Muita maldade e intriga! Ou, pelo menos, muita fofoca e mentira, enrolação, dissimulação, etecetera e tal. A ficção não vive sem os seus vilões, seja na literatura, seja na dramaturgia. Principalmente nas novelas da TV: história que se preze deve ter a força maligna, em maior ou menor escala!
Mesmo que seja a de um vilão trambiqueiro e simpático, nem tão malvado, mas com o caráter difuso...
Naturalmente, a ficção copia a vida real e a dimensiona de formas diferentes, valendo-se do poder da criação.
Algumas histórias podem ter seus vilões atrapalhados. A maldade acaba ficando por conta das encrencas criadas pelas fofocas e ambições moderadas. Fofoca é diferente de intriga. Pode causar um grande mal, mas as personagens fofoqueiras são criadas com material diferente das intrigas!
Fofoca é produto da inveja, da ausência de caráter, da sensação de inferioridade no mundo. O fofoqueiro é um falastrão, um passional, que aproveita os fatos e os distorce, tentando obter vantagem dessa situação, ainda que seja um transitório sentimento de vitória.
Já a intriga é calculista, maquiavélica, planejada em detalhes e projetada com ênfase pelo seu arquiteto, o vilão maldoso, com ódio do mundo, psicopata ou não, mas sem dúvida, sem intenção de remorsos em seu planejamento e execução. A intriga é fruto do supérfluo, da necessidade de poder e do descaso com o futuro.
Na literatura clássica um dos vilões mais maquiavélicos ficou por conta da criada Juliana, no romance de Eça de Queirós, "O primo Basilio". Essa personagem pressionou tanto a sua presa, a ingênua e infiel Luiza, que acaba pondo a perder seus sonhos de rica "aposentadoria", pois exagera na dose do maquiavelismo.
Na verdade, Eça de Queirós foi cruel em sua punição aos fracos de caráter, que seriam vilões ou vítimas (não há heróis, decerto, nesta história) e além da morte de Luiza e da seca Juliana, intrigueira de primeira linha, até o pobre do marido Jorge acaba punido de roldão!
A figura de Juliana, a criada, é semelhante a de outra personagem vilã que recheou muitos romances, principalmente policiais: o mordomo. Agindo nas sombras e conhecendo detalhes da vida de todos a quem servia, esse tipo de vilão saboreava lentamente as intrigas e seus objetivos.
Desde os tempos de Barba-Azul até os mais novos vilões da ficção científica muita coisa mudou, inclusive a virulência, a violência e a carga de maldade, aliada aos recursos dos novos malvados cibernéticos, que podem contar em suas intrigas e maldades com a profusão tecnológica - afinal, as intrigas de hoje acabam sendo muito mais perniciosas e destruidoras. São de grande amplitude!
Os novos vilões não causam estragos individuais, mas sociais e ecológicos. Ameaçam a sobreviência da raça humana.
Apenas não mudaram em um aspecto: seja nas famosas "fofocas" dos deuses da Mitologia Grega, seja nos contos infantís da Idade Média ou nos sofisticados intrigueiros do mundo moderno, a intriga continua a mesma. Aliás, como sempre, potencialmente perigosa e com encaixe em qualquer tipo de vilão.
Um prato cheio!
(Mirna Monteiro)
Interessante observar que por toda a historia a intriga derrubou impérios e criou mortandades imensas provando sua nocividade mas igualmente a sua existência como mal
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