Thursday, September 28, 2006

AMORES VIRTUAIS II
























Parte II

Qual é a principal vantagem da relação virtual, quando ela envolve sentimentos?
A disposição em enfrentar uma possível rejeição. Rejeição, aliás, é a “trava” das relações humanas: nem todas as pessoas possuem estrutura emocional para lidar com ela.

Ainda que haja rejeição, a emoção negativa é menor, justamente pela preservação da identidade e da possibilidade de criar, ali mesmo, naquele momento, uma espécie de vacina para a dor do veneno: basta uma frase atravessada ou bem humorada e o rejeitado pode sumir por encanto, rapidamente e com o ego restaurado. E assim seguir em questão de segundos para outro grupo mais amistoso.

O que dificilmente poderia ocorrer em circunstâncias reais, no corpo a corpo.

Mas se negócios e amizade parecem se fundir maravilhosamente com o sistema virtual, como ficam as relações que vão além da amizade? Das pessoas que buscam interagir com o sexo oposto, tentando suprir carências de afetividade, buscando companhia ou simplesmente buscando prazer através do sexo? Como isso pode ser possível no mundo virtual, sem o toque físico e a tão cantada “troca de energia”, que só existem no encontro real?


Platonismo e virtual são a mesma coisa?

Segundo Platão, Eros, o amor, é uma força que instiga a alma para atingir o bem. Não cessa de mover a alma, enquanto essa não for satisfeita. O bem almejado é determinado pela parte da alma que prevalecer sobre as outras.

Mas ele separa o amor e a sensualidade. Se for sensual, a alma não busca um bem verdadeiro, já que procura a satisfação dos desejos que Platão julgava mais baixos, como o apetite e a ganância.

Ele imaginava que se a alma conduzir a sua parte racional e utilizar energia do amor para o bem verdadeiro – que compreende a justiça, a honra e a fidelidade (virtudes supremas) estará em ascensão.

Do ponto de vista virtual, Eros certamente fica limitado em seu objetivo sensual, embora não fique absolutamente impossibilitado.

No amor entretanto isso não acontece. Seguindo o raciocínio de Platão, o amor dirige-se para o bem, cuja aparência externa é a beleza. Existem muitas formas de beleza, mas a sabedoria seria a maior de todas. No mundo virtual a conquista do amor passa, necessariamente, por essa etapa, já que a comunicação se faz através da palavra...ou da escrita.

Ou seja, se partirmos da idéia de que o amor platônico é um conceito que provém de um filósofo que acreditava na existência de dois mundos – o das idéias, perfeito e eterno, e o do mundo real, finito e imperfeito, mera cópia (mal acabada) do mundo ideal – o amor virtual poderia ser o mais verdadeiro dos amores, pois quando acontece possui como base valores perfeitos e eternos, sem a interferência do mundo real.

Tem sua lógica. O mundo real condiciona o amor a questões superficiais e voláteis, como a aparência física, a condição social e econômica, enfim, impõe um modelo que nem sempre permite que haja contato com “o outro lado” das pessoas, o do pensamento, do caráter, da personalidade, dos sonhos e anseios, entre outros. E tanto é verdade que o platônico se fixa em ideais, que há uma enorme fluência do sexo virtual, que acontece da mesma forma que no mundo real, de forma impessoal, na simples busca do prazer físico, ou como um ato apaixonado de dois amantes.

“A imaginação é algo surpreendente
Nunca a vi, e percebo sua presença
Nunca a abracei e sinto seu aroma
Nunca a beijei, e guardo seu sabor” (Rubem Álvares)

Poesias como esta correm a Internet, que criou um novo sistema de postagem: a do amor.

Os apaixonados virtuais recorrem a poesias, remetidas em cartões que chegam via e-mail.
Também a música aborda a nova modalidade de se conhecer e se amar.

Como é que eu pude gostar assim de alguém
Que só vejo de longe e nunca beijei
Foi como uma luz, forte atração
(...)
Me deixa ver você, liga o computador
Me diz onde te encontrar que eu já vou
Me deixa ver você dançar de novo pra mim
Vem cá, quero te conhecer
(...)
Me apaixonei e agora vivo esta dor...(Sampa Crew)


Mas será assim mesmo, tão simples e satisfatório?

E até que ponto, ou por quanto tempo, um amor pode sustentar-se platonicamente? ...cont.(Mirna Monteiro)

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