Volta e meia aparece a dúvida: em quem acreditar? No que acreditar? A insegurança sobre a verdade não é característica de pessoas jovens, assim como a certeza não é privilégio de quem viveu muitas décadas.
Sob essa ótica (verdadeira?) estamos todos no mesmo barco, o da incerteza sobre as coisas e isso pode ser angustiante! Nietzsche, ele próprio exasperado com as próprias dúvidas em uma época onde tudo era contestado de maneira extremamente econômica, concluiu que a busca da verdade não passava de simples necessidade humana de se sentir em segurança. Um mundo que "não se contradiz", seria um mundo mais confiável, com conceitos baseados na crença de valores imutáveis e, portanto, aceitos como verdade universal.
Bem, de qualquer forma nós temos nossas verdades universais. Por exemplo a igualdade entre os homens e o respeito à natureza. Naturalmente são verdades óbvias oriundas da necessidade de sobrevivência, entre outras que surgem da relação histórica do homem com o meio.
O que sabemos é que o reconhecimento da verdade, ou de alguma realidade que possamos assumir como determinante, parte de nossa capacidade de sentir a vida. O conhecimento sobre si mesmo modifica o reconhecimento da verdade. E como acreditava Sócrates, só age erradamente aquele que desconhece a verdade e, por extensão, o bem. Nesse caso permanece boiando na incerteza, ou esperneando se assim lhe ditar o temperamento, mas em ambos os casos provocando desequilíbrio e caos ao meio.
Como mestre que pretendia ensinar a pensar, sem impor uma verdade do próprio punho...ou do próprio pensamento, Sócrates colocava a busca do saber como o caminho para a perfeição humana e, por tabela, para obter a sensação de segurança que permite um enfrentamento mais tranqüilo de nossas dúvidas a respeito do que seria a verdade e a mentira.
Bem, 400 anos antes de Cristo e já se sabia o que hoje ainda constatamos. Por mais que seja teorizado o assunto e por mais que os pensadores sejam rebuscados e retóricos, realistas, fatalistas ou neuróticos, a verdade é que o drama do "onde está a verdade", resume-se a esta simples lógica socrática: observe, pense, aprenda e deduza!
Se a verdade necessita de sabedoria para ser detectada, a mentira basta a si própria, infelizmente. A sorte da humanidade é que seu tempo de vida é curto. Por isso devemos considerar a sabedoria popular, quando diz que "toda mentira tem perna curta". Aliás todos temos sempre uma boa interpretação da mentira. Rápida como o bote de uma cobra (uma mentira dá a volta ao mundo antes mesmo de a verdade ter a oportunidade de se vestir, ironizou Churchill) ou vital para a sobrevivência de alguns (A mentira é muitas vezes tão involuntária quanto a respiração, observou acertadamente o escritor Machado de Assis) a mentira é o avesso do conhecimento sem deixar de ser ilustradora da verdade (não ser descoberto em uma mentira equivale a dizer uma verdade...)
É nessa relatividade que se apoiam os grandes mentirosos da humanidade, antigos e atuais. Hitler achava que para convencer a massa era preciso uma grande mentira, cercada de muita bagunça e atritos, pois assim o caos formado esconderia ainda mais a verdade. Tinha razão, sem dúvida! É óbvio que para se conseguir impor uma mentira há necessidade de se impor o caos e a insegurança...aquele estado citado por Nietzsche, onde as convicções podem ser mais perigosas para a verdade do que a própria afirmação mentirosa!
Acreditar, portanto, parece ser a arte de desvendar o que se passa atrás das grandes afirmações, das grandes mentiras e das supostas verdades. Uma arte que começa com o conhecimento do temperamento humano que habita em todos nós e o reconhecimento de nossas fraquezas. (Mirna Monteiro)