foi parar em audiência de conciliação no Supremo Tribunal Federal, porque o livro "Caçadas de Pedrinho" foi liberado para adoção no Programa Nacional Biblioteca na Escola.
Considerar racista a obra de Monteiro Lobato, que escreveu vários livros ambientados no sítio do Pica-Pau Amarelo que se tornaram clássicos da literatura infantil brasileira, é no mínimo absurdo. As obras, como Reinações de Narizinho, foram escritas há 90 anos e encantaram justamente por interagir com o mundo infantil de maneira inteligente, estimulando a imaginação e o conhecimento, mas mantendo uma relação entre suas personagens de igualdade e ética.
Não apenas entre as pessoas. Os animais e os vegetais também deixavam seu espaço isolado na natureza para interagir e mesmo os vilões, quando não eram sobrepujados pelos heróis, acabavam sucumbindo à força da ética.
Parece completamente disparatado querer relacionar a obra a algum tipo de "estímulo ao racismo". A negra tia Nastácia é um retrato da cultura da época, passando a imagem de uma pessoa simples, amável e alegre, que era de certa forma a crítica das estrepolias da boneca Emília, assumindo uma personagem mais importante do que a própria D. Benta, avó de Pedrinho e Narizinho. Apesar de resmungos da boneca, a ideia final não passa racismo, embora demonstre circunstâncias históricas e culturais.
Cozinheira de mão cheia, encantava as personagens com seus bolinhos e era amiga e confidente de D.Benta. No começo do século XX as mulheres negras costumavam trabalhar nessas funções nos sítios, fazendas ou casas na cidade, onde permaneciam tanto tempo que mesclavam-se às famílias, tornando-se parte delas. É uma realidade histórica, não um relato racista.
A literatura racista seria aquela que provoca a diferença entre as raças e discrimina as pessoas de maneira artificial. Não a Nastácia de Monteiro Lobato, mas a mulher que ela é, independente da cor, poderia se considerar vítima de racismo e preconceito não apenas historicamente, mas em uma infinidade de livros publicados em diferentes épocas no mundo.
A figura feminina é retratada de maneira evidentemente preconceituosa em obras consideradas clássicos da literatura. Mas não teria cabimento banir da leitura essas obras, pois apesar de discriminar a mulher de diferentes maneiras e em muitos casos até promover a violência, é um retrato social.  Mostra a mentalidade de cada época, o drama vivenciado por esse preconceito.
Livros registram a história, mesmo quando assumem a imaginação e criam uma realidade improvável. Não importa se somos brancos, pretos, amarelos, homens, mulheres, feios ou bonitos (ah, quanto preconceito aos  feios encontramos na literatura!). O que importa é que essas diferenças óbvias entre as pessoas sejam tratadas com a igualdade ética, que preserva ao final a importância do respeito não apenas ao próximo, mas à natureza como um todo. Afinal o sábio Visconde de Sabugosa era uma espiga de milho e Narizinho casou-se com um peixe...
Essa sutileza está presente na literatura de Monteiro Lobato, que parecia entender o universo infantil. Tia Nastácia, preta, gorda, mas  inesquecível, amada pelas personagens das histórias e pelos leitores de suas aventuras. Longe de tornar a negra Nastácia discriminada, Lobato a fez integrar em definitivo o universo dos heróis de suas histórias. (Mirna Monteiro)

Saturday, September 01, 2012

TERRA, PLANETA TERRA...


 Desde que o mundo teve contato com a ficção que mostrava uma nave espacial comandada pelo próprio computador - aquele que resolveu rebelar-se contra a intervenção humana, livrando-se de seus tripulantes - e décadas depois criou robôs sentimentais, as pessoas andam preocupadas: o ser humano será sobrepujado pelas máquinas?
Pronto, está criada a "síndrome do descarte"! Seres humanos são um estorvo à natureza! Vivem em conflito emocional, sofrem de impulsos autofagistas e cospem no prato em que comem! Robôs são extremamente "cleans", contanto que sejam à prova de ferrugem. Como são máquinas, podem realizar proezas, como arremessar um incômodo mortal a um quilômetro de distância, ter visão de raio X e soldar seus próprios parafusos quando eles não se mantiverem devidamente enroscados! 
Já o ser humano...que raça complexa! Quando esses seres dirigem máquinas, tem o poder de descontrola-las. Adoram ajusta-las de maneira a torna-las letais e furiosas. É claro que temem uma revolução das máquinas desde o início da revolução industrial, quando descobriram que por mais simples que seja o mecanismo, ele sempre será mais confiável do que a frágil potência humana.

Por esse motivo está na moda prever um levante da inteligência artificial. Isso quando não se fala da fúria da natureza, com uma série tão grande de catástrofes, que já é preciso organizar um catálogo para descrever as nossas tragédias. Ninguém explicou ainda se nossos robôs inteligentes vão reinar antes ou depois do fim do mundo, mas uma coisa é certa: tanto em um caso, como em outro, os seres humanos parecem estar descartados da história futura!
Mania de descarte! Complexo de inutilidade no planeta...qualquer coisa assim. A sociedade humana anda mesmo se auto-depreciando. O espírito de derrota sobrepuja a força de mudança. Já temos pedaços de nossa história enterrados, memórias do nosso planeta Terra em cápsulas do tempo, aqui e acolá, em vários paises, inclusive no Brasil. Que por falar  nisso teve uma cápsula do tipo, em uma cidade brasileira, espirrada pelo esgoto em um retorno prematuro à superfície. O saneamento básico é o fim do mundo, mas se continuar expulsando a nossa memória ainda temos o recurso de sondas espaciais que levam informações de nosso planeta registradas em um disco, como a do Voyager! 

 Aparentemente, estamos mesmo preparados para um final da história. O problema é que não se sabe ainda se realmente somos sensíveis a ponto de pressentir o fim ou se estamos apenas exagerando nossos complexos aqui já relatados. No entanto podemos ter certeza de que mesmo com todo esse ar de tragédia no ar, as piores qualidades humanas continuam a atuar, aparentemente sem preocupação de ter de prestar contas em algum tribunal intergalático ou terreno.
Se não vier o fim do mundo, vamos ter muito trabalho para arrumar o planeta! (Mirna Monteiro)