Quando você olha no espelho, vê a mesma imagem que outras pessoas fazem de você? Se respondeu sim, é bom parar e observar muito bem a situação.
Quando outra pessoa olha para você, ela vai enxergar através do próprio prisma, considerando todas as expectativas, preconceitos, interesses, entre inúmeros outros fatores mentais e emocionais que podem interferir na sua avaliação.
Mas o problema não é a visão diferenciada das pessoas. O problema é aquilo que você imagina que será captado!
Esse é o drama a ser enfrentado na preocupação excessiva da imagem física. Uma pesquisa demonstrou que essa dificuldade de auto-percepção, aliada à preocupação em ser bem recebido pelo meio social, pode causar sérios danos à vida. Um deles é o risco de mortes de adolescentes e jovens por anorexia nervosa e bulimia. O outro é uma nova obsessão, a de realizar cirurgias plásticas e outras intervenções a ponto de ir mudando não apenas detalhes físicos, como a própria personalidade. Em alguns casos o resultado do exagero também é fatal; em outros transforma a pessoa em um ser com aparência artificial.
Uma em cada três pessoas tem imagem distorcida de si mesma, ainda que esteja com o peso ideal. Entre as mulheres, 31% com peso adequado se acham mais gordas do que deveriam. Curiosamente, entre os homens ocorre o oposto: 25% dos que tem peso adequado se acham mais magros do que deveriam ser...
Há como fugir desse esteriótipo? Difícil. A mídia cria o modelo, por exigência do mercado e os seres comuns do planeta correm atrás desse ideal de beleza.
É a escravidão mental que atinge a maioria das pessoas, independente do grau de instrução ou de sua condição econômica. Aparece na forma da insegurança emocional que recheia o medo de ser observado e julgado pelo meio.
É também um sintoma de que todos julgamos o mundo como se fossemos individuais e solitários!
De qualquer maneira a mulher sempre foi uma das maiores vitimas do modelo social, que eliminava com isso sua força política, ao resumi-la ao aspecto visual.
Na Grécia antiga Vênus de Milo mostrava um corpo feminino forte, sem os extremos exagerados que vemos entre a Renascença, onde a beleza feminina era traduzida em formas quase obesas e excessivamente arredondadas, e os espartilhos do século 19, que deixavam a “cintura de vespa”. A Vênus aliás conseguiu vencer o tempo como um símbolo da beleza feminina...mesmo estando fora do padrão em muitas fases da história.
Engorda, emagrece, cintura fina, ombros largos e estufados...o corpo feminino já virou quadrado, retângulo, triângulo e trapézio! Pior foi o emagrecimento absoluto que começou a ganhar força após os anos 60, do século XX. As modelos eram tão magras e frágeis que pareciam bonecas.
Hoje a beleza da moda é o corpo magro e malhado, ornado de músculos. No início deste século XXI, onde as protuberâncias são obtidas com próteses e as gorduras sugadas em lipoesculturas e outros novos processos, pretende-se criar a "beleza perfeita"...Se é que isso é possível. Perfeição artificial tornou o desejo de muitas pessoas, homens e mulheres. Só que o seu conceito ainda é discutível.
A verdade é que a mulher, ao longo da história, sempre foi tratada como objeto decorativo e sofreu pressões relacionadas aos “dotes físicos”. A culpa é da variedade de atributos físicos e de biotipos. Dependendo da época, um biotipo acertava o alvo.
Na Inglaterra do século XV as damas desejavam morrer ao constatar que não possuíam a pele alva o suficiente (apenas camponesas eram coradas), o corpo rechonchudo, a testa larga, olhos largos, cabelos claros (loiros ou ruivos), entre outras especificações, como pés delicados e mãos de seda.
Hoje as adolescentes ficam sem comer e vomitam por ver nas passarelas a magreza absoluta. Modelos têm corpo de eterna adolescente anoréxica, com pernas compridas e finas e corpo longilíneo o suficiente para tornar qualquer pano enrolado o máximo na arte da elegância.
Provavelmente em breve esse tipo cairá de moda. O que virá?
Afinal, o que é bonito e o que é feio? O que esperamos ao tentar nos metamorfosear constantemente? Todos sabemos que a diversidade do elemento humano impede a padronização de um determinado modelo. O que se perde ao se manter uma aparência equilibrada, sem os exageros do momento? A beleza da moda garante a harmonia em um relacionamento? Ou é aval da felicidade?
Para a feminista americana Nancy Wolf, a beleza não passa de uma invenção do homem para escravizar a mulher. Seria um sistema monetário, assim como o ouro. A anorexia seria um dano político causado às mulheres pela necessidade de manter o corpo magro e esbelto a qualquer preço.
Talvez essa seja uma visão extremamente radical, um tanto simplista, mas não deixa de ter algum sentido. Só que hoje não apenas a mulher, mas também o homem é vítimas de um padrão ditado pela mídia.
A mania da magreza é, naturalmente, cultivada pelo meio cultural e atinge mais intensamente o sexo feminino, embora o padrão de beleza moderno também tenha como alvo o sexo masculino, como "necessidade de mercado". Mas seres humanos não podem ser tratados como mercadoria descartável, ou “modificável”.
Talvez o mundo devesse exigir que as modelos nas passarelas fossem tão diversificadas fisicamente como as criações que vestem. Caso contrário correremos o risco de perder, no futuro, a essência da beleza humana, transformada em seres com aparência alienígena, verdadeiros ciborgs da tecnologia estética.
(Mirna Monteiro)