Tuesday, March 15, 2011

O COLETIVO E A HISTERIA

Há um certo pânico pairando no ar. Não se trata apenas do medo da natureza e de sua força, que mostra o quanto o ser humano é frágil diante de fenômenos como terremotos, maremotos, vulcões e furacões. O problema parece ter sua origem justamente na desatenção do homem ao meio e de sua insistência em considerar possível viver isolado de todo movimento natural - da terra, da água, do ar e dos próprios semelhantes. 
A vida parece estar sofrendo uma lenta asfixia de valores e, portanto, das oportunidades de sobreviver dentro de uma ordem que favoreça o futuro. Podemos  observar disparidades que demonstram bem esse processo. Um mesmo culto onde o objetivo é louvar o amor e esperança utiliza cenas impressionantes de tapas, socos e berros, onde supostamente pastores exorcizam alguns fiéis endemoniados. Se somos presas do demônio e necessitamos de exorcismos, estamos complicados, pois não daremos conta da demanda! Ou pretende-se com essa violência convencer os genes a criar um novo comportamento...não é impossível, já que a ciência admite que o gene é mais atuante e transformador do que imaginamos.
Seja como for, comportamentos estão se transformando radicalmente.
Imagine a cena em  um mosteiro que teve de ser fechado porque as pacíficas irmãs agrediram a substituta da madre superiora, que havia falecido, com socos e arranhões. Não gostaram da substituta! 
Uma cena tão berrante quanto a de dois sujeito espancando-se mutuamente no meio do trânsito de Sâo Paulo por causa de uma "fechada", que acabou se transformando em uma perseguição surreal em ruas congestionadas.
Em um momento onde o mundo parece cheio de surpresas angustiantes, onde atos psicopatas se multiplicam rapidamente e onde o índice da maldade estoura as estatísticas, tudo pode acontecer! É possível imaginar monges tibetanos despindo-se da tradicional postura de tolerância e pacifismo. Até os monges? Sim, isso também está acontecendo.
A imprevisibilidade e a maleabilidade extrema do comportamento preocupa a sociedade, que não consegue estabelecer um raciocínio claro a respeito das mudanças que ameaçam a sua integridade. "É o fim do mundo!", escrevem alguns leitores, preocupados e indignados com o nível da violência e a perda do "desconfiômetro" individual e coletivo quanto aos limites das ações.
E o medo de algo ainda não definido vai aumentando.
Há um profundo desânimo em relação à Justiça e a sua ação protetora. Existe alto índice de desconfiança da população nos políticos. Há bons motivos para a indignação popular. Mas e quantos brasileiros confiariam ainda no nosso sistema judiciário? Há um longo caminho para reabilitação da confiança na categoria dos advogados, de cartórios e de tribunais.
Pensadores modernos defendem que o descontrole das sociedades, com a reviravolta dos valores e tradições que facilitam as ações anti-sociais, reside principalmente na decadência da dignidade dos poderes que regem essa mesma sociedade. Judiciário, Legislativo e Executivo seriam hoje, em paises essencialmente preocupados com o capital , poderes que atuariam voltados para interesses de grupos e não para o equilibrio do conjunto social.
Temos leis, temos regras éticas e no entanto o que restou dos valores parece estar sendo soterrado pela rapidez das informações, pelo acúmulo de imagens da mídia e por uma ameaçadora apatia política e social.
Lei e ética, na concepção de muitos, são coisas diferentes, apesar da lei ter algum peso moral.
A sociabilidade do ser humano não é forte o suficiente a ponto de dispensar as leis que protegem os indivíduos uns dos outros. A lei evita que toda vez que existam disputas dos interesses individuais, haja conflito ou descontrole da força da revolta e indignação da comunidade, para que uma decisão produtiva predomine e regras de convivência pacífica predominem.

A sociedade não pode ser cega a uma lei que prejudica o meio. Mas é preciso reconhecer que a desobediência generalizada pode levar a desastres sociais. E a inexistência do equilibrio pode levar ao desprezo às instituições. É exatamente nesse ponto que noção de cidadania fica confusa, propiciando o ambiente de ações anti-sociais.
O resultado é o descontrole da violência e da corrupção, como um rastro de pólvora em fogo. Nas camadas sociais onde a violência se mantinha sob auto-controle, ela explode.
De todas as maneiras, infelizmente. Em um ambiente que reduz ao mínimo a capacidade crítica, é fácil perder as estribeiras e cometer desatinos. A criminalidade se aproveita desse impacto.
Há quem diga que toda essa transformação integra um processo de transformação visceral da civilização, tanto do ponto de vista geológico, como humano. Um tipo de novo mundo que ainda não conseguiu definir-se na expectativa do futuro. Uma  espécie de eliminatória para o surgimento de uma nova mentalidade. Se assim for, muita água ainda vai  rolar... ( Mirna Monteiro)

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