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Tuesday, June 14, 2011

TENTAÇÃO, DÍVIDAS, USURA E VICE-VERSA

De acordo com o Banco Central pelo menos 80 milhões de brasileiros têm alguma dívida...isso nos faz pensar que há mais mistérios na mentalidade que leva ao consumo do que o bolso do cidadão poderia supor!
Por que acumulamos dívidas? Por que motivo compramos a crédito? Afinal, os juros são sempre extorsivos,  prontos para afundar quem se atrever a ultrapassar o dia exato do vencimento de uma fatura, ou do cheque especial!
A verdade é que por mais consumista que seja este nosso mundo tecnológico e global e por mais capital que gire e role a moeda em seu verso e anverso, o ser humano sempre foi vítima da tentação do consumo, desde que a moeda de troca foi inventada!
Possuir tem conotação de poder. Quem tem poder tem maiores chances de sobrevivência, já sabiam nossos ancestrais.
Dinheiro e consumo são condições muito próximas no imaginário popular. Antes serviam à sobrevivência. Hoje servem a roda econômica.
Mas em qualquer tempo, gastar mais do que se possui é um grande problema!
A dívida nos tempos do fio de barba, que valia mais do que as dezenas de assinaturas nas papeladas exigidas pelos credores modernos, era coisa séria! Em uma sociedade onde todos se conheciam pelo nome de seus antecessores e onde o peso da família determinava a aceitação de sua descendência, compromissos eram honrados ao pé da letra e portanto os exageros eram descartados.
Inclusive aqueles assumidos com os deuses. Com algum cuidado, para não despertar a ira divina.
Mas se nos velhos tempos quem economizava era chamado de sovina, hoje é considerado precavido. A premência do consumo atinge quase todos os aspectos da vida do cidadão moderno. Tudo tem um preço, nada é de dadivoso.
Paga-se para nascer, paga-se para viver, paga-se para morrer.
Eis aí o fator que leva o homem moderno a acumular seus débitos: ansiedade com o meio em que vive. É preciso possuir muitas coisas e ao mesmo tempo nunca antes as coisas foram tão descartáveis. Para estudar é preciso pagar e para pagar é indispensável trabalhar e para trabalhar é preciso gastar com vestuário e transporte e assim a coisa vai longe.
Parece que vivemos em função do consumo.
Muitos procuram explicar a  origem dessa voracidade em comprar e as dívidas crescentes de cartões de crédito, que desembocam em inadimplências surpreendentes! 
Estamos irremediavelmente submissos ao poder do consumo?
Somos escravos da força do marketing que afaga nosso ego, mas também fornece a impressão de que somos únicos e que nossa individualidade não se perderá na massa consumidora, se comprarmos aquele carro, aquele vestido, aquela cadeira....há quem diga que consumir libera endorfina...melhora a sensação de vazio, os hormônios desregulados da TPM, a impressão de solidão ou frustrações em geral.
O que leva a uma dúvida: ora, se consumir, comprar, adquirir, é tão prazeroso e vital, como é que se vivia antes da era dourada do consumo, que começou lentamente no século XX e estourou ao final dele e já mostra sinais de descontrole neste início do século XXI? 
Nem sempre foi assim...ou foi? A sociedade humana moderna é sustentada pelo giro da moeda, mesmo antes da revolução industrial. Eram tempos onde não havia conta de energia elétrica, de água e esgoto...mas que em compensação possuia prazeres da bebida, comida e viagens que eram incomuns e onerosas. E inacessíveis para a esmagadora maioria das pessoas.
Isso faz lembrar do homem conhecido como pai do socialismo ( juntamente com Engels) nascido em 1818...Karl Marx! Ele mesmo! Pois Marx sofreu suas primeiras decepções com o sistema quando estudava Direito em Bonn. Tinha grande dificuldade em lidar com coisas práticas da vida e acumulou dívidas sobre dívidas, desesperando a família.
Não foi má sorte de iniciante. Ele gastava mais do que podia. Dois semestres depois, em Berlim, os estudos do Direito continuaram precários, ainda que Historia e Filosofia fossem menos mal, mas as dívidas iam de vento em popa. Mesmo décadas depois Marx enfrentava esporádicas penhoras da sua mobília por dividas não saldadas...

Consumir sempre foi uma vocação da humanidade. Pelo menos na escala cultural  que foi criada artificialmente para a separação de classes e a manutençao de poder politico.
Ao escrever seu primeiro livro, "Diário de um escritor", Dostoiévski, considerado fundador do Existencialismo, também foi acumulando dívidas e apenas valorizou a vida, tornando-se mais parcimonioso, depois de enfrentar o pelotão de fuzilamento do Czar. Não por causa das dívidas, mas por desavenças políticas!
Sinceramente, seria injusto justificar a dívida na história humana como proveniente unicamente da fraqueza e do desejo de consumo. Ter e cada vez possuir mais! O desejo sempre atormentou o ser humano e o levou a atos desregrados!
Mas a especulação e a tendência a lucrar nas situações mais diversas é a "mãe" da dívida!
A dívida surgiu com o habito (ou pecado) da usura, certamente muito antes da Era Cristã ter início! Ora, se não há ambição e abuso do ganho fácil, as dívidas não existem!

Brasileiros devedores...há situações tão ou mais dramáticas pelo mundo, no Ocidente ou no Oriente. Do ponto de vista do consumo podemos citar alguns recursos bastantes perigosos para quem não pretende viver a vida pendurado em débitos. Como o aparentemente inocente cartão de crédito! Terrível, um vira-casaca da pior espécie, pois se não for saldado na data certa se transforma de amigo fiel em inimigo feroz e implacável, destroçando a economia de suas vítimas e tornando-as dependentes eternas. Empréstimos em geral, tão perigosos na era da informática com seus juros modernos, quanto nos tempos primitivos da usura...após a Idade Média, porque antes a prática da usura ou do dinheiro que gerava muito mais dinheiro era proibida!
Incrível? Pois assim era!
Pelo visto, com tantos estímulos e apelos, será sempre difícil livrar-se das dívidas. Dívidas parecem encarnar a  razão do homem. Comprovação da superficialidade humana? Ou uma marca indelével do caráter de sua sociedade, que não pode ser corrigido?
Sabe-se lá!  Mas como todo exagero, faz mal. Andam falando por aí em uma tal de "síndrome do endividado", que provoca reações inesperadas e lesivas ao meio. Melhor pensar em reduzir a usura, equilibrar o consumo e trocar tentações pela observação de hábitos de vida esquecidos, mais saudáveis. Mesmo que muitos garantam que assim seria cozida a falência do sistema, poderia ser um alinhavo em uma nova fórmula de vida onde os sérios problemas econômicos fossem superados graças a uma nova mentalidade na economia mundial, menos artificial e mais consistente. As aparências enganam e o excesso de supérfluos poluindo o ambiente não assegura, em absoluto, um futuro. (Mirna Monteiro)

LEIA TAMBÉM:
http://artemirna.blogspot.com.br/2017/06/complexo-de-classe-social-e-complicado.html

1 comment:

  1. Anonymous12:19 PM

    Hábitos de vida mais saudáveis e esquecidos..seriam? pergunto isso pq para se alimentar bem, sai caro, para se vestir bem, sai caro.. o que me vem a cabeça é o andar a pé, q diminui o gasto com carro e ainda traz benefícios de caminhada. É complicado, a remuneração de muitos profissionais precisa de reajuste. Poucos ganham muito, e muitos ganham pouco.A base para o ajuste de salários varia de acordo com uma série de fatores. Embora exista este problema, realmente, é possível saber administrar melhor o dinheiro, segurar a tentação. Não precisa viver a luz de velas, mas diminuir o tempo no banho por ex, já um grande começo..rs

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